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Que tipo de relação existe a educação e o desenvolvimento?

No documento Economia, Sociologia e Desenvolvimento Rural (páginas 154-173)

Educação e Desenvolvimento: que tipo de relação existe?

4. Que tipo de relação existe a educação e o desenvolvimento?

Do que atrás foi dito parece realçar o facto de se esperar que a educação se relacione positivamente com o nível de riqueza de um país, medido por um indicador económico como o PIB, assim como com um nível de vida, medido por um indicador de saúde, como a esperança de vida. De facto, o indicador de desenvolvimento (humano) mais considerado, admite que este resulta de uma média ponderada dos aspectos económicos, medidos pelo PIB, dos aspectos de saúde, medidos pela esperança de vida, e dos aspectos educacionais medidos por um índice de educação. Deste ponto de vista, associa-se, naturalmente, um país mais desenvolvido a um que disponha de um maior nível de educação.

Considerando o ano mais recente para os quais se dispõe de observações, a figura 1 apresenta a representação gráfica dos índices do PIB, de educação e de

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esperança de vida para um total de 177 países (consulte-se o anexo para todos os detalhes), os quais servem de cálculo ao, bem conhecido, Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), apurado pela Nações Unidas.

Conforme parece ser evidente, existe uma aparente relação directa entre as três componentes do IDH, sendo certo que a volatilidade nas mesmas aumenta à medida que o valor do IDH aumenta. Deste ponto de vista, é interessante verificar que usando a partição oficial, i.e. a das Nações Unidas, dos países em três grupos: Desenvolvimento Elevado, Médio e Baixo, as correlações entre aquelas três componentes são bastante díspares, conforme se mostra nas tabelas 1, 2 e 3.

Tabela 1 – Matriz de correlações

Tabela 3 – Matriz de correlações

No que aos países de desenvolvimento humano baixo diz respeito, a existência de uma correlação negativa entre os níveis de educação e os índices de riqueza económica e de saúde parece ser um paradoxo. Assim, decidimos não considerar a partição oficial naqueles três grupos e determinar clusters de acordo com a metodologia julgada adequada.

Querendo manter alguma homogeneidade, decidiu-se por determinar também três clusters, recorrendo à metodologia k-médias. Apresentam-se de seguida os resultados obtidos:

Centros Iniciais dos Clusters

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Centros Finais dos Clusters

Conforme é evidente, os clusters 1, 2 e 3 podem associar-se, respectivamente, aos grupos de países de médio (71 países), elevado (56 países) e baixo (50 países) desenvolvimento. Para além deste facto, a análise da posição relativa dos centros finais dos clusters – sendo certo que poderão existir excepções, em termos individuais, (veja-se o dendograma em anexo) – revelam que, efectivamente, as três compo- nentes do desenvolvimento humano se encontram positivamente correlacionadas. A comprovar este facto, consulte-se a figura 2.

5. Conclusão

A principal conclusão deste trabalho é a de que, também para os países em (vias de) desenvolvimento, a educação, por si só, ou seja, em termos directos, contribui para o desenvolvimento e que, em termos indirectos, ou seja, por via da sua influência sobre as condições de saúde e as condições económicas, tal também acontece, mesmo para os países em vias de desenvolvimento – ao contrário do que os dados parecem revelar à partida.

Este é um trabalho assumidamente simples, o qual pode, não necessariamente por isso, ser completado em análises posteriores. Uma possível via de análise prende- se com o nexo de causalidade entre a educação e o desenvolvimento, de acordo com os níveis de educação. A aposta nos ensinos básico e secundário parece-nos fundamental, até do ponto de vista da sustentabilidade do ensino terciário, enquanto geradora de efeitos sobre o desenvolvimento. Este, por sua vez, pode ser potenciador, de apostas no ensino terciário, completando, desta forma o ‘círculo virtuoso’ na interacção, que se deseja positiva, entre a educação e o desenvolvimento. No caso dos países em (vias de) desenvolvimento, as dificuldades em explorar as vantagens daquela interacção são, por natureza, maiores, mas serão também maiores os ganhos relativos do esforço colocado no investimento em capital humano, enquanto objectivo de uma política de educação.

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Anexos

Estratégias de Desenvolvimento Rural para a redução da pobreza

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