• Nenhum resultado encontrado

EFEITOS DOS COMPORTAMENTOS INTERACTIVOS MATERNOS

II. DIMENSÕES DO COMPORTAMENTO INTERACTIVO MATERNO

4. EFEITOS DOS COMPORTAMENTOS INTERACTIVOS MATERNOS

interactivo materno numa grande variedade de resultados de desenvolvimento.

Assim, no que diz respeito ao desenvolvimento da linguagem, Tamis-LeMonda et al. (2004) verificaram que a sensibilidade, consideração positiva e estimulação cognitiva das mães (e dos pais) influenciava positivamente os resultados concomitantes e ulteriores de vocabulário receptivo das crianças. Em oposição, o afastamento, intrusividade e consideração negativa materna (e paterna) estavam consistentemente relacionados com resultados negativos em termos de vocabulário receptivo. Também Landry et al. (1997) encontraram uma associação negativa entre elevadas proporções de comportamentos restritivos (definidos como tentativas verbais ou não verbais para parar o que a criança está a fazer ou a dizer) e o ritmo de desenvolvimento da linguagem expressiva e receptiva. Tamis-LeMonda et al. (2001) verificaram que crianças cujas mães eram mais responsivas (i.e., respondiam de uma forma contingente às vocalizações e actividades de jogo das crianças) (1) produziam espontaneamente as primeiras palavras, (2) atingiam as 50 palavras de linguagem receptiva, (3) usavam combinações de palavras e (4) utilizavam a linguagem para falar acerca do passado mais rapidamente do que crianças com mães menos responsivas. Adicionalmente, os autores verificaram que o valor preditivo da responsividade materna quando as crianças tinham 13 meses era superior ao valor preditivo desta dimensão interactiva quando as crianças tinham 9 meses de idade. Os dados de Fewell e Deutscher (2002) corroboram estes resultados e adicionam informação relevante, uma vez que sugerem a existência de efeitos positivos da responsividade materna em fases precoces do desenvolvimento da criança (mais especificamente, aos 30 meses de idade) no QI verbal e nas competências de leitura da criança aos 8 anos de idade. Os efeitos da responsividade materna no desenvolvimento da linguagem são confirmados com base nos resultados da

implementação de programas de intervenção parentais. Por exemplo, Kaiser, Hemmeter, Ostrosky, Fischer, Yoder e Keefer (1996) verificaram que a utilização de estratégias responsivas por parte das mães estava associada a mudanças globais positivas no desenvolvimento da linguagem de crianças em idade pré-escolar.

No que diz respeito ao desenvolvimento cognitivo, os resultados obtidos por Tamis- LeMonda et al. (2004) indicavam que a sensibilidade, consideração positiva e estimulação cognitiva das mães (e dos pais) influenciava positivamente os resultados de desenvolvimento cognitivo (operacionalizado como uma medida compósita de memória, capacidade de resolução de problemas, conceitos numéricos, competências de generalização e classificação, vocalizações, linguagem e competências sociais) das crianças, aos 24 e aos 36 meses. Em oposição, o afastamento, intrusividade e consideração negativa estavam relacionados, de uma forma consistente, com resultados cognitivos negativos nas mesmas idades. Os resultados obtidos por Landry, Smith, Swank, Assel e Vellet (2001) também indicam a existência de associações entre a responsividade materna (entendida como constructo afectivo/emocional) e o desenvolvimento cognitivo das crianças, acrescentando, ainda, informação relativa à importância da consistência materna na adopção de comportamentos interactivos responsivos, ao longo da infância. Efectivamente, os autores verificaram que crianças cujas mães evidenciavam elevada responsividade apenas numa fase precoce do desenvolvimento das crianças (com posterior redução do nível de responsividade) demonstravam quebras acentuadas no ritmo de desenvolvimento cognitivo quando comparadas com crianças cujas mães eram consistentes na sua responsividade até aos 4 anos de idade da criança. Os resultados da NICHD Early Child Care Research Network (2006b) apoiam estes dados, sugerindo que a trajectória da qualidade dos comportamentos interactivos maternos (em termos de sensibilidade e estimulação) pode mesmo ser mais influente do que a qualidade absoluta dos comportamentos interactivos maternos, ao longo do tempo.

