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Direito tributário ambiental – desenvolvimento sustentável e proteção ambiental por meio dos incentivos fiscais. Análise de caso concreto: incentivos fiscais nas capitais salvador e Florianópolis

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Academic year: 2021

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RENAN ISIDORO AVILA

DIREITO TRIBUTÁRIO AMBIENTAL – DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E PROTEÇÃO AMBIENTAL POR MEIO DOS INCENTIVOS FISCAIS.

ANÁLISE DE CASO CONCRETO: INCENTIVOS FISCAIS NAS CAPITAIS SALVADOR E FLORIANÓPOLIS.

Palhoça 2019

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RENAN ISIDORO AVILA

DIREITO TRIBUTÁRIO AMBIENTAL – DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E PROTEÇÃO AMBIENTAL POR MEIO DOS INCENTIVOS FISCAIS.

ANÁLISE DE CASO CONCRETO: INCENTIVOS FISCAIS NAS CAPITAIS SALVADOR E FLORIANÓPOLIS.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Tania Maria Françosi Santhias.

Palhoça 2019

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À minha família, à minha noiva e aos meus amigos. Obrigado pelo apoio e incentivo durante toda a caminhada.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço à Deus pela oportunidade de concluir esta etapa; agradeço à minha família, meus pais Valdir e Mere, minha noiva e companheira Ingrid, meus amigos Vilso e Luam, ao Bola de Neve Palhoça/SC, em especial aos amigos e conselheiros Jef e Sandra, à Dra. Carolina Lima e Ana. À minha orientadora Professora Tânia, pela perseverança, carinho e dedicação. Aos Professores Leonardo Fornari, Claudia Prudêncio, Elvis, Fátima Mustafa e Pedro Ferrari por compartilharem seus conhecimentos de forma brilhante em sala e serem exemplos de vida. De cada um, eu levo um pouco de suas personalidades. Que Deus lhes abençoe! A todos, de coração, muito Obrigado!

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“Tu, ó SENHOR Deus, és tudo o que tenho. O meu futuro está nas tuas mãos; tu diriges a minha vida. Como são boas as bênçãos que me dás! Como são maravilhosas!” (Salmo 16:5-6).

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RESUMO

O presente trabalho busca analisar a relação havida entre meio ambiente e qualidade de vida, assim como abordar os resultados da extração dos recursos naturais como forma de fomento à economia. A pesquisa também analisa a eficiência da legislação ambiental brasileira e aponta alternativa que permita maior proteção ao meio ambiente, apresentando como uma opção viável e de maior resultado os incentivos fiscais. O método de abordagem utilizado na presente pesquisa fora o dedutivo. A natureza do método de abordagem é a qualitativa e quantitativa. Fora utilizado o método de procedimento monográfico e a técnica de pesquisa bibliográfica e documental, tendo como fonte doutrinas, artigos científicos, matérias jornalísticas e legislação brasileira. O Estado possui ferramentas tributárias como meio de regulação do comportamento econômico e social, podendo estimular ou desestimular um ato por meio do aumento ou isenção total ou parcial de um tributo. Nesta pesquisa analisa-se a utilização dos incentivos fiscais como meio de proteção do meio ambiente e estímulo para o desenvolvimento sustentável. O incentivo tributário por meio de seu efeito extrafiscal contribui para uma atuação mais efetiva no tocante à proteção do meio ambiente quando comparada à lei ambiental nacional, tendo em vista que o incentivo fiscal possui como objetivo atuar antes que ocorra o dano ao meio ambiente, enquanto a lei ambiental possui seu foco em responsabilizar e punir os agentes poluidores.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO. ... 9

2 DO MEIO AMBIENTE. ... 11

2.1 DO MEIO AMBIENTE COMO BEM ESSENCIAL À VIDA. ... 11

2.1.1 Do homem como integrante do ambiente. ... 17

2.1.1.1 Do Conflito Entre Antropocentrismo e Ecocentrismo. ... 18

3 DA RELAÇÃO IDEAL HOMEM E MEIO AMBIENTE. ... 22

3.1 -PROPOSTA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA DE PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE... 22

4 DAS ALTERAÇÕES NECESSÁRIAS PARA EFETIVA PROTEÇÃO E PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE... 27

4.1 DA NECESSIDADE DE UMA NOVA REDAÇÃO LEGISLATIVA ÀS PROTEÇÕES AMBIENTAIS ATUAIS. ... 27

4.2 MUDANÇA DE PARADIGMA NA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL: INCENTIVAR AO INVÉS DE PUNIR. ... 30

4.2.1 Da atuação do Direito Tributário Ambiental: Incentivo Fiscal em busca de uma efetiva proteção do meio ambiente. ... 33

4.2.2 Do efeito extrafiscal dos tributos ambientais: Fator modificante na atuação de proteção do meio ambiente. ... 35

4.2.2.1 Efeitos extrafiscais na prática – Salvador e o IPTU Verde. ... 37

4.2.2.2 Efeitos extrafiscais na prática – Florianópolis e o incentivo tecnológico. ... 41

5 CONCLUSÃO ... 49

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1 INTRODUÇÃO.

Na presente pesquisa é apontada a necessidade global de uma atuação mais responsável quanto a proteção ambiental, isto se dá em razão de que após a Revolução Industrial utilizou-se em alta escala os recursos naturais como combustível aos maquinários industriais. Esta exploração se deu de maneira descontrolada, não havendo cuidado com os dejetos industriais e sem que houvesse dimensão do quão impactado seria o meio ambiente. Com o desenvolvimento industrial e tecnológico da economia e a utilização sem parâmetros de segurança dos recursos naturais, percebe-se um desequilíbrio no meio ambiente, tendo como consequência o comprometimento e escassez da qualidade do solo, chuva, água e vida.

A motivação que deu ensejo à presente pesquisa fora a curiosidade em saber como pode a pessoa física ou jurídica atuar ativamente na proteção ambiental, como o Estado pode incentivar e fomentar este comportamento?

A metodologia de abordagem na presente pesquisa fora a dedutiva, utilizando a natureza de abordagem qualitativa e quantitativa, tendo sido aplicado o método de procedimento monográfico e a técnica de pesquisa como sendo a bibliográfica e documental.

O primeiro capítulo é a presente introdução. No segundo capítulo, aborda-se a importância da conscientização humana para com o meio ambiente, o lento passo ao qual o homem trilhou e vem trilhando o caminho da proteção e preservação dos recursos naturais, os quais são fundamentais à vida e aborda a necessidade de identificação da interdependência que há entre a qualidade de vida humana e a qualidade do meio ambiente.

No capítulo seguinte, aborda-se a necessidade de que a Educação Ambiental seja introduzida na base educacional brasileira, de forma a estimular o cuidado dos jovens para com o meio ambiente, resultando assim, além de consciência ambiental, um novo caráter econômico. Ao introduzir a Educação Ambiental na base escolar, tem-se a expectativa de que surja uma nova geração, mais responsável e com atuações economicamente sustentáveis.

Ato contínuo, aborda-se a construção das leis ambientais, para isto, traz-se o estudo elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) o qual discorre sobre os resultados advindos da maneira como as leis ambientais brasileiras foram confeccionadas. Aponta-se as subjetividades presentes nos textos normativos

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e as lacunas encontradas em seus artigos, o que, consequentemente permite com que haja a mitigação das imposições normativas ambientais, assim como reste comprometida a verdadeira proteção ao meio ambiente. Em vista da baixa eficiência das leis ambientais brasileiras, buscou-se analisar alternativa que promova maior eficiência no tocante à proteção e zelo do meio ambiente, de modo que concilie a proteção ambiental e o desenvolvimento econômico sustentável. Chega-se então aos incentivos fiscais, ferramenta tributária dos entes públicos que permite um contato mais próximo com os atores econômicos, de maneira que por meio de isenções de tributos, integrais ou parciais ou até mesmo por meio de concessão de financiamentos de projetos possam atrair o interesse dos contribuintes para que, juntamente de uma economia de seu capital, promova, por meio do efeito extrafiscal do tributo a proteção do meio ambiente.

