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Educação, Ciência, Investigação: onde Angola e Portugal se podem encontrar

No documento Economia, Sociologia e Desenvolvimento Rural (páginas 111-115)

Manuel Oliveira

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real

Resumo

A criação de uma economia com maior valor acrescentado requer um salto qualitativo do sistema de ensino / aprendizagem e um impulso nas capacidades de inovação local que envolvem a expansão quantitativa e qualitativa do sistema nos diversos graus de ensino / aprendizagem. As populações largamente ocupada em actividades agrícolas valorizarão o ensino focado em questões do mundo rural e os estudantes que encontrarem nas matérias que aprendem alguma relevância pessoal estarão mais dispostos e aptos a reterem informação e a criarem conhecimento. Elevar o nível de qualificações das populações rurais é crucial para adopção de sistemas agrícolas mais produtivos, também mais exigentes em conhecimento e tecnologia. A mera transferência de tecnologias suportada por fundos públicos pouco faz na formação dos produtores locais para dominarem as tecnologias transferidas e criarem as suas próprias soluções tecnológicas. Portugal, com um sistema de ensino e investigação mais vasto e qualificado, e Angola com conhecimento autóctone mais enraizado e recursos ainda não utilizados, podem encontrar-se para benefício mútuo.

There is no prescription for how a country creates such a culture [of knowledge] . . . But government does have a role – a role in education, in encouraging the kind of creativity

and risk taking that the scientific entrepreneurship requires, in creating the institutions that facilitate ideas being brought into fruition, and a regulatory and tax environment that rewards this kind of activity.

A economia Angolana está muito dependente da produção petrolífera e outras matérias-primas, tem uma base de manufacturação frágil, uma grande massa de trabalhadores sem qualificação profissional que se dedica fundamentalmente à agricultura com baixos rendimentos. O crescimento económico a longo prazo necessita de uma infra-estrutura onde a ciência, tecnologia e engenharia se integrem num processo produtivo onde o conhecimento e a criatividade de trabalhadores qua- lificados são a principal fonte da prosperidade nacional e da sua riqueza.

Fazer a transição de uma economia exportadora de matérias-primas para uma economia de produção com maior valor acrescentado requer um salto qualitativo do sistema de ensino / aprendizagem e um impulso nas capacidades de inovação lo- cal. Isto envolve a expansão quantitativa que compete pelos mesmos recursos que a expansão qualitativa do sistema nos diversos graus de ensino / aprendizagem.

A experiência de outros países que já passaram, ou ainda passam, por este pro- blema mostra que há necessidade de relaxar o controlo administrativo e financeiro, por vezes mesmo asfixiante, da gestão diária das instituições para que elas se possam concentrar-se nas questões do desenvolvimento. Uma visão de longo prazo de uma economia de pessoas com conhecimentos deve articular as estratégias de desen- volvimento económico e social com o sistema de ensino / aprendizagem, sobretudo nos níveis primário e secundário, e em seguida no nível superior.

Por todo o lado e com maior acuidade nas sociedades mais pobres, as famílias estão dispostas a sacrifícios enormes para contribuírem na educação das gerações mais novas, desde que tenham a percepção de que o ensino é de qualidade e ofereça um curriculum com relevância para a sua vida. Por seu lado, os governos, para não defraudar as expectativas das famílias, devem concentrar-se em políticas de longo prazo que encorajem a eficiência dos mercados de trabalho para absorver os gra- duados do sistema de ensino / aprendizagem. A relação próxima entre mercado de trabalho eficiente e trabalhadores educados permite uma melhor transmissão de conhecimentos e qualificações entre as instituições de ensino e a economia real.

Numa população largamente ocupada em actividades agrícolas, a maioria das famílias, numa primeira fase, valorizará o ensino focado em questões do mundo rural. Os estudantes que encontrarem nas matérias que aprendem alguma relevância pessoal estarão mais dispostos e aptos a reterem informação e a criarem conhecimento.

Educação, Ciência, Investigação: onde Angola e Portugal se podem encontrar

Grande parte dos curricula convencionais são transpostos de outras experiências sociais diversas daquelas em que vão ser utilizadas e não reconhecem a cultura e o sistema de valores dos estudantes. O sistema de ensino / aprendizagem e os educa- dores têm que construir curricula baseados no conhecimento autóctone como base de introdução de novos conceitos (aprendizagem construtivista). Os estudantes têm que sentir que são “donos” da informação que aprendem ou a educação das po- pulações rurais manter-se-á deficiente para além das questões de acesso à escola, das disponibilidades económicas e da falta de recursos.

Elevar o nível de qualificações das populações rurais é crucial para adopção de sistemas agrícolas mais produtivos, também mais exigentes em conhecimento e tecnologia. Por sua vez, maior produtividade dará o impulso necessário para que as populações pobres em recursos aceitem o risco de investir na educação e na mudança de sistema de produção. A proposição básica é alterar o sistema de produção da sua ênfase apenas na oferta para uma ênfase na oferta e na procura (funcionamento de mercado). Esta alteração requer

Prioridade aos sistemas que correspondam à produção de bens de maior valor acrescentado com procura externa e interna;

Organização dos produtores em economias de escala que liguem a fileira de produção e a de comercialização;

Descentralização do planeamento e do processo de decisão com maior participação das diversas comunidades produtoras.

Durante a maior parte do século 20, o desenvolvimento rural dos países não industrializados baseava-se na transferência de tecnologias associadas a produções comerciais para exportação, transferências essas suportadas por fundos públicos. Pouco ou nada era investido na formação dos produtores locais para dominarem as tecnologias transferidas e criarem as suas próprias soluções tecnológicas. Nos anos 90 do século passado o suporte público para esses programas declinou marcadamente e perdeu apoio político. Nos países não industrializados também se desviaram recursos para outros sectores e descurou-se o desenvolvimento rural, em particular a educação orientada às populações rurais. Neste processo, os países não industrializados ficaram sem as transferências tecnológicas e sem capacidade de criarem as suas próprias tecnologias.

metas sustentáveis (investigação estratégica) que conduza à descoberta de novas tecnologias e metodologias orientadas e enquadradas pela estratégia geral de desenvolvimento económico. Metodologias e tecnologias mais efectivas, por exemplo biotecnologia e tecnologias da informação, estão em desenvolvimento contínuo e podem tornar os licenciados em ignorante em poucos anos. Concomitantemente, a formação de base dos responsáveis nos países não industrializados é muitas vezes inadequada para desempenhar as suas responsabilidades de ensino e investigação. Por tudo isto, os investigadores e educadores têm de ser reeducados de tempos a tempos para melhorarem os seus conhecimentos e qualificações que os adaptem aos desenvolvimentos metodológicos e tecnológicos, enquanto um maior número de pessoas qualificadas tem de ser continuamente treinados.

Nesta confluência de necessidades, Angola e Portugal podem encontrar-se para benefício mútuo. Portugal tem um sistema de ensino e investigação mais vasto e qua- lificado; Angola tem um conhecimento autóctone mais enraizado e vastos recursos ainda não utilizados.

Evitemos as transferências metodológicas e tecnológicas e concentremo-nos no ensino / aprendizagem construtivistas com formação de ambos os inter- venientes.

Construamos um quadro de formação dos diversos actores de ensino / apren- dizagem e investigação estratégica com objectivos de longo prazo sem interferências políticas de conjuntura.

Relaxemos os constrangimentos administrativos e financeiros das instituições para que estas se concentrem nas questões do desenvolvimento.

Cooperação técnico-científica entre o Instituto Nacional do Café

No documento Economia, Sociologia e Desenvolvimento Rural (páginas 111-115)