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CAPÍTULO III – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS

3.3. EDUCAÇÃO ESCOLAR

Tabela 6 – Formação discursiva - Educação Escolar

Sujeito Unidades Discursivas

Gestor (...) escola tem que funcionar como esse canal de esclarecimento, de abrir o espaço de discussões dos seus alunos, isto é, de seu próprio público para que ele perceba que ele não está sozinho, que ali que ele vai aprender , que ali que ele vai descobrir os caminhos que eles devem trilhar após a unidade escolar, (...)

Mãe de aluno: Dona Luiza

(...) o aluno que tiver interesse vai ser um conjunto vão trabalhar junto e vão conseguir, mas a escola faz o que pode para ajudar o aluno para que o aluno venha aprender e sair daqui formado e fora ter também uma profissão digna (...) o valor da escola pra mim é maravilhoso (...)

Pai de aluno: Sr. Antonio

(...) na minha falta, na minha ausência o pai é o professor, na ausência da mãe, a mãe é a professora, então penso assim, eu fui educado assim. (...) A escola tem aprovação totalmente. (...) Então sim, no momento hoje nem todas, mas muitas escolas do estado estão prontas sim, com o pouco material, os professores e os diretores têm em mãos, mas sim eles estão de parabéns.

Mãe de aluno: Dona Marta

(...) esta escola, ela colaborou muito pra quem eu sou hoje, esta escola tem sim esse papel de formar jovens e cidadãos de bem sim, por que eu sou uma dessas. (...) eu acredito quem faz a escola é o aluno e isso vem de casa, (...)

Professora Regina

Então , atualmente a escola está bastante preocupada, está mostrando muito para o aluno, está trazendo pessoas para cá, para dentro da escola , como a promoção de palestras para aqueles, que realmente se interessem pela sua formação futura. (...) Nós temos alunos que eram assim vida muito, muito precária e hoje estão fazendo faculdade.

Professor João A função da escola é transmitir conhecimentos e conscientizá-los de seus direitos e deveres. E a partir dessa conscientização é possível sim a redução das desigualdades sociais, com certeza!

Funcionária da escola: Claudia

A escola é de grande importância nessa formação , mas ela também não vai trabalhar sozinha, ela faz uma parte importante que tem que ser continuado em casa. (...) A escola serve pra mostrar que está tudo mundo ali no meio ambiente e é tudo mundo igual, pra mim eles tem que entender que é todo mundo igual, não tem diferença (...)

Funcionária da escola:

Fernanda

(...) A escola tem um papel de muita importância, a gente tem uma educação em casa, mas é a escola que vai fazer a formação dos cidadãos, para prepará-los pra vida, para o mundo.

Em nosso texto fazemos uma discussão sobre a dimensão contra-hegemônica da escola pública, em que Romão (2000, p.113) assevera que a escola pública, por uma série de fatores, mas principalmente por não mais servir à formação das elites, é um espaço que a burguesia tem abandonado e que pode se transformar num aparelho “privado” popular da luta contra- hegemônica. Nesse sentido as perguntas feitas aos nossos sujeitos foram pertinentemente elaboradas de maneira que de suas respostas pudessem inferir o valor da escola, tendo em vista a formação do seus estudantes, e quais as funções fundamentais desta instituição na formação dos mesmos, visando o exercício de uma cidadania participativa e a redução das desigualdades sociais.

Identificamos, na resposta de Dona Marta, que a escola tem um papel fundamental, não somente para a formação de seus filhos, como também na sua própria formação: “(...) esta escola, colaborou muito para quem sou hoje, esta escola tem sim esse papel de formar jovens e cidadãos de bem, por que eu sou uma dessas. (...) Eu acredito quem faz a escola é o aluno e isso vem de casa (...).”

