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1 INTRODUÇÃO

2.5 Educação profissional no governo Lula (2003 – 2010)

Após adotar uma estratégia política-eleitoral de buscar o voto dos estratos sociais historicamente excluídos das relações formais de trabalho e pouco favorecidos por medidas de proteção social (SINGER, 2012), subiu ao poder no início de 2003, o então candidato a

presidente pelo Partido dos Trabalhadores – PT -, Luís Inácio Lula da Silva. Sua vitória significou novas perspectivas, e a aposta em mudanças concretas nos rumos do Brasil.

As expectativas de mudança chegaram ao campo da educação. Frigotto; Ciavatta; Ramos, (2005b) relatam que à sugestão de nomes para as diretorias do ensino médio nas secretarias e o Ministério da Educação, assim como a realização de seminários e debates envolvendo os problemas e as propostas para a construção de novos modelos para o sistema de ensino.

O novo cenário que se vislumbrava, retomou a discussão sobre a educação politécnica, compreendendo-a como uma educação omnilateral que busca no estudo dos fundamentos do processo de trabalho, negando a formação para o trabalho alienado – comum no modo de produção capitalista. Nesse caso trata-se de uma tentativa de superação da dualidade ensino para o trabalho e ensino para a cidadania, abrindo a possibilidade de uma educação técnica que amplia os horizontes dos filhos das classes populares.

As contribuições desses eventos levaram a um progressivo amadurecimento do tema que não tomou forma em uma via de mão única, ao contrário, manteve o diagrama de forças teóricas e políticas que ocorria anteriormente culminando no Decreto 5.154 de 23 de julho de 2004 (BRASIL, 2004).

Já a antiga contradição entre educação para a reprodução das formas de trabalho e uma educação para o desenvolvimento tecnológico, têm surgido novamente como parte dos debates que envolve as finalidades e a construção do ensino médio brasileiro. Considerando que em 2004, com a sanção da lei 5.154 as expectativas de superação dessa contradição foram colocadas na mesa, entre considerações presentes nessa discussão está a revogação da Lei 2.208/98 que desvinculava a educação profissional do ensino de nível médio propedêutico, cuja preocupação estava centrada na formação para o mercado de trabalho, como assim considerava o então ministro da educação Paulo Renato. Com a Lei 5.154/2004, a proposta do ensino médio integrado surgiu como possibilidade de transformação dessa fragmentação e divisão entre conhecimento técnico e geral. Entretanto,

[...] as expectativas de mudanças estruturais na sociedade e na educação, pautadas nos direitos da Constituição Federal de 1988, não se realizaram. Apesar de conhecimentos sobre contradições, desafios e possibilidades da educação profissional, produzidas especialmente no âmbito da área trabalho e educação, que esperávamos ser apropriada pela política pública do Estado Brasileiro, o que se revelou foi um percurso controvertido entre lutas da sociedade, as propostas de governo e as ações e

omissões no exercício do poder. (CIAVATTA, FRIGOTTO E RAMOS, 2005a, p.1088) 9

Os autores entendiam naquele momento que investimentos via programa de melhoria e expansão da educação profissional - PROEP - poderia ser utilizado como fonte de financiamento para expansão a nível institucional da Lei 5.154/04. Contudo, tal medida implica em desgastes nas relações políticas com os setores conservadores que ainda estavam acomodados ao antigo modelo educacional.

Elaborou-se no período, um projeto de assessoramento do governo federal pelo Ministério da Educação em parceria às secretarias estaduais do Paraná e do Espirito Santo para a elaboração de políticas educacionais regionais e projetos pedagógicos das escolas. Decorrido um ano após esse ato, os convênios não foram efetivados, e as ações foram reduzidas à seminários sobre diretrizes educacionais e formação integrada.

Em meio ao segundo mandato do governo Lula, diante do insucesso de implantar o ensino médio integrado nas redes estaduais de ensino brasileiras, há uma virada na estratégia para implantação da modalidade no Brasil. Essa nova estratégia se pauta em organizar uma Rede Federal de Educação Tecnológica10, e assim, construir ou reformar escolas via financiamento do governo federal. Durante a primeira década dos anos 2000 ocorreu uma expansão da rede federal,contabilizava-se um total de 214 novas unidades de ensino até 2010, que somadas às 140 Escolas Técnicas pré-existentes, atingiram o número de 354 instituições escolares sob a rede federal.

A proposta pedagógica inicial dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia – IF - se embasava na articulação entre educação, ciência e tecnologia e trabalho, de modo que, os IFs deveriam constituir-se em centro de excelência voltado à investigação empírica que estimula a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico. Porém, como apontam alguns estudos, essas premissas tiveram dificuldades de se aplicar de forma integral

Apesar do grande investimento realizado na criação dos Institutos Federais, as instituições não ficaram prontas até o fim do governo Lula e adentraram ao governo Dilma Rousseff. Embora a presidenta Dilma tenha avançado nos anos de 2011 e 2012 em um projeto

9 A relevância da citação acima fica clara quando olhamos para o ensino médio integrado nos últimos 10 anos

desde seu embasamento legal, em especial, quando os autores afirmam que há controvérsias no percurso.

10A Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica criada pela Lei 11.892/08, portanto, subordinadas ao

Ministério de Educação e Cultura, com mesma fonte de financiamento e supervisão. Além dos IF, também fazem parte da Rede Federal as instituições que não aderiram ao modelo IFET, entre elas Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR - e Centro Federal de Educação Tecnológica - CEFET.

de desenvolvimento da economia brasileira11, nos anos posteriores sua capacidade de governança ficou cada vez mais limitada, diante do conservadorismo presentes tanto em alguns setores da sociedade brasileira como no congresso nacional eleito nas eleições de 2014. E as expectativas de continuidade nos projetos relacionados a expansão e aprimoramento da rede federal tem se deparado com cortes de investimentos e incertezas para o futuro.