Como exemplo prático, analisou-se as capitais Salvador e Florianópolis, trazendo dados e informações empíricas das aplicações destes incentivos fiscais em seus territórios

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2 DO MEIO AMBIENTE.

Este capítulo aborda a importância da qualidade do meio ambiente para a saúde de todos os seres vivos que compõem o habitat no qual estão inseridos. Demonstrará a conexão havida entre as atitudes humanas na captação e utilização dos recursos naturais como fonte de matéria-prima e a consequência desta utilização na vida dos seres vivos, apontando os impactos resultantes desta atividade exploratória.

2.1 Do Meio Ambiente Como Bem Essencial À Vida.

O direito de usufruir e desfrutar de um meio ambiente sadio está fundamentado junto à Constituição da República Federativa do Brasil, em seu art. 225, tendo em seu corpo normativo o seguinte texto:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (BRASIL, 1988). (Grifo nosso).

De acordo com Fiorillo (2009) a utilização de um ambiente sadio, traz em si o significado de que este ambiente deve proporcionar prazer, lazer, conforto e segurança. Havendo portanto, o direito de usufruir de um meio ambiente que seja composto pelas qualidades acima elencadas. Reforça o Autor que este direito ao acesso e utilização de um meio ambiente saudável e equilibrado vai além da busca por uma qualidade de vida confortável, mas também, visa garantir principalmente a dignidade da pessoa humana como sendo um direito inegociável de possuírem acesso a um ambiente protegido, saudável, limpo e equilibrado.

Montero (2011) afirma que o meio ambiente possui subdivisões podendo integrá-lo o local de trabalho, as cidades, seus bairros e não somente a natureza - fauna e flora - como comumente se imagina, sendo ambos essenciais para a vida, seja ela humana ou não. Seja este ambiente construído pelo homem – ambiente artificial – ou seja advindo da natureza – ambiente natural – além de serem a estrutura base para a vida, estão intimamente ligados à qualidade de vida de seus integrantes.

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Fiorillo (2009) explica como o direito ao meio ambiente está presente na Constituição Federal de 1988, se expressando de forma que visa conscientizar aquele que estiver em território nacional, seja brasileiro ou estrangeiro, sobre a importância de preservar, conservar e proteger toda esta estrutura a qual se está inserido, veja-se:

Como temos afirmado, o art. 225 da Carta Magna estabeleceu pela primeira vez na história do direito constitucional brasileiro o direito ao meio ambiente, regrando, em consequência, no plano normativo mais elevado, os fundamentos do direito ambiental constitucional. Trata-se de um direito vinculado ao meio ambiente, e não de um direito do ambiente, ou seja, é um direito destinado a brasileiros e estrangeiros residentes no País. (FIORILLO, 2009, p. 03).

Vernier, (1994) aduz que, ao mesmo tempo em que o ser humano extrai do ambiente os substratos necessários para a sua sobrevivência, tem-se que, quanto mais saudável a fonte dos recursos, mais saudável será o ser que dele aproveita, explora, consome, utiliza e absorve. De igual modo acontece no sentido inverso de um ambiente saudável, tendo aquele que vive em local que carece de recursos essenciais para sua sobrevivência ou, ainda que tendo estes recursos, sejam estes de algum modo deficientes, acabará por interferir diretamente na qualidade de vida deste ser vivo, seja ele qual for. Tendo como exemplo, explica o Autor sobre a poluição das águas por despejo de dejetos orgânicos em seus afluentes, o que causa a morte dos animais aquáticos, ainda que haja água em abundância, de nada adianta se esta for de má qualidade:

[...] uma vez despejadas no rio, essas matérias orgânicas vão ser “devoradas”, “degradadas” pelas bactérias do rio: melhor, existe, por assim dizer, uma autodepuração. As bactérias porém, para “comer” a poluição, têm igualmente necessidade de oxigênio. Poluição demais para “comer” acarreta então um consumo maciço de oxigênio do curso de água, que mata os peixes, não por toxicidade, mas por asfixia: os peixes não morrem no efluente de uma leiteria, mas perecem asfixiados alguns quilômetros a montante...Porque os rios eram privados de oxigênio, alguns, esboçando um processo de fermentação, exalavam nos anos 60 odores pútridos. (VERNIER, 1994, p.17).

Seguramente, é possível afirmar que a qualidade de vida está unida à qualidade extraída do ambiente em seu torno, de modo que não são organismos concorrente, mas sim complementares, como afirma Vernier (1994) ao discorrer que “A interdependência dos seres vivos é uma maravilha frágil” (VERNIER, 1994, p.98).

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Os professores Barral e Pimentel (2006) expressam que contemporaneamente é possível observar que a degradação do meio ambiente é resultado da exploração acelerada de seus recursos naturais, bem como do desconhecimento ou ignorância dos impactos gerados no ambiente natural. Esta extração célere se dá em razão de o ser humano possuir anseios de atender sua necessidade econômica que acaba por não respeitar o ritmo de regeneração da natureza, o que fez com que após a metade do século XIX tivesse início um movimento de conscientização ambiental com objetivo de amenizar os efeitos decorrentes desta exploração.

Os impactos da exploração acelerada dos recursos naturais foram percebidos com maior ênfase no final do século XIX, com a Segunda Revolução Industrial, onde os recursos naturais foram utilizados em maior escala a fim de movimentar os maquinários da época. Deste momento em diante, o homem passou a enxergar os recursos naturais como fonte de combustível inesgotável, sem qualquer política de controle de poluentes, reflorestamento, limitação de uso, nem qualquer outra imposição que objetivasse de forma preventiva, assegurar a qualidade de vida das gerações futuras. (BARRAL, PIMENTEL, 2006)

Esta necessidade fora apontada no Relatório Brundtland, em 1987, também chamado de o Nosso Futuro Comum, tendo sido este o precursor ao introduzir na comunidade internacional os impactos do acelerado crescimento mundial.

Segundo Fabio Feldmann:

O Relatório Brundtland adquiriu tamanha importância porque, em meados da década de 1980, foram divulgadas imagens de satélite revelando o “buraco da camada de ozônio” sobre a Antártida. Se até então havia dúvidas sobre o impacto planetário da ação da Humanidade, as mesmas foram eliminadas. (TRIGUEIRO, 2003. p.145).

E dá sequência em sua explanação:

Esse fato certamente foi decisivo no sentido de fazer com que a sociedade no mundo inteiro, através da mídia, inserisse a problemática ambiental e planetária na agenda. É interessante recordar que em 1988 a personalidade do ano escolhida como capa pela revista Time foi o planeta Terra. (TRIGUEIRO, 2003. p.145).

Montero (2011) afirma que é necessário que haja equilíbrio entre a exploração e utilização dos recursos naturais, este é um tema que permanece atual e mundial. O questionamento presente na seara ecológica e econômica objetiva encontrar uma resposta de desenvolver um ambiente que seja ao mesmo tempo economicamente rentável e sustentável.

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Para Vernier (1994) o problema acima possui solução, e a resposta está no respeito ao ritmo natural da regeneração dos recursos naturais, na busca de um desenvolvimento mais sustentável que o atual.