De acordo com os resultados da revisão de literatura efectuada por Marfo (1991), a combinação de elevada directividade com baixa sensibilidade está associada a resultados negativos na competência cognitiva das crianças. No entanto, segundo o mesmo autor, há evidências que sugerem que, para crianças mais novas, alguma directividade pode ser adequada do ponto de vista do desenvolvimento cognitivo.

No que se refere ao desenvolvimento socioemocional, Steelman et al. (2002) verificaram que a responsividade das mães tinha um efeito directo nas competências sociais concomitantes e ulteriores das crianças (operacionalizadas, aos 12 meses, com base numa medida compósita das verbalizações, atenção conjunta e contacto visual com a mãe e, aos 54 meses, com base na frequência e complexidade das verbalizações e gestos comunicativos, contacto ocular, obediência aos pedidos da mãe e expressões de afecto positivo) e que as preferências disciplinares das mães desempenhavam um papel mediador entre a sua responsividade e as competências sociais das crianças a longo prazo. Tal como para os dados relativos ao desenvolvimento cognitivo, os resultados de Landry et al. (2001) sugerem uma diminuição do ritmo de desenvolvimento das competências sociais em função de uma diminuição na responsividade materna, pondo em causa uma hipotética preponderância da responsividade materna em fases precoces do desenvolvimento e sugerindo a importância da consistência materna no sentido da manutenção de elevados níveis de responsividade durante a infância. Nicely, Tamis-LeMonda e Grolnick (1999) verificaram que a consistência da responsividade materna ao longo do tempo influenciava a posterior expressividade da criança (entendida como expressão de afecto). Para além disso, respostas maternas congruentes com a intensidade, ritmo e forma dos comportamentos da criança tinham um efeito mais forte e estável no que respostas não congruentes.

Outros estudos encontraram associações entre sensibilidade materna e diversas dimensões específicas do desenvolvimento socioemocional, nomeadamente no que diz respeito ao choro e satisfação da criança (e.g., Kivijärvi et al. 2004; Lohaus et al., 2004), à regulação do afecto (operacionalizada como desobediência desafiante e afecto negativo) (NICHD Early Child Care Research Network, 2004) e ao autocontrolo, obediência e cooperação (NICHD Early Child Care Research Network, 1998). Bell e Ainsworth (1972) verificaram que a consistência e a prontidão da resposta materna estava associada à diminuição da frequência e duração do choro durante o primeiro ano de vida. De acordo com as autoras, o desenvolvimento de formas de comunicação alternativas ao choro estava associado à responsividade materna aos sinais da criança. Kelley, Brownell e Campbell (2000) encontraram associações entre o controlo e feedback de avaliação maternos, durante o segundo ano de vida das crianças, e a motivação para a mestria e expressão de afecto relacionada com a auto-avaliação das crianças, decorrido um ano. Assim, de acordo com os resultados obtidos pelas autoras, (1) avaliações negativas e críticas das acções e produtos das crianças estavam associadas a comportamentos de vergonha

por parte da criança; (2) feedback global positivo e feedback correctivo (correcções de conteúdo negativo ou crítico, mas cujo tom é neutro ou positivo) por parte da mãe estavam associados a maior persistência por parte da criança; e (3) controlo materno de apoio à autonomia (isto é, comportamentos que procuram direccionar ou apoiar as acções da criança de uma forma não intrusiva e sem directivas explícitas) estava associado a menor probabilidade de evitamento de actividades desafiantes. No que diz respeito à mestria (operacionalizada em função dos níveis de jogo propostos por Belsky e Most, 1981), Blasco, Hrncir e Blasco (1990) verificaram que o envolvimento materno (operacionalizado como um valor compósito da qualidade afectiva e adequação desenvolvimental dos comportamentos interactivos maternos) contribuía de uma forma significativa para a mestria espontânea e competência (i.e., nível de jogo) de crianças com paralisia cerebral e de crianças com desenvolvimento típico.

