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CAPÍTULO 2 ALIENAÇÃO, EMANCIPAÇÃO E EDUCAÇÃO DO IDOSO:

2.3 EDUCAÇÃO COMO CONTRIBUIÇÃO PARA A EMANCIPAÇÃO

2.3.1 Educação permanente

Ao considerar a natureza inacabada do sujeito, torna-se fundamental uma formação que ocorra no decorrer de toda a sua existência, num processo de continuidade. Neste sentido, “[...] aceitamos a educação como um circuito aberto e plausível de imperfeição, visto que o homem é imperfeito e inacabado, e a educação parece uma tentativa de ajudar o homem a encontrar soluções para suas crises e paradoxos” (MOSQUERA, 1980, p. 194).

A educação permanente detém um elevado grau de importância, reforçando a necessidade da expansão de espaços formativos para além da escola, considerando o impacto positivo das ações emergentes da educação não formal.

A ideia de totalidade é a que melhor exprime o ponto de partida da educação permanente, à medida em que focaliza o homem em toda sua dimensão, imerso na sua problemática existencial, onde os aspectos biológicos e sociais são importantes, e a própria história de vida individual. Ao mesmo tempo, a educação permanente é a que melhor responde a essa necessidade de uma educação para a mudança, exigindo pessoas que se integrem ativa e criativamente, para melhor responderem aos desafios que nem sempre podem ser equacionados. a educação é práxis, na qual a interação homem/situação é muito mais dinâmica e real, acentuando as modificações do ambiente que se refletem no homem e vice-versa (OLIVEIRA, 1998, p. 243).

A educação, assim, constitui-se como um processo permanente, a fim de atender as demandas provenientes das mudanças que ocorrem na sociedade, bem como o processo de desenvolvimento do sujeito (OLIVEIRA, 1999).

“Não há seres educados e não educados. Estamos todos nos educando” (FREIRE, 2007, p. 28). Em seu caráter de continuidade, o processo de educação permanente visa agregar todos os sujeitos em sua concretude, tendo como objetivo a formação de um homem integral, que se desenvolva em todas as suas habilidades e que consiga adquirir a consciência de si e do mundo. Considerando sua finalidade, a educação permanente é um meio para a transformação, em que cada sujeito tenha acesso a conhecimentos e a reflexão sobre eles, não se limitando a mera engrenagem do sistema capitalista.

A educação permanente destaca-se como uma estratégia cultural, em que busca instrumentalizar o sujeito para que este consiga ter uma postura de análise, tanto de si como do contexto em que se insere (comunidade e sociedade), ressalta a importância da interpretação da realidade, mas de maneira crítica. Também aponta que o incentivo de atitudes criadoras, para que o sujeito perceba quais são as suas possibilidades, suscitando novos valores frente à realidade posta. Ao mesmo tempo, indica que o sujeito pode organizar seu tempo livre, para que este não se transforme em mera ociosidade (NEOTTI, 1978).

Além da perspectiva individual, a educação permanente, que acontece em todas as fases da vida, em seu sentido aprofundado de totalidade, aponta que não é apenas o sujeito que tem sua formação voltada para a universalidade, mas procura desenvolver a sociedade para a solidariedade humana, em que os homens traçam entre si objetivos comuns de vida e de melhoria das condições sociais. Neste sentido, a educação permanente atua para congregar todos os sujeitos, ultrapassando o limite da marginalização. A partir dela, o sujeito vai adquirindo subsídios de conhecimento e

reflexão para que desenvolva sua capacidade de entender a vida (na totalidade de sua humanidade).

Portanto, a educação permanente é a educação durante toda a vida, para todos os homens. É uma educação sem limites e sem fronteiras. É a maneira de se preocupar com a formação total pela autodeterminação. É o processo de aquisição e de ampliação do conhecimento, de dominar a tecnologia, de desenvolvimento do senso crítico, de descoberta e (re) descoberta de valores, e de se relacionar com o mundo. É ser sujeito de construção de sua própria história, de abrir caminhos numa sociedade mutante e sem muitas perspectivas. É aproveitar-se de todas as oportunidades para crescer, valorizar-se como pessoa e afirmar-se como cidadão (LAMPERT, 2006, p. 3).

