• Nenhum resultado encontrado

C ÓDIGO E SPÉCIE F AMÍLIA C AMPANHA D ATA L INHA D ESTINO

V. 3.2.3.3 U NIDADE C ONTROLE

V.4.2. Resultados: análise da anfibiofauna 1 Resultados gerais

V.4.2.3. Efeitos da sazonalidade

Ao longo dos meses o número de espécies de anfíbios registrados varia em decorrência das flutuações nas condições climáticas (Bertoluci, 1998). Além da detectabilidade em decorrência de atividades comportamentais, outras causas envolvidas nessa variação podem ser oriundas de características próprias da dinâmica das populações de anfíbios, assim como da sensibilidade das espécies a alterações ambientais, sejam elas naturais ou antrópicas (Heyer

No presente caso, a análise de regressão mostrou-se estatisticamente significativa apenas na relação Abundância (pitfalls) vs. Precipitação (R² = 0,5; F = 10,1; p < 0,013). Embora tenha se observado a tendência dos valores de Riqueza (busca ativa) e Abundância (busca ativa) variarem conjuntamente com a Temperatura Mínima até a oitava campanha, e com a Umidade das campanhas sete a dez, as relações não se mostram estatisticamente significativas (FIGURA V.4.5).

A relação encontrada entre as variações na abundância de anfíbios registrados pela captura em pitfall com a precipitação, provavelmente decorre do fato dessas espécies – anuros de solo dependerem grandemente da umidade do mesmo para sobreviver. Durante meses muito secos o comportamento desses indivíduos pode ser afetado, os quais buscam abrigos e diminuem seu deslocamento, levando à menor probabilidade de captura.

FIGURA V.4.5: Variação mensal da riqueza (gráficos superiores) e abundância (gráficos inferiores) dos anfíbios

registrados pelos métodos de Busca ativa (colunas claras) e captura em Pitfall (colunas escuras), relativas às variações das médias de temperatura máxima e mínima (gráficos da esquerda), umidade e precipitação (gráficos da direita) durante as campanhas do “Programa de monitoramento da fauna de vertebrados terrestre – UHE Mauá”.

Todas essas variações na detectabilidade estão provavelmente relacionadas aos ciclos reprodutivos das espécies. Neste estudo definiu-se que o período reprodutivo das espécies correspondem ao início de qualquer atividade relacionada à reprodução: vocalização, desovas, casais em amplexo ou presença de girinos não anuais. A partir dessa assertiva, 20 espécies aferiadas durante a busca ativa foram classificadas como tendo iniciado seu ciclo reprodutivo, e confeccionou-se uma representação gráfica da distribuição temporal das atividades reprodutivas das mesmas (FIGURA V.4.6)

O aumento nas atividades de reprodução de anuros coincidente com a estação quente e chuvosa é um padrão bem evidenciado e consagrado no bioma Mata Atlântica (Heyer et. al., 1990; Bertoluci, 1998; Machado & Bernarde, 2002; Conte & Rossa-Feres, 2006, 2007; Lingnau, 2009). Aqui se observaram espécies que aparentam preferência em se reproduzir na metade final da estação mais fria, com menor pluviosidade (Rhinella abei, R. icterica, A. albosignatus,

D. minutus, Crossodactylus sp.); espécies que iniciam sua reprodução com o aumento da

temperatura no final da estação fria e início da estação quente (Flectonotus sp., D. microps, H.

prasinus, P. tetraploidea, S. perereca); e espécies que iniciam seu período reprodutivo com um

aumento da umidade e incidência de chuvas da estação quente (I. henselii, P. brauni, H. faber,

Hypsiboas sp. (gr. pulchellus), S. fuscovarius, P. cuvieri, S. rizibilis, P. aff. gracilis, L. fuscus, L. notoaktites, L. latrans, E. bicolor).

