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1 INTRODUÇÃO

3.5 Jovens estudantes e família

Para Maria Sidalina Almeida (2014), a análise das relações entre a escola e o mundo do trabalho nas trajetórias juvenis deve também considerar a esfera familiar, presente no processo de socialização desses indivíduos. Portanto, a seguir iremos descrever aspectos relacionados às configurações familiares nas quais os jovens sujeitos da pesquisa estão envolvidos.

Mais da metade da amostra é constituída por famílias organizadas nuclearmente, ou, biparentais: 78,0% compostos por um casal e seus filhos, e 6,8% Casal com filhos e com parentes. Desses 61,5% possuem irmãos e 23,7% são filhos únicos.

No entanto, há também, jovens vivendo em famílias monoparentais (14,6%). Entre esses, 13,6% vivem com a mãe, 1% moram com os pais e 0,5% com outros parentes.

Tabela 6: Comparativo entre as configurações familiares dos jovens estudantes e dos domicílios particulares no Brasil.

Configurações familiares dos estudantes do IF de

Salto

N (%)

Casal com filhos 149 78,0% Casal com filhos e com

parentes 13 6,8%

Monoparental feminina

com filhos 22 11,5%

Monoparental feminina

com filhos e com parentes 4 2,1% Monoparental masculina

com filhos 1 0,5%

Monoparental masculina

com filhos e com parentes 1 0,5%

Outro 1 0,5%

Total 191 100%

Elaboração própria.

Fonte: IBGE, 2010. Questionário aplicado entre 16/04/2018 e 20/04/2018.

No tópico anterior destinado a caracterização inicial já evidenciamos alguns aspectos relativos aos arranjos e renda familiares dos jovens aqui investigados. Cabe agora caracterizar aspectos relacionados ao trabalho e a escolaridade dos genitores/responsáveis desses jovens.

Quando o lugar que os genitores/responsáveis tomou lugar central no estudo, verificamos as diferenças presentes na situação profissional de homens e mulheres atualmente. A maior parte dos pais dos estudantes trabalha na indústria (44,4%), seguido pelo setor de serviços (27,2%), comércio (11,5%), serviço público (5,8%) e agricultura (1,6%). Já as mães, estão ocupadas de forma diferente no mercado de trabalho, verifica-se uma dispersão maior entre as diferentes áreas para elas, sendo o comércio o setor onde está concentrada a maior quantidade relativa de mães desses jovens (18,3%), seguido do setor de serviços (15,2%), serviços públicos (14,7%), indústria (13,1%), cultura e lazer (3,6%) e agricultura (0,5%).

Podemos verificar que as mães ou responsáveis do gênero feminino estão mais inseridas no setor público em relação aos pais ou responsáveis do gênero masculino. O estudo de Lima, Rios, França (2013), Pinto (2006) mostram que na categoria de funcionários públicos e/ou militares, encontra-se um contingente significativo de mulheres trabalhando nas áreas de educação e saúde, onde a presença feminina se destaca. Sob a burocracia do Estado, o preenchimento dos postos de trabalho se dá de maneira diferente em relação a iniciativa privada. Como afirmam os pesquisadores do IPEA Lima, Rios, França (2013, p.68):

Embora sejam necessários estudos mais aprofundados sobre o assunto, não se pode deixar de notar que, na categoria de funcionários públicos e militares, cujo ingresso exige impessoalidade, meritocracia e certo grau de escolarização, dado o caráter do concurso público, percebe-se que, nestes segmentos, de modo geral, as mulheres possuem boa inserção, chegando a superar os homens, situação singular, quando comparadas as demais categorias analisadas.

Este parece ser um bom indicio da falta de democracia e justiça nos processos de recrutamento e seleção da iniciativa privada. Os dados revelam as persistentes desigualdades de gênero no mercado de trabalho, ainda mais evidentes quando considerado o tipo de vínculo empregatício, como pode ser observado na tabela a seguir:

Tabela 7: Tipo de vínculo empregatício dos genitores/responsáveis. Pai/responsável do

gênero masculino

Mãe/responsável do gênero feminino

Vínculo empregatício (N) (%) (N) (%)

Empregado com carteira assinada 99 51,8% 73 38,2% Empregado sem carteira assinada 14 7,3% 6 3,1% Trabalhador doméstico com carteira assinada 0 0,0% 1 0,5% Trabalhador doméstico sem carteira assinada 0 0,0% 5 2,6% Militar ou Funcionário público 13 6,8% 13 6,8% Autônomo/prestador de serviços 31 16,2% 20 10,5%

Estagiário 0 0,0% 1 0,5%

Empregador 2 1,0% 0 0,0%

Microempreendedor individual / Empresa da

família 7 3,7% 7 3,7%

Intermitente 0 0,0% 0 0,0%

Trabalho não-remunerado 0 0,0% 2 1,0%

No momento está sem trabalho 10 5,2% 46 24,1%

Não sei 15 7,9% 17 8,9%

Elaboração própria.

Fonte: Questionário aplicado entre 16/04/2018 e 20/04/2018.

