• Nenhum resultado encontrado

Educação para a Saúde dos Enfermeiros na Pessoa com Demência Avançada

CAPÍTULO III OS ENFERMEIROS PERANTE A PESSOA COM DEMÊNCIA

1. OS ENFERMEIROS PERANTE A PESSOA COM DEMÊNCIA AVANÇADA

1.2. Educação para a Saúde dos Enfermeiros na Pessoa com Demência Avançada

Os cuidados no domicílio permitem um cuidado mais próximo, individualizado e humanizado, reintegrando o doente no seu núcleo familiar e de apoio, permitindo ainda que a equipa de saúde possa intervir “in loco” na promoção e Educação para a Saúde dos familiares e cuidadores do doente com Demência Avançada. Segundo Flipp (2012, p.377) os doentes em geral, “quando questionados, referem que receberam assistência satisfatória no hospital, mas que preferiam receber tratamento no domicílio, pelo conforto e pela rede familiar mais abrangente”.

Para além de todas as práticas inerentes aos cuidados de enfermagem no âmbito de ações paliativas no domicílio é ainda imprescindível informar, explicar, ensinar, orientar e treinar o prestador informal de cuidados através da Educação para a Saúde relativamente ás caraterísticas da doença e sobre os cuidados a prestar ao doente. Sendo um dos objetivos o despiste precoce de eventuais complicações, na ausência do profissional de saúde, a família ficará a conhecer os recursos a que poderá recorrer e a forma adequada de o fazer (Carvalho, 2011). Assim, Queiróz (2011), refere que as intervenções de Educação para a Saúde têm um carácter formativo, uma vez que conseguem integrar processos cognitivos e atitudes, que permitem a modificação de comportamentos, tornando-os em ações permanentemente, conscientes, racionais e voluntárias.

58

Durante a primeira visita domiciliária o enfermeiro prestador de cuidados deve desenvolver um plano de cuidados baseado nas necessidades específicas do doente com demência e da família em função das suas necessidades. Os objetivos destes cuidados domiciliários são: tratamento dos sintomas da doença, manutenção das capacidades funcionais, prevenção do declínio da capacidade física do doente, dar à família instruções relativas à gestão dos cuidados no domicílio, identificar e antecipar a assistência que o doente e família possam precisar, identificar aspetos de segurança física e do ambiente, providenciar a satisfação das necessidades psicossociais e culturais do doente e família / cuidadores e ainda localizar os recursos comunitários que possam satisfazer essas necessidades (Wilkerson, 2004). Nos cuidados prestados a estes doentes o enfermeiro, juntamente com a equipa multidisciplinar deve ainda ter uma intervenção baseada na continuidade dos cuidados, mesmo perante episódios de internamento. Esta noção de continuidade de cuidados reporta-se à parceria na transmissão de informações clínicas que venham a ser necessárias e ao apoio sistemático aos familiares e cuidadores.

Na Demência Avançada as alterações na deglutição são muito frequentes e um aspeto que necessita de especial atenção na Educação para a Saúde dos cuidadores destes doentes. Nestas fases da doença segundo Burlá e Azevedo (2012, p.476) “é comum o paciente aspirar comida ou saliva para as vias respiratórias e desenvolver pneumonias. O processo de morrer tende a ser lento e a morte acontece, na maioria dos casos, por infeção respiratória”.

Gallagher (2011) acrescenta que modificar a textura da comida, assegurar que o doente é sentado corretamente para as refeições e obter ajuda dos familiares pode contribuir para o sucesso. A alimentação manual permite ao indivíduo disfrutar da componente social de comer e assim aumentar a sua qualidade de vida. Assim, a mudança da textura da dieta, para possibilitar que os alimentos fiquem mais cremosos, o uso de gelatinas e de espessantes, tal como adoção de cuidados com a postura do doente com demência. Segundo Barbuti & Carlos (2011, p.533) “a alimentação oral é a preferível, sempre que possível (…) a complementação de ácido cítrico ao alimento melhora o reflexo de deglutição possivelmente devido ao aumento da estimulação gustativa e do trigêmeo pelo ácido. O tratamento adjuvante com inibidor da enzima conversora de angiotensina para facilitar o reflexo de tosse também pode ser útil.”

Existem algumas estratégias que devem ser tidos em conta aquando da alimentação oral do doente com Demência Avançada, as quais devem ser fonte de análise e promovidos pelos enfermeiros no domicílio a fim de prevenir a aspiração broncopulmonar (Carvalho e Taquemori, 2012).

59

Quadro 3 – Estratégias para a alimentação oral no doente com disfagia Estratégias para a alimentação oral no doente com disfagia

- Postura e posicionamento adequados durante a refeição

- Evitar distrações na hora da refeição

- Manter o contato verbal e visual com o doente

- Dar o tempo necessário para que o doente se alimente, respeitando o seu ritmo de ingestão

- Selecionar adequadamente os alimentos

- Atender à temperatura, consistência e paladar do alimento.

- Oferecer alimentos que sejam preferidos e com sabor marcante para o doente

- Oferecer pausadamente os alimentos em pequenas quantidades

- Avaliar a possibilidade de mudanças na dieta ou no esquema medicamentoso para minimizar sintomas

- Oferecer as refeições em horário que o doente esteja menos fatigado, nauseado ou com menos dor.

- Oferecer alimentos com consistência adequada a cada situação e se possível enriquecido, permitindo ingestão de quantidades menores.

- Promover um ambiente claro e arejado

- Oferecer, quando apropriado, suplementos nutricionais sob diferentes formas: mousses, pudins, cremes (…)

- Oferecer a alimentação num contexto agradável e psicologicamente confortável

Fonte: Adaptado de Carvalho & Taquemori (2012) Segundo o autor supracitado (2012), no caso do doente estar com alimentação por sonda é importante usar uma combinação de diferentes métodos: dieta oral e enteral, tentando com o tempo, criar condições para que seja priorizada a via oral.

A dieta via oral deve ser adaptada conforme as necessidades individuais do doente, nomeadamente, quanto à mudança de consistência para dieta pastosa ou cremosa. Deve- se optar uma dieta fracionada e menos restritiva, levando em consideração as preferências alimentares do doente (Silva, Miguel & Dias, 2001, p.294).

Santos [et al.], (2018) refere nas instituições de longa permanência é frequente a ocorrência de problemas durante a alimentação dos idosos. Os sinais de disfagia que ocorrem durante as refeições estão sobretudo relacionados com o comportamento do idoso, alterações dentárias, consistência inadequada dos alimentos, postura e

60

posicionamento inadequado durante a alimentação e oferta rápida do alimento pelo cuidador, o que aumenta o risco de broncoaspiração. A disfagia é ainda consequência de alterações cognitivas, neurológicas, físicas, ambientais e pela falta de higiene oral.

1.3. Problemas Éticos no Cuidar da Pessoa com Demência Avançada no