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2. ANÁLISE DO DESENHO DA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DOCENTE À LUZ

2.1 Apresentação dos dados da pesquisa

2.1.1 Educação de qualidade: algumas percepções

O questionário buscou identificar qual é o conceito que gestores e professores têm de qualidade na educação. Assim, apresentamos seis conceitos, entre os quais os participantes da pesquisa indicaram três. O conceito mais apontado se revela, também, como o que tem uma definição mais abrangente de qualidade, haja vista que contempla aspectos da cultura da comunidade escolar, do exercício da cidadania, da capacitação técnica e da autonomia do indivíduo para promover seu próprio desenvolvimento.

Tabela 9: Conceito de educação de qualidade para gestores e professores

Educação de qualidade é: Frequência de respostas e percentual

Professor % Gestor %

Aquela que garante a compreensão da identidade cultural, o exercício da cidadania, a aprendizagem e a autonomia para continuar aprendendo.

25 60,9 11 84,6

Aquela que promove o espírito crítico e fortalece o compromisso para transformar a realidade social.

14 34,1 2 15,4

Aquela que garante ao estudante o pleno domínio dos conteúdos previstos nos planos curriculares.

02 4,8 - -

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados coletados na pesquisa.

No pré-teste do grupo focal, os pesquisados (diretores, professores, PCAs e coordenadores pedagógicos) já definiram qualidade da educação como algo condicionado à digna inserção social do estudante:

A educação de qualidade está associada à qualidade de vida do ser humano e passa pela preparação para a vida e para o trabalho. Em uma cidade bem desenvolvida, vemos bons indicadores sobre qualidade de vida e bons resultados na área da educação (PROFESSOR 1, grupo focal, pré-teste realizado em 07.12.12).

Outra variante da definição de qualidade na educação está na fala do Professor 2, que liga o conceito ao contexto social, no sentido de que cada comunidade define e conceitua qualidade de acordo com a sua cultura:

[...] Por exemplo, numa aldeia indígena, como poderemos mensurar a educação por ela recebida se os jovens de lá ainda vivem sob uma educação baseada numa educação tradicional? (PROFESSOR 2, grupo focal realizado em 20.12.12).

Outro conceito apresentado por três dos nove membros do grupo focal de diretores simplifica e vincula qualidade à aprendizagem do aluno: “educação de qualidade é aquela em que o aluno aprende” (Diretor 2 e Coordenadores 2 e 4). Esse entendimento está focado nos resultados e na eficácia do sistema. Nesse sentido, a qualidade dos processos e os esforços empreendidos na caminhada não definem educação de qualidade.

O que define a educação como de qualidade, atualmente, está vinculado à universalização e à equidade de padrões de ensino e de oportunidades de aprendizagem. Portanto, qualidade é justamente definida como o direito ao acesso à

aprendizagem. Nas palavras de Paro (2000, p.5), a educação de qualidade tem como premissa “educar para a liberdade e para a democracia”. Essa definição em muito coaduna com a percepção dos pesquisados, quando vincularam qualidade à preparação para a cidadania e para a inserção digna na sociedade. O autor reforça esse entendimento quando afirma que “o fim último da educação é favorecer uma vida com maior satisfação individual e melhor convivência social” (PARO, 2000, p.5).

Olhando para a realidade de suas escolas, os grupos focais disseram ser muito difícil afirmar se elas promovem efetivamente uma educação de qualidade, pois, se por um lado, o contexto justifica os resultados, por outro, as avaliações externas têm revelado que as escolas estão muito aquém de promovê-la.

Dentro da realidade cultural, econômica e social do nosso estado, eu acho difícil mensurar quando uma escola está proporcionando uma educação de qualidade. Se pegarmos como referência os indicadores das avaliações externas, a gente vai ver que a maioria dos alunos serão qualificados como não tendo recebido uma educação de qualidade, com algumas exceções (PROFESSOR 2, grupo focal realizado em 20.12.12).

A fala dos pesquisados revelou o quanto eles consideram relevante o contexto socioeconômico e cultural dos alunos, bem como o impacto desse contexto no desenvolvimento do ensino e nos resultados de aprendizagem. Assim, relativizaram a qualidade da educação medida apenas pelos resultados aferidos nas avaliações externas, tais como o SPAECE.

De fato, definir educação de qualidade é uma tarefa complexa, pois o caráter polissêmico do conceito traz em si diversas variáveis necessárias à sua caracterização. É preciso considerar as condições intra e extraescolares e os diferentes atores, individuais e institucionais, envolvidos nos processos de ensino, quando se busca aferir a qualidade da educação.

O conceito mais pontuado pelos pesquisados se reporta, muito especificamente, aos resultados e ao desempenho escolar. Há, entretanto, outros aspectos relevantes na concepção de qualidade, a exemplo das condições de oferta do ensino, da qualidade da gestão e da organização do trabalho escolar, da qualidade da formação e da ação pedagógica do professor, além dos fatores extraescolares, tais como o capital econômico, social e cultural das famílias e dos estudantes. Dourado et al. (2007) assinalam que a OCDE e a Unesco utilizam como paradigma para a qualidade de educação a relação insumos-processos-resultados.

Os autores sugerem considerar a qualidade como uma resultante de variáveis múltiplas:

[...] desse modo, a qualidade da educação é definida envolvendo a relação entre recursos materiais e humanos, bem como a partir da relação que ocorre na escola e na sala de aula, ou seja, os processos de ensino-aprendizagem, os currículos, as expectativas de aprendizagem com relação à aprendizagem das crianças etc. Destaca, ainda, que a qualidade pode ser definida a partir dos resultados educativos, representados pelo desempenho do aluno. (DOURADO et al., 2007, p.9).

Outra dimensão a se considerar na definição de qualidade são os fatores extraescolares que impactam positiva ou negativamente nos processos educativos e, consequentemente, nos resultados de aprendizagem. São influências advindas da qualidade do espaço sociocultural e econômico em que estão inseridas as escolas. Entretanto, Dourado et al. (2007, p. 14) advertem-nos a não naturalizarmos uma relação de fracasso ou sucesso do aluno em decorrência de sua história de vida: “a ideologia das capacidades e dons naturais amplia o processo de exclusão dos já excluídos socialmente”. Nesse sentido, os autores desafiam as escolas a superarem as limitações de seu espaço social através do aprimoramento da oferta de um ensino de qualidade, o que inclui aspectos de gestão e de organização do trabalho escolar.

É relevante destacar que a presente pesquisa não teve a intenção de simplificar o conceito de qualidade da educação, mas de aferir qual é a percepção que os professores pesquisados têm acerca dele.