Baggio e Barcelos (2008) apontam que o erro desta equação que perdurou por décadas está na fórmula utilizada pela indústria econômica, que buscou e busca ainda inserir novas necessidades, atender às suas instantâneas demandas, inovar, produzir novas necessidades, atendê-las e assim dar sequência neste ciclo que não apenas adoece o meio ambiente mas também todos aqueles que nele vivem. Reforça que o resultado dos impactos gerados de forma rápida e sem um plano de controle de exploração consciente foram em razão de o ser humano enxergar-se como um ser independente, sem ligação para com o ambiente em que vive. Este consenso tem sido combatido de maneira sensível cotidianamente, contudo, estas mudanças necessitam de maior apoio a fim de que alcancem mais adeptos. Assim, no anseio de evitar este ciclo doentio de inovação e produção sem respeito ao ritmo natural de regeneração é que se busca o equilíbrio para uma relação sadia entre economia e sustentabilidade. Na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas - ONU de 1972, registrou-se a definição de sustentável como sendo

o desenvolvimento que responde às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades. (BARRAL, PIMENTEL, 2006, p.13)”.

Sem este equilíbrio, os recursos naturais estão fadados a se tornarem escassos, o que por consequência dificultará toda a cadeia econômica, tanto de consumo quanto de demanda. Neste sentido Benakouche (1994) aborda a importância de que seja atingido o equilíbrio de uma economia sustentável, e discorre o seguinte:

Se não for possível atingir o ótimo como objetivo almejado, o “aceitável” faz-se, no mínimo, desejável. Na espera de um mundo melhor, a realização do possível e do factível é um ideal para o dia de amanhã, na medida em que se passará a preservar os interesses das gerações futuras. (BENAKOUCHE, 1994, p.179)

Ao não zelar pela manutenção dos recursos naturais, faz-se uma intervenção no processo de regeneração natural, de modo que, ao interferir nos recursos que esta utiliza para se renovar, irá, de forma intrínseca, afetar a disponibilidade destas matérias-primas, comprometendo a quantidade e qualidade dos recursos advindos da

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natureza, já que os substratos utilizados para geração destes materiais como água, ar e minerais se encontram poluídos, alterados, defasados e em não raras vezes, extintos, o que é ratificado pelo Ministério da Saúde no ano de 1995, no Plano Nacional de Saúde e Ambiente:

Ao mesmo tempo em que degradam o homem, sua qualidade de vida e seu estado de saúde, esses padrões de desenvolvimento vêm favorecendo a degradação ambiental por meio da exploração predatória de recursos naturais e da poluição, as quais, por sua vez, tem gerado impactos nas condições de saúde e qualidade de vida da população. (BRASIL, 1995, p. 13-14).

O anseio por uma maior disponibilidade de recursos, sem a devida postura preventiva de dar manutenção ao ambiente de onde origina-se a matéria prima, faz com que exista uma demanda econômica exponencialmente superior à capacidade de que a natureza tem de gerar estes recursos necessários, sendo esta uma matemática onde os valores não encontram equidade. Os resultados obtidos desta equação simples demandam atenção para que o desequilíbrio ambiental não seja grave ao ponto em que comprometa a existência de vida. Os professores Welber Barral e Luiz Otávio Pimentel (2006) citam que:

[...] o sistema global tem capacidade de assimilar uma certa quantidade dessas emanações, de se limpar e rejuvenescer. Contudo, a atividade humana vem produzindo uma quantidade de dejetos que excede e em muito a mencionada capacidade de regeneração da natureza. (BARRAL, WELBER, 2006. p.17)

Trigueiro (2001) afirma que visando evitar este colapso entre demanda e disponibilidade de recursos, fundou-se em 1989 a International Society for Ecological

Economics – ISEE, onde ecologistas e economistas buscaram aproximar suas

experiências e juntos estudaram métodos que pudessem equalizar esta relação de oferta e demanda de recursos naturais. Com sede nos Estados Unidos da América, os estudos da ISEE possuem como objetivo criar uma economia ecológica tendo por princípio o respeito ao ritmo de regeneração e de espaço necessário para que haja um equilíbrio ambiental e assim, por consequência haja qualidade de vida, veja-se:

[...] se forem consideradas escalas de tempo e espaço mais amplas, as condições do mundo biofísico, sobre o qual as atividades do sistema econômico se realizam, devem ser levadas em conta, já que é deste mundo biofísico que o sistema econômico retira a matéria e a energia necessária ao seu funcionamento. (BARRAL, PIMENTEL, 2006, p.19)

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Vê-se uma postura preocupada e consciente com o poder e tempo de restabelecimento da capacidade natural de ofertar recursos à produção. Não necessariamente esta consciência advém de uma preocupação para com a manutenção e proteção do meio ambiente, mas sim, uma preocupação com o comprometimento do fluxo econômico-financeiro, sendo portanto, uma técnica contábil a fim de evitar uma escassez de matéria-prima e não necessariamente uma decisão de proteger e garantir um ambiente sustentável às próximas gerações, conforme exterioriza Benakouche (1994):

Em economia, considere-se que são bens, ou mercadoria, todos os objetos suscetíveis de serem produzidos, reproduzidos e comercializados. Esses bens são ordenados em três classes: as dos bens mercantis, a dos bens não mercantis e a dos bens coletivos.

Se for assim, em que classe enquadram-se os bens naturais? A resposta a ser dada não é simples. Com efeito, a natureza desses bens impede que sejam colocados numa das classes. Isso porque alguns bens (floresta, lago, rio etc.) podem até ser considerados mercantis por serem utilizados e utilizáveis como tais, embora eles tenham características próprias. Outros bens naturais (água, ar ...) não podem ser classificados desse modo. Além disso, eles não têm preço, fora de custo de transformação em bens destinados a satisfazer necessidades humanas; são em geral, abundantes e apropriados de modo destrutivo.

[...] o que explica certamente, ou pelo menos em parte, a atual degradação ambiental. (BENAKOUCHE, 1998, p. 183).

Desta forma, verifica-se que o meio ambiente reflete diretamente na qualidade de vida, assim como impacta na economia, na cultura e em outros aspectos presentes na vida de todos os seres vivos. Portanto, é imprescindível que haja a manutenção e preservação da qualidade do ambiente em que se está inserido, em razão da ligação havida entre qualidade do ambiente e saúde daqueles que o compõem. Como afirma Vernier (1994):

“A Terra é uma, o mundo não”. Essa fórmula impressionante do relatório Brundtland (ONU, “Nosso futuro, o de todos”) lembra que a humanidade está, como se diz, “no mesmo barco”, mas que existem tantos capitães quantos governantes.” (Vernier, 1994, p.128).

Conforme abordado, Vernier (1994) aduz restar nítida a dependência do ser vivo, para com o meio ambiente, em todos os cenários; seja ele nacional ou internacional, há uma interdependência entre ambiente e vida.

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2.1.1 Do homem como integrante do ambiente.

O artigo produzido pelo professor e doutor em Direito Ney Maranhão (2016), aborda o fato de o ser humano não se enxergar como parte do meio ambiente, mas sim como um ser que está fora desta composição, vejamos:

[...] pontuando que a expressão 'meio ambiente' revela uma tinta antropocêntrica na pintura do conceito, quando, a partir da reflexão que está proposta no presente estudo, o ser humano é também ambiente, e não apenas está envolvido pelo ambiente. O ambiente não se limita a ser o meio ou o entorno onde o homem desenvolve a sua existência, mas constitui a sua própria natureza. (MARANHÃO, 2016).