A investigação tem ainda encontrado associações entre a sensibilidade materna e a competência nas interacções com pares, observada em diferentes contextos (e.g., NICHD Early Child Care Research Network, 2001a). De acordo com os resultados da NICHD Early Child Care Research Network (2001a), crianças cujas mães eram mais positivas e responsivas e menos intrusivas ou hostis mostravam-se mais positivas e competentes no jogo com pares. A magnitude do efeito da sensibilidade materna na qualidade e complexidade do comportamento e competências das crianças com os seus pares era superior ao efeito da qualidade do contexto de creche. Black e Logan (1995) verificaram que padrões de comunicação responsiva pais- criança estão relacionados com padrões de comunicação responsivos por parte da criança e com um estatuto sociométrico superior no grupo de pares. Em oposição, padrões de comunicação essencialmente não responsivos (caracterizados por trocas irrelevantes, interrupções, fala simultânea e respostas não contingentes) estão relacionados com aspectos negativos da comunicação com pares e com um estatuto de rejeição no grupo de pares. De acordo com os resultados deste estudo, os pais de crianças rejeitadas pelo grupo de pares utilizavam proporções mais elevadas de pedidos do que os pais de crianças populares, mas não permitiam à criança tempo suficiente para responder aos pedidos efectuados. Landry et al. (1997) encontraram uma associação negativa entre elevadas proporções de comportamentos maternos de carácter restritivo (durante o primeiro ano de vida) e as competências sociais (de iniciação e resposta) de crianças de diferentes graus de risco biológico. Rose-Krasnor, Rubin, Booth e Coplan (1996) encontraram uma associação positiva entre directividade materna e

utilização de estratégias agressivas com pares durante situações de resolução de problemas sociais, bem como uma associação negativa entre directividade materna e sensibilidade aos pares durante a resolução de problemas de carácter social.

Segundo Huston e Rosenkrantz Aronson (2005), os bebés formam um modelo de relações sociais seguras com base na experiência com uma figura de vinculação sensível, responsiva e previsível. No que diz respeito aos efeitos das dimensões do comportamento interactivo materno na relação de vinculação mãe-criança, a investigação revela que a sensibilidade materna (definida como a capacidade para responder adequada e prontamente aos sinais da criança) constitui um factor importante (embora não exclusivo) para o desenvolvimento de uma vinculação segura (Bakermans-Kranenburg, van IJzendoorn, & Juffer, 2003; De Wolff & van IJzendoorn, 1997). Com base numa meta-análise, De Wolff e van IJzendoorn (1997) encontraram uma associação moderada entre sensibilidade materna e vinculação segura, tendo, contudo, identificado outras dimensões do comportamento interactivo materno que desempenham um papel similar na relação de vinculação (e.g., mutualidade, sincronia, estimulação, atitude positiva e apoio emocional). De acordo com estes resultados, será necessário adoptar uma conceptualização multidimensional dos antecedentes parentais do desenvolvimento da vinculação.

Os resultados da NICHD Early Child Care Research Network (1997; 2001b) replicam a associação entre responsividade e sensibilidade materna e vinculação segura aos 15 e aos 36 meses de idade. De acordo com os dados obtidos (NICHD Early Child Care Research Network, 2001b), a sensibilidade materna constitui o preditor mais forte da classificação da vinculação da criança. Esta associação é moderada pelo número de horas de frequência dos contextos pré- escolares: quando a responsividade materna é baixa, mais horas semanais na creche ou jardim- de-infância aumentam o risco de uma classificação de inseguro-ambivalente. Também a qualidade do contexto pré-escolar desempenha um papel moderador na associação entre sensibilidade materna e vinculação segura (NICHD Early Child Care Research Network, 1997). Assim, crianças que frequentam contextos pré-escolares de baixa qualidade são mais influenciadas pelo comportamento interactivo das suas mães do que crianças que frequentam contextos pré-escolares de elevada qualidade, existindo uma maior proporção de crianças seguras, filhas de mães menos sensíveis e responsivas, em contextos pré-escolares de elevada

qualidade. A qualidade dos contextos pré-escolares parece, deste modo, desempenhar uma função compensatória para crianças cujas mães evidenciam comportamentos interactivos de menor responsividade (NICHD Early Child Care Research Network, 1997). Os investigadores que integram esta rede de trabalho referem a existência de riscos duplos, uma vez que é a combinação de factores maternos e de características dos contextos pré-escolares que afecta a vinculação da criança: crianças que frequentam contextos pré-escolares de menor qualidade e que têm mães menos sensíveis e responsivas têm as taxas mais elevadas de vinculação insegura (NICHD Early Child Care Research Network, 1997).

