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IMPORTÂNCIA DAS INTERVENÇÕES PSICOTERÁPICAS PAIS-BEBÊ Os estudos das interações precoces têm, por sua vez, gerado reflexões

e pesquisas sobre diferentes formas de intervenção que possam auxiliar na resolução de problemas que podem se estabelecer precocemente. Novas formas de ação terapêutica são necessárias para estruturar um desenvolvi- mento infantil saudável; sendo assim, as intervenções terapêuticas pais-bebê

benefícios dessa intervenção precoce e, em alguns casos, a recomendar que o tratamento comece bem cedo, até mesmo durante a gravidez. Além disso, a intervenção terapêutica precoce tem se mostrado efetiva nos casos de recém-nascidos de temperamento difícil, ajudando os pais a se ajustarem e compreenderem os bebês (Guralnick, 1997; Gutfreind et al., 2013; Mazet & Stoleru, 1990).

Nas diferentes abordagens clínicas de intervenções terapêuticas pais-bebê, uma multiplicidade de estudos adotou inicialmente uma pers- pectiva “diádica”, trabalhando somente com a mãe e o bebê. Entretanto, mais recentemente, tem considerado a tríade, mãe-pai-bebê ou o grupo familiar (Dolto, 1908/1988; Guedeney & Lebovici, 1999; Outeiral, 1998). Os modos de intervenção psicoterápica pais-bebê diversificam-se, assim como as suas indicações e as suas técnicas, podendo ser tanto de terapias de longa duração ou mais focalizadas e breves (Cramer, 1993).

Um aspecto relevante das abordagens terapêuticas nas relações pais- -bebês é o fato de que a intervenção ocorre em um momento especialmente sensível do desenvolvimento, origem de muitas disfunções e estruturações patológicas. Intervir no período em que a mãe, o pai ou os outros familiares estão iniciando relações complicadas com o seu bebê tem um poder surpre- endente, pois para o bebê este é o momento inicial e determinante de sua vida e estas vivências afetivas e relacionais precoces vão determinar, em grande parte, a sua estruturação psíquica. Do mesmo modo, para os pais este também é um momento especialmente sensível e as intervenções nesta fase são muito importantes, pois possibilitam interromper, quem sabe ainda em tempo, o desenvolvimento de futuros problemas. Do ponto de vista do terapeuta, independente do seu referencial teórico, as intervenções nesta etapa serão sempre sobre a relação, contendo uma dimensão contextual (Prado, 1996; Rosemberg, 2002).

A principal característica das terapias conjuntas é que estão voltadas mais para a relação do que para o indivíduo (Cramer & Palacio-Espasa, 1993). Durante a consulta de uma mãe com o seu bebê, a tendência é privilegiar o que a mãe diz de seu bebê, em relação aos transtornos que este apresenta e as suas dificuldades. No entanto, a presença do bebê na consulta permite que ele expresse os transtornos de que é objeto. Por suas vocalizações, sua motricidade, por seus “estados de vigilância”, por seus olhares, por seus gritos, o bebê contribui para o aparecimento de determinados temas na consulta. A entrevista clínica mãe-bebê não é somente a escuta do que a mãe relata a respeito do seu lactente, mas também a escuta do que a mãe exprime ao seu lactente durante a consulta e o que este, por sua vez, ex- pressa à sua mãe e ao terapeuta. Outro elemento que deve ser levado em consideração é que o próprio terapeuta está implicado neste sistema e o seu papel é ligar os dois registros, que, em geral, evoluem juntos. Ou seja, por um lado, o terapeuta busca identificar no discurso materno as origens interativas entre mãe-bebê; por outro lado, busca identificar nas trocas

relacionais observadas no atendimento os conteúdos que estão latentes (Marcelli & Cohen, 2009; Mazet & Stoleru, 1990).

É importante, na observação dos comportamentos interativos, estar atento para a maneira na qual a mãe segura o bebê e as tensões eventuais que envolvem o seu diálogo tônico. O bebê, por sua vez, pode acabar procu- rando segurar vários objetos na sala de consulta e, com isso, será possível observar as reações da mãe frente aos objetos que ela permite que o bebê pegue, quais lhe são proibidos e como o bebê reage a tais limitações. Outro ponto a se observar é como a mãe apresenta o bebê, o que pode expressar o tipo de interação, como, igualmente, a relação que ela deseja estabelecer enquanto mãe deste bebê com o terapeuta. Além disso, prestar atenção ao que a mãe fala depois de ter olhado para o seu bebê, uma vez que os seus assuntos são uma espécie de associação mental evocada pela percepção do bebê (Mazet & Stoleru, 1990).

A comunicação que a mãe estabelece com o bebê por meio de suas palavras é um elemento essencial que situa a relação em um contexto in- terpessoal. O tom, o ritmo e o sentido das palavras maternas são elementos clinicamente pertinentes, assim como o são as reações do bebê. É impor- tante tentar captar se a mãe percebe as mensagens de seu bebê, de que maneira ela as responde e quais as respostas do bebê às comunicações das palavras, dos olhares e dos gestos maternos (Guerra, 2007). Ao observar os comportamentos interativos manifestados diante do terapeuta, percebe-se que estes suscitam reações afetivas no terapeuta, o que pode levar a pro- cessos de identificação com um dos componentes da díade. É importante reconhecer essa dinâmica psicológica, pois a sensibilidade do terapeuta e as suas capacidades de empatia constituem instrumentos que permitem perceber as diferentes matizes da interação afetiva (Mazet & Stoleru, 1990).

Os estudos atuais focalizam a importância das intervenções nestes primeiros momentos do ciclo vital, buscando a compreensão dos diferentes fatores que podem influenciar na interação entre pais e bebês. Estes estudos destinam especial atenção aos fatores intersubjetivos e a sua expressão, principalmente na qualidade das interações, entendendo que estas são determinantes para um desenvolvimento saudável da criança. A teoria da vinculação e os trabalhos de investigação que nela se inspiram influen- ciaram bastante a prática clínica ao longo destas duas últimas décadas e contribuíram, assim, amplamente para colocar em evidência a necessidade de conceber novos quadros de intervenção no plano técnico a respeito do bebê e da parentalidade (Guedeney & Guedeney, 2002). Além disso, a aliança terapêutica estabelecida, a empatia, a sensibilidade da resposta, a disponibilidade do terapeuta e a atmosfera emocional nas psicoterapias pais-bebês são características importantes das abordagens clínicas baseadas na teoria da vinculação (Lecannelier, 2006).

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