Tem-se que, a fim de garantir uma melhor qualidade e manutenção da vida, o ser humano deve ter a visão de ser parte integrante do ambiente que vive, não agindo como apenas usuário da estrutura que lhe rodeia. Continua o professor Ney Maranhão (2016):

Frise-se que não existe meio ambiente que não o humano. Logo, também

por isso, não nos parece acertado crer em uma separação ontológica entre meio ambiente natural e meio ambiente humano, porquanto o meio ambiente sempre foi e sempre será uma realidade percebida, compreendida e juridicamente protegida em dimensão exclusivamente humana. Sendo assim, a expressão meio ambiente já carrega consigo, nessa perspectiva, o adjetivo humano. A famosa Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo (1972), reforça esse entendimento, ao aduzir, expressamente, que "os dois aspectos do ambiente humano, o natural e o artificial, são essenciais para o bem-estar do homem e para o gozo dos direitos humanos fundamentais, inclusive do próprio direito à vida" (item 1) (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, 1972. (MARANHÃO, 2016). (Grifo nosso).

É possível verificar no texto internacional o início de uma conscientização sobre como o homem deve se portar perante os ambientes que vive e depende.

Observa-se também uma resistência do Brasil no tocante à exteriorização destas importâncias através de textos normativos que visem educar e regulamentar a proteção e conservação dos recursos naturais, tendo apenas em 1988 inserido o meio ambiente como sendo bem comum do povo e dado início à conscientização nacional sobre manutenção e prevenção do ambiente, visando a partir deste momento, não apenas como sendo um ato de interesse econômico, mas também, como uma questão de sobrevivência e qualidade de vida. Este movimento ganhou propulsão quando por meio da elaboração do Relatório Brundtland, conceituou-se desenvolvimento

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sustentável, o que conforme Barral e Pimentel (2006), resultou nos seguintes objetivos:

(i) um sistema político que assegure a democracia representativa; (ii) um sistema econômico que possa gerar excedentes e desenvolvimento técnico em base constante; (iii) um sistema social que possa resolver as tensões causadas pela opção de crescimento a qualquer custo; (iv) e um sistema de produção que respeite a obrigação de preservar a base ecológica do desenvolvimento, evitando o agravamento do processo de entropia global. (BARRAL, PIMENTEL, 2006, p.27)

Segundo Barra e Pimentel (2006), neste momento, o homem está totalmente inserido no ambiente, tendo o Relatório Brundtland englobado não só o homem, mas sim, todas as suas atividades dentro do conceito de sustentabilidade, tendo a partir deste episódio, uma visão mais atenta às atitudes humanas para com a utilização dos recursos naturais e sua preservação.

Este movimento de inserir o homem, conscientemente para dentro do ambiente e demonstrar as consequências de suas ações visou gerar “Uma nova filosofia, da humanidade como parte da natureza e sujeita às suas regras, deve substituir a visão corrente, do homem afastado do restante do mundo natural e como seu senhor e dominador” (CAVALCANTI, 1998, p.21).

Assim, percebe-se o momento em que inicia-se uma mudança de pensamento e consequentemente, influencia no comportamento e consciência humana, passando a ver o meio ambiente não mais como fonte de insumos, mas também como fonte de vida.

2.1.1.1 Do Conflito Entre Antropocentrismo e Ecocentrismo.

A fim de trazer uma breve definição do conceito de antropocentrismo sob a ótica ambiental, Coimbra e Milaré (2011) discorrem que antropocentrismo é:

o pensamento ou a organização que faz do Homem o centro de um determinado universo, ou do Universo todo, em cujo redor (ou órbita) gravitam os demais seres, em papel meramente subalterno e condicionado. É a consideração do Homem como eixo principal de um determinado sistema, ou ainda, do mundo conhecido. (COIMBRA, MILARÉ, 2011).

Observa-se uma visão do homem como se percebendo independente do meio ambiente. Pensamento este, que conforme demonstra Dunlap (2008 apud Pires, 2013), diverge do Ecocentrismo, o qual possui sua definição como sendo:

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Dunlap (2008) propõe a definição de ecocentrismo mais utilizada na atualidade: é o grau em que as pessoas se conscientizam sobre os problemas ambientais e são capazes de empenhar esforços para contribuir na solução ou ao menos demonstrar vontade de engajar-se pessoalmente na questão ambiental. (PIRES, 2013, p.612).

Cavalcanti (1998) afirma que a utilização de recursos naturais a fim de satisfazer economicamente os anseios humanos fomentou a economia de forma acelerada e descontrolada a ponto de gerar severos danos, percebidos nos ambientes micro e macro regionais. Tendo que a saciedade do homem se satisfaz quando este adquire bens, fama e reconhecimento, fazendo com que este se esqueça da natureza, fonte de todos os recursos que permitem com que seus objetivos sejam alcançados. Isto faz com que a natureza seja vista como mera fonte de matéria-prima, sem levar em consideração o tempo e espaço necessário para sua renovação. O antropocentrismo praticado de forma desenfreada, sem consciência e ignorando os limites de regeneração dos recursos naturais foi o responsável pela degradação do meio ambiente em larga escala e em pouco tempo.

André Baggio e Valdo Barcelos sobre o tema discorrem da seguinte forma:

Quando o homem moderno deslocou do passado para o futuro o ideal de uma vida melhor exacerbou o antropocentrismo, trazendo como consequência o consumo indiscriminado dos recursos naturais e alterando as condições de vida planetária em ações que se pensava serem localizadas. (Baggio, Barcelos, 2008, p.15).

Este comportamento limitado do homem à época, de crer que os recursos retirados daquele local impactaria brevemente o ambiente de sua região apenas, crendo que não haveriam maiores impactos, fez com que, cada homem exercesse sua exploração regional simultaneamente, em diferentes locais do mundo, explorando as fontes naturais de modo a ignorar por completo o impacto no macro ambiente. Como aduzem Barral e Pimentel (2006):

O meio ambiente é afetado diretamente por este crescimento populacional, tendo em vista a necessidade de maior utilização dos recursos naturais, tanto para a produção de alimentos como para a obtenção de energia.

Ademais, a partir de 1950, a agricultura passou a utilizar de maneira intensiva a água para a irrigação e os insumos agrícolas, tais como agrotóxicos e adubos solúveis. (BARRAL, PIMENTEL, 2006, p.15).

Por resultado, ao serem realizadas estas explorações sem dimensionar o impacto ambiental resultante, ainda que realizados em pequena escala, ocorreram de

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forma simultânea e em muitos locais, gerando uma extensa degradação natural a qual percebe-se até os presentes dias. Isto se dá em razão de:

[...] a ação humana por meio da atividade econômica vem crescentemente colaborando para a aceleração e degradação entrópica, pois traz consigo um diferencial importante: ao contrário dos demais seres vivos, o ser humano processa quase tudo que consome, aumentando consideravelmente, com isso, o grau de degradação entrópica. (BARRAL, PIMENTEL, 2006, p.16).

Sobre o devastador resultado dos pequenos atos degenerativos locais que ocorrem em grande quantidade, os professores Baggio e Barcelos (2008) abordam o tema expondo o seguinte:

Não temos garantias de que a vida melhor estava no passado ou estará no futuro. O que temos é a vida presente que pode diminuir ou aumentar as possibilidades de vida futura, a vida em luta contra a morte térmica e que toda ação, por mais localizada que seja, pode ter efeitos drásticos ou benéficos para o todo. (BAGGIO, BARCELOS, 2008, p.16).

