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A INFLUÊNCIA DOS SINTOMAS DE ANSIEDADE E DEPRESSÃO NA TOMADA DE DECISÃO DE

ADOLESCENTES EM ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL

Vanessa Manfredini Irani Iracema de Lima Argimon

INTRODUÇÃO

No período da adolescência, o indivíduo depara-se com algumas ta- refas importantes para o seu desenvolvimento, como a escolha profissional. Essa escolha e as inquietações decorrentes estão presentes em todas as etapas do desenvolvimento da pessoa, mas os adolescentes enfrentam uma elevada pressão nesta fase para que possam pensar sobre a sua carreira e fazer as primeiras escolhas (Bardagi, 2002; Moura, 2011). A adolescência é considerada como uma fase de intensas mudanças biológicas, psicológicas e sociais, como a modificação das relações familiares e a concretização da escolha profissional e sua inserção para o mundo do trabalho (Bardagi & Hutz, 2006).

Para a maioria dos adolescentes, a universidade é percebida como uma das possibilidades de alcançar o sucesso no mundo do trabalho, bem como a ascensão social. No entanto, escolhas inadequadas podem ocorrer e, então, confirma-se a importância dos processos de orientação profissional (OP) para auxiliar os indivíduos a realizarem escolhas mais consistentes (Noronha; Ottati, 2010).

Para Bardagi (2002, p.14), “uma boa escolha ou decisão tem sido avaliada pela forma como é tomada e pelas consequências cognitivas e afe- tivas que produz”. Os aspectos individuais, como os valores, o desempenho escolar, a expectativa de autoeficácia e a maturidade de carreira, têm sido descritos como determinantes para a escolha profissional. Outras variáveis importantes que influenciam essa tomada de decisão são a importância ou dificuldade percebida da profissão, o autoconceito, a exploração da car- reira e a presença de ansiedade e/ou depressão (Bardagi, 2002; Sampson, Reardon, Peterson, & Lenz, 2004).

Torna-se importante refletir que, além das transformações biop- sicossociais, os adolescentes encontram-se em um momento de escolha profissional, isto é, são o centro de um processo decisório. De acordo com Tardeli (2008), a escolha profissional é consequência de razões psicológicas que influenciam a escolha. As pessoas poderão satisfazer as necessidades

de reconhecimento, elogio, aceitação, aprovação, amor e independência. Uma forma de conquistar isso é por meio da construção da identidade profissional (Tardeli, 2008).

De acordo com Nunes e Noronha (2011), a avaliação em OP po- derá envolver diferentes construtos. Alguns deles identificam as carac- terísticas do funcionamento psicodinâmico do orientando e associam à escolha profissional, e outros focam nos aspectos de desenvolvimento vocacional do sujeito.

De acordo com Almeida e Melo-Silva (2011), o processo de escolha encontra-se interligado a fatores que comportam tanto uma dimensão indi- vidual quanto social. Segundo as autoras, o processo envolve “influências do meio familiar, dos grupos de pares, da formação educacional, do mundo do trabalho e mais amplamente do contexto social, político, econômico e cultural” (p. 75). Segundo Ribeiro, Leal, Diamantino e Bianchi (2011), a motivação para a escolha da profissão, na maioria das vezes, é complexa pelos fatores que influenciam a decisão, envolvendo fatores conscientes e inconscientes.

A teoria da aprendizagem social para a tomada de decisão na carrei- ra estabelece que as variáveis pessoais e as condições ambientais podem apresentar-se como oportunidades ou empecilhos. A associação positiva ou negativa entre o comportamento e a sua consequência tende a consolidar padrões de interesse e de rejeição (Teixeira, 2011).

Complementando esta abordagem, a teoria da aprendizagem para o aconselhamento de carreira reforça a necessidade de que os orientadores estejam preparados para responder às inquietações dos orientandos, que possam lidar com os aspectos relacionados à importância da ampliação das capacidades e dos interesses destes sem se basearem apenas nas capacidades já possuídas. Além disso, que possam preparar para a mudança, ajudar os orientandos na busca por respostas aos sentimentos de incerteza e atender a todos os problemas relacionados à carreira, não somente aqueles que se relacionam à seleção de uma profissão (Teixeira, 2011).

