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1 INTRODUÇÃO

2.3 Educação profissional na Ditadura civil-militar

No projeto de desenvolvimento nacional proposto pelo governo militar, a educação passou a ser priorizada no discurso. A industrialização era considerada o móvel do desenvolvimento econômico e, segundo Xavier, Ribeiro e Noronha (1994) a educação escolar

passava a ter o papel de padronização da mão de obra composta por um contingente de pessoas vindas do campo e despreparadas para o trabalho na indústria6.

O contexto internacional sinalizava com a experiência dos chamados “trinta anos gloriosos”, período marcado pela reconstrução das nações pós 2ª guerra mundial, onde o capital esteve aplicado intensivamente na produção de bens, abrindo margem para a condição de pleno emprego em alguns países da Europa, entretanto, a incapacidade do modelo de gestão taylorista/fordista de responder às novas demandas promovidas pelas mudanças nos hábitos de consumo, aliadas a pressão exercida por sindicatos e trabalhadores, pressionavam o capital de maneira a diminuir as taxas de lucros, foi um dos fatores para a uma nova crise na taxa de lucros e também a queda do Estado de bem-estar social.

Durante esse período de crescimento econômico algumas teorias foram propostas para explicar o que estava acontecendo, entre elas, destacamos a teoria do capital humano. A teoria do capital humano foi proposta inicialmente por teóricos economistas7 dos anos de 1960 e 1970 do século XX. Nela transcorrem que investimentos crescentes em educação causam resultados crescentes no valor econômico nacional/regional, ou seja, descobriram uma correlação estatística positiva entre investimento em educação e crescimento do PIB. Essa teoria foi aceita nos países emergentes quase como uma “receita”, assim as autoridades passaram a implementar políticas públicas em educação pautadas nesses preceitos (FRIGOTTO, 2001).

No Brasil a Lei nº 5.692/71, 1) a ampliação da escolaridade obrigatória de 4 para 8 anos, abrangendo todo o denominado ensino de 1º grau (junção do primário com o ginásio), ou seja, a faixa etária de 7 a 14 anos; e 2) a compulsoriedade do ensino profissionalizante no nível médio ou 2º grau.

Vale lembrar que essa mesma a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases – LDB - para o ensino de 1º e 2º graus em 1971. E ainda, foi quando se constatou que a obrigatoriedade do ensino básico realmente se concretizou, pelo menos teoricamente, passando de 4 para 8 anos de duração

Com a medida o governo federal pretendeu substituir a dualidade estrutural pela profissionalização compulsória do ensino médio, dessa forma, todos teriam a mesma trajetória escolar (KUENZER, 2001). A lei foi criada por um grupo de trabalho instituído pelo presidente Médici, com o objetivo de adequar o ensino ao momento político instaurado pelo golpe de 1964,

6A exploração da força de trabalho imigrante do campo para a cidade foi discutida por Kuenzer (2002), apesar de

ser escrito no governo FHC, destacamos o momento que a autora discute a necessidade encontrada pelas indústrias de formação profissional para a mão de obra que sai do campo e vai para a cidade.

e as necessidades sociais e econômicas que o governo militar se empenhava em garantir8. Reconfigura-se a função e as finalidades da instituição escola, ao se impor a ela a qualificação dos indivíduos para o mercado de trabalho. Deslocam-se assim, os problemas sociais e estruturais de uma produção capitalista, como o desemprego e a qualificação, para a instituição escolar pública.

O discurso utilizado para sustentar a profissionalização compulsória construiu-se sob o argumento da "escassez de profissionais" no mercado de trabalho e pela necessidade de evitar a "frustração de jovens" que não ingressavam nas universidades nem no mercado por não apresentarem uma habilitação profissional. Isto seria solucionado pela finalidade do ensino técnico. O dualismo instituído por esta lei diferiu do período anterior à LDB de 1961, já que ocorreu preservando a equivalência entre os cursos propedêuticos e técnicos. A marca desse dualismo não estava mais na impossibilidade de aqueles que cursavam o ensino técnico ingressarem no ensino superior, mas sim no plano dos valores e dos conteúdos da formação. No primeiro caso, o ideário social mantinha o preceito de que o ensino técnico se destinava aos filhos das classes trabalhadoras cujo horizonte era o mercado de trabalho, e não o ensino superior. No segundo caso, enquanto a Lei n. 5.692/71 determinava que na carga horária mínima prevista para o ensino técnico de 2º grau (2.200 horas) houvesse a predominância da parte especial em relação à geral. (RAMOS, 2007)

Segundo Ana Paula Corti (2016, p.43) a Lei 5692/71 auxiliou no processo de expansão do Ensino Médio no Brasil, então conhecido como ensino de 2º grau, pois, a admissão passou a ocorrer sem os exames, que historicamente haviam sido os “divisores de águas” entre o ensino primário e o secundário. Para a autora:

Na década de 1970 o país mais que dobrou suas matrículas no ensino médio, tendo registrado um aumento de 151,8%, o que levou aos bancos escolares um contingente novo de 1 milhão e 700 mil alunos. Essa população ingressante foi, em grande medida, absorvida pela rede privada, que manteve uma participação expressiva na oferta de vagas, seno responsável por 46,5% das matrículas em 1980. A rede estadual não ampliou sua participação nas matrículas na década de 1970, pelo contrário, teve leve redução de 47,9% em 1971 para 47% em 1980.

Nesse período a rede pública ainda não possuía predominância no número de matrículas. Vale lembrar, que em 1970, a taxa de analfabetismo da população acima de 15 anos era de 33,7% (BRAGA; MAZZEU, 2017).

8 Além das normativas sobre a profissionalização, esta lei também criou a estrutura de ensino que se organizava

em 1º e 2º grau. O primeiro grau passou a abranger os ensinos primário e ginásio, atendendo as crianças de 07 a 14 anos, o que ampliou a obrigatoriedade escolar de 4 para 8 anos.

Se durante os anos de 1950, as escolas técnicas federais ganharam autonomia de gestão, em 1978, essa autonomia foi perdida. Conforme aponta o histórico institucional do IFSP (PDI, 2014, p.41),

Também foram características marcantes dessa época as alterações da legislação abordando o funcionamento da escola, com implicações na nomeação de seu diretor. Uma delas foi propiciada pelo Decreto nº 75.079, de 12 de dezembro de 1974, assinado pelo Presidente Ernesto Geisel (15.03.1974 a 15.03.1979), que dispunha sobre a organização das escolas federais e criava a figura de novas instâncias: uma consultiva, denominada de Conselho Superior, em substituição ao Conselho de Representantes, e as de Direção Superior, responsáveis pela administração da escola. Mencionava ainda o decreto que “cada escola será dirigida por um Diretor, que será seu representante legal, e os Departamentos por chefes, cujos cargos serão providos na forma da legislação específica” (DECRETO nº 75.079, 1974)