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5 EFEITO DOS INCÊNDIOS

Os incêndios florestais constituem, sem dúvida alguma, a principal fonte de injúria às florestas. Sob certos aspectos e em circunstâncias especiais, os incêndios podem também representar alguns benefícios para a floresta. Porém, existe uma grande disparidade entre a importância dos danos causados e os benefícios proporcionados.

Existe uma relação entre fogo e silvicultura que é de vital importância para o Engenheiro Florestal. A silvicultura comercial está diretamente dirigida à produção de fibra de madeira e à criação e manutenção de uma cobertura verde. Basicamente, a silvicultura consiste em manejar a fotossíntese, processo químico do qual toda a vida depende, e através do qual o dióxido de carbono, água e energia solar são combinados para produzir celulose e outros carboidratos. O processo é lento e contínuo. O fogo, por sua vez, rapidamente reverte o processo, e libera sob forma de calor a energia armazenada pela fotossíntese. O fogo, portanto, é o processo inverso da fotossíntese, ou seja, é um processo de decomposição.

Fotossíntese CO2 + H2O + Energia Solar  (C6H10O5) + O2

Combustão (C6H10O5) + O2 + T ºC Ignição  CO2 + H2O + Calor

Os incêndios florestais podem causar diversos tipos de danos às florestas, dependendo das condições existentes, principalmente quanto ao tipo de floresta, material combustível e clima. Os danos diretos em um incêndio florestal são aqueles visíveis e de fácil avaliação, como por exemplo, a quantidade de madeira queimada, as construções destruídas, etc. Os danos indiretos são aqueles que só serão visíveis com o decorrer do tempo, como por exemplo, o assoreamento dos rios, inundações, erosão, perdas no turismo e aspecto recreativo, etc.

Na Figura 26, podem-se verificar os diversos efeitos do fogo, em diferentes componentes do ecossistema.

Figura 26 - Efeitos diretos ou indiretos do fogo nas propriedades do solo, hidrologia e geomorfologia

Fonte: Adaptado de Swanson (1981).

O fogo é um processo ecológico, que desencadeia uma série de condições e processos associados. Para explicar essa rede, pode ser útil categorizar os efeitos do fogo. Efeitos de primeira ordem são as ações imediatas do fogo, ou seja, a mortalidade das plantas, o consumo de material orgânico, a emissão de fumaça e alterações físico-químicas do ambiente. Os efeitos de segunda ordem são muitos e dependem da natureza dos efeitos de primeira ordem e das condições do ambiente após a ocorrência do fogo, especialmente do solo, clima, e da atividade animal. Como efeitos de segunda ordem, podem-se citar: mudanças no microclima; aumento da temperatura do solo; mudanças nos nutrientes do solo e atividade microbiana; regeneração da vegetação; sucessão e novos padrões de vegetação; alteração nas taxas de crescimento das plantas e interações competitivas; alteração do habitat dos animais selvagens e da atividade de invertebrados e vertebrados; mudança na capacidade de armazenamento de água e padrão de vazão (BROWN; SMITH, 2000).

5.1 EFEITOS BENÉFICOS DOS INCÊNDIOS

Sob o ponto de vista silvicultural, o fogo pode, em determinadas ocasiões e condições, resultar em alguns benefícios para a floresta. Porém, o uso do fogo deve ser feito sempre com cuidado, de forma prudente e controlada. Segundo Batista e Soares (1997), as principais razões para se usar a queima controlada no manejo de florestas são: redução do material combustível, preparo de terreno, melhoria do habitat para a fauna silvestre, controle de espécies indesejáveis, controle de pragas e doenças, melhoria de pastagens e melhoria da estética.

