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Estratégias de cuidados adotados pelos enfermeiros dos Cuidados de Saúde

PARTE II DA PROBLEMÁTICA À METODOLOGIA

2. METODOLOGIA

2.5. Estratégias de cuidados adotados pelos enfermeiros dos Cuidados de Saúde

Os enfermeiros de Cuidados de Saúde Primários em contexto domiciliário têm uma especial importância na utilização e ensino de estratégias que minimizam as dúvidas e as preocupações dos familiares/cuidadores, promovendo assim o bem-estar e o conforto tanto dos familiares/cuidadores como da pessoa com Demência Avançada.

A EPS no autocuidado alimentar é para a maioria dos enfermeiros uma estratégia que deve ser utilizada, de forma a formar os familiares/cuidadores tornando-os capazes de lidar com as alterações na deglutição decorrentes da fase avançada de demência. Também Queiróz (2011), refere que as intervenções de Educação para a Saúde têm um carácter formativo, uma vez que conseguem integrar processos cognitivos e atitudes, que permitem a modificação de comportamentos, tornando-os em ações permanentemente, conscientes, racionais e voluntárias. Segundo Barbuti & Carlos (2011, p.533) “a alimentação oral é a preferível”, neste sentido, Gallagher (2011) apresenta algumas estratégias que favorecem a alimentação oral nomeadamente: modificar a textura da dieta, para possibilitar que os alimentos fiquem mais cremosos, o uso de gelatinas e de espessantes, assegurar que o doente seja sentado corretamente para as refeições e obter ajuda dos familiares pode contribuir para o sucesso.

Ainda em relação à EPS no autocuidado alimentar, Silva [et al.] (2001) referem que deve-se optar por uma dieta fracionada e menos restritiva, levando em consideração as preferências alimentares do doente. Carvalho & Taquemori (2012) mencionam uma série de estratégias a utilizar no autocuidado alimentar da pessoa com Demência Avançada para o favorecimento da alimentação oral nomeadamente: postura e posicionamento

adequados durante a refeição; evitar distrações na hora da refeição; manter o contato verbal e visual com o doente; dar o tempo necessário para que o doente se alimente, respeitando o seu ritmo de ingestão; selecionar adequadamente os alimentos; atender à temperatura, consistência e paladar do alimento; oferecer alimentos que sejam preferidos e com sabor marcante para o doente; oferecer pausadamente os alimentos em

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pequenas quantidades; avaliar a possibilidade de mudanças na dieta ou no esquema medicamentoso para minimizar sintomas; oferecer as refeições em horário que o doente esteja menos fatigado, nauseado ou com menos dor; oferecer alimentos com consistência adequada a cada situação e se possível enriquecido, permitindo ingestão de quantidades menores; promover um ambiente claro e arejado; oferecer, quando apropriado, suplementos nutricionais sob diferentes formas: mousses, pudins, cremes (…) e oferecer a alimentação num contexto agradável e psicologicamente confortável.

Portanto, qualquer que seja a etiologia da demência, sobretudo na sua fase avançada é inevitável que surjam problemas alimentares, associados à recusa alimentar e à dificuldade de deglutição.

Para Gallagher (2011) o favorecimento da alimentação oral permite que a pessoa disfrute da componente social de comer e assim aumentar a sua qualidade de vida. Busto [et al.] (2009) referem que de acordo com os estudos efetuados, a alimentação oral dos doentes com Demência Avançada, mesmo que em pequenas quantidades, é suficiente, mais confortável e os resultados não são piores do que com alimentação por sonda. São ainda fundamentais os cuidados à boca, o posicionamento adequado durante as refeições, a utilização de espessantes e a redução de fármacos sedativos que interfiram na deglutição.

