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O papel da educação ambiental na escola: A formação de um cidadão crítico e

CAPÍTULO 1 – A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA E NOS DOCUMENTOS

1.3 O papel da educação ambiental na escola: A formação de um cidadão crítico e

A educação ambiental tem um caráter formador, que favorece a compreensão e desvela as determinações da realidade humana, de forma a reconstruir em si valores de civilidade e humanidade construídos historicamente. Ou seja, deve instrumentalizar o indivíduo para compreender e agir de forma autônoma sobre sua própria realidade histórica, construída pelas relações sociais. Portanto, tem como objetivo contribuir para a formação de indivíduos críticos e reflexivos capazes de repensar sua própria prática social. Segundo Janke e Tozoni-Reis,

A educação ambiental procura, assim, estimular o indivíduo a problematizar suas necessidades reais, buscando, mais que riqueza material, novas relações com os outros, novas formas de tratar a diversidade, empreendendo uma crítica radical à modernidade e valorizando a prática social numa perspectiva ética e ecológica para que o outro e o ambiente sejam parte do sonho de felicidade de todos. Para isto, é necessária uma construção dialógica entre conhecimento sócio-histórico e estético pessoal, construído também pela vivência cultural, ética e social, para imprimir à prática ambiental um caráter contestador, contextualizado e responsável. (JANKE e TOZONI-REIS, 2008 p.148).

Tendo esta situação como base, Pelizzoli (1999), defende a necessidade de a sociedade buscar um novo paradigma que não desconsidera a interdependência dos fatores econômicos, sociais e políticos, para permitir as futuras gerações os benefícios provenientes da utilização racional dos recursos naturais finitos.

Sendo assim, a construção desse novo comportamento ecológico pode começar com a construção de conteúdos atitudinais, relacionadas às questões ambientais, no ambiente escolar, pelos alunos do ensino fundamental que serão sujeitos integrantes da sociedade da geração futura. Para isso, os alunos precisam construir os seus conceitos dos fundamentos da educação ambiental como um processo contínuo e interdisciplinar.

Dessa forma comportamentos ambientalmente corretos serão aprendidos na prática do dia-a-dia na escola: gestos de solidariedade, hábitos de higiene pessoal, preocupação com o bem estar da sala de aula, bem como de outros ambientes utilizados pelos alunos.

Esta responsabilidade requer muito mais do que conhecimentos sobre condições ambientais favoráveis. Têm dimensão subjetiva, no sentido do reconhecimento das necessidades individuais e coletivas, participação e comprometimento com a luta social e emancipatória por um ambiente saudável, que significa melhoria na qualidade de vida.

Isso posto, o ensino da educação ambiental pode ajudar a contextualizar as ações ambientais dos alunos, para que esses associem o seu comportamento no cotidiano com o agravamento ou o melhoramento das questões ambientais. Essa formação pode ter a participação de várias áreas de conhecimento, fenômeno este conhecido como interdisciplinaridade, que pressupõe o desenvolvimento de metodologias interativas, configurando articulação entre as ciências naturais, sociais e exatas. Cabe ressaltar que o contexto epistemológico da educação ambiental permite um conhecimento aberto, processual e reflexivo, a partir de uma articulação complexa e multirreferencial. Esta compreensão não deve ser reduzida a uma única disciplina ou programa específico, pois abrange a necessidade de unir ações multi e transdisciplinares.

Para Morin (2000, p. 37), a transdisciplinaridade estaria mais próxima do exercício do pensamento complexo, pelo fato de ter como pressuposto a transmigração e diálogo de conceitos através de diversas disciplinas.

Dessa forma, a ênfase na interdisciplinaridade na análise das questões ambientais deve-se à constatação de que os problemas afetam e mantêm a vida no nosso planeta são de natureza global e que a compreensão de suas causas não pode restringir-se apenas aos fatores estritamente físicos ou biológicos, revelando dimensões políticas, econômicas, institucionais, sociais e culturais.

