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Educação profissional: novos rumos para a sociedade?

2 EXPANSÃO EDUCACIONAL DO INSTITUTO FEDERAL E SEUS SUJEITOS

2.1.3 Educação profissional: novos rumos para a sociedade?

Expandir a educação e o conhecimento, em especial o tecnológico, para garantir articulação com o novo processo produtivo merece análise. Hoje, a rede federal de educação profissional e tecnológica reúne 215 instituições, a serem ampliadas para 354 até 2010,

Conforme o plano de expansão do MEC. Segundo o projeto de lei, elas integrarão 38 Institutos

Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFETS), abrangendo todos os estados e o Distrito

Federal. Como se pode ler no PDE, O Senado Federal aprovou o projeto de lei 177/2008, que

cria 38 institutos e foi sancionado e promulgado como lei (n. 11.892) em 29 de dezembro de 2008. Cabe aos institutos oferecer ensino médio integrado ao ensino profissional, cursos superiores de tecnologia, bacharelado em engenharias e licenciaturas. Estão sendo criados com base na rede de educação profissional, e seu modelo pedagógico é novo. Metade das vagas será destinada a cursos técnicos de nível médio. A oferta de educação profissional se estenderá ainda ao nível superior — cursos de engenharias e licenciaturas em ciências da natureza (física, química, matemática e biologia). Também vão investir em pesquisa, extensão e formação de professores para redes públicas de educação básica, assim como licenciaturas de conteúdos específicos da educação profissional e tecnológica, como a formação de professores de Mecânica, Eletricidade e Informática (BRASIL,2008).

Em essência, o ensino profissional enfoca o mercado e sua competitividade, pois o capitalismo competitivo impõe a necessidade de educação. Mas esse campo apresenta conflitos: separa quem produz de quem ensina, relações estabelecidas com quem detêm o saber, uso do conhecimento em prol da manutenção de um sistema, expansão e reprodução da divisão social do saber. Assim, o ensino profissional atua como instrumento de manutenção de relações vigentes sem eliminar a contradição fundamental que as encerra. Logo, questionar essa realidade supõe não torná-la imutável e valorizar a educação como possibilidade de transformação — não uma valorização messiânica, mas ciente de que há limites. Como não se pode subestimar a força de uma educação questionadora, isso pode incomodar os defensores da ordem estabelecida, pois essa mesma educação profissional pode se reverter na cidadania do trabalhador, ou seja, em capacidade de reivindicar, organizar-se, participar e decidir.

Com efeito, a formação profissional tem de ser desenvolvida e entendida com base nas circunstâncias histórico-sociais e determinações históricas do capitalismo. Por isso, é também uma formação política, que pode ajudar o trabalho a entender mais suas condições de vida, sua existência e as contradições que permeiam o sistema que o emprega como

profissional. Além disso, a visão de educação como forma de transmitir e socializar conhecimento não vige; antes, seu propósito primordial é a (re)construção do conhecimento pelo aluno; aprender na escolar é sempre fenômeno reconstrutivo político, pois, mesmo sendo conquista humana, o conhecimento facilmente se volta contra quem o conquistou ao servir à exclusão social e dominação. Nessa ótica, se o capitalismo moderno procura aprisionar a cidadania, para que não atrapalhe a competitividade, a educação tem de inverter essa lógica, fazendo prevalecer a ética da dignidade humana.

Ao tratar da educação profissional e tecnológica e universalização da educação básica, Frigotto busca evidenciar o quanto as políticas públicas educacionais se articulam para promover a obediência, em vez da autonomia e qualidade da educação. Segundo ele,

Não basta a democratização do acesso, há necessidade qualificar as condições objetivas de vida das famílias e das pessoas e aparelhar o sistema educacional com infra-estrutura de laboratórios, professores qualificados, com salários dignos, trabalhando numa única escola etc. Para isso não é suficiente a aprovação do [Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação] FUNDEB. No contexto do que estamos aqui sinalizando os fundos

se pautam na lógica da ―equidade mínima‖ e não na qualidade necessária. Esta implica previsão de recursos constitucionais que a médio prazo dilatem em três ou quatro vezes os investimentos atuais em educação básica e superior. (FRIGOTTO, 2007, p. 1.145).

Compreender, portanto, os conceitos, as interferências e a força da globalização e da política neoliberal, entremeadas nas políticas educacionais, é essencial para se mudar da posição de sujeito passivo e manipulado para a de sujeito que tem um papel social. Tal mudança supõe entender que a educação escolar não se limita à sala de aula ou a conteúdos e disciplinas, pois inclui um conjunto importante de relações sociais envolvidas em sua configuração.

Ao veicular conceitos como modernização, expansão, flexibilidade, diversidade, competitividade, excelência, desempenho, eficiência, descentralização, integração, equidade, o discurso das políticas educacionais indica preocupação com a democratização do acesso à educação e a melhoria de sua qualidade e reconhecimento do direito à cidadania. Mas a ação que concretiza esse discurso se mostra paliativa e ancorada em políticas do capital, pois — diria Coraggio (1996, p. 109) — ignora-se a relação dialética entre expansão e qualidade; noutros termos:

[...] não se amplia um sistema educativo em um contexto de marginalização cultural e exclusão econômica. Podem-se esperar taxas crescentes de evasão e fracasso como produto do próprio êxito da extensão. [...] pretender resolver o problema da qualidade [...] sem encarar integralmente os problemas do contexto social [...] não passa de uma estratégia mal formulada.

Eis por que é preciso questionar as políticas educacionais públicas: como são feitos os investimentos? Como são avaliados? Que mudanças promovem na prática cotidiana? É preciso desconstruir os discursos oficiais, desvelar práticas cotidianas dos professores para se

compreender o que ocorre na educação pública pelo cotidiano escolar. A prática docente pode revelar o que números oficiais não mostram, porque há uma cultura escolar que as políticas públicas desconsideram. Se há um discurso de revalorização da educação, sua concretização não está isenta de questionamento e reflexão.

Não pretendo responder a uma questão tão complexa e antiga quanto os impasses na educação, alvos de políticas públicas ao longo da história do País. Busco tão somente refletir sobre as políticas públicas de educação, investigando a reorganização da educação profissional pelo plano de expansão da rede federal de educação tecnológica para compreender mudanças como a transformação do CEFET em IFTM.