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4 DAS ALTERAÇÕES NECESSÁRIAS PARA EFETIVA PROTEÇÃO E

4.2 MUDANÇA DE PARADIGMA NA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL: INCENTIVAR

4.2.2 Do efeito extrafiscal dos tributos ambientais: Fator modificante na

4.2.2.1 Efeitos extrafiscais na prática – Salvador e o IPTU Verde

A fim de exemplificar a lógica da concessão de benefícios fiscais, para que por meio da extrafiscalidade se dê a efetiva proteção ambiental, Tavares (2019) aponta que:

O mecanismo da extrafiscalidade, como o nome sugere, objetiva ir além da finalidade fiscal, podendo implicar, muitas vezes, na redução das receitas públicas. Porém, isso não significa prejuízo para o Estado, na medida em que prevenção e preservação desoneram os gastos com recuperação. (TAVARES, 2019). (Grifo nosso).

Dentro da definição dos incentivos fiscais, Lacombe (1969) discorre que desde a década de 60, os incentivos tributários atuam como meio de motivar o desenvolvimento econômico, social e tecnológico em uma determinada região, de maneira com que o Estado recuse parcela integral ou parcial do valor referente ao tributo em razão de tornar o local seja município, estado ou país, mais atraente para implementação de empresas, o que resulta na geração de desenvolvimento social e econômico.

Como exemplo, cita Lacombe (1969) o desenvolvimento do nordeste brasileiro, o qual teve especial atenção, recebendo isenções fiscais no Imposto de Renda de até 100% para as empresas que optassem por se fixar na região.

De modo semelhante, visando o desenvolvimento local, utilizando-se dos incentivos fiscais, Tavares (2019) cita o exemplo da tímida implementação do incentivo fiscal no cenário brasileiro, fazendo um breve e sucinto compilado histórico de incentivos que tiveram como principal objetivo fomentar o desenvolvimento econômico e ambiental.

Cita o autor exemplos como a Lei 5.106/66 a qual regulamenta o abatimento do Imposto de Renda referente aos valores empregados no florestamento e/ou reflorestamento; a Lei 9.393/96 referente ao Imposto Territorial Rural que não considera tributável Área de Preservação Permanente e Lei 10.336/2001 a qual instituiu a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico – CIDE, a qual regulamenta que o valor arrecadado será destinado ao financiamento de projetos ambientais relacionados com a indústria do petróleo e do gás.

Segundo Dantas (2014) o IPTU Verde tem atuado como motivador aos contribuintes para que atuem de modo a diminuírem o encargo tributário, tendo para isso, que cooperarem com o Estado, atuando os contribuintes e o estado de modo conjunto, tendo como escopo proteger o meio ambiente por meio da adoção de atos sustentáveis. A fim de maior riqueza no esclarecimento, Dantas (2014) discorre sobre como o IPTU Verde gera motivação na mudança de comportamento dos contribuintes da seguinte forma:

A sanção premial, portanto, visa justamente re-orientar as atividades das pessoas físicas e jurídicas, estimulando-as a terem uma atitude

ecologicamente correta, e em decorrência dessa ação, a obterem vantagens fiscais. É uma homenagem ao princípio do protetor-recebedor, segundo o qual prevê a possibilidade de recebimento de alguma espécie de compensação financeira por aquela pessoa que cumpre as normas ambientais.

Ainda em relação aos incentivos fiscais, devem os mesmos serem previstos mediante lei específica, federal, estadual ou municipal que regule exclusivamente a matéria, conforme exige a norma do § 6º do art. 150 da CF/88. (DANTAS, 2014, p. 65). (Grifo nosso).

Conforme discorreu Dantas (2014) o fato do contribuinte perceber um desconto, ou uma isenção no tributo acaba por gerar motivação para que este passe a promover atitudes ecologicamente sustentáveis, o que possui como resultado a retirada do encargo integral de proteção do meio ambiente por parte apenas do Estado.

A própria Constituição Federal de 1988 atribui à todos o dever de proteger o meio ambiente, contudo, o Estado por meio da ferramenta de regulação comportamental que é o incentivo fiscal possui a capacidade de gerar de maneira mais direta no particular o sentimento de que este pode contribuir com a preservação e manutenção do meio ambiente e ainda, receber por isto.

Sobre a implementação do IPTU Verde, discorre Suarez (2014) a respeito do município de Curitiba/PR, o qual elaborou os parâmetros para concessão de descontos no IPTU, por meio de sua lei municipal de nº 9.806/2000:

Já o Município de Curitiba, concede desconto no IPTU para os contribuintes que possuírem área verde com bosque nativo em suas propriedades, pinheiros isolados ou árvores com grande volume, conforme o disposto na Lei Municipal n° 9.806/2000. Destarte, os contribuintes que se enquadrem aos requisitos da legislação devem solicitar desconto no IPTU perante Secretaria Municipal de Finanças. Tal diploma legal ainda dispõe acerca das características do terreno necessárias para a redução da alíquota a ser concedida ao contribuinte sendo que o desconto pode chegar a 100% (cem por cento) caso o terreno seja cadastrado como imóvel com bosque do tamanho requerido por lei. (SUAREZ, 2014, p. 10).

