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Apesar da elevada prevalência do uso de maconha pelos adolescentes e das tentativas de se banalizar tal consumo com crenças de que “fumar maconha não dá nada”, a comunidade científica tem demonstrado, por meio de diversos estudos, os prejuízos causados por esta substância.

Há evidências de que o uso prolongado da maconha é capaz de cau- sar prejuízos cognitivos relacionados com a organização e integração de informações complexas, envolvendo a atenção e a memória. Tais prejuízos podem aparecer após anos de consumo e causar déficits nos processos de aprendizagem (Jacobus & Tapert, 2013; Marques, Araújo, Laranjeira, & Zaleski, 2010).

Prejuízos da atenção podem ser detectados a partir de fenômenos como aumento da vulnerabilidade à distração, afrouxamento das associações, intrusão de erros em testes de memória, inabilidade em rejeitar informações irrelevantes e piora da atenção seletiva. Entre os usuários de maconha de, pelos menos, 4 vezes por semana por, no mínimo, 6 meses, observou-se associação significativa entre tal consumo e déficits de memória recente e impulsividade quando comparados a não usuários (mesmo após ajustes de covariáveis) (Dougherty et al., 2013). O déficit de memória também foi ob- servado em usuários crônicos de maconha em recente metanálise e revisão sistêmica (Gonzalez & Swanson, 2012; James, James, & Thwaites, 2013). Até mesmo o consumo de maconha menos intenso (2 vezes por mês durante,

pelo menos, 6 meses) já pode gerar maior impulsividade quando comparado com os usuários de álcool e grupo controle (Solowij et al., 2012). Tanto os déficits de atenção quanto os de memória podem permanecer mesmo após 3 a 6 semanas de abstinência (Dougherty et al., 2013).

Os déficits cognitivos também se associam ao uso de maconha (Dougherty et al., 2013; Jacobus & Tapert, 2013; Marques et al., 2010). Quanto maior a duração do consumo, maiores são os danos cognitivos (Dougherty et al., 2013). Parecem ocorrer principalmente nos adolescentes que iniciaram uso de maconha antes dos 17 anos (Solowij et al., 2012) e po- dem permanecer mesmo após 1 ano de abstinência (Dougherty et al., 2013). Cabe lembrar que os usuários de maconha que iniciaram o uso com idade inferior a 18 anos e persistiram por alguns anos têm mais chance de apresentar baixo rendimento escolar (Jungerman et al., 2009; Rigoni, Oliveira, Moraes, & Zambom, 2007). Observa-se que os adolescentes e universitários usuários de maconha dispendem menor tempo de estudo, faltam mais às aulas e, assim, apresentam pior desempenho acadêmico (Pinchevsky et al., 2012). O aumento do consumo de maconha dos 14 aos 21 anos está associado de modo significativo com: menos diplomas, menor renda, mais desemprego e menos satisfação nos relacionamentos aos 25 anos (Fergusson & Boden, 2008).

Além dos prejuízos cognitivos, o consumo da maconha também pode causar doenças respiratórias. Como a maconha é principalmente fumada e contém altos teores de alcatrão, os usuários possuem maior risco de desen- volver câncer de pulmão. Tal risco foi duas vezes maior entre os usuários de maconha do que entre os não usuários, segundo estudo de seguimento de 40 anos (Callaghan, Allebeck, & Sidorchuk, 2013).

Da mesma forma, a maconha prejudica o desempenho das funções motoras, essenciais na condução segura de um veículo. Dirigir sob influência do efeito da maconha aumenta significativamente, até 2,3 vezes, o risco de acidentes fatais em comparação com os condutores que não utilizaram a substância (Asbridge, Hayden, & Cartwright, 2012; Callaghan et al., 2013). Ao se avaliar o uso de drogas ilícitas por indivíduos envolvidos em acidentes de trânsito fatais e não fatais, a maconha parece ser a droga mais consumida (2-32%), seguida por benzodiazepínicos (2-15%), cocaína (0,4-11%), anfeta- minas (0,8-6%) e opioides (0,5-11,5%) (Callaghan et al., 2013). Entretanto, o álcool ainda segue sendo a substância mais perigosa em relação a acidentes de veículos motorizados (Asbridge, Hayden, & Cartwright, 2012; Callaghan et al., 2013). Embora os dados sobre mortalidade relacionada ao uso de maconha ainda sejam insuficientes, estudos de caso-controle demonstraram que os usuários pesados de maconha apresentaram um aumento da taxa de mortalidade, especialmente relacionada a acidentes fatais de trânsito, câncer de pulmão e cerebral (Calabria, Degenhardt, Hall, & Lynskey, 2010).

