• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS

3.1. ESCOLA CIDADÃ

Tabela 4 - Formação discursiva - Escola Cidadã

Sujeito Unidades Discursivas

Gestor Escola cidadã é aquela escola que envolve toda essa comunidade e transforma geralmente todo aluno como um cidadão. (...)A escola vai servir para transformar esse pensamento do aluno, para que ele possa buscar esses direitos, desde o ensino fundamental até universidade. Mãe de aluno -

Dona Luiza

(...) Assim,em minha opinião uma escola cidadã é uma escola para a comunidade.

Pai de aluno: Sr. Antonio

Aquela que está mais perto da comunidade, que traga a comunidade mais próxima a ela, principalmente em um bairro como esse que é carente, ela tem que ser mais aberta para o povo. (...)

Mãe de aluno: Marta

Uma escola cidadã em minha opinião, é aquela que abre as portas para os pais. Para os pais participarem tanto da vida dos filhos, quanto da escola, para ficar por dentro de tudo que acontece nela. Professora

Regina

Pra mim,escola cidadã é onde encontramos a possibilidade de envolver os alunos, os pais, a gestão da escola e professores em entorna da comunidade. (...) É aquela que abre janelas tecnológicas, livros e que traga palestras para que esse aluno desenvolva uma ação cidadã, com responsabilidade, com competência e dignidade.

Professor João É uma escola que atende as necessidades da comunidade, trabalhando a integração entre família-escola. (...).

Funcionária da escola:Claudia

(...) Escola cidadã é uma escola que participa do contexto geral da comunidade (...).

Funcionária da escola:

Fernanda

Escola cidadã onde ela recebe os alunos, não só os alunos, como os pais e a comunidade para atendimento não só no que diz respeito ao aluno, mas a comunidade em geral, abre as portas para ouvir (...).

Logo no primeiro capítulo deste trabalho apresentamos uma pesquisa bibliográfica sobre o Projeto da Escola Cidadã e sua contextualização histórica. Romão (2000) declara que o Projeto da Escola Cidadã se constitui, em primeiro lugar, numa tomada de decisão de todos os atores envolvidos, sejam educadores (as), alunos (as), famílias, ou outras instituições pertencentes à comunidade educativa. E, nesse contexto, identificamos que Fernanda, em seu discurso, corrobora com o posicionamento do autor: “Escola cidadã onde ela recebe os alunos, não só os alunos, como os pais e a comunidade para atendimento não só no que diz respeito ao aluno, mas a comunidade em geral, abre as portas para ouvir.”

Como já apresentamos nesta pesquisa, a viabilidade da proposta da construção de uma escola cidadã depende, em grande parte, do compromisso e vontade política de todos os atores e agentes envolvidos com o universo escolar, isto é, a eficácia desse processo depende muito do desejo da escola em tentar experimentar o novo e o desconhecido, como se manifestaram, Dona Luiza e a Claudia, a responder que uma escola cidadã é uma escola para a comunidade; já o Sr. Antônio defende que a: “Escola cidadã é aquela que faz mais parte da comunidade, que traga a comunidade mais próxima a ela, principalmente um bairro como esse que é carente, ela tem que ser mais aberta para o povo.”

Diante do contexto, Dona Marta e o professor João, ao serem questionados sobre o que era para eles uma escola cidadã, podemos identificar que suas respostas não foram contraditórias em relação às demais aqui apresentadas, pois defendem que escola cidadã é aquela que abre as portas para os pais participarem, tanto da vida dos filhos, quanto da escola, que eles possam se envolver em tudo o que está acontecendo na escola, uma escola que atenda às necessidades da comunidade, trabalhando a integração escola-família. É nessa perspectiva que o Projeto da Escola Cidadã se manifesta como promotor de valores ético-morais, do diálogo, da solidariedade, com gestão democrática e participativa, com acesso e permanência dos estudantes, educadores e famílias.

De acordo com Romão (2000) o Projeto da Escola Cidadã humaniza e eleva a pessoa à condição de sujeito histórico, sendo sua maior ambição contribuir para a criação do surgimento de uma nova cidadania. E nesse contexto identificamos que a professora Regina se identifica com o posicionamento do autor, a seguir:

Pra mim,escola cidadã é onde tem a possibilidade de envolver os alunos, os pais , a gestão, professores, o entorno da comunidade. (...) que abre janelas tecnologicamente, livros, palestras para esse aluno desenvolva uma ação cidadã, com responsabilidade, com competência e dignidade.

Assim como defendia Freire (1987), para quem o papel da educação e, por consequência, a função da escola seria propiciar ao aluno a tomada de consciência crítica, isto é, pensar sobre as questões que o cercam, ser autônomo em relação ao que faz, ser alfabetizado nas letras e na leitura de mundo, tendo liberdade para agir, com consciência, transformando a sua própria história. Consideramos, na mesma medida, que uma escola cidadã será aquela que proporciona ao estudante a construção de uma consciência crítica que lhe permita compreender o mundo, agir sobre ele e contribuir para a sua transformação.

