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Efeitos da água de reúso sobre o desenvolvimento e produtividade

No documento recursos-hidricos-II..> (páginas 183-187)

Capítulo 8 Reúso da água proveniente de esgoto doméstico

8.4 Efeitos da água de reúso sobre o desenvolvimento e produtividade

Com a descoberta da importância dos nutrientes minerais para as plantas, surgiu a preocupação de retornar os nutrientes minerais exportados nos alimentos do campo para as cidades. Diante de tal necessidade, o reúso de águas provenientes de esgoto doméstico representa o caminho de volta, ou seja, a reciclagem dos nutrientes exportados do campo. Acrescente-se a este fato, uma significativa redução da poluição ambiental devido a não disposição de tais efluentes diretamente nos corpos hídricos (Deon et al., 2010).

Diante do desafio de conservação do meio ambiente, o reúso planejado de esgotos sanitários surge como alternativa para garantir a sustentabilidade de comunidades rurais, pois além de ser um insumo menos agressivo ao ambiente, possibilita o desenvolvimento de uma agricultura menos dependente de agroquímicos.

Os efluentes geralmente possuem uma relação constante entre os nutrientes, sendo característica de cada tipo em particular de resíduo. Tal relação, no entanto, nem sempre é a mais adequada à produção e nutrição das plantas, podendo acarretar desbalanço de nutrientes no sistema solo-planta e efeitos negativos associados à sodificação, salinização e toxicidade de certos elementos químicos (Barroso & Wolff, 2011; Deon et al., 2010). É possível também a contaminação do aqüífero freático pela lixiviação de nitrato (NO3-). Assim, uma medida importante a ser tomada em relação à cultura, é a utilização de plantas com alta demanda de nitrogênio (Veloso et al., 2004). De acordo com Phillips & Sheehan (2005) os solos ideais para o recebimento de efluentes ricos em nitrogênio são aqueles com cargas positivas na superfície, capazes de reter estes ânions.

Vale lembrar que manejo adequado do sistema hidroagrícola se encontra no balanço coerente entre a demanda de água e de nutrientes das plantas, além da

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observação aos problemas potenciais de salinidade, sodicidade e toxicidade (Bastos et al., 2005).

Em regiões semiáridas onde a escacez de água é um fator limitante à produção agrícola, resolve-se dois problemas de uma só vez, ou seja, economia de água e aporte de nutrientes via efluente de esgoto doméstico.

Efeitos benéficos em relação à produtividade das culturas agrícolas irrigadas com efluentes de esgotos domésticos têm sido observados. Em alguns casos, com aumento de até 50% de produtividade em relação à adubação química (Deon et al., 2010). Fidelis Filho et al. (2005) registraram maiores valores de altura das plantas de algodão BRS Verde irrigadas com efluente decantado comparado com água de poço, decorrente das altas concentrações de matéria orgânica e nutrientes presentes no efluente. Cultivando pimentão, Duarte (2007) obteve aumento da altura das plantas, quando irrigadas com efluentes de origem doméstica.

A partir de resultados de pesquisa, utilizando as culturas mamona (Cultivar BRS energia) (Silva, 2010) e girassol (Cultivar Hélio 251 H251), irrigadas com água de reúso de esgoto doméstico tratado com diferentes técnicas (UASB - efluente reator; DG+FT - efluente decanto-digestor associado ao filtro anaeróbio; FT - efluente filtro anaeróbio), sobre as características de produtividade e desenvolvimento vegetativo na região semiárida do estado de Pernambuco, município de Ibimirim/PE; a água do abastecimento também foi utilizada nos cultivos, como análise de testemunha.