Educação permanente não significa o esvaziamento do conhecimento e dos fundamentos científicos, mas representa ação diante de um sujeito socialmente situado. “Por isto podemos dizer que a permanência da educação seria reconhecê-la como um processo fluente que elimina as barreiras, dualismos e se ajusta à unidade do homem colocado em uma sociedade em mudança” (MOSQUERA, 1980, p. 146).

Dado o caráter educador da própria vida, a socialização e a integração do sujeito em seus grupos sociais não pode sê-lo senão com consciência. O homem não pode ser escravo de sua ignorância, da cultura e da ideologia. Neste sentido, a educação assume um importante papel quanto ao esclarecimento. Diante deste contexto, a educação permanente não é apenas uma estratégia, é uma necessidade. O processo educativo permanente “[...] visa uma educação rearranjada, refletida e integrada no seu todo. Ela sustenta a idéia de um controle de todos os recursos educativos possíveis de uma sociedade e de sua execução” (GADOTTI, 1984, p. 69).

Diante desta amplitude, resgata-se o direito do sujeito à educação, enquanto meio de formação, para que este, ao estar integrado à sociedade e a própria existência, consiga relacionar sua vida com o modo de sociabilidade em que vive, atingindo um patamar emancipatório (política), desvencilhando da completa exclusão e marginalização.

A partir da própria evolução, no que diz respeito a formação por meio das mais diversas ações educativas, o sujeito eleva-se ao patamar da autoeducação. Para a educação permanente, a autonomia do ser social no que tange a questão da sua aprendizagem e apropriação de conhecimentos e consciência sobre o processo, o coloca na condição de igual.

Quando se atinge a autoeducação dos iguais e posteriormente a autogestão da ordem social, se alcança uma progressão no que diz respeito à organização social e este processo repercute indubitavelmente em transformação. O sujeito, ao partilhar práticas educacionais por ele definidas, se aproxima da condição de um agente ativo para a transformação. “La educación, en ese sentido, es verdadeiramente una educación continua” (MÉSZÁROS, 2008, p. 69-70).

Neste contexto, a educação permanente vai gradativamente avançando sobre a realidade social, estando presente em qualquer espaço, considerando que todo sujeito tem condição de aprender, desde que oferecidas condições mínimas para a sua formação. Logo, se dá num caráter universal, pois coloca-se como possibilidade para quem é socialmente marginalizado e sofre com a vulnerabilidade frente ao sistema.

Mosquera (1980, p. 141) explica que “educação permanente é universal no seu caráter e essencial à completa democratização da aprendizagem, caracterizada pela sua flexibilidade e diversidade em conteúdos, apreendendo elementos, técnicas e finalidades abertas ao tempo e ao espaço”.

Diante disso, em seu caráter emancipatório e de onilateralidade, a educação irá colocar-se a todos os grupos sociais que dela são excluídos. Dentre estes grupos, podem-se destacar os homossexuais, as crianças, os indígenas, os portadores de necessidades especiais, os idosos, entre outros. Embora, nesta relação contraditória, a ação educativa emerge não para a redenção da sociedade, mas como um meio de apropriação de conhecimentos.

Reforça-se nesta condição a necessidade da manutenção do direito à educação, em especial, a educação permanente, que irá acompanhar o sujeito em todas as suas etapas de vida. Pois, para além de uma questão de maturação do sujeito, a educação permanente visa o desenvolvimento cultural, social e econômico (PAIVA, 1985).

Embora a educação não tenha todos os mecanismos suficientes para uma mudança radical na sociedade e para a eliminação de toda forma de marginalização e vulnerabilidade, sua contribuição é essencial, pois a partir dela, o sujeito pode ultrapassar os limites da ignorância a que está submetido, tendo condições de interpretar a realidade, sua vida social e quem ele é. Desta forma, ela não se restringe a uma formação precarizada como é difundida no sistema educacional formal capitalista. A educação não irá destituir a ideologia da classe dominante, mas pode

na mais singela ação possível ensinar que o homem pode problematizar tal ideologia e a partir disto, colocar-se contrário a ela.

Assim, a educação permanente condiz com uma “[...] educação integral que abarque toda a vida e todas as possibilidades do ser humano. Todos têm de se educar desde que nasçam até que morram; além disso, todas as virtualidades contidas nos homens se convertem em objeto de educação” (FULLAT, 1979, p. 34).

