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3 PEDAGOGO, PROFESSORES E PROCESSOS FORMATIVOS

4.1 Razões da escolha

No meu exercício profissional, preocupo-me com um trabalho coletivo que envolva colaboração, troca de experiência e no qual minha participação ajude a construir um ambiente onde prevaleçam o diálogo e a interação, onde se possa discutir, analisar, refletir e investigar o processo educativo para se compreendê-lo e transformá-lo. Na função de técnica em assuntos educacionais, lido com professores do ensino superior no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro, campus de Uberaba (IFTM campus Uberaba), e, em meu acompanhamento da prática pedagógica próprio dessa função, surgiram questionamentos que me levaram a esta pesquisa: que papel tem de fato o pedagogo numa instituição de educação profissional tecnológica? Tem espaço e legitimidade para promover ações de formação docente como um processo coletivo? Como os professores percebem seu trabalho? Eu pretendia obter respostas que resultassem da interação com professores e que, ao serem construídas coletivamente, transformassem o pesquisador, os informantes da pesquisa e o contexto onde atuam.

À medida que eu avançava na pesquisa sobre o papel do pedagogo, sentia necessidade de que esta fosse além da constatação, isto é, que interviesse — constatar para intervir, como quer Freire. Assim, a investigação ganhou dimensão de pesquisa e formação um empreendimento complexo. Sua execução envolveu abordagens metodológicas que criassem condições para se consolidar um ambiente de reflexão, autonomia, colaboração e respeito mútuo, a fim de se potencializar o desenvolvimento do pensamento teórico e de práticas docente-pedagógicas, tanto as minhas como pesquisadora quanto as dos docentes como informantes.

Como optei por um enfoque que possibilitasse pesquisar e, coletivamente, construir conhecimentos e processos de formação contínua ao mesmo tempo, busquei uma metodologia que abrangesse os procedimentos investigativos, possibilitasse a construção e reconstrução de conceitos e viabilizasse uma reflexão crítica que permitisse compreender os significados e os sentidos da prática educativa de professores e pedagogos; uma metodologia cujos fundamentos fossem a emancipação do sujeito, a transformação do contexto, a valorização do informante como coprodutor de conhecimentos e a indissiociabilidade entre teoria e prática. Andei nos domínios da etnografia, e até do estudo de caso, mas a intenção que movia a investigação era fazer uma pesquisa com os profissionais nos contextos escolares, e não sobre eles; só assim eu contribuiria para os processos de formação contínua, seja a dos docentes, seja a minha. Encontrei, então, o que procurava nas abordagens qualitativas. Contudo, eu não sabia que procedimento adotar; e isso me levou a uma discussão e um estudo longos, pois as respostas que eu pretendia obter não eram só para mim, mas essencialmente para todos os envolvidos na pesquisa, logo a resposta — ou não resposta — a ser construída não poderia resultar de minha escolha apenas, ou seja, não poderia desconsiderar o que pensam e fazem os demais profissionais da escola.

Mesmo sem saber que procedimento adotar, desde o início eu sabia que esta pesquisa não objetivaria avaliar práticas de pedagogos e professores, segundo critérios externos nem oferecer sugestões, nem só observar e registrar. Por isso a metodologia tinha de proporcionar uma atitude de investigação que abrangesse os objetivos da pesquisa e garantisse o espaço de reflexão crítica e formação almejados por mim e pelos professores — cujos objetivos e interesses partiram de suas necessidades — e que oferecesse embasamento para responder a certas questões: como configurá-la num projeto de investigação e de ação conjunta? Como tornar essas atividades parte integrante da cultura escolar? A resposta seria a pesquisa colaborativa. Ao traçar seus caminhos, estabeleci um processo de ação formativa intermediada pelo pedagogo, na perspectiva do trabalho colaborativo, que tenta responder aos

questionamentos da pesquisa, e construir saberes em prol da formação contínua dos professores e do pedagogo.

A pesquisa colaborativa se difere na coleta de dados, no papel que exercem os colaboradores (pesquisador e informantes), nas análises, nas conclusões e, em especial, em como procura perceber a realidade: ela articula o desenvolvimento de cada envolvido, e os resultados são de todos e de cada um. Ela não segue um modelo, e seu desenvolvimento não é linear nem completamente previsível. Todos pesquisam. Todos ensinam. Todos aprendem. Muitas vezes, isso leva o pesquisador rumo ao desconhecido em busca do conhecimento, porque trabalhar com esse tipo de pesquisa implica encarar uma nova concepção de educação e uma mudança de paradigma. Mas não vejo dificuldade em experimentar o ―desconhecido‖ — salvo se o sujeito não souber selecionar, analisar e interpretar informação para transformá- la em conhecimento novo.

Eis por que procurei definir um caminho a ser trilhado por mim e pelos informantes, o qual fizesse sentido para ambos, na perspectiva da colaboração que conduz à significação e ressignificação das práticas de pesquisa numa visão crítica de construção do conhecimento. Escolher um caminho a seguir e se preparar para segui-lo com segurança implica persistência, determinação e estudo. Por isso, ao escolher e definir a pesquisa colaborativa como metodologia, procurei compreender mais sua concepção e singularidade — pois sua fundamentação tem aquilo em que acredito e busco — à luz das ideias de Ibiapina (2008), Fiorentini (2006), Pimenta (2005) e outros autores. Mais que da compatibilidade dessa abordagem com os objetivos da pesquisa, esta escolha resultou da aproximação entre sua concepção e a concepção do profissional da pedagogia que defendo: articulador do trabalho pedagógico na escola numa atitude coletiva e colaborativa. Assumi-la como metodologia supõe um novo olhar sobre a realidade, pois o que se tenta apreender não é algo com sentido só para quem pesquisa, mas também — e essencialmente — para quem fizer parte da realidade pesquisada.