Embora ainda não tenham sido amostrados todos os meses durante um ano, muitas espécies aparentemente permanecem em atividade reprodutiva até o fim da estação quente (A.

albosignatus, D. microps, D. minutus, H. faber, H. prasinus, H. sp. (gr. pulchellus), S. caramaschii, Crossodactylus sp., L. notoaktites). Nenhuma espécie esteve em atividade

FIGURA V.4.6. Distribuição temporal de anfíbios registrados durante as atividades de Busca ativa, representando o período de reprodução das espécies durante o monitoramento de fauna terrestre da UHE Mauá.

Os modos reprodutivos dos anfíbios demonstram a complexidade de microhábitats utilizados no ambiente. Uma comunidade de anuros pode também ser avaliada quanto à sua diversidade através da análise dos modos reprodutivos das espécies que a compõem, reflexo da complexidade de interações e presença de táxons especialistas (Vasconcelos, 2009). Em um estudo no Parque Estadual Mata dos Godoy, Machado & Bernarde (2002) registraram sete modos reprodutivos e nove modos foram registrados no estudo de Lingnau (2009) em uma localidade de Santa Catarina, dentro dos domínios da floresta ombrófila mista.

Neste estudo, encontraram-se 11 modos reprodutivos das espécies de anuros (TABELA V.4.3), e uma síntese descritiva dessa classificação segue (sensu Haddad & Prado, 2005):

1 – ovos e girinos exotróficos em corpo d’água lêntico; 2 – ovos e girinos exotróficos em corpo d’água lótico;

3 – ovos e estágios larvais iniciais em tocas subaquáticas construídas, girinos exotróficos em corpo d’água lótico;

4 – ovos e estágios larvais iniciais em piscinas naturais ou construídas; após inundação, girinos exotróficos em corpo d’água lêntico ou lótico;

5 – ovos e estágios larvais iniciais em tocas subterrâneas construídas, após inundação, girinos exotróficos em corpo d’água lêntico ou lótico;

11 – ovos em ninho de espuma flutuante em corpo d’água lêntico, girinos exotróficos em corpo d’água lêntico;

23 – desenvolvimento direto de ovos terrestres;

24 – dos ovos eclodem girinos exotróficos que caem em corpo d’água lêntico; 25 – dos ovos eclodem girinos exotróficos que caem em corpo d’água lótico;

30 – ninho de espuma com ovos e estágios larvais iniciais em piscinas, após inundação, girinos exotróficos em corpo d’água lêntico ou lótico;

36 – ovos transportados no dorso ou em marsúpio dorsal de fêmeas, girinos endotróficos desenvolvem-se em água acumulada em bromélias ou nos colmos de bambu.

TABELA V.4.3. Modos reprodutivos das espécies de anuros registrados durante o “Programa de monitoramento de fauna de vertebrados terrestres – UHE Mauá”.

Família Espécie Modo Reprodutivo Brachycephalidae Ischnocnema henselii 23 Bufonidae Melanophryniscus cf. tumifrons 1

Rhinella abei 1,2 Rhinella icterica 1,2 Craugastoridae Haddadus binotatus 23 Cycloramphidae Odontophrynus americanus 1

Proceratophrys brauni 1 Hemiphractidae Flectonotus sp. 36 Hylidae Aplastodiscus albosignatus 5 Bokermannohyla circumdata 2,4 Dendropsophus microps 1 Dendropsophus minutus 1 Hypsiboas albopunctatus 1 Hypsiboas faber 1,4 Hypsiboas prasinus 1,2 Hypsiboas sp. (gr. pulchellus) 2 Phyllomedusa tetraploidea 24 Scinax aromothyella 1 Scinax rizibilis 11 Scinax aff. catharinae 1 Scinax fuscovarius 1 Scinax perereca 1 Sphaenorhynchus caramaschii 1 Phasmahyla sp. 25

Família Espécie Modo Reprodutivo Hylodidae Crossodactylus sp. 3 Leiuperidae Physalaemus cuvieri 11 Physalaemus aff. gracilis 11 Leptodactylidae Leptodactylus fuscus 30 Leptodactylus notoaktites 30 Leptodactylus mystacinus 30 Leptodactylus latrans 11 Microhylidae Elachistocleis bicolor 1