A educação permanente abrange a vida inteira do sujeito, e é essencial para a democratização do saber, não se restringe a um ato planejado, pois o cotidiano também é formador. Todo lugar pode ser educativo, seja na família, na escola, na igreja, na comunidade ou na sociedade. E, diante desta organização, conhecer não se limita a rigidez de um método de aprendizagem, mas pela fluidez e flexibilidade a que o homem possa ser colocado, em que a partir de uma formação mínima, possa discernir sobre aquilo que lhe é essencial. O ato educativo ultrapassa a obrigatoriedade, comum aos espaços formais, e coloca-se como uma importante alternativa para a luta em prol da emancipação, mesmo que seja a política, a qual é possível a partir da sociabilidade existente. Diante da conjuntura posta, a educação permanente, colabora para a manutenção e a melhoria da qualidade de vida.

A educação permanente é uma concepção dialética da educação, como um duplo fundamento, tanto da experiência pessoal quanto da vida social global, que se traduz pela participação efetiva, ativa e responsável de cada sujeito envolvido, qualquer que seja a etapa de existência que esteja vivendo (FURTER, 1976, p. 136-7).

Ao fruir de conhecimentos e de uma educação que acompanha toda a vida, o sujeito adquire mais elementos para avançar de sua condição individual e colocar-se em seu coletivo. A possibilidade de adentrar no espaço de participação e efetivar sua luta por melhorias, mesmo que ainda no patamar de direitos sociais e humanos, o coloca numa nova condição, passa de mero receptador de informações para sujeito ativo.

Tendo a educação como estratégia, a luta contra a sociabilidade vigente ganha força, por meio do enfrentamento ao capitalismo. Esta batalha de ideias não pode se isolar, mas sim dialogar com os movimentos que empreendem transformações sociais radicais. É fundamental congregar forças, por meio dos movimentos sociais, movimentos de trabalhadores e estudantes, para que haja um coletivo de formação

nos mais diversos espaços formais ou não, visando acumular forças para grandes jornadas de lutas contra o sistema (LEHER, 2011).

Esta mudança tangente ao sujeito traz importantes contribuições para a vida social, principalmente para os grupos mais expropriados de direitos e saberes da classe dominada. Diante disso, a esperança de uma mudança substancial na vida dos marginalizados começa a existir.

Dentre estes grupos, pode-se destacar o dos idosos, que representam uma significativa parcela da população mundial e brasileira (13%, ou seja, 26 milhões de pessoas – IBGE/2013) e que vivenciaram limitações em sua formação escolar formal, reorganização do mercado de trabalho, modificações demográficas e sociais, reestruturações políticas, negação de direitos e as rupturas sociais, econômicas e culturais (SCORTEGAGNA, 2010).

Configura-se como um grupo que demanda ações educacionais permanentes emancipadoras, em que a condição de passividade e receptividade de suas ações seja ultrapassada pela atividade e a autonomia. Neste sentido, a educação permanente corresponde não apenas como um mecanismo para que o sujeito adquira conhecimento ao longo de sua vida, significa a oportunidade de mudança e transformação, seja no âmbito individual e posteriormente no coletivo.

Neste panorama, destaca-se o trabalho realizado nas instituições de ensino superior voltadas ao atendimento do público idoso, em especial às ações educacionais, que pautadas nos princípios da educação permanente, contribuem significativamente para a busca da emancipação destes sujeitos (emancipação política).

No próximo capítulo, serão discutidos os objetivos, características e fundamentos destas ações educacionais para o idoso nas instituições de ensino superior. Para melhor compreensão da atuação das Universidades Abertas para a Terceira Idade, é importante conhecer o perfil do idoso, bem como as políticas públicas que permeiam esta atuação.

Cabe também analisar a importância das teorias sociológicas do envelhecimento, que permitem ampliar a discussão sobre este processo, bem como entende-lo tanto em relação as questões microssociais como nas macrossociais. Estas teorias são importantes fundamentos para o trabalho desenvolvido nas UATI.

Além disso, será possível conhecer quais são as ações educacionais para o idoso nas instituições de ensino superior do Paraná, considerando a organização e

caraterísticas, o que possibilita a ampliação da discussão entre a importância da educação para o idoso, baseada nos princípios da educação permanente, tendo seu fim no processo de emancipação.