5.1.1 Combate a incêndios

Folhas ou acículas caídas, arbustos, gramíneas, resíduos de colheita são partes integrantes das florestas e plantações comerciais. Esses combustíveis, e mesmo as próprias árvores, podem produzir acumulação altamente perigosa, merecendo uma atenção por parte do técnico florestal, principalmente porque eles formam um dos componentes do triângulo do fogo que pode ser manejado ou controlado (SOARES; BATISTA, 2007)

Podemos usar o fogo na prevenção ou no combate a incêndios florestais na forma de contrafogo, aumentando a área de aceiro, transformando-se numa excelente arma para deter o avanço das chamas. Esse tipo de controle se dá basicamente pela eliminação do material combustível, que estaria ao alcance das chamas em determinado ponto, para o qual a direção de propagação do fogo aponta. Sua eficiência depende, portanto, da topografia, direção dos ventos, quantidade e qualidade do material combustível. Essa técnica de combate será abordada de maneira mais específica quando tratarmos das técnicas de queima.

5.1.2 Controle de pragas e doenças

O fogo pode matar alguns animais nocivos ou destruir seus abrigos, principalmente formigas, cupins e pequenos roedores que danificam sementes ou causam anelamento na casca e câmbio. Insetos, como o serrador da acácia-negra (Oncideres sp.) e muitos fungos, são combatidos com sucesso fazendo-se a queima dos galhos secos das plantas afetadas.

Segundo Batista e Soares (1997), nos EUA, a queima controlada é utilizada com grande sucesso no controle da “mancha marrom” em povoamentos de Pinus

palustris. No Brasil, essa técnica poderia ser usada na redução da infestação por

fungos causadores de podridão de raízes, especialmente na região sul do país.

5.1.3 Regeneração de espécies florestais

Algumas espécies florestais precisam do calor do fogo para aumentar o seu poder germinativo. Um exemplo disso é a bracatinga (Mimosa scabrella), na qual, pela passagem do fogo, suas sementes quebram a dormência e potencializam a germinação. Também os ecossistemas de cerrado dependem do fogo para sua sustentabilidade. Florestas de Pinus nos EUA e Eucalyptus regnans na Austrália dependem do fogo, as últimas para que seja eliminada a grande camada de serapilheira que se forma sobre o solo em florestas centenárias da espécie, a qual impede que a semente chegue até o solo em local suficientemente úmido para germinar.

5.1.4. Manejo de resíduos

Um fogo rápido ou leve pode ser usado no controle de capins, gramas, ervas daninhas, etc, trazendo benefícios imediatos pela eliminação de espécies competidoras com a cultura objetivo. O fogo bem controlado pode ser tecnicamente aplicável, tendo um baixo custo no processo de limpeza do terreno, ou seja, no manejo de resíduos em práticas silviculturais e de agricultura.

É interessante observar o uso do fogo no manejo de resíduos. Como se pode verificar na Figura 27, o fogo disponibiliza rapidamente nutrientes por meio das cinzas produzidas durante o incêndio; contudo, gradativamente, ao longo do tempo, ocorre a perda da fertilidade natural do solo, principalmente óxidos, K, Ca e Mg.

Figura 27 - Redução da fertilidade natural após sucessivos ciclos de queima utilizados na agricultura 0 20 40 60 80 100 120 0 1 ° a n o 2 ° a n o 3 ° a n o 4 ° a n o 5 ° a n o 6 ° a n o 7 ° a n o 8 ° a n o 9 ° a n o 1 0 ° a n o 1 1 ° a n o 1 2 ° a n o 1 3 ° a n o Tem po P r o d u ti v id a d e 7 anos N ível inicial

Aum ento breve da produtividade depois da queim a (Efeito das cinzas) G ANHO LENT O com

o crescim ento natural da capoeira

Perdas pelo fogo

Perdas pela lixiviação

A produtividade poderia chegar ao nível inicial depois de um pousio de 5 anos ...ou de 7 anos ...ou m ais ...

Perdas pela colheita

A longo prazo a produtividade dim inui

5 anos

Plantio Pousio de 3 anos Plantio Pousio de 3 anos Plantio

PERDAS

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