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EFEITOS DO ACOLHIMENTO DO INCIDENTE

No documento DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO ACRE (páginas 48-50)

Rodrigo Almeida Chaves

3 QUE É A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA?

4.3 REQUISITOS PARA A CONCESSÃO

4.3.3 EFEITOS DO ACOLHIMENTO DO INCIDENTE

Na hipótese de acolhimento do pedido de desconsideração da personalidade jurídica nos exatos termos do artigo 137 do Código de Processo Civil, a eventual alienação de bens será tida como ineficaz em relação ao requerente.

A referida disposição normativa, deve ser alinhada com o artigo 792, § 3o, que apresenta a seguinte previsão:

“nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execu- ção verifica-se a partir da citação da parte cuja personalidade se pretende desconsi- derar”. Buscou, por conseguinte, esse dispositivo estabelecer o termo inicial a partir do qual eventual alienação ou oneração de bens ocorreria em fraude à execução.

Alguns autores vêm interpretando a disposição em comento no sentido de que o NCPC teria estabele- cido que o marco inicial para a fraude à execução seria a citação do sócio (ou da pessoa jurídica, no caso de desconsideração inversa) para participar do incidente.

Assim, o marco inicial que se considerará fraude de execução a alienação ou oneração de bens pelo só- cio (ou pela sociedade, no caso de desconsideração inversa) não é propriamente o momento da instauração do incidente (que é, como visto anteriormente, o momento em que proferida a decisão que o admite), mas o momento da citação do responsável.

Com o julgamento de procedência da desconsideração, podem ser considerados em fraude à execução (a depender da presença dos demais pressupostos) todos os atos de alienação ou oneração de bens pratica- dos pelo sócio ou sociedade desde sua citação no incidente (arts. 137 e 792, § 3.º, do CPC/2015).

Nesse sentido, colaciono entendimento atualizado da jurisprudência:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. FRAUDE À EXECUÇÃO. ALIENAÇÃO DE IMÓVEL DO SÓCIO AO SEU FILHO APÓS A CITA- ÇÃO DA EMPRESA DEVEDORA. ART. 792, §3º, DO CPC. FRAUDE À EXECUÇÃO RECONHECIDA. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO.

Caso em que o acórdão embargado, partindo de premissa equivocada, enten- deu que não caracterizada a fraude à execução na hipótese dos autos, pois a alienação do imóvel do sócio ao seu filho ocorrera antes da citação daquele na demanda. To- davia, dispõe o art. 792, §3º, do Código de Processo Civil que é considerada fraude à execução a alienação realizada após a citação da parte cuja personalidade se pre-

tende desconsiderar, o que de fato ocorrera na hipótese dos autos, à medida que o sócio Walter repassou ao seu filho o único imóvel capaz de garantir a execu- ção após a citação da empresa devedora. Embargos declaratórios acolhidos, com atribuição de efeitos infringentes, para o fim de negar provimento ao agravo de instrumento interposto. EMBARGOS DECLARATÓRIOS ACOLHIDOS, COM ATRIBUIÇÃO DE EFEITO INFRIN-

GENTE. UN NIME. (Embargos de Declaração Nº 70076285238, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Pedro Luiz Pozza, Julgado em 15/03/2018).

Mas, a configuração da fraude à execução depende da presunção de que o terceiro adquirente do bem (ou beneficiário de sua oneração) tinha ou podia razoavelmente ter conhecimento da pendência da deman- da. Por isso, o registro da instauração do incidente no cartório distribuidor é importante (art. 134, § 1.º, do CPC/2015).

A regra visou assegurar ao terceiro, que adquire o bem de um sujeito atingido pela desconsideração, que só poderia ser considerada em fraude à execução a aquisição feita depois de o sujeito atingido pela desconsideração já estar citado na demanda de desconsideração (principal ou incidental), pois, antes disso, o terceiro não teria como objetivamente conhecer a demanda.

O NCPC, entretanto, mitigou a presunção de boa-fé do terceiro e passou a exigir que, no caso de aqui- sição de bem não sujeito a registro, terá ele o ônus de provar que adotou as cautelas necessárias para a aquisição, mediante a exibição das certidões pertinentes, obtidas no domicílio do vendedor e no local onde se encontra o bem (art. 792, § 2o).

Nesse diapasão, tem-se que, atualmente, o NCPC exige que o terceiro adqui- rente demonstre a sua boa-fé, na aquisição de bem não sujeito a registro, por meio da obtenção e apresentação de certidões que comprovem, notadamente, a saúde financeira do alienante e o desconhecimento da existência de ação ca- paz de reduzir o executado à insolvência.

A partir daí, qualquer ato de alienação ou oneração de seus bens será tida como fraude à execução se estiverem presentes os requisitos estabelecidos pelo art. 792 do CPC.

Observa-se que a decisão de acolhimento do pedido de desconsideração da personalidade jurídica pro- duz dois efeitos processuais, sendo que o principal efeito é a extenssão extensão da responsabilidade patri- monial.

Em resumo, a atividade executiva alcançará o patrimônio dos sócios ou administrador, e nos casos de desconsideração inversa, os bens da pessoa jurídica.

Tal normatização está prevista no art. 790, incisos II e VII e art. 795, ambos do novo Código de Processo Civil:

“Art. 790. São sujeitos à execução os bens: (. . . )

II - do sócio, nos termos da lei; (. . . )

VII - do responsável, nos casos de desconsideração da personalidade jurídica.

Art. 795. Os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da sociedade, senão nos casos previstos em lei”.

O segundo efeito é a ineficácia da alienação ou oneração de bens, havidos em fraude à execução, in verbis: “Art. 137, do CPC. Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de bens, havida em fraude de execução, será ineficaz em relação ao requerente”.

Em razão da ineficácia, os bens desviados poderão ser penhorados, ainda que o terceiro adquirente este- ja de boa-fé. Entretanto, ele poderá ingressar com ação de regresso para ser ressarcido.

No tocante à redação do art. 137, preleciona Humberto Theodoro Júnior:

simplesmente o deferimento do processamento do pedido de desconsi- deração. Ou seja, antes mesmo que se verifique a penhora, os credores serão acautelados com a presunção legal de fraude, caso ocorram alienações ou desvios de bens pelas pes- soas corresponsabilizadas. Como a penhora só será viável depois da decisão do incidente, a medida do art. 137 resguarda, desde logo, a garantia extraordinária que se pretende alcançar por meio de desconsideração Da mesma forma que se passa om a fraude cometida dentro da execução ordinária, a presunção legal de fraude do art. 137 pressupõe que o sujeito passivo da desconsideração da personalidade jurídica já tenha sido citado para o incidente quando praticar o ato de disposição (art. 792, § 3°). Justifica-se a fixação desse termo a quo pela circunstância de que o sujeito passivo do processo só se integra a ele por meio de citação. Portanto, só pode fraudar a execução quem dela já faça parte” (p. 405 e 406, 2016).

No documento DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO ACRE (páginas 48-50)