à saúde mental, principalmente se a iniciação ocorreu na adolescência (Bohnert, Anthony, & Breslau, 2012). Há evidências de que o uso regular ou pesado de maconha aumenta os riscos de transtornos mentais. A maconha pode piorar os quadros de esquizofrenia, além de constituir importante fator desencadeador da doença em indivíduos predispostos, isto é, indivíduos com fatores de risco e antecedentes familiares da doença (James, James & Thwaites, 2013; Manrique-Garcia et al., 2012; Rubino, Zamberletti, & Parolaro, 2012).

O abuso de maconha (idade de início, quantidade e duração da expo- sição) vem sendo reconhecido como um possível fator de risco independente para o desencadeamento de episódios psicóticos agudos (Diel, Cordeiro, & Laranjeira, 2010; Griffith-Lendering et al., 2012). Quanto mais precoce for o início do uso da maconha, maior é o risco de desenvolvimento futuro de sintomas psicóticos (associação direta e linear mesmo após o controle das covariáveis), principalmente em adolescentes (Bugra et al., 2012; Dragt et al., 2012; Griffith-Lendering et al., 2012; James, James & Thwaites, 2013; Stefanis et al., 2013). Parece que a exposição à maconha exerce efeito tóxico cumulativo (Stefanis et al., 2013). A duração pré-mórbida da exposição à maconha até o primeiro episódio de psicose foi de 7,85 anos (Stefanis et al., 2013). Estima-se que o risco de psicose está aumentado 40% em usuários de maconha (James, James, & Thwaites, 2013).

Além disso, os indivíduos com patologias psiquiátricas também abusam mais de maconha (Diel, Cordeiro, & Laranjeira, 2010, Griffith-Lendering et al., 2012). Os pacientes com esquizofrenia têm maior probabilidade de usar maconha de modo abusivo (10,1% deles) do que os indivíduos saudá- veis. Nos pacientes em episódio maníaco, essa taxa pode chegar a 14,5%. Pode ocorrer também em até 4,1% dos indivíduos com depressão maior, 4,3% dos com transtorno de pânico e 2,4% dos portadores de fobias (Diel, Cordeiro, & Laranjeira, 2010).

O uso regular e pesado de maconha pode estar associado à depres- são, ideação suicida (principalmente em homens) e violência interpessoal (Andrade & Ramos, 2011; Copeland, Rooke, & Swift, 2013). Parece que, quanto mais precoce (na adolescência) e frequente for o consumo de ma- conha (uso semanal), maior é o risco de desenvolver depressão (Copeland, Rooke, & Swift, 2013; Horwood et al., 2012). No entanto, mesmo quando o consumo se inicia na vida adulta, também há um maior risco de desen- volvimento de depressão quando comparados com não usuários (Fairman & Anthony, 2012). O uso regular e precoce de maconha na adolescência também aumenta o risco de transtorno de ansiedade tanto na adolescência quanto no início da vida adulta (Copeland, Rooke, & Swift, 2013; Degenhardt et al., 2012). Tal risco é ainda maior se o uso regular iniciar na adolescência e perdurar até os 29 anos (até 3 vezes mais chance) (Degenhardt et al., 2012). Aproximadamente 20 a 30% dos adolescentes usuários de maconha

referem ter ansiedade ou depressão (Scholes-Balog, Hemphill, Patton, & Toumbourou, 2013).

Em relação ao tratamento, Jungerman e Zanelatto (2007) referem que os problemas causados pela maconha no funcionamento neuropsico- lógico, particularmente em regiões pré-frontais do cérebro e nas funções executivas, podem influenciar negativamente na motivação para o trata- mento e a aderência ao programa de recuperação. Podem, ainda, aumentar as chances de recaída, tornando a avaliação neuropsicológica um recurso importante para a detecção de prejuízos associados à droga (Jungerman & Zanelatto, 2007).

FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO

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