O momento em que se observa tamanho impacto causado é expresso por Gilberto Gil (2011), ex-ministro da cultura, ao retratar o modo como a natureza foi por longo tempo vista como mera fonte de recursos, segue:

Como se sabe, os grandes mestres da teoria social, como Marx, só tinham olhos para a sociedade. A natureza existiu para ser dominada pelos seres humanos. Nenhum deles avaliou o potencial destrutivo das tecnologias que foram sendo desenvolvidas a partir da Revolução Industrial. Nem foi capaz de prever a possibilidade de qualquer desastre no futuro de um mundo que ia se tecnificando com uma rapidez cada vez maior. (TRIGUEIRO, 2003, p.51).

E continua:

Só mais recentemente foi que a humanidade, algo assustada e perplexa, deu-se conta, novamente, de que as redeu-servas naturais do planeta não eram inesgotáveis. Que o avanço predatório sobre o mundo natural poderia produzir alterações climáticas e nos privar de bens preciosos. Que produtos químicos envenenavam a terra, as águas e o ar. Que, enfim, o planeta encontrava-se ameaçado. E, com ele, a vida humana. (TRIGUEIRO, 2003. p.51).

Afirmam Baggio e Barcelos (2008) que o caminho para que a regeneração natural, causado pela corrida do crescimento econômico mundial está aparentemente pautado em seguir o sentido contrário do que foi feito até o presente momento. Esta é a ideia do ecocentrismo, que visa atuar da seguinte maneira:

O paradigma ecocêntrico objetiva que as comunidades possam viver bem pela utilização das possibilidades regenerativas da Terra, em especial

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aquelas que aproveitam a energia solar, especialmente nos processos decorrentes da fotossíntese. Para que isto ocorra é necessário, além de ações concretas, que as pessoas entendam os princípios fundamentais das relações e condições que garantem a vida de nosso planeta. (BAGGIO, BARCELOS, 2008, p.16).

É observado pelos especialistas que a regeneração da energia da Terra, bem como a preservação dos recursos naturais exigem atitudes no sentido de exercer atividades pautadas em uma nova educação para com a gerência destes recursos e o quão comprometidos deve-se estar a economia para com o meio ambiente, tendo em vista que a economia depende diretamente do meio ambiente para que dele sejam extraídos os recursos naturais necessários.

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3 DA RELAÇÃO IDEAL HOMEM E MEIO AMBIENTE.

Este capítulo aborda a alternativa para que as atitudes de conservação ambiental possuam maior eficiência, de modo que, aposta na educação para criar uma geração mais consciente da interdependência havida entre a vida e a qualidade do meio ambiente e por meio desta consciência sustentável atue com o fito de gerar novas tecnologias e economias que respeitem o processo de regeneração dos recursos naturais, garantindo um equilíbrio ambiental e garantindo uma melhor qualidade de vida.

3.1 -Proposta da Educação Ambiental como ferramenta de preservação do meio ambiente.

É apontado pelos autores a urgência por uma efetiva consciência ambiental, e que seja inserida esta consciência sustentável nas novas gerações da sociedade como uma matéria pedagógica tão importante como qualquer outra que componha a base educacional. Vernier descreve que “Nem as leis, nem as taxas obrigarão os cidadãos a respeitar o meio ambiente se esse respeito, espontâneo, não lhes for inculcado pela educação.” (Vernier, 1994, p.125).

O equilíbrio almejado para que as demandas sejam atendidas e a regeneração natural seja respeitada está pautada no sentido de que: se não é possível frear o consumismo daqueles que estão acostumados com o ritmo desrespeitoso para com a natureza, deve-se então, construir uma nova consciência destinada a novos consumidores, adeptos e praticantes deste novo conceito que atende ao equilíbrio entre demanda e capacidade de oferta dos recursos naturais. Neste sentido Baggio e Barcelos (2008), visando a construção de uma nova consciência de consumo economicamente sustentável, apontam a necessidade de que as sociedades entendam e aprendam o poder de usufruir de recursos menos agressivos e repassar este aprendizado às suas gerações, demonstrando através de ações a importância de serem consumidores sustentáveis:

O paradigma antropocêntrico diminuiu e continua diminuindo a sustentabilidade da vida terrestre. O paradigma ecocêntrico objetiva que as comunidades possam viver bem pela utilização das possibilidades regenerativas da Terra, em especial aquelas que aproveitam a energia solar, especialmente nos processos decorrentes da fotossíntese. Para que isto ocorra é necessário, além de ações concretas, que as pessoas entendam os

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princípios fundamentais das relações e condições que garantem a vida de nossa planeta. (BAGGIO, BARCELOS, 2008, p.16).

Conforme disposto acima, não basta agir, é necessário saber o porquê de estar agindo e quais as consequências desta ação. Esta exigência se dá justamente em razão do exacerbado uso dos recursos sem consciência e dimensão dos impactos gerados no ambiente nas décadas passadas.

Segundo Vernier (1994), na França a educação ambiental faz parte do currículo acadêmico, estando inserido temas que buscam gerar esta eco consciência nos jovens deste a sua base escolar, veja-se:

Os programas escolares de geografia ou de ciências naturais abrem-se um pouco mais ao meio ambiente. As aulas ou excursões de descoberta, para a montanha, o mar, as águas, as florestas, a natureza ampliam-se. A formação inicial ou contínua dos professores nos institutos universitários de formação de professores é também uma necessidade. (Vernier, 1998, p. 126).

Este processo disruptivo de revelar às gerações atuais e futuras sobre a importância de conhecer, interagir e proteger os ambientes e seus recursos deve se dar de modo em que o agente possa sentir a importância da manutenção e proteção ambiental e adquira com isto a consciência de que ele também é dependente e integrante do ambiente que vive, rompendo o entendimento de natureza como um organismo dissociado da vida humana, como explica Eliane Thaines, em sua participação na obra de André Baggio e Valdo Barcellos:

A Educação Ambiental (EA) surge como uma alternativa de manter o equilíbrio natural e ganha novas dimensões como contrapondo à crise ecológica intensificada ao final da Segunda Guerra Mundial. Posteriormente, através de muitos eventos e discussões internacionais e nacionais, a EA estabelece suas diretrizes dentro da perspectiva de uma visão holística, integrada, interdisciplinar e inclusiva como alternativa eficaz para a contenção dos danos planetários. (BAGGIO, BARCELOS, 2008, p.130).

A forma de inserir este entendimento para gerar maior conscientização ambiental e formar uma geração ambientalmente responsável e ativa, segundo Baggio e Barcelos (2008) se dá através da inserção da Educação Ambiental, que busca:

[...] romper as limitações de uma visão arcaica, provinciana e limitada a certas áreas do conhecimento; na verdade tenta estabelecer uma nova ordem de percepção e relação do indivíduo e o meio. Motiva a reflexão e a idéia (sic) de que, mais do que uma espécie, somos a única capaz de reverter os padrões de comportamento imputados ao meio ambiente, de avaliar ações

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que visem ao equilíbrio dos sistemas e gerar a reflexão sobre o caos instalado pelo excesso e forma de “intervenção inadequada” do homem em relação ao ambiente e, assim, adotar um outro posicionamento e pensar diante das questões ambientais. (BAGGIO, BARCELOS, 2008. p.74).

Contudo, aplicar este processo gera resistência, devido à mudança de hábitos necessária para que este novo comportamento se concretize, pois gera uma mudança de paradigma. Isto se dá, conforme apontam Baggio e Barcelos (2008), como uma tarefa árdua ao homem em razão de ter de ceder em meio às suas prioridades um espaço para adotar novos hábitos, conscientes e ecologicamente sustentáveis, o que não é tarefa fácil, pois:

Como esperar que humanos se sensibilizem com a forma desordenada com que muitos recursos vêm sendo utilizados? Com a redução da biodiversidade? Com o aumento dos níveis de poluição e degradação? Com a constante redução da qualidade de vida de inúmeros seres, humanos ou não?