Apontamos, no primeiro capítulo, que historicamente a proposta de uma Escola Cidadã surgiu na década de 1930, nos Estados nos Estados Unidos da América, idealizada por um educador popular que respondia a uma solicitação do líder comunitário negro Esau Jenkins, preocupado com a alfabetização dos negros, a fim de prepará-los para o exercício cívico do voto, isto é, ter seus direitos civis respeitados. Nesse sentido, percebemos que o gestor, por meio de sua resposta, acredita que uma escola cidadã hodiernamente possa atender aos mesmos objetivos defendidos por Esau Jenkins. Para o Gestor:

Escola cidadã é aquela escola que envolve toda essa comunidade e transforma geralmente todo aluno como um cidadão. (...) a escola vai servir para transformar esse pensamento do aluno, para ele buscar esses direitos, desde o ensino fundamental até universidade, eu acho.

Dessa forma, podemos acreditamos que a escola cidadã caracteriza-se como um norte para a construção de um espaço público que se apóia nas iniciativas pessoais, valorizando seus projetos, promovendo as tessituras entre a comunidade escolar e as famílias, como asseguram Romão (2000) e Gadotti (2008).

Percebemos, nos discursos obtidos dos sujeitos de nossa pesquisa, tendo como base os estudos apresentados no primeiro capítulo, que existe entre os atores e agentes envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, um conceito formado em relação à escola cidadã, encarando-a como uma alternativa inovadora, como possibilidade de construir uma renovada escola que dê visibilidade a uma população oprimida e que foi alijada dos processos decisórios de sua própria história.

Para tanto, os referidos discursos podem ingenuamente estar reproduzindo uma retórica

(GENTILI, 2004, p. 01). Observamos que a escola de nosso tempo é uma instituição fragilizada, tendo em conta os vários fatores que impedem a construção de um Projeto de Escola Cidadã, tais como: gestão democrática, desconcentração como descentralização, autonomia outorgada, falta de recursos básicos e necessários, como materiais pedagógicos e verbas públicas satisfatórias, projeto de cidadania assumido pela comunidade escolar e articulado com as famílias, clareza quanto ao ato de inovar, que pressupõe intencionalidade, assim como conhecimento da situação escolar e ausência de proposta político-pedagógico dos sistemas de ensino.

Durante a segunda metade do século XX, assim como no plano econômico,político e jurídico e outros, a escola sofreu reformas concretas por meio de um conjunto de estratégias culturais orientadas a impor novos diagnósticos acerca da crise e construir novos significados sociais tais como legitimação das reformas liberais, como sendo as únicas que podem ser aplicadas no atual contexto histórico de nossas sociedades. Gentili (2004), no alerta que as políticas educacionais implementadas nas administrações neoliberais sabem como e com que receitas podem enfrentar a crise educacional, isto é, na formulação de um diagnóstico comum, em que é possível explicar e descrever os motivos que originam a crise e, obviamente, a clara identificação sobre os supostos responsáveis por essa crise. Na perspectiva neoliberal os maiores responsáveis pela crise educacional e falta de qualidade na função precípua da escola, são os próprios professores, seus sindicatos e as organizações que defendem o direito igualitário a uma escola pública de qualidade e cidadã.

Em síntese tomamos ciência que os governos neoliberais estão deixando os países que já eram pobres e emergentes, mais pobres, desiguais e excluídos, impulsionando a discriminação social, racial, sexual e reproduzindo os privilégios das elites e a educação sucateada. Assim pontua Gentili (2004, p.16):

O desafio de uma luta efetiva contra as políticas neoliberais é enorme e complexo. A esquerda não deve ser arrastada (ou arrasada) pelo pragmatismo conformista e acomodado segundo o qual o ajuste neoliberal é, hoje, a única opção possível para a crise. Para os que atuamos no campo educacional , a questão é simples e iniludível: logo após o dilúvio neoliberal as nossas escolas serão muito piores do que já são agora. Não se trata apenas de um problema de qualidade pedagógica (embora também o seja), serão piores porque serão mais excludentes.

Martins (2006, p. 64) assevera que, cabe aos educadores a condução do processo, a busca de ação pedagógica autônoma, compartilhando com os alunos o desvelamento da realidade que está sendo ofuscada pelos interesses da política neoliberal. “Se, por um lado, a

escola tem-se prestado ao exercício de um papel comprometido com os interesses postos por esse modelo, por outro, existem brechas e espaços que podem ser preenchidos e ocupados como maneira de resistir.”

Todavia, não identificamos em nenhuma das dimensões discursiva exibidas nessa pesquisa, uma perspectiva crítica que venha de alguma maneira apresentar resistência, que possa impedir a força persuasiva da retórica neoliberal no campo educacional, isso é, de que a função social da educação seja a capacidade de promover a adaptação do individuo às demandas do mercado de trabalho.

Documentos relacionados