Com a Figura 8.1, constata-se que as diferentes formas de tratamento de esgoto (UASB, DG+FT e FT) não influenciaram no desenvolvimento da mamoneira, no que diz respeito à altura de planta, diâmetro de caule e número de folhas. Ainda analisando a Figura 8.1, observa-se que as plantas irrigadas com água de abastecimento, desenvolveram menos em relação aquelas irrigadas com efluentes, o que reforça o efeito do aporte de nutrientes via água de reúso, principalmente nitrogênio, nutriente de maior importância no crescimento das plantas; para o plantio da mamona o aporte médio de nitrogênio ao longo do experimento foi de 106,9, 74,32 e 84,3 mg L-1, respectivamente, para efluente do reator UASB, Digestor+Filtro anaeróbio e Filtro anaeróbio.

Ao final do ciclo da cultura da mamona a produtividade de semente foi afetada quando se utilizaram os diferentes tipos de água. A produtividade de sementes para as plantas que foram irrigadas com efluente foram superiores aos das plantas irrigadas somente com água de abastecimento. Como não foi realizado tipo algum de adubação inicial, infere-se que o incremento de produtividade da mamoneira ocorreu devido ao aporte de nutrientes via água residuária. Neste trabalho a produtividade média de sementes foi de 1923,28 kg ha-1, 1539,16 kg ha-1 e 1744,77 kg ha-1, respectivamente, para plantas irrigadas com efluente do reator UASB, Digestor+Filtro anaeróbio e Filtro anaeróbio (Figura 8.2).

Comparando a produtividade média de sementes obtida (1735,7 kg ha-1) com resultados encontrados em cultivos com adubação química (1091 kg ha-1) tem-se que

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Figura 8.1 Resumo de médias para altura de plantas (AP), diâmetro de caule (DC) e

número de folhas por planta (NF) aos 29, 43, 57, 71 e 86 dias após a germinação Médias seguidas por letras diferentes indicam diferenças significativas a nível de 5% de probabilida de, pelo teste de Tukey

a mamona BRS energia irrigada com efluente atingiu níveis de produtividade satisfatórios, sugerindo que o aporte de nutrientes de tais águas é suficiente para promover produções rentáveis.

Para a cultura do girassol, as plantas irrigadas com efluentes obtiveram o mesmo padrão de desenvolvimento vegetativo, superior as irrigadas com água de abastecimento. Com altura média de 0,94 m (Figura 8.3).

A produção do girassol variou em relação ao tipo de água utilizada, com os maiores valores obtidos para o tratamento com efluente decanto-digestor associado ao filtro anaeróbio, seguido do filtro anaeróbio (Figura 8.4). O que pode ser uma alternativa viável, principalmente por ser técnicas de baixo custo financeiro e fácil utilização. Característica importante quando se tratar de regiões com baixo poder econômico e agricultura familiar.

Altura da planta Diâmetro do caule Número de folhas A P ( CM ) D C (m m ) N F

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UASB - efluente reator; DG + FT - efluente decanto-digestor associado ao filtro anaeróbio; FA - efluente filtro anaeróbio; AA - água do abastecimento

Médias seguidas por letras diferentes indicam diferenças significativas a nível de 5% de probabilida de, pelo teste de Tukey Figura 8.2 Produtividade média e teor de óleo em sementes ao final do ciclo da

cultura da mamona para diferentes águas

Figura 8.3 Altura média de plantas durante o ciclo da cultura do girassol, para as

diferentes águas

UASB - efluente reator; DG+FT - efluente decanto-digestor associado ao filtro anaeróbio; FA - efluente filtro anaeróbio; AA - água do abastecimento Produtividade (kg ha-1) Teor de óleo (%) A lt u ra (c m )

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Os valores de produtividade encontrados na literatura se aproximam bastante do referido ensaio. Silva et al. (2007), encontraram eficiência técnica na produção uma vez que, mesmo sem irrigação, a produtividade média foi de 1924,27 kg ha-1; todavia, em condições irrigadas a produtividade foi de 2293,15 kg ha-1.

8.5 EFEITOS DA ÁGUA DE REÚSO SOBRE O ESTADO NUTRICIONAL

No documento recursos-hidricos-II..> (páginas 183-187)