Os dados da investigação indicam igualmente a influência de diferentes dimensões de comportamento interactivo materno nos resultados comportamentais das crianças. De acordo com os resultados da NICHD Early Child Care Research Network (2006b), existe uma associação negativa entre sensibilidade e estimulação materna e comportamentos de internalização (isolamento, queixas somáticas, ansiedade e depressão) e de externalização (comportamentos de delinquência e agressão) de crianças em idade pré-escolar. Note-se, contudo, que esta associação parece ser moderada pelo tipo de organização comportamental da vinculação. De acordo com os resultados obtidos pela NICHD Early Child Care Research Network (2006b), (1) a sensibilidade e estimulação materna entre os 15 e os 54 meses de idade da criança tem menos probabilidade de influenciar os comportamentos de externalização de crianças classificadas como inseguras-ambivalentes; (2) a diminuição da sensibilidade e estimulação materna ao longo do tempo tem mais probabilidade de influenciar os comportamentos de externalização de crianças com vinculação insegura; (3) os efeitos da sensibilidade e estimulação materna nos comportamentos de externalização de crianças com padrões de vinculação desorganizados aumentam à medida que as crianças ficam mais velhas; e (4) a sensibilidade e estimulação materna tem mais probabilidade de influenciar os comportamentos de internalização de crianças seguras. Os resultados da NICHD Early Child Care Research Network (2006b) sugerem ainda que mudanças positivas na sensibilidade e estimulação materna entre os 15 e os 54 meses de idade das crianças estão associadas a maior competência social e redução de comportamentos de externalização em crianças previamente classificadas como inseguras.

Ainda no domínio comportamental, Mahoney e Neville-Smith (1996) verificaram que a qualidade das respostas das crianças, operacionalizada como obediência (resposta relacionada, resposta parcial ou resposta completa) ou desobediência (i.e., recusar, ignorar, prestar atenção), às directivas das mães (operacionalizadas como pedidos para a criança realizar uma acção específica), parece estar associada ao grau com que as directivas se relacionam com a actividade da criança e com o seu nível de desenvolvimento. Os resultados obtidos pelos autores sugerem que as crianças exibem níveis mais elevados de resposta quando os pedidos ou solicitações das mães se relacionam directamente com a actividade e com o foco de atenção da criança e quando têm um grau de dificuldade que se situa ao nível ou abaixo do nível de desenvolvimento ou de competência das crianças. A investigação indica ainda que o afecto das mães modera as associações entre o controlo rígido e os problemas de comportamento da criança. Por exemplo, Ispa e colaboradores (2004) verificaram que a intrusividade materna está positivamente associada ao afecto negativo da criança (entendido como demonstração de raiva ou desprazer) e negativamente associada ao envolvimento da criança com a mãe (definido como o grau com que a criança interage com a mãe de uma forma positiva, iniciando ou mantendo o contacto ocular, dirigindo-se à mãe e respondendo com afecto positivo às suas iniciativas). Contudo, esta associação é moderada pela etnia e, no caso das mães americanas com ascendência africana, pelo afecto materno. Assim, em famílias americanas com ascendência europeia, a intrusividade durante o jogo estava associada a maior afecto negativo da criança em relação à mãe, a menor envolvimento da criança e a menor sincronia na díade. Contudo, Ispa e colaboradores encontraram um padrão diferente em díades americanas com ascendência africana: a intrusividade estava associada a maior afecto negativo da criança em relação à mãe, mas o envolvimento da criança e a mutualidade diádica não era afectada. Para além disso, a relação entre intrusividade materna e afecto negativo da criança só se verificava no caso de díades em que as mães revelaram pouco afecto positivo ou calor na interacção.

A investigação tem ainda revelado efeitos dos comportamentos interactivos maternos no envolvimento da criança (e.g., Kim & Mahoney, 2004), como é possível verificar no próximo capítulo.

Em conclusão, e recorrendo a uma síntese da magnitude dos efeitos apurados pela NICHD Early Child Care Research Network (2006a), a investigação tem encontrado efeitos

moderados a fortes entre a sensibilidade, responsividade e estimulação materna e os resultados das crianças ao nível do desenvolvimento cognitivo e socioemocional, desenvolvimento da linguagem e relações com pares. Note-se que, de acordo com a mesma fonte, a magnitude dos efeitos apurados para os comportamentos interactivos maternos é, na maioria dos domínios de desenvolvimento, duas ou três vezes superior aos efeitos apurados para outras variáveis, nomeadamente a qualidade dos contextos pré-escolares, indicando a primazia da família sobre as características dos contextos pré-escolares.