• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS

3.6. GESTÃO DEMOCRÁTICA

Tabela 9 – Formação discursiva- Gestão democrática

Sujeito Unidades Discursivas

Gestor (...) O pai que cobra dá medo, dá agonia e a gente não pode ter esse medo porque se não o pai nunca vai se apropriar (...) Todos os atores (alunos e famílias) e agentes (professores, funcionários e gestores), devem participar da gestão da escola (...) Mas muitas vezes os pais querem participar e a escola não abre este espaço de participação , aqui a gente deixa participar.

Mãe de aluno: Dona Luiza

A escola está sempre em contato com os pais. Os pais estão sempre procurando a direção da escola se informando com o diretor sobre o que se passa , como está o filho na escola. (...). Então essa escola, aqui mesmo, ela faz isso.

Pai de aluno: Sr. Antonio

Aqui o que eles fazem deixa bem claro. (...) Eles brincam, orientam quando a pessoa não entende o que vai fazer, eles chamam, conversam, tem tempo disponível. Nessa parte essa escola aqui está bem.

Mãe de aluno: Dona Marta

(...) Essa escola é igual eu te falei , ela deixa as portas abertas para os pais sim! (...), Eu tenho liberdade de entrar, a escola está sempre entrando em contato comigo, me ligando para falar o que acontece na escola e o que não acontece, então em relação a isso eu não tenho o que falar, eles estão sempre de portas abertas.

Professora Regina

(...) Então aqui tem uma grande reluta, os pais não gostam. (...)Eles não querem nada com isso. (...)Fica por conta de professores, gestão que fazem parte do Conselho, para tomar algumas decisões, por aqui à comunidade é muito alienada sobre isso.

Professor João A gestão faz uma reunião geral , na qual trabalha essa conscientização com os pais, com as famílias. (...) Faz esta reunião com os pais não só para conscientizar em relação ao rendimento dos filhos, mas com orientações gerais com relação o que a família pode fazer para acompanhar os filhos.

Funcionária da escola: Claudia

(...) É possível maior participação dessas famílias e dos alunos no dia a dia da escola. Nos eventos realizados na escola, como o Programa Escola da Família. (...) A escola aqui é aberta para a comunidade, de um modo geral bem positiva.

Funcionária da escola:

Fernanda

(...) É passado na reunião de pais algumas coisas. Eu acredito que todo mundo consegue entender e participar da democratização, tudo é bem esclarecido sim. (...) Teria que ser uma conversa mais informal a princípio para que todo mundo entenda que está fazendo parte daquele grupo, e que tudo que for feito será para um bem comum.

Segundo Paro (2002, p. 81), quando os grupos organizados da sociedade civil, em especial os educadores, pressionaram os constituintes de 1988 para escreverem na Carta Magna o princípio da gestão democrática do ensino, eles estavam comprovadamente preocupados com a necessidade de uma escola fundada sob o respaldo dos preceitos democráticos, “que desmanchasse a atual estrutura hierarquizante e autoritária que inibe o exercício de relações verdadeiramente pedagógicas, intrinsecamente opostas às relações de mando e submissão que são admitidas, hoje, nas escolas.”

Sobre esse contexto encontramos esta fala do Gestor:

O pai que cobra dá medo, dá agonia e a gente não pode ter esse medo porque se não o pai nunca vai se apropriar (...) Todos os atores (alunos e famílias) e agentes (professores, funcionários e gestores), devem participar da gestão da escola (...) Mas muitas vezes os pais querem participar e a escola não abre este espaço de participação , aqui a gente deixa participar.

Desta forma, observamos que hodiernamente ainda estamos distantes de um movimento em que a participação da família na escola faça parte da pauta da gestão, isto é, como um suporte legal em que os pais possam participar das decisões a respeito das metas e da realização dos pressupostos educacionais.

No primeiro capítulo referimos, que a mais recente Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB 9394/96, caminha em direção à inserção da gestão democrática e da autonomia da educação básica, sendo confirmado pelo PNE – Plano Nacional de Educação, que reforça o princípio da gestão democrática da educação, que, por sua vez, já é garantida por marcos legais, que visam a concretização de dispositivos fundamentados que garantem a participação das famílias, alunos, funcionários, professores, assim como a comunidade local, na discussão, elaboração e execução de planos de educação e projetos político-pedagógicos das unidades escolares e no exercício da construção da autonomia dessas instituições em associação com os sistemas de ensino.

