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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.3. Efeito da qualidade da escolaridade sobre os rendimentos

Os resultados empíricos apresentados aqui, tanto no que se refere à TCH quanto aos modelos de sorting discutem a escolaridade tendo como variável independente fundamental a quantidade de escolaridade, medida em anos ou níveis de escolaridade completados. Em um mesmo nível, no entanto, há forte heterogeneidade da qualidade (ou qualidade sinalizada) dos cursos. No que se refere à graduação e MBAs, por exemplo, os rankings de universidades têm apresentado alta visibilidade e impacto nas escolhas de alunos e empregadores (Chevalier, 2014; Grove & Hussey, 2011). Desta maneira, a literatura recente tem evoluído para não apenas quantificar, mas qualificar a escolaridade e estimar os impactos da qualidade sobre os rendimentos.

Em geral, a literatura acerca dos retornos da educação sobre a remuneração tem se concentrado na estimação dos retornos em uma perspectiva unidimensional, considerando medidas como o número de anos de escolaridade como variável independente. No entanto, na medida em que os sistemas educacionais e a qualificação da mão de obra no mercado de trabalho vêm se especializando, as decisões sobre a qualidade das instituições tornam-se mais relevantes (Altonji et al., 2015; Hershbein, 2013).

Esta dimensão é particularmente importante, pois a qualidade pode afetar o capital humano incorporado dos egressos. Não levá-la em consideração pode enviesar os resultados da estimação dos retornos na educação, uma vez que seria necessário assumir a premissa de que os egressos têm uma idêntica acumulação de capital humano independente da qualidade do curso (Araki, Kawaguchi, & Onozuka, 2016).

Além disso, a qualidade do curso em que o trabalhador obteve o diploma pode afetar o valor deste diploma no mercado de trabalho na medida em que o trabalhador utiliza esse mecanismo para sinalizar ao empregador sua produtividade e o empregador acredita que o título pode indicar que o trabalhador possui características não observáveis valorizadas por ele (Weiss, 1995). Como a qualidade é uma variável observada diretamente por meio de rankings e avaliações externas, a qualidade pode ser interpretada como um instrumento de sinalização e

screening.

Segundo Lang & Siniver (2011), os cursos em instituições de melhor qualidade podem ser pensados levando em consideração o alto nível dos estudantes selecionados, já que os estudantes são mais capazes de analisar problemas mais difíceis. Isso se deve ao grau de dificuldade do processo seletivo e à concorrência para ingressar nessas instituições de ensino. Portanto, a titulação nessas instituições pode ser um indício de que os egressos têm características que os tornam mais produtivos que os egressos de instituições de menor qualidade. Essa interpretação é consistente com a teoria do filtro desenvolvida por Arrow (1973), porém, amplia seu escopo na medida em que o processo seletivo e o curso têm diferentes níveis de qualidade. O duplo filtro apontado por Arrow (1973), pode ocorrer independentemente da qualidade do curso, uma vez que em sua argumentação não existe uma comparação explícita entre a dificuldade de ingresso e a probabilidade de se titular em diferentes instituições de ensino. Nesse sentido, o mercado pode inferir - a partir do valor sinalizado pela titulação em uma instituição de elite - que entre os titulados aparentemente similares, aqueles que se titularam em uma instituição de elite têm características não observáveis mais desejáveis para o empregador (Lang & Siniver, 2011). Portanto, espera-se que os titulados em instituições de elite recebam maiores salários.

O efeito da qualidade dos cursos sobre a remuneração dos seus egressos tem recebido crescente atenção na literatura recente (Black & Smith, 2004; Chevalier, 2014; Hastings, Neilson, & Zimmerman, 2013; Liu, Thomas, & Zhang, 2010; Long, 2008; McGuinness, 2003; Seki, 2014). As evidências empíricas concentram-se na graduação, enquanto as relativas à pós- graduação são escassas e, quando existentes, concentram-se apenas em cursos de MBA (Grove & Hussey, 2011; Grove & Hussey, 2014).

Os estudos existentes sobre efeitos da qualidade em cursos de MBA utilizam em geral a mesma base de dados - GMAT Registrant Survey - obtidos a partir de um levantamento amostral bianual com indivíduos que prestaram o GMAT e aplicaram para MBAs. A partir dessa base, Grove & Hussey (2011) estimaram o efeito da qualidade do MBA nos Estados Unidos sobre a remuneração de 3.529 egressos. Como medida de qualidade dos cursos, utilizam

os quartis do U.S. News & World Report MBA Quality Ranking. Estimaram modelos de regressão com variáveis de controle, variáveis instrumentais e um modelo com efeitos fixos para estimar o efeito da qualidade dos MBAs. Os autores concluem que o efeito médio do MBA sobre a remuneração é de 7% e que qualidade dos cursos é importante para determinar o retorno do MBA. Utilizando a mesma base de dados sobre os egressos e os mesmos modelos de Grove & Hussey (2011), Grove & Hussey (2014) mensuram a qualidade dos cursos como variável latente contínua a partir de um modelo de análise fatorial com base em 13 diferentes indicadores das instituições de ensino. Concluem que o efeito médio do MBA sobre a remuneração dos egressos é de 10,7% e que cada desvio padrão adicional no indicador de qualidade aumenta o efeito sobre a remuneração em 9%.

São escassos os estudos sobre os efeitos da qualidade dos cursos fora dos Estados Unidos. O estudo de outros contextos nacionais é particularmente relevante nesta questão, já que os Estados Unidos possuem um sistema de educação superior relativamente pouco regulamentado (Chevalier, 2014). Enquanto, a maioria dos estudos realizados com egressos da graduação nos Estados Unidos reportam um efeito positivo pela qualidade, com resultados semelhantes aos obtidos no Reino Unido (Chevalier, 2014) e Suécia (Luna & Lundin, 2014; Lindahl & Regnér, 2005), os efeitos estimados foram nulos na Austrália (Birch, Li, & Miller, 2009) e Japão (Birch et al., 2009; Makiko & Tomohiko, 2013).