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Educação ambiental voltada para o desenvolvimento de concepções e atitudes

CAPÍTULO 2 A CONCEPÇÃO SOCIOAMBIENTAL: UMA EDUCAÇÃO VOLTADA

2.2 Educação ambiental voltada para o desenvolvimento de concepções e atitudes

As questões ambientais atuais, em sua grande maioria, tiveram origem em anos e anos de pouco conhecimento e até mesmo de total ignorância ou ausência de comprometimento da sociedade em relação ao convívio homem/ meio ambiente. Sobressai-se, portanto, o imediatismo da criação de ações que tornem possível à humanidade ainda vivenciar alguns séculos de sobrevida no planeta Terra.

As conseqüências de sua destruição atingem todas as nações e é preciso que todas assumam o compromisso de combater o problema em seus territórios. Entretanto, após séculos de agressão, uso e abuso dos recursos naturais, não vem sendo fácil convencer os indivíduos (e seus governos) de que são apenas partes de um sistema com o qual devem viver em

harmonia, sob pena de sofrerem os efeitos que tornarão sua estadia no planeta cada vez mais penosa: entre eles o aquecimento global, gerado pela concentração dos gases de efeito estufa na atmosfera, acompanhado por mudanças violentas nos fenômenos climáticos; a escassez de água; a desertificação que torna os solos estéreis a atividades agrícolas. (MARANHÃO, 2005, p.17)

Nesse quadro político e científico a educação ambiental apresenta uma história inicial caracterizada pela prática de biólogos e profissionais de áreas afins. Nos dias atuais, no entanto, podemos afirmar que a educação ambiental brasileira conquistou a sua legitimidade tanto nos espaços políticos como na comunidade científica.

O termo sustentabilidade pressupõe mudança do sistema econômico em seus fundamentos capitalistas. Está focado no desempenho pleno e responsável, consequente da cidadania, com a distribuição o mais igualitária possível da riqueza que gera e promove condições dignas de vida para as gerações atuais e futuras. (RODRIGUES, 1997).

Para que o individuo contemporâneo incorpore a noção de sustentabilidade voltada para a construção de uma sociedade justa, democrática e ecologicamente responsável ainda há um longo caminho a percorrer. Uma sustentabilidade efetiva está diretamente ligada a uma educação ambiental alicerçada em um processo contínuo de aprendizagem, que tenha por base assegurar o respeito a todas as formas de vida, asseverando valores e ações que colaborem para a constituição social do indivíduo e a preservação do meio ambiente.

Por conseguinte, a educação ambiental deve trazer uma re-significação para os conceitos de meio ambiente e para a relação seres humanos versus natureza, uma vez que superar tais limites compõe o atual desafio humano – elaborar o conhecimento sob uma perspectiva que habilite o individuo a lidar com a crise sociedade-natureza.

A educação ambiental torna possível o surgimento de cidadãos ativos, aptos a interpretar seu meio e, principalmente, capazes de se tornarem indivíduos ativos e comprometidos com a questão ambiental. Trata-se de um processo permanente, no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, valores, habilidades, experiências e determinação que os

tornam aptos a agir – individual e coletivamente – e resolver problemas ambientais presentes e futuros.

Segundo Capra (1982), quanto mais estudados os problemas de nossa época, mais se percebe que não podem ser entendidos isoladamente. São problemas sistêmicos, o que significa que estão interligados e são interdependentes. Deve-se sempre partir do princípio de que o todo é mais que a soma das partes, tendo desta forma o sistema como um todo integrado cujas propriedades essenciais surgem das inter- relações entre suas partes.

Essa ampla compreensão do ser humano - envolvendo os aspectos físicos e espirituais - resgata o apreço, a contemplação e o respeito pela natureza que os fazem se reconhecerem comprometidos e agentes modificadores do meio ambiente. Segundo Capra (1996), tais fundamentos holísticos “estão na linha de frente do pensamento sistêmico contemporâneo”.

Com o socioambientalismo surge, em 1992, o discurso do desenvolvimento sustentável, expressão que se tornou hegemônica no debate que envolve as questões de meio ambiente e de desenvolvimento social em sentido amplo.

O desenvolvimento sustentável surge para substituir o discurso do desenvolvimento econômico difundido e experimentado nos países da periferia do capitalismo na esteira da Guerra Fria e, em franco processo de esgotamento, justamente porque não atendeu às expectativas e promessas anunciadas de desenvolvimento, progresso e bem-estar social. O discurso do desenvolvimento sustentável penetrou diversos campos de saber e de atividade, entre os quais o da educação. O pensamento sistêmico, por sua vez, pode ser definido como uma nova forma de percepção da realidade.

Nesse processo, considerando esse entendimento quanto à temática ambiental, nota-se que é imprescindível uma ação pedagógica conduzida de forma a unir dialeticamente o aluno como um todo, buscando transformá-lo e, consequentemente, transformar o meio em que ele está inserido. Não existe educação ambiental se ela não se efetivar na prática, na vida, a partir das necessidades sentidas.

Desse modo, fica evidente que a direção para a humanidade por fim à crise ambiental, e quem sabe, à crise de valores que nos assola, é a inserção dos novos componentes de entendimento da vida que compõem o paradigma emergente, discutido por Pelizzoli (1999). Talvez, o principal componente deste paradigma seja o entendimento que o todo não é apenas o resultado da soma das partes, mas que todas as partes contêm o todo, assim como estão contidas nele. O alicerce epistemológico para esse modo de pensar é a concepção de pensamento complexo, oriundo das reflexões de Morin (2005).

Nele não prevalece o raciocínio que divide o bem e o mal, o certo e o errado, nem sobressai a utópica valorização do todo. Edgar Morin denomina o pensamento complexo como o pensamento do abraço e o apresenta como uma visão de mundo abarcadora, que deve ter origem na complementaridade, na abrangência do abraço entre os dois modelos mentais – o linear e o holístico.

Vivemos um agravamento no que concerne às questões ambientais e, portanto, precisamos rever nossas atitudes em relação à utilização dos recursos ambientais em prol de alternativas de consumo consciente, sem no entanto, gerar crises econômicas. E essa conscientização das formas de consumo - objetiva e não utópica - pode ser desenvolvida no âmbito escolar.

O engajamento da Escola e dos seus diversos atores em um processo de discussão dos problemas ambientais e de procura de possíveis soluções que assegurem o comprometimento de todos e cada um com a Terra, deve ser incentivado e ampliado no espaço educacional e na comunidade em seu entorno, para assegurar aos indivíduos e a seu meio social a certeza de seu papel na mudança de hábitos, ações e formas de consumo, ou seja, a compreensão integral do ser humano em seus aspectos físicos e espirituais.

Este processo consiste em uma educação ambiental emancipatória, que segundo Loureiro (2004), permite uma melhor compreensão das inferências humanas nas questões ambientais. Torna-se possível, então, uma formação cidadã, crítica e reflexiva.

Desta forma a educação ambiental resgata o respeito, a contemplação e a veneração pela natureza que são valores transmitidos aos alunos através da arte, por meio de aulas dinâmicas e participativas que os fazem se sentirem responsáveis e agentes modificadores do meio ambiente. A cabeça bem feita proposta por Morin (2000). O cenário ambiental atual requer atitudes individuais e coletivas que compreendam a complexidade do sistema vivo, conhecido como planeta terra, e que mensurem os impactos no equilíbrio do sistema.

2.3 Atitudes coerentes com a concepção socioambiental de educação