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35 educacional (seja em termos pedagógicos, administrativos, materiais e financeiros) e das

famílias atendidas.

Para VALLE (1997) a escola tem origem na contradição humana, dela se abastece e se refaz, constituindo-se ora projeto humano de emancipação, ora projeto perverso de dominação.

Por um lado, seu advento possibilitou amplo acesso a saberes, chamados de clássicos ou científicos, significando, portanto, democratização do que era de poucos nobres e clérigos. Por outro lado, engendrou uma lógica de enclausuramento e separação rígida entre seus rituais, suas linguagens e suas formas de funcionamento e a lógica dos tempos e espaços do ”mundo da vida” que estão no seu entorno (MOLL, 2004, p. 102).

Assim, fazendo da insatisfação a inspiração para mudança, a escola contempla o ideal Humano, exprimindo seus desafios enquanto sociedade; e também todo potencial criativo, de auto-superação, de confiança na concretização das transformações necessárias à um projeto social eqüitativo, justo e em consonância com os processos naturais.

(...) a Escola acolhe dentro de si, toda a obstinação e a força embriagadora do desejo do homem, porém recebe igualmente toda a dilacerante consciência dos limites de sua ação (VALLE, 1997, p.13).

O paradigma ambiental compreende que a escola precisa mais do que nunca dar sentido para a existência do ser humano através de processos transformadores que ocorrem mediante as experiências dos sujeitos, na ação, interação e reflexão sobre seu ambiente. Isso fará da escola um ambiente vivo, capaz de conduzir a Humanidade ao seu potencial criativo e, nas palavras de MENDES (1991) à sua função de ecólogo, ecônomo, ecúmeno, eco-poeta.

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A educação precisa estar em consonância com esta nova visão do mundo, com a sociedade almejada no futuro e, para tanto, é necessário criar ambientes educacionais que extrapolem as questões puramente pedagógicas, que busquem o entendimento da condição humana, a preparação do cidadão para exercer sua cidadania, para participação responsável na comunidade local e planetária, tendo como prioridade o cultivo de valores humanitários, ecológicos e espirituais. Isso requer novos métodos de ensino, novos currículos e novos valores, enfim novas práticas educacionais absolutamente diferentes das que estamos acostumados a encontrar em nossas escolas (MENDES, op. cit., p.112)

Pretendemos discutir os processos deliberados de educação possíveis de ocorrer no ambiente escolar de forma a potencializar o entendimento sobre a relação do indivíduo consigo, com os outros seres, com sua cultura e com a diversidade cultural, com seu meio ambiente e com a natureza. O que está em pauta é como efetivamente a escola pode contribuir nestas reflexões e conduzir a Humanidade a formas mais interativas, solidárias e sustentáveis de convivência e existência.

Sob a luz do paradigma ambiental, a educação volta-se à formação integral do indivíduo, sua inteligência, intuição e espírito, seu pensamento, consciência e criatividade, capaz de respeitar as formas de existência e conviver em uma sociedade pluralista e cooperativa. “A re-orientação da educação envolve uma educação que não só aumenta o conhecimento do aluno, mas incentiva o desenvolvimento de habilidades e valores que orientarão e motivarão para estilos de vida sustentáveis” (LEGAN, 2004, p. 22).

Segundo MORAES (2000, p. 226), trata-se da superação da era material pela era relacional. “Educar para a era das relações implica uma proposta educacional que englobe as dimensões materiais e espirituais da sociedade”. Para ela, esta é a base do paradigma educacional emergente: um paradigma construtivista, interacionista, sociocultural e transcendente.

