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3.3 Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo:

3.3.2 FEA-USP: estrutura departamental

Nos seus primeiros anos de funcionamento, a estrutura da então FCEA consistia em um departamento com função administrativa, Departamento de Publicações, e sete departamentos com função docente, Departamento de Economia, Departamento de Administração, Departamento de Contabilidade e Atuária, Departamento de Matemática, Departamento de Estatística, Departamento de Direito e Departamento de Ciências Culturais. Legalmente, a FCEA estava embasada em departamentos resultantes da reunião de cadeiras

congêneres. Mas, na prática, para melhor atender às necessidades do ensino e da pesquisa, a Faculdade funcionava com base em cadeiras (cátedras)96.

A carreira docente, definida em estatuto, classificava as funções dos docentes em instrutores, professores assistentes, professores livre-docentes, professores de disciplina, professores associados e professores catedráticos. Todavia essa classificação não era seguida com rigor dado que novas funções eram criadas à medida em que se faziam necessárias. A ascensão na carreira dava-se por meritocracia, o que era medido com base em produção, estivesse ela regulamentada ou não, estando sujeita, ainda, ao trabalho em determinada linha ou cadeira, também sob a direção de um professor catedrático (ALVES, 1984). Sobre o perfil dos docentes da FEA, em seu estágio inicial, Motta (2006) informa que:

A FCEA começou diminuta, com [...] professores vindos predominantemente da área de Direito, juntamente com vários formados pela então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, nas suas várias especializações. Alguns tinham vivência de assuntos econômicos e administrativos, mas sem condições de bem definir e ensinar um currículo adequado à nova escola, muito menos de dar rumo e sustentação a pesquisas inovadoras nos seus objetivos e métodos (MOTTA, 2006, p. 318-9).

Em 1964, devido às discussões em âmbito nacional, que se configurariam na reestruturação e reforma do ensino superior brasileiro e resultaria na Lei nº 5.540/68, a FEA passa por uma reforma estatutária e altera sua estrutura agregando outros cursos. É nesse ano que se separa o curso de Ciências Contábeis e Atuariais em dois, Ciências Contábeis e Ciências Atuariais. Também o curso de Administração, aprovado desde 1946, é instituído. O crescimento decorrente do aumento no número de cursos e na oferta de novas vagas, de

96Ao discutir a reforma estatutária da USP, Denisard Cnéio de Oliveira Alves (1984) explica que os decretos que

criaram a instituição, em 1934 (Decretos Estaduais nºs 6.203, de 25 de janeiro de 1934, e nº 6.533, de 4 de dam uma organização universitária com base na cátedra. O Reitor, que de início era escolhido pelo Governador e subordinado à Secretaria de Educação e Saúde, passa em 1944 a ser indicado em sistema de eleição trimonial pelo Conselho Universitário e escolhido pelo Governador, e por este, no caso dos diretores dos institutos. A Reitoria não exercia poder centralizador e os institutos gozavam de grande autonomia, fundada num mínimo de uniformidade estabelecida pelos Estatutos. [...] A cátedra se constituía na base de poder sobre a política, o ensino, a pesquisa universitária. Através de uma hierarquia muito bem definida, ao professor catedrático estava subordinado todo o trabalho acadêmico [...] o acesso à cátedra era muito restrito. Uma cátedra só mudava de titular em casos muito especiais. A criação de novas cátedras passa necessariamente pelo crivo

verificando-se ampla mobilização dos estudantes97, cujas reivindicações seriam contempladas na reforma universitária da FEA, em 1969.

A Reforma da USP, em dezembro de 1969, eliminou as cadeiras e o departamento tornou-se a menor fração da instituição. Então, a FEA passou a funcionar com três Departamentos Economia, Administração e Contabilidade98. As disciplinas que na FCEA estavam distribuídas em 27 cadeiras e agrupadas em 7 unidades departamentais foram redivididas por esses três departamentos. Cada um desses departamentos aglutinou, então, várias cátedras e ficou responsável por um curso de graduação, sendo instituída a chefia dos Conselhos Departamentais para cada curso e um diretor geral para a FEA.

A gestão, na FEA-USP, é alternada entre os docentes dos departamentos de Economia, Administração e Contabilidade, sendo que no espaço temporal compreendido nesta investigação, coube ao Professor Sérgio de Iudícibus, a direção da Faculdade no período de 1979 a 1983. Na vice-direção, apenas o professor Antônio Peres Rodrigues Filho, ocupou a função. Na Tabela 5, constante no Apêndice D, são sumarizadas as informações acerca dos quadros diretivos da FEA-USP. Às direções estavam subordinadas as Chefias dos Conselhos Departamentais, assim denominados os gestores no período de 1946 a 1969. A partir de 1970, é apresentada a composição, na íntegra, dos Conselhos Departamentais. A gestão dos departamentos compreende um período de dois anos consecutivos, como observado na Tabela 6 (Apêndice E). Sobre o processo de gestão, em específico da Direção da Faculdade, após sua reestruturação departamental, houve um entendimento, de que haveria um rodízio, que é respeitado, apesar de não ser regulamentado, pois, conforme eleito da Professora Diva

Economia, seu vice é de Ciências Contábeis; quando o diretor é de Contábeis, seu vice é de

Administração; e q Nos dados

visualizados na Tabela 5, no entanto, não se confirma essa alternância. Qualquer professor da FEA, que seja titular, pode ser eleito e quando há mais de um candidato, por tradição da FEA,