Parece mesmo ser uma utopia! (BAGGIO, BARCELOS, 2008.p.76)

E continuam os Autores:

A educação é, portanto, a via de entrada para a efetivação desse processo de mudança; deve contribuir para o resgate da essência do “ser humano”. Deve permitir o construir e reconstruir de cada indivíduo. Deve contemplar o comprometer-se com o outro, com o entorno imediato ou não, favorecer o senso de responsabilidade, em ser referência de ética, conduta e de valores para outros. É necessário que sejamos pedras que, lançadas no lago, independentemente das condições, possam favorecer o deslocamento da lâmina da água e, desse modo, fazer o momento presente ser totalmente diferente do imediatamente anterior e posterior, diferente para melhor é claro, para tudo e para todos e não somente a humanos. (BAGGIO, BARCELOS, 2008.p.76)

E visando que esta Educação Ambiental seja bem recepcionada pelos jovens estudantes, Vernier (1994) discorre que é fundamental que o tema desperte interesse nos educandos.

Abordam os especialistas André Baggio e Valdo Barcelos (2008) a importância de que essa nova consciência ambiental se efetive. Como fora abordado, a mudança de paradigma não oferece os resultados necessários de maneira imediata, contudo, oferecerá sim resultados de maneira ad eternum quando aplicadas de geração em geração, sendo repassado o conhecimento e a consciência ambiental de maneira que inserirá um novo hábito neste novo perfil de pessoas, impactando nas suas atitudes, para que atuem de maneira sustentável, inclusive no momento de consumir produtos e serviços, optando por aqueles que são menos agressivos ao ambiente.

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Como exemplo de uma conscientização que tende a se perpetuar é a utilização de canudos biodegradáveis, tendo em vista que os canudos de plásticos foram proibidos, conforme demonstra reportagem abaixo:

O canudo de plástico é um item a ser evitado. Mesmo quando descartado corretamente, ele pode escapar para a natureza e ser carregado pela chuva para mares e rios, impactando toda a fauna aquática. Estima-se que 90% das espécies marinhas tenham ingerido produtos de plástico em algum momento. (BUZZO, 2019).

A importância de inserir a Educação Ambiental na base do conhecimento objetivando a consciência mencionada acima, foi objeto de menção e preocupação na Rio 92, sendo abordada da seguinte maneira:

Já durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento realizado no Rio de Janeiro em 1992 recomendou-se que a educação ambiental deveria: reorientar a educação para o desenvolvimento sustentável de forma a compatibilizar objetivos sociais de acesso às necessidades básicas; com objetivos ambientais de preservação da vitalidade e diversidade do planeta garantindo como direito aos cidadãos um ambiente ecologicamente saudável e com objetivos econômicos; aumentar a conscientização popular; considerar o analfabetismo ambiental e promover treinamento. (PELICIONI, 1998, p.21).

A Educação Ambiental visa alcançar objetivos que serão benéficos para toda uma coletividade, tendo, Segundo Pelicioni (1998):

A educação ambiental tem como objetivo, portanto, formar consciência dos

cidadãos e transformar-se em filosofia de vida de modo a levar a adoção de comportamentos ambientalmente adequados, investindo nos recursos

e processos ecológicos do meio ambiente. A educação ambiental, deve necessariamente transformar-se em ação. (PELICIONI, 1998, p.22). (Grifo nosso).

É necessário que esta consciência atinja e esteja inserida dentro das grandes atividades empresárias, fazendo com que optem por recursos menos poluentes, meios produtivos mais ecológicos, reaproveitamento da matéria-prima que até então era descartada, assim como ensinando aos seus colaboradores a importância de zelar por atitudes mais sustentáveis e incentivando a prática destas atitudes em suas residências. De acordo com Cavalcanti (1998), é necessário que haja uma cooperação mundial no tocante ao uso dos recursos naturais, de modo que os países industrializados controlem seu consumo de matéria-prima e assim, consequentemente, diminuam sua participação na poluição planetária.

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No mesmo sentido discorre Pelicioni (2008) em seu artigo:

Sob o aspecto ético, não se aceita mais que o desenvolvimento exponha o patrimônio natural a formas de exploração que aumentem as diferenças sócio-econômicas, esgotem os recursos naturais e poluam os espaços naturais e construídos, sem pensar nas gerações futuras, mas, ao contrário exige-se uma sociedade sustentável que atenda às necessidades sociais de toda a população inclusive a dos excluídos com igualdade e justiça. (PELICIONI, 1998, p.28).

Destaca a Autora que além de estar iniciando um movimento social no sentido de proteger e preservar o meio ambiente, este movimento de proteção ambiental exerce uma pressão, vigiando atividades que possam gerar maior impacto, supervisionando e cobrando mudanças de posturas tanto das grandes corporações como também dos entes públicos. Pelicioni (1998) finaliza seu artigo expondo o papel da Educação Ambiental como ferramenta para obtenção de um objetivo comum:

A legislação, embora preconize a promoção da saúde de forma integrada com a proteção do meio ambiente, necessita ainda de regulamentação e um controle e gestão ambientais eficazes de modo a garantir realmente aos cidadãos o direito à saúde e a um ambiente equilibrado e saudável no contexto do desenvolvimento sustentável.

Os Códigos Ambientais dos estados e dos municípios têm um papel muito importante na implementação das leis assim como os Conselhos Estaduais e Municipais de Saúde e Meio Ambiente que com a participação popular exercerão o controle social necessário para que as leis sejam cumpridas. Para que isso ocorra, é preciso formar recursos humanos conscientes, críticos e éticos, aptos portanto, a enfrentar esse novo paradigma. A educação ambiental em todos os níveis tem procurado desempenhar esse difícil papel resgatando valores como o respeito à vida e à natureza, entre outros de forma a tornar a sociedade humana mais justa e feliz. (PELICIONI, 1998, p.29).

Resta evidenciado o papel da Educação Ambiental como meio intermediário entre a necessidade atual e o objetivo almejado.

Assim, tem-se que a Educação Ambiental será a responsável por disseminar a consciência ecológica para as novas gerações, de uma maneira que vise deixar clara a importância de cada um no cuidado para com o meio ambiente. E como aborda Benakouche (1994) é possível visualizar um ambiente pacífico e equilibrado quanto à interação meio ambiente e economia, bastando respeitar a capacidade de fornecimento da natureza, o que na prática ainda enfrenta muitas barreiras.

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4 DAS ALTERAÇÕES NECESSÁRIAS PARA EFETIVA PROTEÇÃO E PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE.

Neste capítulo, serão abordados os métodos para que as atividades relacionadas com a proteção ambiental possam atuar no polo ativo. Para isto será analisada a aplicação do incentivos tributários, os quais possuem como objetivo gerar uma mudança na maneira de proteger o meio ambiente a qual atualmente, busca apenas punir o poluidor, agindo quando o prejuízo ambiental já ocorreu. Desta forma, será demonstrada a importância de inverter o processo poluição-punição, devendo atualizar e aplicar um novo método de proteção-recompensa por meio dos incentivos fiscais, ferramenta de gestão comportamental do Estado.

4.1 Da necessidade de uma nova redação legislativa às proteções ambientais atuais.

Conforme abordado nos capítulos anteriores, percebe-se que houve uma degradação ambiental em razão da quantidade de recursos extraídos da natureza, frente à capacidade de fornecimento destes recursos, ou seja, retirou-se mais do que a natureza poderia prover, comprometendo assim o equilíbrio ideal do ambiente.

