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5 PESQUISA COLABORATIVA E FORMAÇÃO DOCENTE: a dinâmica

5.1 Pesquisa, conhecimento e identidade do pedagogo no ensino superior

5.1.3 Planejar ações

O estudo foi organizado como um diagnóstico do que os professores e os autores pensam ser e creem ser interdisciplinaridade; como uma compreensão da concepção de trabalho interdisciplinar; como elaboração de uma proposta de trabalho interdisciplinar. Os autores com que se dialoga sobre esse assunto são Fazenda (1994) e Japiassu (1976).

Por que estudar a interdisciplinaridade? Por que escolheram esse tema? As respostas advindas da observação e dos diálogos nos encontros de estudo convergem para duas ideias. Uma, os professores acreditam ser uma estratégia significativa para o aluno como motivação ao estudo; outra, creem que o trabalho coletivo pode ser um momento e espaço para estabelecerem vínculo com o colega de profissão. Todos ganham com a interdisciplinaridade: os alunos, porque aprendem a trabalhar em grupo, habituam-se à experiência de aprendizagem grupal e melhoram a interação com os colegas; os professores, porque se veem compelidos pelos alunos a ampliar seus conhecimentos de outras áreas e melhorarem a interação com colegas de trabalho. A integração é princípio da interdisciplinaridade, cuja prática na escola cria, acima de tudo, a possibilidade do ―encontro‖, da ―partilha‖, da cooperação e do diálogo. Fazenda (1994, p. 82) fortalece essa ideia ao se referir à atitude interdisciplinar:

Entendemos por atitude interdisciplinar, uma atitude diante de alternativas para escolher mais e melhor; atitude de espera ante os atos consumados, atitude de reciprocidade que impele à troca, que impele ao diálogo — diálogo com os pares idênticos, com pares anônimos ou consigo mesmo — atitude de humildade diante da limitação do próprio saber, atitude de perplexidade ante a possibilidade de desvendar novos saberes, atitude de desafio — desafio perante o novo, desafio em redimensionar o velho — atitude de envolvimento e comprometimento com os projetos e as pessoas neles envolvidas, atitude, pois, de compromisso em construir sempre da melhor forma possível, atitude de responsabilidade, mas, sobretudo, de alegria, de revelação, de encontro, de vida.

O relato de uma professora diz por que a interdisciplinaridade se destacou nos estudos e na reflexão:

Desde que eu entrei na escola, eu sempre quis trabalhar... Eu não sabia nem o que era interdisciplinaridade, mas eu já queria trabalhar o que eu estava falando ali quando eu trabalhava na Zootecnia. Eu queria que o professor de Biologia, dessa matéria junto comigo, para a gente ir caminhando junto. Eu tentava isso na época, mas eu não sabia nem o que era isso que eu estava fazendo. Mas essa troca de ideias é muito importante, porque um complementa o outro, e eu acho que tem um crescimento, o aluno entende melhor o que ele está fazendo ali na escola. Então, se tiver esse projeto, ele vai entender o porquê do desenho industrial, o porquê da tecnologia de laticínios, o porquê da gestão ambiental, porque está tudo interligado. (MARINA)

Antes de me referir estritamente às atividades e ações dos grupos de estudo dos cursos de Alimentos e Gestão Ambiental, quero salientar a participação, compromissada e colaborativa dos coordenadores de curso: sem eles, esta pesquisa colaborativa não teria o destaque que teve, pois acreditaram no trabalho coletivo, colaborativo e de formação, motivando os professores, e não mediram esforços para providenciar espaço, tempo, alimentação, alegria e, sobretudo, responsabilidade e seriedade. Foram companheiros de longas conversas, de troca de ideias, de desabafos e incentivos. Foram solidários na busca de

um significado para a prática pedagógica e o processo formativo. A eles se juntam os docentes participantes da pesquisa como colaboradores: estes, como contribuição central para a pesquisa, trouxeram o cotidiano de suas práticas, seus pensamentos, seus sentimentos e, em especial, a vontade de fazer mais pela construção de uma educação solidária e comprometida com o desenvolvimento humano.

Dito isso, esta pesquisa colaborativa não objetivou analisar a docência com base numa descrição do perfil que deve ter o ―bom professor‖ e dos métodos por ele empregados, tampouco saber se tem as competências necessárias ao exercício da docência ou não. Antes, procurou, com os professores, compreender suas práticas concretas e repensá-las, apreender seu significado e atribuir sentido a suas ações e práticas no exercício profissional. E mais: buscou contribuir para a construção da identidade do professor e do pedagogo, entrecruzando o percurso pessoal e profissional numa perspectiva dialógica e colaborativa. Meu papel como pedagoga e pesquisadora foi criar contexto para a discussão, participação e tomada de decisão, em prol das necessidades do grupo, de modo que pudesse aprender discutindo o significado do trabalho que se iniciava e apreender a importância da colaboração, da participação de cada um e o que representava estar num grupo de estudo com objetivos comuns. Compartilhar essas ideias foi algo central para se compreender a responsabilidade e se reafirmar o compromisso de buscar respostas para os questionamentos e soluções para os problemas que se impõem dia a dia. Como afirma Ibiapina (2002, p. 43):

O exercício de observar e estudar a própria ação (discutindo e analisando seus atos e os do grupo), embora por si só não garanta a transformação da prática, é indispensável para desencadear o processo de mudança, via avaliação individual e coletiva de práticas já consolidadas. O professor só pode superar práticas consolidadas, externalizando-as, isto é, fazendo o exercício de reflexibilidade. Como afirma Vygotsky (2000a), a psique deve ser estudada levando-se em conta os mecanismos capazes de acelerar ou bloquear seu desenvolvimento, pois para que ela se transforme, é necessário conhecer os processos que podem acelerar o seu desenvolvimento. Ao externalizar suas reflexões os professores estão oferecendo elementos que os auxiliam a acelerar a sua formação conceptual. Discutir sobre suas práticas é fundamental para o professor, pois é dessa forma que ele toma consciência de sua ação, dando a ela, sentido e significado. Ao explicar porque age desta ou daquela forma, ele relaciona o como faz, com o que pensa, revelando, dessa forma, os conceitos que guiam a sua ação.