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FOTO 21 – Gincanas: dança da cadeira – Dia da Família na Escola

3 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS-METODOLÓGICOS

3.2 EDUCAÇÃO DO CAMPO, CULTURA E CURRÍCULO

3.2.1 Contribuições do pensamento de Jean-Claude Forquin

3.2.1.1 Educação do Campo: uma prática intercultural?

Não se pode negar a globalização que impera em nossa sociedade, prova disso, são os meios de comunicação e de toda sorte de mídias. Em cada canto do mundo as pessoas estão conectadas. Um acontecimento surgido no Japão, em questão de segundos todas as pessoas recebem informações quase momentânea referente ao ocorrido.

As pessoas estão sedentas e famintas na busca por informações, de conhecer o que está acontecendo, concomitante a essa situação, grupos sociais buscam serem vistos e ver o seu entorno. Vivemos em locais sem fronteiras. O campo é um local também sem fronteiras. Não é um ambiente fora do globo terrestre, isolado.

Nesse aspecto a educação ofertada nas escolas do campo tem um papel decisivo nesse mundo globalizado, de maneira a não formar sujeitos excluídos perante uma sociedade global, mas ao mesmo tempo, sem perder suas características e cultura local.

A escola é um ambiente social, nela convivem diariamente pessoas com características próprias que interagem, que têm sua subjetividade, sua vida social, sua identidade, pessoas de diferentes culturas e pertencentes a diversas culturas. Não só a escola tem esse privilégio de ter em seu interior sua diversidade cultural, mas ela está inserida em uma sociedade com pluralidade cultural.

É fato que os alunos de diferentes meios sociais chegam à escola portando certas características culturais que influenciam diretamente a maneira pela qual eles respondem às solicitações e às exigências inerentes à situação de escolarização (FORQUIN, 1993, p. 167).

Diante disso a Educação do Campo tem um grande desafio perante essa pluralidade cultural, visto que a escola é um celeiro cultural ao abarcar as diversidades culturais existentes no campo, assim como considerar as implicações decorrentes das diferenças existentes provocadas por essa pluralidade.

Forquin (1993, p. 137) menciona em seus trabalhos que por volta dos anos 70, mais precisamente: “a problemática das implicações educativas do pluralismo cultural conheceu na Grã-Bretanha uma incontestável renovação”. E essa renovação deu- se aos problemas ligados “às disparidades inter-étnicas, ou etnoculturais” (Idem, 1993, p. 137). Acarretado por um crescimento populacional de imigrantes dentro do país, diversas etnias, diferentes línguas, onde o inglês para esses não era a língua materna. Os fenômenos diretamente se refletiram na escola, e fez com que surgissem novos desafios educacionais, principalmente concernentes ao currículo unificado que valoriza uma cultura comum. Assim,

obrigam a colocar em termos novos a questão das desigualdades diante da educação, tornando mais difícil a implantação de um currículo unificado que proponha a todos os alunos os elementos essenciais de uma cultura comum.

Nessa efervescência, surge o multiculturalismo, que de acordo com Lynch:

O princípio do multiculturalismo não poderia significar que se deve aceitar tudo e não importa o quê em nome da autenticidade e da identidade cultural, mas ele supõe, ao contrário, definir um método objetivo, aberto e explícito de exploração, de avaliação e de escolha

(LYNCH, 1983 apud FORQUIN, 1993, p. 140).

Desse termo surgem outros, como: interculturalidade e transculturalidade, que Forquin (1993)24 em sua tese, dialogando com diversos e diferentes estudiosos sobre seus olhares referentes a esses três termos, faz uma explicação profícua e densa, que ao analisarmos podemos perceber que esses se fundem, conforme citação: “Se o multiculturalismo verdadeiro se desenvolve concretamente como interculturalismo, isto exige, por sua vez, um fundamento transcultural” (Idem, 1993, p. 141).

24

Para compreender melhor tais conceitos ver: FORQUIN, Jean-Claude. Escola e cultura: as bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar. Porto Alegre: Artes Médica, 1993.

Nossa abordagem apresenta em breves palavras uma reflexão referente à interculturalidade e sua relação com a educação do campo, visto que o termo nos sugere troca e interação entre culturas. Quando consideramos o multiculturalismo, Forquin (Ibidem, 139): “abertura, troca, intercomunicação, com as promessas que isto constitui para cada um, de enriquecimento pessoal e de alargamento dos espaços de liberdade, mas também de riscos de desenraizamento, de dispersão e de desagregação da identidade”, podemos chamar de “interculturalismo”, uma vez que o prefixo „inter‟ significa: “interação, troca, descerramento, reciprocidade, solidariedade objetiva” (Idem, ibidem, p. 139).

As implicações pedagógicas decorrentes de uma educação intercultural requerem que essa se abra e interaja com outras culturas a fim de formar uma composição mosaica, que dirija-se necessariamente a todos os grupos, e não apenas aos minoritários ou situados em áreas de contatos culturais (FORQUIN, 1993).

Por outro lado, existem consequências, ao entrar em contato e interação com outras culturas, ela aceita ver-se desestabilizada, relativizada, transformada, diferente, da continuidade e conservação.

Os pensamentos são incontroláveis nesse momento, pois almejamos e lutamos por uma Educação do Campo que reflita os sujeitos do campo, seus saberes, fazeres, seu modo de vida, sua cultura. Então, é possível, na perspectiva intercultural, no que se refere à Educação do Campo, dialogarmos com os conceitos de identidade, pertencimento e território, ou teremos que rever tais conceitos?

Os estudos e leituras realizadas até aqui ainda são insuficientes para respondermos tal indagação, mas é essencial que essa questão seja discutida e repensada. Porém,

se o professor pode tomar emprestado seus exemplos pedagógicos de diversos universos culturais, ele deve também fazer ressaltar o que há de verdadeiramente humano em cada uma destas manifestações de cultura e avaliar o que é local tendo por medida aquilo que é universal. O respeito às culturas bem como às pessoas e a preocupação de eficácia pedagógica levam a transcender o relativismo (FORQUIN, 1993, p. 141).

Essa transcendência deve ocorrer em nossas escolas do campo superando um ensino tradicional, relativizado e de interesses contraditórios aos dos alunos do campo, de modo a propiciar o enriquecimento e novas possibilidades de atuação pedagógica.