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O Plano do Cuanza – Bengo

O Regadio em Angola na perspectiva do Desenvolvimento Rural

5. Grandes esquemas de regadio

5.3 O Plano do Cuanza – Bengo

Inclui o aproveitamento dos vales dos rios Cuanza e Bengo, na faixa litoral dentro da Província de Luanda, com comprimentos de 200 km e 70 km, respectivamente, e ainda o “plateau” entre os dois rios (Fig. 9). A área é atravessada a meio por uma estrada asfaltada e por um caminho de ferro, sendo largamente vantajosa a pro- ximidade de Luanda, com o seu porto de mar. Há ainda na área outras estradas asfaltadas e centros populacionais importantes, nomeadamente Catete e Dondo.

No vale do Cuanza foram reconhecidos mais de 70000 ha com boa aptidão para o regadio. Uma boa parte destas terras, porém, carece de trabalhos vultuosos de drenagem e de defesa contra as inundações periódicas, que se verificam durante alguns meses do ano, em virtude dos elevados caudais transportados pelo rio. A execução destes trabalhos estava dependente da regularização dos caudais, possibilitada pela construção de uma grande barragem, Dange ia Menha, a montante da de Cambambe.

Fig. 9 – A região do Plano Cuanza – Bengo (Dinis e Aguiar, 1968 c)

No vale do Bengo está construída a barragem da Quiminha que, com a sua albufeira de 840 x 106 m3, é capaz de regularizar completamente o regime do rio.

Aqui, estão traçadas as linhas mestras de actuação e feito o estudo prévio, tendo-se iniciado a execução de alguns empreendimentos mais simples, a nível quer estatal, quer cooperativo. O aproveitamento hidroagrícola do Bengo (A. T. Constantino e Colab., 1977) conta com cerca de 12 600 ha de aluviões marginais ao rio, 5000 ha de barros de encosta e mais de 30 000 ha de “musseques” de texturas médias do “plateau” de Luanda (Fig. 10).

Nestas terras terão provavelmente lugar uma grande diversidade de culturas, alimentares e industriais. A pecuária associar-se-á necessariamente à actividade agrí- cola. A indústria (oleaginosas, açúcar, algodão, leite, carne e conservas) completará o aproveitamento, constituindo um grande complexo agrário.

O Regadio em Angola na perspectiva do Desenvolvimento Rural

Fig. 10 – Carta de solos do “plateau” de Luanda (Dinis e Aguiar, 1968 c)

São, naturalmente, muitos, grandes e variados, os problemas – ambientais, de engenharia, agronómicos, económicos, sociais – que se apresentam à execução de um plano desta envergadura. Ele exige grandes e dispendiosas obras de engenharia: canais e outras condutas, numerosas e potentes estações de bombagem, um sistema de biodegradação dos pesticidas (antes de as águas serem lançadas ao mar, para evitar o impacte negativo sobre a fauna marinha, que inclui uma importante produção de lagostas e outros crustáceos), comportas de maré, controlo do nível de várias lagoas, saneamento de pelo menos uma grande lagoa (com o inerente impacte ambiental), controlo da posição do lençol salino ligado ao mar, recuperação e defesa de solos halomórficos, várias barragens de encosta e uma rede de defesa contra a erosão e as enxurradas e inundações, etc. Os desafios agronómicos não são menores: nas baixas, recuperados os solos, é preciso defendê-los contra a salinização e condicionar as culturas e as práticas culturais a tal situação e é preciso manter o lençol freático na posição conveniente a cada cultura; nas encostas, há a tecnologia difícil

não perdoa o mínimo erro; nos “musseques”, há a excessiva drenagem interna e o delicado controlo dos escassos teores de matéria orgânica, para além de outros problemas, resultando imposto o sistema de “lay farming”, condicionando as opções agronómicas. Em qualquer caso, é indispensável a experimentação agronómica aturada, que defina e oriente as melhores soluções.

Outros complexos problemas são de natureza social: o aproveitamento, para ser completo, implica que seja quintuplicada a população do vale (10 000 para 50 000), com os inerentes problemas de habitação, sanidade, psico-sociais, adaptação a no- va tecnologia, etc. Há que contar agora com a complexidade da estrutura social dos arredores de Luanda, que certamente terá grandes implicações na ocupação do espaço abrangido pelo Plano do Cuanza - Bengo.

São de facto enormes os desafios que aqui se associam ao planeamento e gestão dos recursos hídricos, o seu uso incluindo uma agricultura de regadio com a dimensão e as características da que interessa ao Plano do Cuanza - Bengo.

Hoje, a recuperação da Barragem da Quiminha e seu aproveitamento para irrigar o Vale do Bengo é objecto de um novo Projecto, que prevê a rega de cerca de 140 000 ha, em rega sob pressão (Anónimo, 2006). Talvez esta nova opção seja realista, mas é certamente, pelo menos em termos de Engenharia, um plano menos ambicioso que o de 1977.

Referências Bibliográficas

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Desenvolvimento, Sudsenvolvimento e Democracia