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(...) construtivista porque reconhece que o conhecimento está sempre em processo de construção, transformando-se mediante a ação do indivíduo no mundo; (...) interacionista porque reconhece (...) os processos interativos indissociáveis e modificadores da relação sujeito-objeto e sujeito-sujeito. (...) Sociocultural porque compreende que o conhecimento é produzido na interação com o mundo físico e social, dialógica, inerente à própria construção do pensamento. (...) Transcendente porque significa a tentativa de ir além, superar-se, entrar em comunhão com a totalidade indivisível, (...) numa caminhada ao mesmo tempo individual e coletiva. (MORAES, op. cit., p. 25)

“A EA é ponte para o paradigma educacional emergente” (FERRAZ, 2004, p. 120), por isso traz profundas reflexões sobre as finalidades e a pedagogia do processo educativo, “inscrevendo-se na transição histórica que vai do questionamento dos modelos sociais dominantes até a emergência de uma nova sociedade, orientada pelos valores da democracia e pelos princípios do ambientalismo” (LEFF, 2001, p. 255).

“A educação, e em particular a ambiental, é potencialmente um instrumento de gestão, por sua capacidade de intervir no processo de construção social da realidade” (GUIMARÃES, 2001, p. 190), por meio do incentivo à práticas ambientalmente adaptadas e à uma cidadania ativa que possibilite a ampliação da participação e mobilização popular. E a escola é o espaço para a vivência educativa deste processo.

A pedagogia da EA fomenta a participação a partir da cooperação, a valorização do potencial criativo humano e da interconecção das áreas e formas do saber (inter e transdisciplinaridade), assumindo a complexidade da realidade socioambiental ao adotar uma postura crítica e construtiva sobre os próprios processos educativos.

A EA é promotora da inter-relação Indivíduo-Sociedade-Ambiente e enfatiza, nos processos educacionais, a interconexão entre o que VIGOTSKY (REGO, 2004) chama de microgênese (formação do ser por meio de suas próprias experiências), ontogênese (formação do ser através dos outros), filogênese (formação do ser pela cultura) e a dimensão histórico-social do desenvolvimento Humano. Para SAUVÉ (2001), a educação ambiental tem como característica essencial a promoção desta interconexão.

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[La EA] hace referencia a una de las tres esferas interrelacionadas de interacciones del desarrollo personal y social: la esfera de relación a sí mismo, la esfera de relación al otro, que toca la alteridad humana; la esfera de relación a Oikos (eco), la casa compartida en la que existe una forma de alteridad relacionada con la red de otros seres vivos. La educación ambiental se situa en la tercera esfera, en estrecha vinculación con las otras dos (SAUVÉ, 2001, p. 277).

“Se as características humanas resultam da interação dialética do ser humano e de seu meio natural e sócio-cultural” desde seu nascimento, em trocas recíprocas que se estabelecem durante toda a vida, então a educação deve tornar-se uma prática de intervenção na realidade individual, social, cultural e natural (REGO, 2004, p.94).

(...) as características de cada indivíduo vão sendo formadas a partir da constante interação com o meio, entendido como mundo físico e social, que inclui as dimensões interpessoal e cultural. Neste processo, o indivíduo ao mesmo tempo internaliza as formas culturais, as transforma e intervém em seu meio. É na relação dialética com o mundo que o sujeito se constitui e se liberta (REGO, 2004, p. 94)

Ao considerar a escola enquanto ambiente de aprendizado e formação dos cidadãos do futuro, vislumbra-se sua grande responsabilidade, não apenas no subsídio às reflexões e discussões sobre as Sociedades Sustentáveis, mas na vivência e participação ativa no processo de sua construção.

A escola representa um tempo e um espaço multifuncionais que se instituem como meio de vida até a idade adulta. Muitas crianças e jovens passam mais tempo em interação direta com os educadores e colegas do que com os pais. A escola precisará então, pensar não como sendo um somatório de salas de aula, mas como um meio ambiente educativo cuja educogenia é possível reforçar e que possa propiciar a multiplicação de oportunidades de aprendizagem, em que a aprendizagem por interatividade seja dominante, e não o ensino ’ativo’ (CANÁRIO, 2006, p. 44).

A II CNUMAD realizada no Rio de Janeiro em 1992 e o ‘Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global’ consolidaram a necessidade de reorientar o ensino formal para uma abordagem ambiental do desenvolvimento humano.

Desde então, a EA refaz-se continuamente, compartilhando o dinamismo das sociedades e das múltiplas concepções existentes sobre seu conceito, metodologia e

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