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Os estudos sobre Educação Comparada inseriram-se nas discussões de pesquisadores a partir de 1817, quando pela primeira vez, Marc-Antoine Jullien, publicou uma obra sobre

pedagogia comparada . Foi, ainda, nessa

época que Jullien propôs a criação de um arquivo destinado a reunir dados e transmitir as informações coletadas referentes à educação e ao ensino de todos os países. Both (2013, p. 18) explica que essa ideia foi parcialmente realizada, mais tarde, com a fundação UNESCO15 que se apropriou da metodologia comparativa, realizando estudos em diversos países, comparando os avanços na educação escolar, nos países em desenvolvimento .

No sentido em que foi utilizada, naquele trabalho, compreende-se que a Educação Comparada procura estabelecer relações e interdependências entre os mais diversos aspectos da sociedade numa tentativa de compreensão do outro e de si mesmo, por meio do conhecimento de ações, políticas educativas e teorias que expliquem os fenômenos socioeducacionais (PIRES, 2010).

Saviani (2001), intitulado História Comparada da Educação: algumas aproximações16 . Ao buscar e apresentar os significados vernáculos e etimológicos, o autor destaca a definição que

Ferreira (1999, p. 511) examinar simultaneamente, a fim de

conhecer

15 UNESCO significa United Nation Educational, Scientific and Cultural Organization (Organização para a

Educação, a Ciência e a Cultura das Nações Unidas), organismo integrado à Organização das Nações Unidas (ONU), criado em 1946, a fim de promover a paz mundial, através da cultura, educação, comunicação, as ciências naturais e as ciências sociais. Disponível em: <www.unesco.gov.br/nacoes>.

16SAVIANI, Dermeval. História comparada da educação: algumas aproximações. História da Educação. Anais...

ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO RIO-GRANDENSE DE PESQUISADOES EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO (ASPHE), 7, 2001, Pelotas, Rio Grande do Sul. 2001.

De forma análoga à definição de Ferreira (1999), Lourenço Filho (2004) ensina que comparar é um recurso fundamental nas atividades de conhecer e, nesse processo comparativo, algumas subjetividades podem se fazer presentes, dadas as generalidades utilizadas como recursos à comparação. Por isso, Saviani (2001, p. 7)

comparação é um procedimento intelectual caracterizado por um potencial crítico que traz consigo o risco de juntar elementos não suscetíveis de serem reunidos efetuando aproximações indevidas , especialmente, se não se considerar a perspectiva histórica. Franco (2000) também chama a atenção para o uso indevido da comparação, notadamente, se a percepção das diferenças for utilizada como uma forma de dominação17.

A questão do método é tema da maior parte dos debates relativos à Educação Comparada, como explica Nóvoa (1998, p. 38), pois, na tentativa de evitar subjetividades, privilegia-

Educação Comparada,

Ainda conforme o autor supracitado, o ecolha e análise de dados e com as técnicas utilizadas. A utilização de um dado enquadramento teórico, a construção de instrumentos de análise de dados faz, muitas vezes, com que estejamos perante realidades construídas pelo sujeito do conhecimento .

As discussões a respeito do método são observadas, também, no texto já referenciado de Saviani (2001), que chama a atenção para o fato de que, embora alguns estudos relativos à Educação Comparada contivessem elementos históricos, não se caracterizavam como história comparada da educação, visto não levarem em conta a aplicação do método histórico comparativo ao estudo da educação. Essa constatação leva-nos a inferir ser necessária a comparação de elementos que caracterizam distintos sistemas nacionais de ensino, sob a perspectiva da história comparada.

17 O princípio da comparação é a questão do outro, o reconhecimento do outro e de si mesmo através do outro.

A comparação é um processo de perceber diferenças e as semelhanças e de assumir valores nesta relação de reconhecimento de si próprio e do outro. Trata-se de compreender o outro a partir dele próprio e, por exclusão, reconhecer-se na diferença [...] Na história das ciências sociais, a percepção das diferenças tem funcionado como uma espécie de escudo ideológico para justificar a ocupação territorial, para submeter ou aniquilar o outro. Este uso ideológico das diferenças funciona como uma vantagem política e foi, no mundo ocidental, muitas vezes, revestido de respeitabilidade científica [...] Sua análise pode ser útil, por analogia, à compreensão dos problemas educativos e de vários aspectos da vida em nossos países, tais como o meio ambiente, a saúde, a cultura, o trabalho, o lazer, etc., comparados aos dos países desenvolvidos . (FRANCO, 2000, p. 200-201).

A História Comparada, antes do mais, seria uma modalidade historiográfica que atua de forma simultânea e integradora sobre campos de observação diferenciados e bem delimitados campos, a bem dizer, que ela mesma constitui e delineia. Para o caso daquele tipo de História Comparada que coloca em confronto duas realidades nacionais diferenciadas, estes campos podem ter até suas bases já admitidas por antecipação, é verdade, mas sempre é bom se ter em vista que os universos a serem comparados nas ciências humanas são sempre de algum modo construções do próprio historiador ou do cientista social não são necessariamente conjuntos já dados ou passíveis de serem admitidos (BARROS, 2007, p. 12-13).

Por ser uma construção social, a utilização do método comparativo, na perspectiva de Veyne (2008), pode ser considerado como essencial para a renovação nas pesquisas históricas. Barros (2007, p. 12) concorda ao explicar que de um modo ou de outro, o historiador sempre utilizou a comparação como parte de seus recursos para compreender as sociedades no tempo, embora não necessariamente como um método sistematizado . A tentativa de fixar os requisitos fundamentais, sobre os quais poderia ser constituída uma História Comparada, que realmente fizesse sentido, segundo Barros (2007), é atribuída a Marc Bloch, na década de 1930, que desenvolveu estudos seminais sobre História Comparada.

Na teoria proposta por Marc Bloch dois aspectos podem se apresentar aos historiadores ou pesquisadores dispostos a lançar mão do comparativismo na História. Seria possível comparar sociedades distantes no tempo e no espaço, como também se constata em estudos de Detienne18 (2004), ou, ao contrário, sociedades com certa proximidade espacial e temporal, prevalecendo, para Bloch, conforme explicam Theml e Bustamante (2007), a proposta de comparar o comparável (grifo nosso), ou seja, esse método se voltaria para as sociedades que possuem uma relação de proximidade temporal e espacial.

Ao decidir-se por estudos no campo da História Comparada que atua sob realidades históricas contíguas por exemplo, duas realidades nacionais sincrônicas o historiador deve estar apto a identificar não apenas as semelhanças como também as diferenças

2007, p. 15) e, assim, contribuir para a prática da comparação na pesquisa de campo em educação, que, para Both (2013), tem sido comum e tem produzido resultados úteis para se compreender realidades distintas entre si, bem como para refletir sobre os espaços específicos, a fim de se entender a formação e evolução de diferentes sistemas educacionais.

18 A abordagem de Detienne se concentra em analisar, nas suas produções, o que seria heterogêneo. O

historiador propõe que a pesquisa histórica elabore comparações pautadas em recortes espaciais e temporais considerados diferentes (DETIENNE, 2004). Theml e Bustamante complementam os apontamentos de antigas e da atualidade, nas consideradas simples e nas complexas, e podemos afirmar que tal enfoque se