Contudo, além de exigir uma junção de disciplinas e saberes, sejam eles científicos ou não, a EA, também exige atitudes éticas com relação a nossa inserção em nosso meio social e no mundo em que ele se insere. A crítica ao modelo de desenvolvimento econômico vigente alicerçado no consumo desenfreado e seus efeitos lesivos ao meio ambiente configuram-se como pontos centrais em diversos discursos ambientalistas que embasam a educação ambiental.

Assim sendo, a escola se configura como espaço social onde o indivíduo é sensibilizado para as ações ambientais e quando fora do âmbito escolar ele será capaz de dar continuidade ao seu processo de socialização. Como afirma Brandão (1995): "A sensibilidade traz esperanças de novas relações com afetos de responsabilidade para com o presente e o futuro, não só das gerações humanas, mas de outras gerações de seres vivos". (BRANDÃO, 1995).

A escola atual deve proporcionar ao aluno o despertar de valores que possibilitem o convívio harmonioso com o ambiente e o meio social, auxiliando-o a investigar criticamente os princípios que têm levado à degradação dos recursos naturais e de várias espécies. Deste modo, o Educador Ambiental efetua-se como um facilitador aos alunos - que por sua vez levarão esses conhecimentos aos seus pais, vizinhos, amigos, dando origem a uma corrente conscientizadora.

O comprometimento ambiental do professor na sala de aula é um modo de levar a Educação Ambiental à comunidade, pois um dos componentes fundamentais para o decurso da conscientização na sociedade no que condiz aos problemas ambientais é o educador. Este tem os meios necessários para despertar em seus alunos, hábitos e atitudes sadias de respeito à natureza e preservação ambiental, transformando-os em cidadãos sabedores de seu papel social e comprometidos com o futuro.

A educação ambiental, ao inverso da educação tradicional, muitas vezes, ainda alicerçada no acúmulo de informações pré-concebidas da "Educação Bancária" (FREIRE, 1997), deve partir da premissa de que a educação é formada por intermédio da conscientização do cidadão, introduzindo-o na prática reflexiva e depois na ação individual e coletiva em relação ao meio ambiente. Essa conscientização é imprescindível e urgente para a apreensão do mundo atual, tal como, para o despertar em relação ao surgimento de um novo paradigma que busca superar a efemeridade das relações sociais mediante uma nova compreensão de cultura e de consciência ecológica que visem o respeito às diversidades.

Segundo Reigota (2004), uma educação transformadora favorece tanto uma visão ampla de mundo, como também esclarece o propósito do ato educativo, que não se trata de transmitir conteúdos, conceitos e o método científico experimental, mas sim

aprender a olhar, aprender a ler indícios e o aleatório, entender a ciência como atividade criativa que permite integrar a arte e diferentes conhecimentos.

Esta transformação poderá ser fomentada pelo próprio aluno ao envolvê-lo com questões inseridas em seu cotidiano, ou através do uso de tecnologias e meios de comunicação como prática pedagógica na educação ambiental, de forma a estimular um interesse, mais amplo, do educando pelo conteúdo e o anseio de colocá-lo em prática. Assim, as informações assimiladas dos livros e na dialética dos professores serão adicionadas e interligadas aos saberes construídos pelos próprios alunos de acordo com o objetivo pretendido – uma educação transformadora que tem por finalidade contribuir para a estruturação de sociedades sustentáveis e equitativas ou socialmente justas e gerar consciência da conduta cidadã.

Portanto, a educação ambiental deve se estabelecer em um direcionamento que busque abranger todos os cidadãos, por meio de um sistema pedagógico participativo e contínuo que objetive infundir no aluno uma consciência crítica quanto à questão ambiental, assimilando como crítica a capacidade de captar a origem e a evolução de problemas ambientais e as transformações comportamentais na interação com os recursos básicos para a vida humana: o meio ambiente.

Enfim, a EA deve se apresentar através da crítica apontando para as transformações da sociedade em busca de novos paradigmas de qualidade ambiental e de vida, tendo como base a justiça social.