Deve ser elaborada uma nova conduta, um novo método de como visualizar a capacidade de oferta dos recursos para então, respeitando esta oferta, originar os produtos derivados destes insumos naturais, como afirma Milaré e Coimbra (2006):

Deixemos a globalização duvidosa que temos para trabalharmos pela globalização que queremos. Se o mundo natural tornou-se causa e objeto de discórdia entre homens pela disputa insana dos seus recursos, que ele possa converter-se, com esta nova visão, num mediador de nossos melhores e mais autênticos interesses. E o antropocentrismo é pequeno para isso.

Em última análise, o Homem e a Natureza são duas faces distintas, porém, inseparáveis, da mesma e única realidade que constitui o planeta Terra. (MILARÉ, COIMBRA, 2006, p.33).

O IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em 2010, produziu conteúdo abordando justamente situações conflituosas entre economia e sustentabilidade ambiental e assim discorre sobre o conflito de princípios (interesses econômicos x interesses ambientais):

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Havendo colisão entre princípios, a solução dependerá da aplicação do princípio dos princípios (proporcionalidade), que deve buscar no caso concreto a solução que privilegie o princípio mais adequado à espécie, deixando incólume um conteúdo mínimo do princípio preterido. Com a identificação da dimensão dos direitos em conflito, a aplicação do princípio da proporcionalidade permite a manutenção dos interesses protegidos (FREITAS, 2004). O que ocorre de fato, é a precedência de um sobre outro princípio na análise de situações concretas. (IPEA, 2010. p.209).

E continua sua abordagem:

Considerando o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental do homem, pelo menos teleologicamente, o direito ambiental deve ter uma sobreposição natural do seu objeto de tutela em relação às demais ciências. Isso porque tudo o que se relaciona com o meio ambiente condiz com o direito à vida. (IPEA, 2010. p.209).

O art. 4º, inciso IX, da Constituição Federal aborda a cooperação entre os povos no que diz respeito à proteção do meio ambiente, restando expresso a necessidade de que haja consciência da importância do papel dos Estados para que estes se engajem na proteção do meio ambiente.

De pouco ou nenhum resultado seria quando apenas uma quantidade parcial destes Estados optassem por proteger causas ambientais, enquanto a outra parte dos entes federativos optassem por explorar sem atenção ao princípio da proporcionalidade os recursos naturais. Pois, como afirma Milaré e Coimbra (2006), o destino da humanidade é o mesmo que o do meio ambiente, são dependentes um do outro e em não havendo uma consciência ambiental e sustentável dos Estados e seus integrantes, ambos serão prejudicados.

O IPEA (2010), cita em seu estudo a necessidade de respeitar o meio ambiente, tendo este como sendo a base para o funcionamento ideal de qualquer atividade econômica:

O bem que propicia o desenvolvimento econômico, social, cultural e político é o mesmo que importa para a manutenção da sadia qualidade de vida. Por isso, não tem sentido que o desenvolvimento se dê de forma desordenada e cause dano ao meio ambiente. (LEMOS, 2008a apud IPEA, 2010. p.210).

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada –IPEA (2010), assim como especialistas ambientais como André Trigueiro e o ex-ministro da cultura Gilberto Gil (2001), também apontam a necessidade de respeitar para crescer.

Além da necessidade apontada no capítulo anterior, de introduzir por meio da Educação Ambiental a conscientização de proteger o meio ambiente, outra

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necessidade se mostra latente, a adequação das normas ambientais, voltadas para as reais necessidades de proteger o meio ambiente hoje.

As razões para a deficitária atuação da legislação ambientalista são decorrentes de “uma concretização normativa falha, seja por ineficácia, seja por elementos que mitigam seu efetividade” (IPEA, 2010, p.219).

Isto demonstra a insatisfação da eficácia e da eficiência da norma jurídica, tendo em muitos de seus artigos termos subjetivos e que permitem serem mitigados. Além de morosidade no tocante à sua forma de atuação, devido ao baixo investimento em estrutura física e de postos de trabalhos, com número de efetivo abaixo do necessário que permita exercer de modo eficiente a devida fiscalização (IPEA, 2010).

Neste mesmo sentido, discorre Vernier:

[...] as leis sobre a qualidade que os meios naturais devem respeitar são as menos bem aplicadas. O que não é surpreendente, os meios naturais são de todos (e de ninguém...), e sua vigilância é portanto uma tarefa difícil. Evidentemente é mais eficiente regulamentar as causas e as fontes do que as consequências. (VERNIER, 1994, p. 117).

No material produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada em 2010, resta apontado com riqueza de detalhes os fatores que contribuem para a ineficiência das normas ambientais, citando Milaré, assim descreve:

A pequena institucionalização de órgão especializados na gestão ambiental que já são poucos - combinada com sua credibilidade incipiente e seus problemas estruturais de falta de recursos financeiros, humanos e técnicos prejudicam sua imposição frente à conduta dos cidadãos. Contudo, não só esses órgãos específicos para a gestão ambiental têm dificuldade, um dos

grandes responsáveis pela situação em que vivemos é o próprio Poder Judiciário, que padece de credibilidade devido à burocracia excessiva,

à inacessibilidade, à morosidade, ao preço elevado dos trâmites jurídicos e à

tímida especialização no trato das questões ambientais, que muitas

vezes são alvo de competência residual. Assim, o próprio desempenho do judiciário acaba por desestimular as condutas, frustrando expectativas e contribuindo para a ineficácia da legislação ambiental devido a sua inobservância por parte do comportamento do cidadão que age contra legem ou desconsidera a existência da norma. (IPEA, 2010. p.219). (Grifo nosso).

Aponta o IPEA (2010) ainda que, ao possuir uma demanda judicial que envolva conduta ambiental, estar-se-á entregue à sorte. Conforme exposto, o Poder Judiciário não possui demanda ambiental suficiente em muitas comarcas (municípios ou regiões que englobam mais de um município) a ponto de gerar uma vara especializada para apreciação do direito de maneira adequada. Assim, não apenas àqueles que infringiram a lei, seja por ato culposo (sem intenção) ou doloso (ciente do dano que

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viria a ocorrer) não terão a pena aplicada devidamente, como também, o Estado deixa de punir na necessária proporcionalidade a fim de evitar nova conduta delituosa e reparar os prejuízos ambientais causados nos locais atingidos.

O IPEA (2010) aponta que em razão da ineficiência das normas jurídicas ambientais o meio ambiente é quem sai prejudicado e logicamente, como a humanidade é umbilicalmente dependente deste ambiente, sua qualidade de vida resta igualmente afetada. Portanto, há necessidade de que seja adotada uma outra maneira a garantir proteção ao meio ambiente, assim como aos seus recursos naturais e à sua ampla abundância de vida.

Uma nova postura protecionista emerge em razão dos altos prejuízos adimplidos pela fauna e pela flora. Tendo as normas ambientais apostado até então que a efetividade da proteção do meio ambiente se daria por meio das altas sanções aplicadas àqueles que degradassem o meio ambiente, focando sua atuação na punição do transgressor, ou seja, após o dano ambiental ter ocorrido. Desta feita, aposta-se em uma mudança de posicionamento, buscando incentivar o contribuinte fiscal para atuar como protetor e zelador dos recursos naturais, o que será abordado no subcapítulo seguinte.

