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1 INTRODUÇÃO

4.3 Experiências de trabalho

A juventude brasileira é uma juventude trabalhadora. Considerando a larga faixa do que hoje se considera jovem no Brasil (15-29 anos), os dados indicam que mais da metade deles/delas estão trabalhando ou procurando trabalho. No entanto, a taxa de participação desta população é muito diferente quando consideradas as diferentes faixas etárias. Entre os 15 e 17 anos, os dados indicam uma menor presença do trabalho quando comparada às faixas de 18 a 24 anos e de 25 a 29 anos, especialmente nas duas últimas décadas (SPOSITO E SOUZA, 2014; CORROCHANO, ABRAMO, 2016). Ainda que muitos adolescentes ainda trabalhem, inclusive em condições ilegais, os dados indicam uma diminuição de sua presença no mercado de trabalho. Estudos qualitativos recentes também assinalam os esforços das famílias de camadas populares para manterem seus filhos e filhas nessa faixa de idade na escola, ao menos até o final da escolaridade básica (CORROCHANO, 2008; SOUZA, 2018). Este parece ser o caso de boa parcela das famílias dos e das jovens aqui investigados/as.

Considerando que os/as jovens participantes da pesquisa realizam o ensino médio em tempo integral, pode-se pressupor a dificuldade de encontrar tempo para exercer alguma forma de trabalho remunerado no “tempo livre” fora do horário da escola. Pelos dados encontrados percebemos o caráter secundário que o trabalho assume na vida desses adolescentes estudantes do IF. Os resultados do questionário apontam que 92,7% dos respondentes não trabalham ou não exercem atividades para ganhar dinheiro, superando aos dados nacionais apresentados pela PNAD 2017, quando apontam que entre os adolescentes de 15 a 17 anos de idade, ainda em idade escolar obrigatória, 78,3% se dedicavam exclusivamente ao estudo (IBGE, 2018). Ou

seja, a taxa de jovens que se dedicam somente aos estudos da escola investigada é superior ao percentual nacional.

Mesmo com a maioria dos estudantes não trabalhando, verificamos que 94,2% também não estava procurando por trabalho no momento da pesquisa. Outros 88,5% disseram que ainda não começaram a procurar trabalho. Dois pontos podem ser destacados desses resultados: o primeiro, em relação a educação em tempo integral parece estabelecer uma “barreira” no que diz respeito ao tempo disponível para obter ou até mesmo procurar trabalho. E em segundo lugar, é importante considerar que o questionário foi aplicado no primeiro bimestre do ano, podemos considerar que muitos deles, em especial os alunos e alunas dos terceiros anos, estão preocupados em se preparar para a realização dos exames de admissão ao ensino superior.

Entre os estudantes do ensino médio integrado do IF campus de Salto, identificamos que 5,8%¨estão em busca de trabalho. Esses adolescentes não estão concentrados em um ano específico, mas dispersos entre o 1º, 2º e 3º ano. As razões para busca por trabalho relacionam- se a possibilidade de “ganhar o próprio dinheiro”, ou “ajudar pais, que atualmente passam dificuldades para 'por as contas em dia'”.

Se dividirmos esses estudantes que não trabalham, mas buscam trabalho em duas categorias: trabalhar em busca de (i) independência e (ii) forma de auxiliar na renda familiar vamos encontrar algumas diferenças entre esses indivíduos.

Os que procuram trabalho como meio para possuir independência e o próprio dinheiro, não são, necessariamente, os que possuem maior renda, entre eles, um aluno possui renda familiar de dois salários mínimos, outro de 3 salários mínimos, uma aluna com família de renda 10 salários mínimos e outro não sabe a renda de casa.

Já aqueles que buscam trabalho como forma de auxiliar na renda familiar – no caso 5 estudantes, três meninos e duas meninas - estão concentrados entre as faixas de 3 a 5 salários mínimos. Três moram com o pai e a mãe e dois moram só com a mãe.

Os números relativos aos que trabalham e aos que procuram trabalho corroboram outra questão colocada a esses adolescentes sobre a pressão para o trabalho. Os adolescentes estudados, em sua maioria, responderam não se sentirem pressionados ou pouco pressionados a trabalhar. Para compreender a intensidade dessa pressão para o trabalho, a questão foi abordada no questionário levando em consideração opções como família, escola, amigos, mídia e instituição religiosa, como podemos ver na tabela abaixo.

