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2.1 EDUCAÇÃO PROBLEMATIZADORA E DIALÓGICA DE

2.1.1 Educação problematizadora e dialógica

A concepção freiriana prevê o diálogo entre os sujeitos envolvidos no processo educativo, sobre as situações vivenciais em que estão inseridos. Este diálogo deve ser estabelecido a partir dessa realidade problematizada para aprofundar o significado destas relações e não cometer-se equívocos conceituais, como, por exemplo, pensar que o fazer pedagógico de Freire não estabelece os papéis dos sujeitos envolvidos neste diálogo, ou que o professor se encontra no mesmo nível cognitivo de seus alunos, levando a compreensões dúbias da função do professor e dos alunos em sala de aula.

O fazer dialógico acontece enquanto os sujeitos envolvidos no processo educativo dialogam sobre a sua realidade vivenciada. A tarefa dos professores ou equipe interdisciplinar de investigação é problematizar as situações destacadas dessa realidade a partir do seu estudo preliminar, visando as transformações. Estas modificações podem ser caracterizadas em dois níveis: o primeiro dá-se sobre as percepções dessa realidade e o segundo sobre os possíveis mecanismos de ação para efetivá-las. A dinâmica que orienta os trabalhos é a da transformação de percepções dos

sujeitos sobre a realidade em que estão inseridos. A percepção da realidade entendida aqui como representações compartilhadas pelos sujeitos. Quando as transformações das percepções dos sujeitos acerca dessa realidade são alteradas deve ocorrer nos âmbitos cognitivo, social e político.

Neste caso a problematização se faz a partir da realidade vivenciada pelos sujeitos envolvidos no processo educativo, professor e alunos. A dialogicidade se estabelece entre os sujeitos envolvidos com o conhecimento interligado ao objeto que os mediatiza. Com o processo educativo dialógico e problematizador está subjacente a ideia de transformação. A transformação para uma sociedade mais humanizada, em que todos os envolvidos possam ver mais além de seu mundo, atuando sobre ele, transformando-o. Nesse sentido, a experiência de vida do educando é o ponto de partida de uma educação que considera que seu contexto de vida pode ser apreendido e modificado (DELIZOICOV, 1983).

Essa transformação apenas é possível quando o educando passa de um nível de “consciência real efetiva” para o nível de “consciência máxima possível” (FREIRE, 1987, p. 107). Os termos “consciência real” (efetiva) e “consciência máxima possível” são termos usados por Goldman e que Freire utiliza para explicar os níveis de consciência dos indivíduos antes e depois da prática educativa libertadora. Segundo ele, ao nível da “consciência real”, os homens se encontram “limitados na possibilidade de perceber mais além das “situações-limites” [...]” (FREIRE, 1987, p. 126). Já ao atingir o nível da consciência máxima possível, o indivíduo é capaz de vislumbrar as soluções antes não percebidas.

Para que a consciência máxima possível seja alcançada, é preciso que o processo educativo aconteça com o educando e não sobre o educando, de modo que o sujeito da ação educativa não seja passivo e um mero recebedor dos conteúdos que são depositados pelo educador. (FREIRE, 1987, p. 66).

As alterações da percepção da realidade mediatiza pelo professor e seus alunos acontece para Freire pelo processo dialógico. Só que estas mudanças de percepção se processam de maneiras distintas no professor e seus alunos. De um lado o professor, que ao conhecer os problemas de seus alunos, problematiza-os visando articulá-los com os conhecimentos universais. Com isso, o professor estaria promovendo a apropriação dos conteúdos necessários aos seus alunos. Do outro lado, os alunos ao terem

problematizado a sua realidade entenderem e aceitarem as limitações de seus conhecimentos.

Portanto, o entendimento do conceito de dialogicidade deve ser compreendido como algo além do educador que conversa com os educandos, mas acredita que o diálogo fomentado na educação progressista é aquele que permite a fala do outro, para que possa existir a interlocução.

É no movimento de interação entre educador e educando que se constitui o diálogo diretivo que permite que o educando tenha conhecimento sobre seu pensar ingênuo, sobre seu conhecimento anterior. É por meio deste diálogo que os homens são capazes de transformar o mundo e se libertarem.

A educação problematizadora, serve à libertação, quando consegue subsídios suficientes e supera a concepção bancária; esta mantém a contradição educador-educando, enquanto que a primeira realiza a sua superação de modo que ambos tornam-se sujeitos do processo educativo. Ainda durante o processo educativo a postura de educador e educandos deve ser sempre dialógica, mesmo nos momentos em que aparentemente é o educador quem detém a palavra. Se este possui a clareza de seu papel formador, sua narrativa estará organizada de modo a dialogar com o conhecimento primeiro do educando visando sua superação.

A dialogicidade não nega a validade de momentos explicativos, narrativos em que o professor expõe ou fala do objeto. O fundamental é que professor e alunos saibam que a postura deles, do professor e dos alunos, é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve (FREIRE, 1996, p.86, grifo do autor).

É nestes momentos de interlocução que o professor (re)conhece a realidade em que seus alunos e ele mesmo estão inseridos, é condição que se faça a Investigação Temática. Entretanto, o professor não é capaz de realizá-la sozinho. É preciso contar com uma equipe interdisciplinar para captar as várias nuances dessa realidade.

A dialogicidade antecede o ato educativo propriamente dito, ainda na fase de elaboração do programa, antes mesmo da interação entre educador e educando. Paulo Freire (1987) propõe, então, uma metodologia que permite a operacionalização da educação problematizadora: a investigação do universo temático dos educandos ou o conjunto de seus temas geradores.

Ambos, professor e alunos são sujeitos do processo educativo. E ambos aprendem, em diferentes níveis os vários aspectos da realidade que os mediatiza. Esta interação se dá através do diálogo, que implica um pensar crítico, entre os sujeitos envolvidos sobre algum recorte da realidade.

A partir dessa apresentação do pensamento de Freire irei esmiuçar as etapas da investigação temática que foram usadas na construção da proposta didático-pedagógica que envolve os próximos dois capítulos.