A LDB – Lei nº 9394/96, que visa operacionalizar os princípios constitucionais, dispõe

no Art. 2º que a educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e

nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Contudo, encontramos na resposta do Sr. Antônio que o valor que a escola apresenta para ele, se traduz de uma forma, em que consideramos haver um valor distorcido, como segue:

(...) Na minha falta, na minha ausência o pai é o professor, na ausência da mãe, a mãe é a professora, então penso assim, eu fui educado assim. (...) A escola tem aprovação totalmente. (...) Então sim, no momento hoje nem todas, mas muitas escolas do estado estão prontas sim, com o pouco material, os professores e os diretores têm em mãos, mas sim eles estão de parabéns.

O discurso do Sr. Antônio nos remete a uma interpretação de perspectiva semântica histórica, isto é, o nosso imaginário educativo-escolar foi construído há cerca de cem anos e assim como todos os conceitos que a ele estão incorporados e que acreditamos - o professor é o detentor do saber tem, autonomia para educar e ensinar, liberdade de ensino etc., no início do século XX e acentuadamente após a primeira grande guerra mundial (1914-1918). Nesse período histórico, a grande maioria da população mundial estava situada no campo, com um nível estrondoso de pobreza, excluindo uma pequena minoria das elites. Nesse contexto, o número de analfabetos também era muito grande, não havia na sociedade uma instituição que pudesse se encarregar da educação das crianças, e dessa forma, confiaram toda a educação das crianças à escola. Sobremaneira, a escola recebeu essa incumbência com toda a alegria, assumindo esta espécie de missão de renovação/salvação do mundo, e que teria a resolução de todos os problemas. Como adverte Nóvoa (2007) a escola foi pouco a pouco engordando, foram sendo cada vez mais ampliada suas atribuições, acreditando-se que se poderia resolver todos os problemas da sociedade e que todos os professores construíram parte de sua identidade a partir dessa ideia, de salvar as pessoas, salvar o mundo, salvar a sociedade, formar um homem novo etc. “Eis um enorme paradoxo. Como é possível a escola pedir tantas coisas aos professores, atribuir-nos tantas missões e, ao mesmo tempo, fragilizar o seu estatuto profissional.” (NÓVOA, 2007, p.09)

Concebemos ser um valor distorcido uma vez que, historicamente, a escola está deformando suas funções legais e legítimas, isto é, ensinar e formar, tendo que buscar soluções para problemas globais, de natureza política, econômica e, principalmente, os relacionados a questões sociais. Como adverte Pombo (2014, p. 12):

Não podemos tomar a excepção pela regra. Não podemos permitir que a escola perverta as suas funções, deforme o seu destino, para se adaptar a casos e circunstâncias que, sendo embora absolutamente merecedoras de todo o nosso empenho, requerem urgentes e corajosas medidas globais, de natureza política, econômica e social, mas que, de forma alguma, a escola teria condições para, sequer ajudar a resolver.

Nesse contexto, refletimos no primeiro capítulo de nossa pesquisa sobre um dos maiores desafios atuais da escola que é promover uma educação mais democrática e menos excludente, assim como incrementar inovações, inventividade, produzir e reconstruir conhecimentos elaborados. Encontramos essa inquietude no discurso do Gestor, ao defender que a escola deve funcionar como um canal de esclarecimentos aos estudantes, tornando-se um espaço de discussão, de parceria, solidariedade e oportunidade de planejar novos caminhos a

serem trilhados, corroborada pela fala do professor João, que declara que a escola tem a função de conscientizá-los de seus direitos e deveres e que, a partir dessa conscientização, haverá possibilidades de que sejam criadas estratégias para a redução das desigualdades sociais. Nesse sentido Freire (1987, p.125-126) adverte:

Se na educação como situação gnosiológica, o ato cognoscente do sujeito educador (também educando) sobre o objeto cognoscível não morre, ou nele se esgota, porque, dialogicamente, se estende a outros sujeitos cognoscentes, de tal maneira que o objeto cognoscível se faz mediador da cognoscitividade dos dois, na teoria da ação revolucionária se dá o mesmo. (...) Nessa teoria da ação, exatamente porque é revolucionária, não é possível falar nem em ator, no singular, nem apenas em atores, no plural, mas em atores em intersubjetividade, em intercomunicação.

