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Educação para o trânsito: uma alternativa para amenizar os conflitos de circulação

Foto 20 Uberlândia (MG): acidente envolvendo três veículos sem vítimas fatais na Av João

5. Educação para o trânsito: uma alternativa para amenizar os conflitos de circulação

Social

A educação será consistente e efetiva apenas quando as pessoas sentirem que o comportamento adequado será recompensado e o inadequado punido. (VASCONCELLOS, 2000, p. 264).

5.1. A inserção da Educação para o Trânsito

Desde a chegada dos veículos ao país, verificou-se a necessidade de criar uma infraestrutura que viabilizasse a consolidação desse meio de transporte e de estabelecer políticas direcionadas às regras de circulação. Entretanto, as leis de circulação desconsideravam a conduta de motoristas e pedestres. Essa posição é confirmada com a criação do primeiro Código de Trânsito Brasileiro, que não mencionou a Educação para o Trânsito.

Mas, com o aumento de veículos em circulação e o crescimento urbano, o segundo Código de Trânsito Brasileiro, nos artigo 124/125, contemplou a Educação para o Trânsito (BRASIL, 1966):

Art 124. Pelo menos uma vez cada ano, o Conselho Nacional de Trânsito fará realizar uma Campanha Educativa de Trânsito em todo o território nacional, com a cooperação de todos os órgãos competentes do Sistema Nacional de Trânsito. Art 125. O Ministério da Educação e Cultura promoverá a divulgação de noções de trânsito nas escolas primárias e médias do País, segundo programa estabelecido de acordo com o Conselho Nacional de Trânsito.

Dessa forma, a lei se comprometia com a realização de campanhas educativas no país, colocando-a sob a responsabilidade do CONTRAN, além de requerer a abordagem de informações acerca do trânsito em escolas primárias e de ensino médio. Esse programa seria executado pelo Ministério da Educação e Cultura, seguindo as orientações do Conselho Nacional de Trânsito.

Conforme Vilela (2006), esse processo seguiu em curso, sucessivamente, com o parecer n° 675 do Conselho Federal de Educação, no ano 1968, que estabelece que a educação sobre a circulação seja efetuada em estabelecimento comercial e privado. No ano seguinte, as semanas de Educação para o Trânsito foram modificadas, por meio da Resolução nº 420, de 31 de Julho de 1969 (CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO, 1969), que aprovou a

diretriz para a realização da Campanha Nacional Educativa de Trânsito em todo o território nacional. A finalidade era reger os órgãos executivos de trânsito, indicando atividades a serem desenvolvidas durante a Semana de Trânsito realizada anualmente, no período de 18 a 25 de setembro, e desenvolvida a partir de intensa publicidade e aplicação por parte do povo de aspectos legais da sistematização do trânsito com o objetivo de conscientizar e gerir uma conduta segura ao circular.

Todavia, de acordo com Vilela (2006), em 1970, a Educação para o Trânsito era abordada apenas como transmissão de regras e normas de circulação. A temática não trabalhava a vivência do educando a partir da sua realidade.

Consecutivamente, órgãos competentes propuseram a realização de cursos de trânsito, como fez o Conselho Federal de Educação, em 1972, para as escolas públicas. Em 1978, o Departamento Nacional de Trânsito criou diretrizes para inserir a Educação para o Trânsito nos estabelecimentos de ensino públicos, desde a educação infantil. Ambos os projetos não obtiveram êxito. Nesse período, os projetos de Educação para o Trânsito ajuizavam os ideais políticos existentes, os quais eram fundamentados no simples ato de obedecer, reconhecer o policial de trânsito e ensinar regras e normas de trânsito sem refletir sobre o assunto (RODRIGUES, 2007).

Conforme Vilela (2006) e Rodrigues (2007), a partir de 1980, foram realizadas diversas ações promovidas pelo Denatran e pelo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem – DNER, com a meta de abranger e motivar a população sobre a importância da Educação para o Trânsito. Assim, nesse período, vários departamentos estaduais e municipais responsáveis pelo trânsito implantaram projetos denominados Transitolândias. Desse modo, o espaço da circulação, com as situações vivenciadas no dia-a-dia, era reproduzido com o objetivo de ensinar as normas de locomoção, sinalização e as placas de tráfego, especialmente para os futuros motoristas.

De acordo com Rodrigues (2007), no II Simpósio Nacional de Trânsito, realizado em setembro de 1980, inicialmente nas capitais e logo em seguida nas cidades grandes, foi sugerida a abordagem da Educação para o Trânsito nas escolas de 1º e 2º graus. Assim, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul foi a responsável por executar o projeto e imprimir o material para instruir os usuários das vias, o qual era distribuído pelas Secretarias de Educação. Nesse período, o país passou por um processo gradativo de redemocratização e houve um empenho dos órgãos de trânsito para abarcar a sociedade em projetos educacionais direcionado aos pais e alunos. Em São Paulo, foi criado o Clube Bem-te-vi, a Cidade Mirim e o Projeto Vida. Logo em seguida, no ano de 1982, o Rio de Janeiro disponibilizou material

bibliográfico através do Caderno Pedagógico, com a finalidade de orientar professores e alunos.

