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126 O segundo possui espaço próprio, com vasta biblioteca disponível para visitantes de

escolas e cidadãos em geral. Como está há pouco tempo estabelecida, a Sala Verde começa a desenvolver alguns projetos, como as oficinas de papel reciclado artesanal.

Durante os 4 anos desta pesquisa, acompanhando o trabalho da equipe gestora da rede municipal de ensino, foram promovidas iniciativas para melhorar a educação municipal e também fazer com que os preceitos da EA permeassem a vida escolar. Mas talvez a mais importante tenha sido a que passamos a relatar.

Em 2007, a partir da apresentação dos dados desta pesquisa, da oficina de EA realizada, bem como de um questionário encaminhado aos professores da rede municipal pela equipe gestora da SME (com objetivo de identificar os limites e as potencialidades da educação no município), iniciou-se um processo de diálogo entre a SME e o professorado para formular programa de atuação da rede em 2008.

A coordenadora pedagógica da rede municipal de ensino, Juliana Bussolotti, explica como aconteceu este processo.

Foi um grande passo, é o sentido de lugar...o lugar onde vivemos. Gerado pela pesquisa sobre EA nas escolas e as temáticas que apareceram... as recorrentes foram água, lixo e a questão caiçara – da história. Faltava material, informação, conhecimento... então mandamos kits para as escolas: livros, músicas, fotos, cds, desenhos, mapas, desde questões mais acadêmicas até mais populares. Nossa leitura foi identificar como abarcar todas estas discussões, optamos então pela questão da História e memória, como um guarda chuva para trazer as questões da água e do lixo. Daí vem uma tese pessoal que, se você não tem sentido de lugar, como você constrói os lugares e não lugares...aqui é uma estância turística, tem muitas casas em condomínio, tem também a migração, com uma projeção enorme de chegada de pessoas de fora...então tem muito não-lugar...como é que você constrói o lugar....a escola precisa, não é resgatar, criar de novo o sentido do caiçara, de como morar aqui...não é aquele caiçara daquela história...é um outro caiçara...são também os migrantes...as próprias diretoras traziam isso forte, com relação ao hábitos alimentares, posturas, etc...as diferenças culturais no trato da criança...como a gente descobre a identidade deste lugar?

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Um vértice do nosso trabalho que é o resgate da cultura da memória e arte de Ubatuba. Uma população em que cerca de 70% não é de Ubatuba, não é caiçara, num município em que boa parte dos professores tb não são de Ubatuba. Precisa conhecer, valorizar e difundir a cultura de Ubatuba dentro das escolas. Na escola que trabalhei, tive testemunhos de alunos tinham vergonha de dizer que sabiam fazer tipiti ou peneira ou samburá ou misturar uma massa de mandioca para torrar ou mesmo prensar uma massa de mandioca ralada...acham que é um conhecimento de segunda categoria. Deveria falar de peito cheio...mas não é assim. Estamos na verdade passando por um processo de aculturamento, portanto, devemos valorizar nossas raízes de modo que sejam traços referenciais de nossa história. No dia em que nós fizemos um questionário, mais de 70% dos professores não vivem em Ubatuba há mais de 10 anos, então não conhecer sua cidade...é preciso conhecer, montar estratégias de trabalho para isso!

Falando de sustentabilidade... por quantos anos as comunidades caiçaras viveram harmonicamente com o meio ambiente? Viviam numa relação de exploração sustentável com a natureza.

A supervisora Flávia Comitte justifica o pensamento da rede municipal e sublinha a necessidade da escola assumir a diversidade cultural e, ao mesmo tempo (re)criar a identidade local.

O que acontece aqui em Ubatuba, de acordo com um diagnóstico que fizemos nas escolas, é que os pais são vindos de outros lugares, na maioria os filhos são nascidos aqui em Ubatuba. Como lhe dar com isso? Tentar convergir para o lado positivo, tentar trazer a cultura deles para cá, mas também mostrar o que é próprio de Ubatuba, tentar nesse ponto achar semelhanças e divergências. Muitos vão embora, mas muitos ficam aqui. Eles querem construir uma cultura, uma identidade. Eu me coloco nesse processo também, porque eu não sou daqui. Então quando a gente gosta de um lugar, se a gente veio pra cá, a gente quer construir uma identidade aqui. Temos pra isso nos relacionar e conhecer a cultura desse lugar: O que aconteceu aqui? O que se passa aqui? Por que tem esse nome? Acho que quando as pessoas vêm pra Ubatuba, elas também estão querendo construir uma identidade, a escola pode ajudar a fazer isso. É importante sim resgatar a cultura da pessoa, mas mais importante ainda é colocar a pessoa dentro desse processo, dessa nova realidade, interagir com esta pessoa, para que ela se sinta parte. Se ela deixou o lugar que ela estava é porque ela não estava bem. Ela veio para cá, procurar uma nova civilidade. Então Ubatuba acolheu. Mas será que eu conheço essa realidade? Me relaciono com as pessoas daqui? Construir essa identidade é função da escola, junto com as pessoas, é central para que essa identidade aconteça. A escola tem esse objetivo, fazer a identidade do bairro. Uma escola para ser integrada na comunidade, tem que unir a comunidade, ajudar a construir a identidade. Até para favorecer a participação. Lá na Estufa a gente idealizou a festa da banana, e as pessoas passaram a se identificar com isso, porque ali tinha muita banana, as pessoas passaram a valorizar isso, a comunidade. Criando uma mística. Ubatuba acolhe, não discrimina, ele deixa entrar, mas o que ele faz com essa família? Isso é função da escola. Como temos uma diversidade muito grande em nosso município, então ele deixa e pessoa entrar, abraça ela. Mas o que é feito depois? A pessoa se sente junto com a comunidade? Acho que por ser disperso também, ela acaba não se sentindo junto. Isso então é função da escola.

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