Tabela 15: Pressão para começar a trabalhar

Pontuação de importância na escala

Likert67 Mãe ou responsável do gênero feminino 2,24 Pai ou responsável do gênero masculino 2,20 Mídias (Tv, jornais, internet) 2,14

Escola 2,06

Familiares – exceto responsáveis 1,83

Amigos 1,49

Instituição religiosa 1,35

Elaboração própria

Fonte: Questionário aplicado entre 16/04/2018 e 20/04/2018

Os resultados apontam que os estudantes em geral se sentem nada ou pouco pressionados a trabalhar. A partir disso, podemos refletir sobre a preocupação teórico- metodológica em entender a juventude como múltipla, pois diversos estudos apontam como os jovens das classes populares enfrentam as responsabilidades da vida adulta, especialmente a pressão para a entrada no mercado de trabalho, muitas vezes chegando enquanto estes ainda estão experimentando a juventude ou até mesmo a infância (CARRANO, 2009; SALES; VASCONCELOS, 2016)

Dentre as opções supracitadas que podem exercer essa pressão para o trabalho podemos destacar o papel dos genitores/responsáveis como aqueles que exercem maior pressão entre as categorias disponíveis, porém, a média das respostas apontam que ambos exercem pouca pressão para que os jovens comecem a trabalhar.

Em relação aqueles que trabalham e estudam, verificamos que 7% dos participantes trabalham ou realizam alguma atividade para ganhar dinheiro. Em valores absolutos, são 14 estudantes que responderam estar nessa condição, sendo 1 aluna do primeiro ano, 3 alunas e 4 alunos do segundo ano e 4 alunas e 2 alunos do terceiro ano.

Em geral esses jovens que declararam trabalhar ou exercer uma atividade para ganhar dinheiro, estão vinculados a projetos de iniciação científica e extensão que oferecem bolsas de estudo – 10 dos 14 respondentes68. Já os demais realizam atividades de maneira informal/autônoma com assistência técnica, lojas online ou trabalho no campo das artes e/ou música. Esses dados corroboram em parte com o estudo feito por Anjos (2013) sobre os estudantes do IFMG campus

67 Nessa questão tomamos como base 1=não pressiona, 2=pouca pressão, 3=pressiona mais ou menos,

4=pressiona muito e 5=pressiona totalmente.

68 A maioria daqueles que apontaram trabalhar/realizar alguma atividade para ganhar dinheiro estão vinculados a

atividades de iniciação científica, parece pertinente apontar aqui sobre o interesse dos estudantes em realizar essas atividades. Ao perguntar as/aos estudantes da escola sobre as dificuldades encontradas no ensino médio do IF, 58% das/dos estudantes apontaram que as poucas vagas de iniciação científica representam uma dificuldade em relação a experiência escolar nessa escola.

de Salinas, a autora identificou que apenas 0,8% dos estudantes declararam trabalhar e cursar o ensino médio integrado, no caso eles exerciam atividades de e-commerce e estágio, algo semelhante aos 4 (2,1%) estudantes supracitados do IFSP de Salto69.

Como era de se esperar, a carga horária desses estudantes é menor em relação aos empregos formais em geral, uma vez que esses jovens estudam em horário integral no IF. Desses 14 estudantes, 10 responderam a carga horária é menor que 20 horas semanais, 1 respondente assinalou entre 20 e 30 horas semanais e 3 assinalaram a categoria outras e responderam trabalhar “de Sábado as vezes”, de forma “independente” e o outro possui um horário variável, trabalhando apenas quando clientes requisitam o seu serviço, algo que corresponde de 2 a 4 horas semanais.

Já a remuneração de 13 (92,9%) desses jovens é de até meio salário mínimo (R$ 477,00). Apenas 1 deles recebe entre 1 e 2 salários mínimos (de R$954,00 a R$1.908,00), caso do aluno que trabalha em casa com assistência técnica de computadores. Geralmente, a renda é utilizada com gastos pessoais, conforme relataram 8 dos 14 estudantes trabalhadores; 4 utilizam para parte da renda para as despesas de casa e parte para os gastos pessoais; os outros 2 apontaram que o dinheiro está sendo guardado.

Quando perguntados sobre o porquê de estarem trabalhando, percebemos uma dispersão entre as respostas: Trabalhar para “Adquirir/Ter novas experiências” (57,1%), “Meio de possuir uma renda” (50%), a busca por independência e melhorar o currículo (42,9%); “Apoiar a família”70 (21,4%).

Alguns estudos sobre adolescentes estudantes do ensino médio público têm apontado que a necessidade de trabalhar está vinculada a renda familiar e a escolaridade dos pais (VENDRAMINI et al, 2017). No caso dos adolescentes do IF, conforme verificamos no perfil dos estudantes, a escolaridade dos genitores/responsáveis é superior aos parâmetros nacionais, assim como a renda. Esses fatores, aliados ao tempo integral, é uma das justificativas identificadas para entender porque a minoria dos estudantes não esteja trabalhando ou buscando trabalho remunerado. Soma-se a isso, os esforços, identificados por várias outras pesquisas (SANTOS, 2018a, CORROCHANO, 2008), das camadas populares para que os/as jovens finalizem ao menos a escolaridade básica antes do ingresso no mercado de trabalho, tendo em vista as novas configurações do trabalho e às expectativas depositadas na maior escolarização.

69 O estudo realizado por Gonçalves e Santos (2017) sobre o perfil dos estudantes das escolas técnicas estaduais

cearenses, cujos estudantes também estudam em tempo integral aponta valor próximo ao registrado tanto em nosso em relação aos estudantes que trabalham (1,6%).