Espécies florestais como Ischnocnema henselii e Haddadus binotatus não necessitam de corpos d’água para sua reprodução, apenas um ambiente florestal úmido. Flectonotus sp. necessita de mata com epífitos ou bambuzais para se reproduzir, tratando-se de táxon especialista nesses microhábitats e sensível a mudanças ambientais. Outras espécies também com alta sensibilidade, principalmente quanto à modificação de ambientes lóticos e supressão da vegetação, são A. albosignatus, B. circumdata, Phasmahyla sp. e Crossodactylus sp. Estas espécies utilizam exclusivamente riachos sombreados para se reproduzir. Das espécies de áreas abertas considerada especialista quanto à reprodução, destaca-se P. tetraploidea, que deposita seus ovos em folhas pendentes sobre um corpo d`água.

V.4.2.4. Análise de agrupamentos

A similaridade na composição específica, seguida de análise de agrupamentos, foi calculada separadamente para os dados colhidos com as metodologias Busca ativa e Pitfall (FIGURA V.4.7), uma vez que contemplam microhábitats distintos (sítios de reprodução selecionados

versus amostragem em solo florestal).

Esse padrão provavelmente se deve pelo método em que são amostradas as espécies. A Busca

ativa normalmente abrange todas as espécies de anfíbios, ou seja, é eficiente em amostrar os

anfíbios em todos os seus hábitos. Contudo, os registros das espécies estão restritos principalmente ao período de atividade reprodutiva, onde são abundantemente amostrados. As rãs e sapos são normalmente espécies terrestres de folhiço e aquáticos, e muitos destes anfíbios são de difícil visualização pela Busca ativa por sua eficiente camuflagem, e acabam por serem consideradas espécies raras. Já as capturas em pitfall são eficientes em amostrar quaisquer espécies de anfíbios não-arborícolas. A comparação da comunidade entre as áreas

fica mais fidedigna por meio deste método por não contemplar amostragens em sítios reprodutivos com características diferentes (lêntico ou lótico) como na Busca ativa, uma vez que todas as áreas de pitfall estão em fragmentos florestais associadas a riachos em maior ou menor proximidade. Não obstante, vale reforçar que esta similaridade compara tão-somente as espécies de folhiço florestal.

As subunidades de (APP e Frente) são áreas geograficamente mais próximas, e, portanto a maior similaridade encontrada entre a comunidade de folhiço (captura em pitfall) seria esperada, uma vez que há grande possibilidade das mesmas espécies transitarem de forma intercambiável. Contudo, foi observada maior similaridade entre a APP e a área Controle, talvez por serem áreas com características ambientais mais preservadas. Essas mesmas subunidades são menos semelhantes pelo método da Busca ativa, em provável consequência da UFA-APP e ULI não contemplarem ambientes de corpos d’água lênticos. De certa forma, toda a futura APP do reservatório apresenta apenas áreas de encosta, não permitindo o acúmulo de um grande volume de água, como os açudes encontrados na UCO e UFA-Frente, ambientes cujas comunidades anurofaunisticas são mais semelhantes, refletido na maior similaridade destas unidades entre si. O agrupamento da comunidade de ULI e UFA-APP, conforme a Busca ativa, provavelmente está relacionada à ambos os ambientes serem praticamente florestais. 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 0.4 0.45 0.5 0.55 0.6 0.65 0.7 0.75 0.8 0.85 0.9 0.95 S im ila ri d a d e U F A -F re n te U C O U F A -A P P U L I 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 0.55 0.6 0.65 0.7 0.75 0.8 0.85 0.9 0.95 S im ila ri d a d e U F A -A P P U C O U F A -F re n te U L I

FIGURA V.4.7: Dendrograma de similaridade (índice de Jaccard) entre as unidades amostrais pelo método de Busca

ativa (esquerda) e Pitfalls (direita) durante as campanhas do “Programa de monitoramento da fauna de vertebrados