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Institucionalização da EA no Brasil e legislação específica

Tendo em vista estabelecer uma visão geral do histórico da institucionalização da EA no Brasil, faz-se necessário analisar a legislação mais diretamente relacionada ao tema a fim de proporcionar alguns subsídios para o entendimento de como a Educação Ambiental enquanto campo normativo se consolidou no país.

Segundo a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (2007), o ano de 1973 marcou o início da institucionalização da Educação Ambiental no Brasil, pois nele houve a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), vinculada à Presidência da República. A criação da secretaria ocorreu em um contexto de forte industrialização no Brasil e teve como objetivo promover estratégias sustentáveis de uso dos bens e serviços ambientais (JACOBI, 2003). Data desse período também a criação dos órgãos estaduais de controle ambiental Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) e Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA) no Rio de Janeiro (BRASIL, 1996; JACOBI, 2003).

Obviamente, bem antes da referida data, outros fatos importantes para a história ambiental brasileira e, consequentemente, para a construção do campo da Educação Ambiental ocorreram. Exemplos são: em 1933, a primeira reunião de amplitude nacional sobre políticas de ordem ambiental, tendo culminado na criação do primeiro Código Florestal Brasileiro, datado de 1934; a criação da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza (FBCN), em 1958; a criação do Código Florestal de 1965, estendendo a obrigatoriedade de proteção legal de florestas para outros bens ambientais como encostas, corpos hídricos e ambientes costeiros; em 1966, o início da Campanha pela Defesa e Desenvolvimento da Amazônia (CNNDA); e, em 1971, a criação da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN), tendo como foco a contestação do modelo de industrialização adotado pelo Brasil (JACOBI, 2003).

Avançando para 1981, o ano marca a entrada em vigor da Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA) (BRASIL, 1981). Foi a primeira vez na história nacional em que houve menção em uma lei à expressão “Educação Ambiental” (SECAD, 2007). A Lei refere-se à Educação Ambiental no âmbito formal em todos os níveis de ensino, e à importância de sua extensão também para os âmbitos da educação informal e não-formal. Conforme afirma em seu artigo primeiro, a Educação Ambiental é necessária a “todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente” (BRASIL, 1981; BRASIL, 1996).

Em 1988, a Constituição Federal do Brasil novamente menciona a EA, ao estabelecer, em seu inciso VI do artigo 225, a necessidade de “promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” (BRASIL, 1988).

No campo dos saberes acadêmicos, no ano de 1989, ocorreu a defesa da primeira tese de doutorado sobre Educação Ambiental no Brasil, tratando-se de uma produção ligada à Universidade de São Paulo (CARVALHO, 1989). Mas foi apenas na segunda metade da década de 1990 que e as primeiras pós-graduações envolvendo EA foram inauguradas no país (REIGOTA, 2007).

Em 1991, foram criados o Grupo de Trabalho de Educação Ambiental do Ministério da Educação (MEC)12 e a Divisão de Educação Ambiental do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). As atribuições dos domínios foram definidas a fim de representar um marco para a institucionalização da política de Educação Ambiental no âmbito do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA). A criação dos dois setores foi possível, pois a Comissão Interministerial reunida em prol da preparação da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) reconheceu a importância da Educação Ambiental para a consolidação e o fortalecimento da política ambiental brasileira (PELICIONI, 2005; SECAD, 2007).

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Em 1993, o Grupo de Trabalho de Educação Ambiental passou a ser denominado Coordenação- Geral de Educação Ambiental (COEA/MEC) (SECAD, 2007).

Em 1992, além da “Rio-92”13 (CNUMAD) e tendo como motivação o referido encontro, o MEC realizou um workshop do qual resultou a Carta Brasileira para a Educação Ambiental. A carta recomenda que o MEC, em parceria com instituições de ensino superior, defina metas para a inserção articulada da dimensão ambiental nos currículos com o objetivo de estabelecer os fundamentos para a implantação da EA no ensino superior (SECAD, 2007).

Em 1999, foi promulgada a Lei nº 9.795, de 27 de abril, que dispõe sobre a Educação Ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA). Segundo a Lei, a EA é direito de todos, sendo tema obrigatório tanto na educação formal e quanto na não-formal (BRASIL, 1999).

A Lei nº 9.795, define Educação Ambiental como:

“os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade” (BRASIL, 1999, capítulo 1, artigo 1º).

Em 2002, entrou em vigor o Decreto nº 4.281, de 25 de junho. O decreto regulamentou a supracitada Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, colocando como responsáveis pela execução da Política Nacional de Educação Ambiental os órgãos e entidades integrantes do SISNAMA, as instituições públicas e privadas dos sistemas de ensino, os órgãos públicos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, envolvendo entidades não governamentais, entidades de classe, meios de comunicação e demais segmentos da sociedade. A direção da gestão sobre a PNEA ficou a cargo dos Ministros do Meio Ambiente e da Educação. Sobre a inclusão da Educação Ambiental em todos os níveis e modalidades de ensino, o decreto recomendou que os Parâmetros e as Diretrizes Curriculares Nacionais fossem utilizados como referência (BRASIL, 2002; BRASIL, 2010).

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Explanações sobre o encontro estão presentes no tópico desta dissertação intitulado “Debates internacionais sobre crise e educação ambientais”.

Em 2012 entrou em vigor a Lei 12.633 de 14 de maio de 2012, que determina a criação do Dia Nacional da Educação Ambiental: 03 de junho (BRASIL, 2012). A data é próxima ao Dia Mundial do Meio Ambiente: 05 de junho, ressaltando assim a confluência entre os temas. No mesmo ano, foi sancionado o Novo Código Florestal. Para Sornberger, et al. (2014, p. 312), o Novo Código Florestal possui “novas especificações técnicas que diminuem diversas Áreas de Proteção Permanente (APP’s), fundamentais para a preservação da mata e dos recursos hídricos”.