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CAPÍTULO 1 – A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA E NOS DOCUMENTOS

1.1 A educação: um ato cultural e político

A criança se socializa desde o nascimento, à medida que constroi os padrões de comportamento esperado e internaliza, como seus, os valores da sociedade. Estes valores constituem parte importante da cultura do grupo ao qual pertence, que aliados a outros elementos culturais como linguagem, costumes, crenças, música, literatura, utensílios e suas técnicas de uso e fabricação, entre outros, farão a socialização do indivíduo através da aprovação ou desaprovação de acordo com o atendimento ou não das expectativas dos demais.

De acordo com Freire (1983) é a partir da produção cultural e por meio dela que as pessoas se reconhecem e se relacionam com o mundo e tudo o que transformam. O ser humano não só existe, ele tem consciência de si e do mundo em que está inserido e por isso pensa e faz escolhas.

Quando o homem compreende sua realidade, pode levantar hipóteses sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções. Assim, pode transformá-la e com seu trabalho pode criar um mundo próprio: seu eu e suas circunstâncias. (FREIRE, 1983, p.30)

Entendendo como cultura a rede de signos que dá sentido ao mundo que cerca o indivíduo, ou seja, a sociedade, pode-se inferir que é impossível a existência de alguém sem cultura. Os signos estão configurados em um conjunto de diversos aspectos, como crenças, valores, costumes, leis, moral, línguas, entre outros, que dão origem a um contexto social em que todos estão inseridos, seja ele qual for. Embora todos os seres humanos tenham cultura, ela não é inata no sujeito, mas é adquirida na convivência social. A escola, ao incentivar a troca de experiências, vivências e outras singularidades, entre alunos e educadores, acaba por se caracterizar como local ideal para a conscientização e desenvolvimento da cultura. Segundo Dewey (1971), a educação não é preparação nem conformidade. Educação é vida, é viver, é desenvolver, é crescer.

Segundo Freire (1999), aeducação deve realizar-se como prática da liberdade, onde as ações libertárias só irão se concretizar através de uma pedagogia em que o aluno tenha condições de se reconhecer como sujeito de sua própria destinação histórica, estabelecendo-se então como sujeito livre.

O processo educativo, então, estabelece um artifício dinamizador das sociedades, por meio do qual permite ao sujeito atuar na sociedade avaliando criticamente suas ações, com o objetivo de modificar seu comportamento e assim gerar mudanças sociais.

A educação como prática da liberdade, ao contrário daquela que é a prática da dominação, implica a negação do homem abstrato, isolado, solto, desligado do mundo, assim também a negação do mundo como uma realidade ausente dos homens. (FREIRE, 1999, p.70)

Partindo desse pressuposto, a educação assume um papel vital para a sociedade traçando parâmetros para o ser humano, dando sentido ao ser e ao existir enquanto agente dinamizador de conhecimentos.

Com isso, podemos pensar que homens e mulheres se tornam humanos quando podem experimentar em suas vidas a possibilidade de falar e de escutar os outros, de expressar-se e perceber os outros, de sentir-se e de sentir os outros integralmente: como seres simbólicos, produtivos, sensíveis,

morais e políticos. Podemos pensar, também, que os homens e mulheres vêm a ser o que são pela educação de que participam com outros homens e mulheres. (BESSA, 2005, p. 77).

No entanto, a escola, em sua função social, educa para o respeito aos costumes - padrões de comportamento - da comunidade e da sociedade, mas também pode educar para um posicionamento crítico em relação a essas convenções.

A educação deve ser vista como um processo de humanização, ou seja, o aspecto problematizador adquirido por meio do diálogo que se impõe como meio para que a humanidade encontre significação enquanto ser humano.

Muitas vezes a escola é pensada como um espaço apolítico. A Pedagogia Crítica de Freire rejeita a tese de que o conhecimento e a escola são neutros e que, portanto, os professores devem exercer uma práxis neutra. A escola é um espaço político, não só devido a sua mensagem política ou porque se ocupa de tópicos políticos de ocasião, mas também porque é desenvolvida e situada em um conjunto de relações políticas e sociais das quais não pode ser abstraída. Ela não se encontra isolada, de forma que não pode apenas reproduzir a realidade social.

O meio educacional deve estar atento ao meio social em que está inserido e oferecer condições para que se discuta criticamente à realidade a que pertence, gerando o saber consciente, direcionado para a práxis e que expresse os questionamentos e necessidades da maioria. Dessa forma, todo ato pedagógico se configura em um ato político, uma práxis social conscientizadora e, sobretudo, transformadora.

No entanto, para se desenvolver esse saber consciente é preciso considerar o todo. O ser humano é racional e emocional e o educador deve observar a totalidade, não unir as partes, mas considerá-las. O indivíduo, só pode ser compreendido por meio de um método de pensamento aberto, englobador e flexível.

De acordo com Morin (2005), o processo educacional deve abranger uma nova visão de mundo, que admite e reconhece as transformações constantes do real, não nega a multiplicidade, a casualidade e a incerteza, mas convive com elas sem restringir o multidimensional à explicações simplistas, a normas rígidas ou a receitas de ideias.

Sendo assim, a função do educador deve ser o de articular o pensamento e percepções do aluno, em sua relação com o meio, agindo como facilitador, tendo como objetivo favorecer as aprendizagens autônomas e transformadoras. Ele deve ajudar o sujeito a contextualizar cada movimento, pois as coisas não acontecem separadamente.