Neste trabalho, foi abordada a influência de sintomas de ansiedade e de depressão na tomada de decisão profissional. Sabe-se que a ansiedade pode representar um sentido geral de perigo, de que há algo a ser temi- do, além de uma sensação de apreensão e insegurança. Trata-se de uma inquietação que apresenta manifestações fisiológicas e cognitivas (Batista & Oliveira, 2005).

Para Kaplan e Sadock (2008), a ansiedade normal pode ser perce- bida quando ainda é possível responder a certas situações ameaçadoras: a reação não é desproporcional à ameaça, que pode ser enfrentada cons- trutivamente. A ansiedade patológica, ao contrário, pode ser considerada como uma resposta inadequada a determinado estímulo, em virtude de sua intensidade ou duração. A ansiedade pode caracterizar situações e reações

A depressão em adolescentes parece ocorrer com mais frequência e percebe-se a incidência cada vez mais cedo. Os indivíduos nascidos no final do século XX têm uma tendência a apresentar tais sintomas mais precoce- mente e um maior risco para depressão (Bahls & Bahls, 2002).

Para Bahls e Bahls (2002), a prevalência de depressão maior em adolescentes varia de 0,4 a 10,0%, com predomínio do sexo feminino sobre o masculino. Em relação ao fator idade, destaca-se um aumento importan- te na passagem da infância para a adolescência. O desencadeamento da depressão poderá aumentar significativamente durante a adolescência, havendo uma modificação na distribuição entre os sexos.

De acordo com Rocha, Ribeiro, Pereira, Aveiro e Silva (2006), a to- mada de decisão sobre o futuro profissional pode gerar um elevado nível de ansiedade, visto que implica uma série de fatores, tais como influência parental, preferências pessoais, mercado de trabalho e futura relação custo-benefício. O adolescente vivencia uma turbulência emocional que é acrescida à responsabilidade pelo compromisso com a escolha da carreira futura. Toda esta situação tem como consequência um estado de tensão e estresse. Em função disso, este estudo analisou a influência dos sintomas de ansiedade e de depressão na tomada de decisão em OP.

MÉTODO

DELINEAMENTO

Tratou-se de um estudo quantitativo do tipo transversal, que teve, em um primeiro momento, um enfoque descritivo e, posteriormente, uma comparação entre variáveis. O estudo foi composto pelo mapeamento de adolescentes que buscaram o serviço de OP do Serviço de Atendimento e Pesquisa em Psicologia (SAPP) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) entre o período de novembro de 2010 e dezembro de 2011, com o objetivo de identificar possíveis influências dos sintomas de ansiedade e de depressão na tomada de decisão em OP.

AMOSTRA

A amostra foi constituída por 100 adolescentes do sexo feminino (58) e masculino (42), com idades entre 15 e 26 anos. Todos os participantes que consentiram em participar da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Portanto, foram analisados os resultados da testagem de 100 ado- lescentes que procuraram o serviço de orientação do SAPP da PUCRS.

Segundo Hair (2009), o tamanho mínimo de amostra recomendado é de 5 observações por variável independente, o que nos permitirá analisar até 24 variáveis associadas ao desfecho.

INSTRUMENTOS

Os instrumentos de avaliação foram aplicados pelos estagiários de clínica do SAPP que passaram por treinamentos iniciais para a obtenção da padronização da aplicação e do processo de OP. A OP do SAPP ocorre de 3 a 4 encontros individuais com o orientando. A seguir, apresentam-se os instrumentos utilizados para a coleta de informações nesse estudo.

Os principais instrumentos que foram abordados nesta pesquisa referem-se ao Inventário de Ansiedade de Beck (BAI) e ao Inventário de Depressão de Beck (BDI-II).

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