Nessa vereda, Martins (2006) declara que em termos práticos uma gestão democrática implica em um modelo administrativo que abandona o tradicional modelo de concentração de autoridade nas mãos de uma única pessoa, geralmente nas mãos do diretor, mas avançando para formas coletivas que oportunizem a partilha de poder de maneira a acender-lhes os objetivos, isto é, estabelecer uma nova perspectiva de cooperação entre os envolvidos. Todavia em seu discurso, a professora Regina, assegura que a comunidade é alienada e que os pais são relutantes quanto a participar na gestão da escola, os mesmos declaram quenão gostam e que não querem nada com isso. Dessa forma, fica por conta de professores e da gestão, que são membros do Conselho, tomada de algumas decisões. E esse movimento não se mostra em consonância com o principio de gestão democrática.

Nesse sentido, Ansara e Silva (2014, p. 100) advertem que a construção da cidadania democrática, do ponto de vista da sociedade mais ampla, exige o controle dos cidadãos sobre os governantes, como forma de proteção contra o poder arbitrário. “É preciso que a comunidade participe e se sinta participante da formulação do projeto da escola”. Todavia, percebemos que tal concepção não caracteriza o discurso do professor João, ao posicionar-se sobre gestão democrática na escola.

A gestão faz uma reunião geral, na qual trabalha essa conscientização com os pais, com as famílias. (...) Faz esta reunião com os pais não só para conscientizar em relação ao rendimento dos filhos, mas com orientações gerais com relação o que a família pode fazer para acompanhar os filhos.

Entretanto, entendemos que a partilha de poder no interior da unidade escolar, visa envolver todos na gestão escolar, estabelecendo um novo horizonte de colaboração recíproca. A escola em que se pretende constituir uma gestão democrática, qualificando os atores como escritores de uma práxis histórica relevante, precisa ter clareza em relação ao ato de inovar, como assegura Martins (2006, p.59):

Sabe-se que uma proposta de inovação não se pode esgotar em meros enunciados de princípios é preciso que se elaborem perfis de mudanças claros e compreensíveis, em que estejam definidas a filosofia, as metas e as estratégias metodológicas mais adequadas, os meios e os recursos mais plausíveis, assim como os novos papeis e relações entre os sujeitos, a fim de não resultar inoperante.

Nessa linha, encontramos nas falas da Dona Luiza, do Sr. Antonio e da Dona Marta, uma distorção em relação ao conceito de gestão democrática, ao entenderem que tal conceito se traduz em encontrar a escola sempre de portas abertas para os pais e que, frequentemente, entra em contato com as famílias para informar o que está acontecendo em seu interior, além de possuir um diretor, que, por obter tempo disponível para atendê-los, procura transmitir as informações sobre o rendimento escolar de seus filhos. Desta feita, asseguram que a escola em questão, no preceito gestão democrática, merece ser bem avaliada. “A gestão democrática supõe práticas escolares democráticas, sem as quais, preparar para a cidadania torna-se um discurso vazio.” (BALESTRERI, 1992, p. 11 apud MARTINS, 2006)

Nesse sentido, a construção de relações democráticas que incentivem a participação de todos os que se relacionam na escola, só se dará com base na igualdade de condições, propiciando níveis democráticos de participação, na formação de alianças que construam um sentimento de pertença que possa traduzir-se em resultados concretos. Diante do contexto, mesmo não atendendo de forma legítima ao principio de governação democrática, assim como é chamado por Lima (2002), encontramos nos discursos das funcionárias Claudia e Fernanda um advento de tal movimento, por defenderem que democratização das relações no interior da escola, podem se dar não só na reunião de pais, como na organização de reuniões informais para conscientizar a família que eles também compõem o grupo responsável pelos rumos da escola e que sua contribuição será para o bem comum, o estudante. Assim como enfatizaram a importância da participação dos pais nos eventos da escola e, em especial, no Programa Escola da Família.

Concebemos que, atualmente, o que testemunhamos ainda está distante de uma relação entre a escola e a família, que propicie a construção de uma gestão democrática. Historicamente, a hierarquia escolar e todo um sistema burocrático da gestão acabam se refletindo na sua dimensão institucional, e isso tem sido um dos maiores impedimentos para a

participação das famílias na construção de projetos reais de estudantes e professores em consonância com a cultura popular. A ausência de uma socialização do poder demonstra, com clareza os mecanismos e armadilhas institucionais que afastam as famílias na elaboração de regras para o orçamento e para as finanças da escola, assim como na construção e execução da proposta política pedagógica. Uma gestão democrática, aponta para uma nova qualidade de ensino que supõe uma nova dinâmica das práticas gestionárias e pedagógicas.

3.7.O CONCEITO DE PARTICIPAÇÃO: POR MEIO DAS LENTES DE NOSSOS

Documentos relacionados