A avaliação das necessidades é outra estratégia adotada pelos enfermeiros para os cuidados à pessoa com Demência Avançada no domicílio. De acordo com Burlá & Azevedo (2012) ao longo da progressão da demência, as intervenções são dinâmicas, pelo que a avaliação das necessidades deve ser periódica, residindo o foco dos cuidados no conforto do doente e dos seus familiares, tendo por base o alívio e a prevenção de complicações. As necessidades a avaliar no cuidado à pessoa com Demência Avançada abrangem: tratar intercorrências clínicas; estimular o uso da via oral para alimentação;

reconhecer a caquexia da demência avançada; manter a integridade da pele; assegurar o funcionamento intestinal adequado; otimizar a utilização de fármacos; trabalhar em equipa multidisciplinar; reconhecer os distúrbios do comportamento; maximizar e manter a capacidade funcional e oferecer suporte psicológico ao doente e seus familiares.

No âmbito da gestão do regime terapêutico os enfermeiros de Cuidados de Saúde Primários adotam estratégias para ajudar os familiares/cuidadores na orientação do plano terapêutico da pessoa com Demência Avançada. Também Burlá e Azevedo (2012) referem que o regime terapêutico deve ser revisto com regularidade, associado a uma boa

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observação de sinais e sintomas da pessoa com Demência Avançada, incluindo a dor, desconforto devido à fraca mobilidade, infeções respiratórias, nutrição e estado de hidratação, que interferem com a funcionalidade dos órgãos. A gestão do regime terapêutico deve ser cuidadosamente pensado e discutido tendo como referência a esperança de vida estimada e os efeitos secundários dos fármacos. Abreu (2016) menciona ainda que com a evolução da doença os enfermeiros devem estar atentos em conjuntura com os familiares/cuidadores às necessidades de ajustamentos terapêuticos e em equipa multidisciplinar procedendo-se à otimização do regime terapêutico.

Decorrente do desgaste físico e emocional dos familiares/cuidadores da pessoa com Demência Avançada, os enfermeiros dos Cuidados de Saúde Primários referem que usam como estratégias a promoção da escuta ativa e o favorecimento da expressão de

sentimentos/emoções dos familiares/cuidadores de forma a colmatar ou aliviar as suas

dificuldades e o seu sofrimento. Burlá e Azevedo (2012), conferem este achado referindo que a Demência Avançada por ser uma doença crónico-degenerativa, provoca um desgaste considerável das relações familiares, com alto risco de sobrecarga e stress dos cuidadores. O Desgaste físico e emocional sobre os membros da família está bem documentado, bem como a tristeza inerente ao facto de perdem lentamente em vida a pessoa que conheciam.

O apoio no processo do luto é outra estratégia relatada por um enfermeiro, preparando os familiares/cuidadores para o processo de grave declínio cognitivo e funcional e de morte. Burlá & Azevedo (2012) refere que a intervenção paliativa exige que a família seja acolhida no duro processo de participar da dissolução cognitiva e funcional de uma pessoa. A demência é uma doença que submete a família ao processo de luto antecipatório de uma pessoa que ainda vive.

O recurso da nutricionista é referido por um enfermeiro como uma estratégia adotada no cuidado da pessoa com Demência Avançada no domicílio. Também Fernandes (2012) refere que o nutricionista é um dos profissionais que pode auxiliar na evolução favorável do doente. Em Cuidados Paliativos, a nutricionista deve ter em conta que o primeiro objetivo é aumentar a qualidade de vida do doente, tendo em conta as consequências psicológicas e sociais dos doentes e familiares, sendo que na medida do possível, a dieta via oral será sempre preferencial, desde que o trato gastrointestinal esteja íntegro.

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Os enfermeiros entrevistados referem estimular e sensibilizar os familiares/cuidadores para o favorecimento da autonomia da pessoa com demência no domicílio, ensinando estratégias que promovam a autonomia. Também Burlá e Azevedo (2012) mencionam que a adoção de rotinas e de um programa de exercícios contribui para reduzir a inquietação do doente e promove a autonomia. Além disso, deve-se procurar reorientá-la para a realidade por meio de relógios, calendários e fotos. Um dos papéis do cuidador é estimular a autonomia da pessoa com demência, evitando assim a dependência precoce.

2.6. Necessidades dos enfermeiros dos Cuidados de Saúde Primários no cuidar da