A partir de 1990, surgiram publicações com abordagem mais crítica e abrangente da realidade do trânsito, com uma nova linguagem. Nesse contexto, o Mato Grosso do Sul, em 1992, recebeu o primeiro lugar do Prêmio Volvo de Segurança, com o lema: “Trânsito é questão de consciência”. Esse período foi relevante e singular na Educação para o Trânsito, pois consentiu programas, projetos, campanhas e material de orientação voltados para essa temática (RODRIGUES, 2007). Ainda nessa década, em 1991, por meio da portaria nº. 648/05/1991 do Ministério da Educação, determinou-se que a Educação para o Trânsito deveria ser inserida nas escolas de 1° e 2º graus (VILELA, 2006).

No artigo 23, inciso XII da Constituição Federal Brasileira (BRASIL, 1988), a Educação para o Trânsito é contemplada e certifica-se no Artigo 23 que:

[...] é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: XII - estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito. Esta lei determina autoridade aos municípios para inserir e criar ações específicas para ensinar e promover uma circulação segura.

O Código de Trânsito Brasileiro (BRASIL, 1997) apresentou várias inovações no que se refere à Educação para o Trânsito. Entre elas, constituiu-se uma nova identidade entre o Estado e a sociedade, determinando aos órgãos públicos responsabilidade pela garantia de ir e vir de pedestres e veículos, havendo, inclusive, um capítulo específico para este tema.

Nesse sentido, a circulação deve ser apreendida na totalidade social, isto é, o simples ato de ir e vir sofre influência de cada indivíduo no cotidiano, ao desrespeitar as regras de trânsito estabelecidas e criar suas próprias normas de circulação para atender as suas prioridades imediatas. Daí advém a obrigação do poder público de instituir normas e leis para regular a vida em sociedade. Assim, o atual Código de Trânsito Brasileiro assegura que a circulação é um direito de todos e dever do Estado, e a Educação para o Trânsito é instrumento imperativo para esta ação. Logo, em 2000, o trânsito passa a ser compreendido como um dever não só do Departamento Nacional de Trânsito, mas de outros órgãos e ministérios. Dessa forma, o Ministério da Educação e Cultura - MEC realizou a campanha educativa “No Trânsito: Uma lição de vida”.

Em 2001, corroborado por Vilela (2006) e Rodrigues (2007), o Denatran e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO, por meio dos recursos oriundos do Fundo de Educação e Segurança no Trânsito – FUNSET, fundaram o projeto denominado “Rumo à Escola”, com a finalidade de inserir a temática do trânsito de

maneira constante nas instituições de Ensino Fundamental. Para isso, buscava analisar e refletir sobre este assunto no cotidiano da população, com o intuito de repensar, criar e desenvolver uma nova atitude, conduta, valor e respeito para assegurar o ir e vir das pessoas, independentemente do modal utilizado, e não somente nas grandes cidades, mas em todos os lugares. Cabe, ainda, ressaltar que nesse momento os DETRANS estaduais também realizaram programas e campanhas de Educação para o Trânsito.

Ultimamente, são promovidos diversos seminários, palestras, conferências, campanhas e projetos que contemplam esse tema, por meio dos órgãos federais, estaduais, municipais e entidades que constituem o Sistema Nacional de Trânsito, que têm a obrigação de possuir uma coordenadoria de educação para implantar medidas e ações direcionadas à Educação para o Trânsito em todo o território nacional.

Dentre as campanhas e projetos desenvolvidos anualmente, têm-se: a Semana Nacional do Trânsito, entre 18 e 25 de setembro, realizada pelo CONTRAN, órgãos e entidades que compõem o Sistema Nacional de Trânsito; o prêmio Denatran de Educação no Trânsito; e o prêmio Volvo de Segurança no Trânsito.

O Prêmio Denatran tem como fundamento estimular a criação de trabalhos técnicos, científicos e artísticos voltados ao tema trânsito. Podem se inscrever órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito, organizações, instituições ou empresas com ou sem fins lucrativos, pessoas físicas, estudantes matriculados regularmente em instituições de ensino público e privado e os educadores destas escolas. Os alunos devem ser estudantes da educação básica e os professores também precisam atuar neste nível de ensino (DENATRAN, 2009).

A Volvo implantou o Prêmio Volvo de Segurança no Trânsito há 22 anos, o qual escolhe e premia os melhores trabalhos desenvolvidos por motoristas profissionais, transportadores de carga e passageiros, empresas, cidades, jornalistas e público em geral. Esse projeto tem o objetivo de promover um trânsito mais seguro, diminuindo o número de acidentes e conflitos decorrentes da conduta inadequada da população (VOLVO 2009).

A Semana Nacional do Trânsito está fundamentada no Artigo 75 do CTB, no qual o CONTRAN determina, a cada ano, os temas e o cronograma das campanhas que serão trabalhadas por todos os órgãos ou entidades do Sistema Nacional de Trânsito com alcance para todo o país. O artigo supracitado não se restringe apenas a campanhas da referida semana, mas aplica-se também a períodos de férias escolares e feriados prolongados.