Estar sem trabalho está mais presente na realidade das mães dos estudantes do que dos pais. Entre os pais dos estudantes 5,2% está sem trabalho, sendo que para as mães esse número chega a 24,1%, ou seja, as mães desses jovens estão pouco mais de quatro vezes mais sem emprego ou inativas economicamente que os pais. Quando considerado o tipo de vínculo observa-se que a maioria dos pais (51,8%) possuem um contrato de trabalho formal, contra 38,2% das mães. Estudos realizados sobre a divisão sexual do trabalho39, afirmam que as

39 Antes de investigar as relações de gênero que atravessam o desemprego, vale lembrar que há no Brasil, e em

grande parte do mundo, uma ausência de método para quantificar com precisão a população empregada/desempregada. Pinheiro et al (2016) e Alves (2013) realizam suas análises a partir dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE -, cuja categoria central é dada pela População Economicamente Ativa – PEA – e segundo os dados de Alves a taxa de participação dos homens na PEA era em 1960 de 77,2% enquanto as mulheres ocupavam 16,5% dessa população, em 2010 a diferença de participação foi para 67,1% composta por homens e 48,9% para mulheres. Com base nesses dados Pinheiro et al (2016) afirma que algumas ressalvas devem ser feitas: primeiramente sobre a imprecisão do método, pois é evidente que a população

mulheres mantêm taxas de desemprego maiores que os homens, mesmo se consideradas cor/raça nas análises (PINHEIRO et al, 2016; LEITE, 2017). ). A condição de que se encontra sob maior vulnerabilidade no mercado de trabalho é das mulheres negras com 5 a 11 anos de estudo, mais intensamente atingidas pelo desemprego no Brasil. Portanto aquelas com formação do ensino fundamental e médio são as maiores vítimas do desemprego no Brasil (PINHEIRO et al, 2016).

Um olhar sobre o trabalho doméstico também pode ser ampliado sobre os dados da tabela acima. No Brasil, apesar de em 2015 ocorrer a aprovação da Lei Complementar nº 150 que regulamentou a Emenda Constitucional n° 72, cujas bases legais passaram a ampliar os direitos das empregadas, a informalidade ainda é a marca da categoria. Dentre eles podemos destacar a regulamentação da jornada de trabalho, banco de horas, adicional noturno, intervalos para descanso e alimentação etc. Não por acaso, das 06 mães que trabalhavam como empregadas domésticas40, apenas uma tinha registro em carteira.

Tangenciando esse dado podemos observar como a interseccionalidade entre gênero e cor/raça pode ampliar o olhar investigativo sobre esse fenômeno. Dos estudantes autodeclarados brancos, 1,7% respondeu que a mãe trabalha como doméstica sem carteira assinada, para os jovens pardos esse percentual alcança 3,4% e entre os pretos 7,7%.

Em relação à escolarização, a maior parte dos genitores/responsáveis das/dos estudantes possuem escolarização igual ou superior ao ensino médio/segundo grau, 74,9% das mães e 68,6% dos pais, como podemos verificar no gráfico abaixo:

feminina sempre trabalhou e não esteve fora do mercado de trabalho, essas mulheres estavam empregadas em grande parte na produção agropecuária e nos trabalhos domésticos – lugares não contemplados no método de análise. Em segundo lugar, essa ausência das estatísticas não foi sentida da mesma maneira por mulheres de diferentes etnias/raças, as mulheres negras e indígenas ocuparam postos de trabalho que passaram invisíveis a essa estatística

40 A realização do trabalho doméstico é quase exclusivamente feminina, cerca de 92% dos empregados

domésticos são mulheres, e essa é a ocupação de 5,9 milhões de brasileiras, o equivalente a 14% do total das ocupadas no Brasil.

Gráfico 6: Escolaridade das/dos genitores/responsáveis.

Elaboração própria.

Fonte: Questionário aplicado entre 16/04/2018 e 20/04/2018.

Somando os genitores/responsáveis que possuem ensino superior incompleto, superior completo e pós-graduação, verificamos que 34% dos pais estão nesses níveis educacionais enquanto as mães possuem 36% nesse mesmo nível.

Os dados sobre escolarização dos genitores/responsáveis dos jovens se diferenciam e se assemelham aos dados presentes na literatura nacional sobre a escolarização feminina e masculina. O levantamento da Pesquisa Nacional de Amostra em Domicílio - PNAD - 2017 revelou que a proporção de pessoas com 25 anos ou mais que finalizaram a educação básica obrigatória, ou seja, concluíram, no mínimo, o ensino médio, foi de 46,1%, em 2017. Considerando a variável sexo, verifica-se que 48,1% das mulheres brasileiras e 43,9% homens concluíram essa etapa. Já entre os pais dos adolescentes esse número alcança 74,9% entre as mães/responsáveis dos adolescentes e 68,6% entre os pais/responsáveis.

Em relação à educação de nível superior, os dados da PNAD 2017 apontam que 17,5% das mulheres brasileiras com 25 anos ou mais e 13,7% dos homens brasileiros com mesma idade possuem graduação em nível superior. Excluindo aqueles/aquelas que ainda estão se graduando em nível superior, os dados do gráfico anterior apontam que 28,3% das mães dos alunos da escola e 28,8% dos pais possuem graduação de nível superior.

Verificamos que os estudantes da escola não sabem responder sobre a escolaridade do pai (8,4%) mais do que a escolaridade da mãe (3,1%). Esse fenômeno é confirmado por outras pesquisas envolvendo jovens (DAYRELL, JESUS, 2016), apontando para a presença mais

marcante da mãe na socialização dos jovens. Por outro lado, os jovens desconhecem mais a ocupação das mães do que dos pais.

Ao olhar para as relações de educação e emprego dos genitores/responsáveis pelos jovens investigados, nos deparamos com mais um retrato de uma realidade brasileira já apontada por diversas vezes: as desigualdades de gênero nessas esferas.

4 JOVENS, ESCOLA E TRABALHO: DA CHEGADA AO ENSINO

MÉDIO AOS PROJETOS DE FUTURO