Semelhante projeto de incentivo fiscal vem sendo praticado junto ao município de Salvador/BA, o qual por meio da Lei Municipal 8.723/2015 institucionalizou o IPTU Verde, que segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, o incentivo fiscal por meio do IPTU vem logrando êxito em sua aplicação, obtendo o seguinte reconhecimento:

Entre 2017 e 2018, foram 11.431 árvores plantadas em Salvador, em 80 ações de plantio que envolveram os moradores da capital baiana. Nos últimos quatro anos, foram mais de 50 mil árvores plantadas na cidade, sendo 95% espécies da Mata Atlântica, entre elas, pau-brasil, ipê e oiti. (Ministério do Meio Ambiente, 2018).

O resultado da implantação do IPTU Verde no município de Salvador demonstra o ganho expressivo na quantidade de árvores plantadas, resultando numa melhora na qualidade de vida no município. Este incentivo fiscal evidencia uma alternativa concreta na obtenção de resultados positivos, conforme discorreu o IPEA (2010) adquiriu-se resultado sem que houvesse a imposição de custos ao erário no tocante à movimentação de agentes fiscalizadores, tendo em vista que os próprios munícipes atuaram ativamente com o fito de obterem a concessão do benefício de até 10% sob o valor do IPTU.

De acordo com Cavalcante (2012) o incentivo fiscal tem se mostrado uma alternativa de maior eficiência em razão da cultura brasileira tributária que impõe altos encargos tributários, despertando interesse nos contribuintes quando aborda-se alguma forma de isenção total ou parcial no pagamento de tributos. Discorre a autora:

Muito mais eficaz que criar novos tributos, num país já de elevadíssima carga tributária, é a adoção de incentivos fiscais para as empresas que investirem na proteção ao meio ambiente, é o que prevê o princípio do protetor- recebedor. (CAVALCANTE, 2012, p. 102).

Dantas (2014) aponta que um dos resultados indiretos do IPTU Verde aplicado no município de Salvador fora o de chamar para o polo ativo do combate à poluição e

proteção do meio ambiente o próprio contribuinte. Discorre a autora sobre esta interação do munícipe contribuinte:

Comportamentos ambientalmente adequados do contribuinte como por exemplo, realização de captação de água das chuvas, reciclagem de resíduos sólidos, uso do sistema de energia solar nos imóveis, plantio de vegetação e conservação de áreas verdes no imóvel, podem, em consequência, ser premiados pelo Município com a concessão de incentivos fiscais. (DANTAS, 2014, p. 88).

Isto demonstra a efetividade que os incentivos fiscais possuem no tocante à proteção ambiental. Percebe-se que o contribuinte atua de modo a proteger o meio ambiente sem que, para isto tenha ocorrido qualquer dano.

Neste mesmo sentido, Cavalcante (2012) aponta que “Os incentivos fiscais têm sido no Brasil o melhor instrumento fiscal para fomentar a mudança de postura dos cidadãos e dos empresários.” (CAVALCANTE, 2012, p. 102).

No site do município de Salvador é fácil encontrar material informativo cuja sua finalidade é a de motivar o contribuinte a aderir ao IPTU Verde. Em uma de suas matérias informativas, expõe os requisitos necessários e seus respectivos descontos atrelados ao IPTU Verde, veja-se:

O programa delimita diferentes pontuações para cada iniciativa sustentável. Ao todo, há 63 requisitos previstos no decreto municipal nº 25.899/15, que podem gerar pontos para a obtenção do desconto. Por exemplo, o uso de fontes alternativas de energia pode gerar dez pontos; o sistema de reutilização de 90% das águas cinzas, sete pontos; e o aumento de 100% da largura dos passeios fronteiriços, cinco pontos. O desconto é concedido ao imóvel que alcançar, no mínimo, 50 pontos. Nesse caso, ele é classificado como bronze e tem um desconto de 5% no IPTU. A categoria prata exige, no mínimo, 70 pontos e confere desconto de 7%. O nível ouro garante 100 pontos e desconto máximo de 10%. (SALVADOR, 2017).

Por fim, no tocante ao município de Salvador, o incentivo fiscal concedido por meio do IPTU Verde vem colocando a capital baiana dentre os municípios de maior destaque no cenário mundial de sustentabilidade, conforme destaca André Fraga, secretário municipal de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência em entrevista ao município de Salvador:

Viramos vitrine com as nossas ações e temos a oportunidade de aprender com as demais cidades. Trazer as nossas experiências para um debate com os envolvidos no C40 é mostrar que estamos no caminho certo. (SALVADOR, 2019).

Resta demonstrado os benefícios da implementação do IPTU Verde como incentivo à proteção ambiental, que por meio de seu efeito extrafiscal acaba por disseminar conscientização dos contribuintes no tocante à proteção do meio ambiente, gerando benefícios aos munícipes assim como trazendo uma posição de destaque ao próprio município, se tornando alvo de investimentos sustentáveis que acabam por gerar maior economia local.

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