No que tange ao valor que a escola representa para os agentes escolares, percebemos que mesmo entre os professores (as), nos últimos anos instalou-se o desencanto pela educação e o desânimo no magistério, como salienta Gentili (2004) Atentamos para que a fala da professora Regina de que ainda assim, existe crença em seu trabalho e na escola como uma instituição capaz de possibilitar aos indivíduos a transposição da marginalidade para a materialidade da cidadania, como segue:

Então , atualmente a escola está bastante preocupada, está mostrando muito para o aluno, está trazendo pessoas para cá, para dentro da escola , como a promoção de palestras para aqueles, que realmente se interessem pela sua formação futura. (...) Nós temos alunos que eram assim vida muito, muito precária e hoje estão fazendo faculdade.

Nesse contexto Martins (2006) adverte que a escola, como um lugar institucional do projeto educacional, deve instaurar-se como espaço-tempo, como instância social mediadora e articuladora de dois projetos: o projeto político da sociedade e o projeto pessoal dos sujeitos envolvidos na educação. Na mesma perspectiva, encontramos as falas da Dona Luiza e da funcionária Fernanda que nos mostram que o valor da escola se traduz em sua responsabilidade na formação do cidadão, orientando-o na busca por uma profissão, preparando-o para a vida e para o mundo.

Conforme defende a funcionária Claudia, a escola é de grande importância para a formação desse estudante, e que seu trabalho é mostrar para o aluno que todos devem ter as mesmas oportunidades, isto, que todos devem tem direitos e deveres iguais, e que não pode existir diferença de tratamento, isto é, um receber maiores benefícios em detrimento do outro.

Entendemos que a escola de nosso tempo está passando por um momento conflituoso e de crise; como assegura Pombo (2014),é a mais terrível de todas, pois, progressivamente, e de forma alarmante, a sociedade vem transferindo para a instituição as responsabilidades educativas que, naturalmente e desde sempre, pertenceram à família.

Interpretamos que em alguns locais a escola constitui, de fato, o único lugar em que é possível ter uma experiência cultural e comunitária de maior abrangência. Todavia, como pontua Nóvoa (2007), um dos grandes dilemas da referida instituição está em reconhecermos a escola como serviço ou como instituição? Pois grande parte dos debates e das políticas educativas hoje tende a ver a escola como um serviço que se presta às famílias e às crianças, e menos como uma instituição. E assevera:

O que é mais grave: a agenda comunitarista por um lado, a agenda liberal por outro e ainda a agenda da privatização tendem a ver a escola como um serviço que se presta a alguém e não como um lugar onde se institui a sociedade, a cultura, onde nos instituímos como pessoas, onde nos instituímos dos nossos direitos próprios, e conseguimos, a partir daí, criar uma palavra livre, autônoma nas sociedades contemporâneas. É preciso recusar todas as tendências que apontam a escola como um serviço e afirmá-la como uma instituição. (NÓVOA, 2007, p. 8)

Ressaltamos que tal interpretação se dá em função dos discursos de Dona Luiza, da professora Regina e da funcionária Claudia, no momento em que elas declaram que o estudante que estiver interessado pelos serviços prestados e da ajuda que a escola pode disponibilizar, eles, sim, poderão exercer sua cidadania participativa e reduzir as desigualdades sociais.

Nessa mesma linha de raciocínio, percebemos que a escola que hoje conhecemos precisa ser reformulada, retomar o passo, que não se torne uma mera prestadora de serviços às famílias e estudantes ou um espaço onde os pais deixam os seus filhos para ir trabalhar, mas uma instituição humana, (re) produtora de conhecimentos e saberes como foi criada por Platão a Escola de Atenas. Uma escola que seus atores aprendam a fazer intervenções no mundo, sendo capazes de transgredir a ética dos interesses de uma minoria privilegiada, e possibilitar o respeito e a defesa dos interesses humanos. Embora saibamos que, a concepção de escola para Platão, fosse elitista. Só alguns tinham possibilidade de entrar na Academia, não era de maneira alguma democrática. Tal comparação se justifica pela essência e o significado da criação da escola de Platão.

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