97 entrava em

um período de instabilidade política na qual grupos dentro do próprio regime militar buscavam a criação de

98 Dos quatro departamentos extintos, dois foram integralmente transferidos (disciplinas e professores) para

outras Unidades da USP: o Departamento de Matemática para o Instituto de Matemática e Estatística (IME) e o Departamento de Direito para a Faculdade de Direito. Quanto aos outros dois departamentos, a redistribuição foi parcial: do Departamento de Ciências Culturais, apenas a antiga cadeira de Geografia Econômica Geral e do Brasil passou para a FFCL, permanecendo integradas no Departamento de Economia as disciplinas de História Econômica Geral e Formação Econômica e Social do Brasil. Já do Departamento de Estatística, todas as ex-cadeiras de Estatística I, II e III foram integradas no Departamento de Economia (PINHO, 1981).

é feita uma consulta à comunidade sobre os nomes de sua preferência para integrar a lista tríplice. (FEA-USP, 2010).

Nessa estrutura departamental, instituída a partir de 1970, os professores de cada área foram aglutinados na unidade correspondente. O ensino básico em cada disciplina passa a ser ministrado, para toda a Universidade, pela respectiva unidade (ALVES, 1984). Sobre a carreira99docente, estatutariamente, essa torna-se aberta, no sentido de que não depende mais da indicação e aprovação do professor catedrático, e a ascensão passa a depender somente do mérito do docente, podendo esse ocupar funções como professor adjunto, professor titular e livre-docente100.

O departamento, instituído em toda a universidade, tornou-se a base dessa nova estrutura, porém, com autonomia questionável, conforme explica Alves (1984), dado que seu funcionamento era basicamente definido pelo estatuto. Essa situação é similar àquela percebida no ISCAL, quando aquela IES foi criada, pois, ali, deu-se autonomia administrativa e pedagógica à instituição, mas criou-se uma comissão subordinada ao Ministério da Educação e Investigação Científica para supervisionar os atos da mesma.

A estrutura curricular, no entanto, foi flexibilizada, pois a departamentalização trouxe facilidades para a criação de novas disciplinas. Já se verificava, conforme será discutido no Capítulo IV, a influência do currículo mínimo101, cujo conteúdo visava a possibilitar o primeiro contato do aluno com a profissão, ensinar-lhe as teorias e as técnicas pertinentes e permitir que aproveitasse ao máximo os conhecimentos que a aprendizagem em serviço enseja (LEITE, 2005).

Sobre a seleção e ingresso dos discentes, cabe destacar que, nos primeiros quatro anos da instituição (1946/49), foram abertas sessenta vagas por ano, mas somente cerca de metade dessa oferta foi absorvida pelos alunos aprovados, que se totalizavam ao redor dos trinta. Esse fenômeno repetiu-se ao longo da década de cinquenta, quando se abriram cem vagas para os

99 Nessa nova estrutura, extingue-se a figura do professor catedrático, e são criados os cargos de professor-

adjunto, professor titular e livre-docente, e o ingresso se dá por meio de concursos e exames. É uma forma mais objetiva de ascensão, contudo, mais longa, pois tornou-se necessário o ingresso em cursos de mestrado e doutorado (ALVES, 1984).

100Livre-docência é um título (stricto-sensu) fornecido por instituições de ensino superior por meio de concursos

públicos. É um titulo de excelência de ensino concedido para que a pessoa seja respeitada como professor da instituição. As inscrições são abertas por meio de editais, e somente são aprovados para realizar a prova tem suas próprias regras para o edital. Em algumas faculdades e universidades (como, por exemplo, as estaduais paulistas), o título de livre-docência é pré-requisito para a candidatura ao cargo de professor titular.

101O currículo mínimo, implantado no curso superior de Ciências Contábeis e em todos os demais cursos de

graduação do país, era uma inovação baseada na LDBEN de 1961, que atribuiu a responsabilidade de sua definição ao Conselho Federal de Educação (LAFFIN, 2002; LEITE, 2005).

cursos oferecidos pela FEA. Embora crescente, em nenhum dos anos exceto 1960 , absorveram-se integralmente as vagas oferecidas. Deve-se chamar a atenção para o fato de que, até 1965, o concurso de ingresso, contrariamente ao processo seletivo adotado a partir da reforma de 1969, de natureza meramente classificatória, revestia-se do caráter de aprovação ou reprovação, o que podia conduzir a uma situação de permanente sobra de vagas devido à dificuldade e subjetividade do processo102 (LUNA; NOGUEIRA NETO, 1984). O processo seletivo na FEA difere daquele utilizado na IES portuguesa, a qual não adota o sistema de vestibular com provas classificatórias para seleção de seus ingressantes, como apresentado no Capítulo II.

A estrutura departamental possibilitou ao Departamento de Contabilidade, como afirma Iudícibus (2009), se consolidar e formar quadros profissionais para as empresas paulistanas e brasileiras, cuja estrutura jurídica passou a exigir novas competências e habilidades de seus contadores, devido às exigências das sociedades anônimas103 regulamentadas em lei, assim como iniciar o processo de incentivo à pesquisa, previsto em sua gênese, visto o direcionamento do foco para a instalação dos estudos de pós-graduação que teriam início a partir da década de 1970.