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Educação Permanente e ao Longo da Vida EPLV

2.2. Referentes teóricos

2.2.2 Educação Permanente e ao Longo da Vida EPLV

O conceito de educação permanente foi evoluindo ao longo dos tempos, hoje em dia, e para muitos autores, a sua evolução foi aglutinada pela educação ao longo da vida. A criação do conceito educação permanente remonta ao inicio do século XX, sendo “revitalizado e expandido de forma critica e consciente” nos anos 70 (Barros, 2011: 134), com a mudança do pensamento sobre a educação, enfatizado pelo processo de “aprender a ser” do relatório Faure de 1972 (Canário, 1999).

A educação permanente deriva de uma corrente crítica, baseada nos “ideais democráticos e da defesa dos direitos humanos” permitindo um desenvolvimento económico, sociocultural – um desenvolvimento integrado (Antunes, 2001; Dias, 2009). Definida por Gelpi (1994: 344), como: “um conceito, uma política, uma prática, um objetivo e um método”, estando presente durante toda a vida e múltiplos contextos, ela abarca todos os tipos de educação. Os seus ideais assentam na democracia, cidadania, responsabilidade social e emancipação.

Os novos desafios derivados das transformações sociais, económicas e politicas, ocorridas a partir dos anos 90, provocaram uma viragem no campo da educação de adultos, afirmando-se na formação profissional contínua (Canário, 2013), baseando-se no paradigma da aprendizagem ao longo da vida, derivadas das correntes da gestão, dirigidas para a produtividade, a competitividade, a adaptabilidade, a empregabilidade e coesão social (Barros, 2011). Deste modo, a aprendizagem ao longo da vida deixou de ser unicamente um constituinte da educação e da formação, tornando-se num princípio orientador de aprendizagens (CE, 2000). Com base neste paradigma, o termo educação foi reduzido, ou mesmo, substituído dos discursos das politicas nacionais e internacionais pelo conceito de aprendizagem – aprendizagem ao longo da vida (ALV). Na opinião de Licínio Lima (2014), a educação de adultos sofreu uma erosão política em prol da aprendizagem. Esta aprendizagem ao longo da vida traduz-se numa forma

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de oferecer meios para que o ser humano dê prosseguimento a sua educação com o fim de alcançarem mais certificados, transformando-se numa “certificação ao longo da vida” - lifelong certification (Sitoe, 2006: 288).

Para vários autores, L. Lima (2005), Canário (2003, 2013), Cavaco (2009), Barros (2011), Silvestre (2003), entre outros, a principal dissemelhança é de ordem ideológica e politica (Barros, 2011), ou seja, reside no facto de que a educação permanente é tida como uma educação humanista e solidária contrariamente à aprendizagem ao longo da vida com enfoque na teoria do capital humano. Levando em conta esta perspetiva, esta evolução do conceito de educação permanente para aprendizagem ao longo da vida é idealizada através do desgaste do imaginário da educação permanente, representando desta forma, “uma rutura e não uma continuidade” (Canário, 2013: 17). Assim, podemos aferir que a aprendizagem ao longo da vida, para os autores mais críticos, deriva de uma visão tecnocrática e gestionária fruto do pensamento funcionalista (Barros, 2011), que tende a ser orientada para a adaptabilidade, empregabilidade e a produção de vantagens competitivas no mercado global (L. Lima, 2007). Contrariando a imagem dada pela UNESCO, em que a aprendizagem ao longo da vida integra “uma filosofia, um marco conceitual e um princípio organizador de todas as formas de educação, baseada em valores inclusivos, emancipatórios, humanistas e democráticos, sendo abrangente e parte integrante da visão de uma sociedade do conhecimento (UNESCO, 2010: 3-4).

Com a realização da CONFINTEA VI, aparece a designação de educação e aprendizagem ao longo da vida, abarcando as duas dimensões. L. Lima (2007), reforça argumentando que se a educação e aprendizagem ao longo da vida é percecionada como uma ferramenta para a democracia, a aprendizagem ao longo da vida está mais orientada para a economia.

Por sua vez, o conceito de educação ao longo da vida, foi retomado e atualizado no relatório da UNESCO - Educação um tesouro a descobrir, visto “como uma das chaves de acesso ao século XXI” (Delors et al., 1998: 19). A educação ao longo da vida, entendida como todos os processos de educação que permite que os indivíduos, desde a infância até à sua morte, tenham conhecimentos sobre o mundo em que vivem, sobre as outras pessoas e sobre si mesmos. Este processo educativo, é caracterizado por ser “continuum, co-extensivo à vida e ampliado às dimensões da sociedade” (Delors at al., 1998: 104) devendo abarcar os quatro pilares da educação. Neste sentido, podemos aferir, que como “continuum compreende a educação de crianças, jovens e adultos” (L. Lima, 2007: 13), tida como condição necessária para um desenvolvimento harmonioso, integral e integrado do indivíduo.

Com um papel pluridimensional, é um construto do indivíduo, dos seus conhecimentos e competências, e da sua aptidão para a ação, levando-o a ter um maior conhecimento de si próprio e do

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seu meio envolvente, assim como, a ser socialmente ativo no trabalho e na comunidade (Delors at al., 1998). Ainda segundo o mesmo relatório, a educação ao longo de toda a vida, é percecionada como a forma de conseguir o equilíbrio entre o trabalho, as aprendizagens e uma cidadania ativa e participativa (Delors at al., 1998).

Neste sentido,

a educação durante toda a vida deve ser orientada no sentido de resistir criticamente à mera subordinação perante as “necessidades objetivas” da competitividade económica, da emulação e do puro ajustamento funcional à realidade; promovendo para isso uma educação para a solidariedade humana, aprendizagens críticas e, sempre que necessário, situações de desaprendizagem que permitam reaprender e aprender o novo (L. Lima: 2007:36).

Contudo acreditamos na máxima, de que a educação deve ser permanente ou de forma contínua, ocorrendo em todos os contextos, espaços e tempo, ao longo de toda a vida, desde a nossa conceção até à nossa morte, reforçando esta ideia de que, a educação é e deve ser um processo próprio de evolução e desenvolvimento pessoal e comunitário. Uma vez que, “o homem, como um ser histórico, inserido num permanente movimento de procura, faz e refaz constantemente o seu saber” (Freire: 1985: 31).