4.2 Mudança de Paradigma na Tributação Ambiental: Incentivar ao Invés De Punir.

No encontro internacional de países com intenções de elaborar métodos de desenvolvimento sustentável, ocorrido no Estado do Rio de Janeiro, no ano de 1992, chamado de Rio-92, elaborou-se uma declaração, contendo 27 princípios a serem observados por todos os integrantes desta reunião, visando o equilíbrio entre proteção ambiental e desenvolvimento econômico. Entre estes 27 princípios, o de número 11 aborda a legislação ambiental como fonte de proteção do meio ambiente e expressa o seguinte:

Princípio 11: Os Estados adotarão legislação ambiental eficaz. As normas ambientais, e os objetivos e as prioridades de gerenciamento deverão refletir o contexto ambiental e de meio ambiente a que se aplicam. As normas aplicadas por alguns países poderão ser inadequadas para outros, em particular para os países em desenvolvimento, acarretando custos econômicos e sociais injustificados. (ONU, 1992).

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Observa-se que a primeira frase do princípio acima discorre sobre uma legislação eficaz, eficácia esta que conforme abordado pelo IPEA (2010) não vem ocorrendo em razão mitigação das leis ambientais brasileiras.

Assim, deve-se observar qual método entrega melhor resultado do que a ameaça das leis ambientais de altas penas e sanções monetárias que tem demonstrado pouco resultado, tendo em vista ocorrerem em momento posterior à degradação ambiental, atuando na fase reparatória e não na função primordial das leis ambientais, as quais devem ser a função protetiva, agindo de maneira a prevenir que o dano ocorra.

Neste sentido, visando uma cooperação Estado e Meio ambiente, a Agenda 21, mais precisamente em seu capítulo 33, discorre sobre os métodos legislativos que o Estado deve adotar de modo a fomentar a proteção ambiental, seja por meio de uma legislação mais efetiva e ou por meio de incentivos fiscais.

Esta política de proteção ambiental elaborada em 1992 no estado do Rio de Janeiro no encontro internacional conhecido como Rio-92 menciona os incentivos fiscais como forma de promover a proteção ambiental, despertando a partir deste momento o olhar dos Estados para uma nova forma de implementar métodos de proteção do meio ambiente, trazendo para o polo ativo outros agentes, incumbindo aos interessados na concessão do incentivos a tarefa de atuarem como fiscais e promotores de atitudes sustentáveis.

Analisando as legislações ambientais, o IPEA (2010) faz comparação entre as leis de proteção do meio ambiente com a concessão de incentivos, buscando elucidar a eficiência de cada método.

Aborda o IPEA (2010) que as principais legislações ambientais federais, as Leis nº 6.938/81 e nº 9.605/98 que tratam da Política Nacional do Meio Ambiente e a Lei dos Crimes Ambientais, respectivamente, tiveram importante papel em regulamentar e tipificar os delitos em face do meio ambiente, principalmente ao expressar a possibilidade de condenação das pessoas jurídicas e seus diretores, gerentes e responsáveis pelos danos ambientais cometidos.

Contudo, pouco esforço se fez para que a metodologia de aplicar estas normas em prática e em merecida escala. Em razão disto, acabou por tornar as referidas leis pouco efetivas, atuando com pouca força de fiscalização, tendo como raio de atuação os danos de maior proporção e devido à baixa mão de obra não consegue acompanhar a atuação dos pequenos poluidores.

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De modo a demonstrar as falhas existentes quanto à confecção dos textos normativos os quais deveriam garantir a proteção ambiental, o IPEA aponta a ausência de zelo técnico na elaboração destas normas, o que acaba por gerar artigos imprecisos, sem que possa se extrair uma interpretação clara, o que permite que o agente poluidor se aproveite desta atecnia para prolongar a decisão que venha a lhe punir ou até mesmo, encontre lacunas a lhe isentar do ato danoso, veja-se:

Um exemplo é o que se prevê no Art. 39: “Cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente, sem permissão da autoridade competente.” À conduta, aplica-se a pena de detenção de um a três anos ou multa, ou ambas cumulativamente. Da leitura, infere-se que, cortando duas ou 400 árvores, o infrator estará sujeito à mesma pena, inclusive se as tivesse cortado para evitar que caíssem – por estarem podres – em cima de sua casa ou tivesse sido construída anteriormente ao Código Florestal, quando a área não era classificada como de preservação permanente. Ou seja, o código trata, igualmente, situações que podem ser diametralmente opostas, possibilitando que sejam aplicadas penas desproporcionais à condutas com pequeno potencial de dano. A mesma crítica pode ser aplicada ao Art. 48, o qual pune com detenção, de seis meses a um ano e multa, aquele que “Impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação.” Sendo assim, o seringueiro que caminha diariamente por dentro da “mata” para chegar até seu local de trabalho, pode ser preso por um ano, por estar impedindo, ao pisar nas plantas, a regeneração da vegetação local. (IPEA, 2010, p.235).

Prado (1998b) discorre sobre a utilização na norma penal no direito ambiental, a qual deveria ser evocada como sendo um acessório, atuando apenas em última opção e não sendo a regra. O autor acima discorre que a legislação ambiental tornou-se uma extensão da legislação penal brasileira. Isto não é visto com bons olhos, em razão de haver um desvio de finalidade da norma, que ao invés de proteger o ambiente passa a punir o poluidor, perdendo assim, o seu foco de norma protetora a qual deve atuar antes de que haja a ocorrência do dano.

Conforme abordado, a legislação ambiental tendo adotado o caráter punitivo, atua de modo a punir após a ocorrência do dano, se tornando portanto uma norma reparadora, corretiva, que por lógica, atua apenas depois da ocorrência do prejuízo ambiental, o que, reforça-se, não é o objetivo de uma norma que visa proteger o meio ambiente.

Justamente visando preencher esta lacuna, é que, tem se apontado a aplicação dos incentivos fiscais como método de maior eficiência na proteção ambiental, o que será abordado mais especificamente no subtópico seguinte.

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4.2.1 Da atuação do Direito Tributário Ambiental: Incentivo Fiscal em busca de uma efetiva proteção do meio ambiente.

A prática comumente utilizada pelos julgadores das causas ambientais tem como base altas punições, não sendo preciso o grau de impacto ambiental, bem como não oferece segurança jurídica ao meio ambiente, pois não garante que o responsável pelo evento danoso ainda que pague o valor ao qual fora condenado não cometa o delito ambiental novamente. Bem como, por ausência de capacidade de apurar os reais danos causados, não pode-se afirmar que o valor pago a título de sanção será suficiente para custear as ações reparadoras necessárias.

Conforme exposto na Revista de Direito Internacional Econômico e Tributário – RDIET (2018), o Estado goza de ferramentas tributárias a fim de que possa garantir a proteção do meio ambiente, seja calcado no Princípio do Poluidor-Pagador (PPP) ou no Princípio do Protetor-Recebedor (PPR), ora usando da mão forte do Estado para punir aqueles que poluíram o meio ambiente, ora beneficiando aqueles que protegem, reflorestam ou adotam meios menos poluentes para exercerem suas atividades econômicas. Descreve o poder de tributar como sendo:

Trata-se de uma prerrogativa do Estado, para que possa atuar como um importante mecanismo de concretização de políticas públicas. Não se pode deixar de perceber a importante faceta social do poder de tributação. É por meio dele que se criam programas e se efetivam políticas públicas com vista à garantia de cidadania e à efetivação de direitos fundamentais consagrados constitucionalmente. Por esse motivo, o poder de tributar não se limita, tão somente, à sua finalidade arrecadatória, desconsiderando-se seu

potencial para implementar outros objetivos do Estado. (RDIET, 2018,

p.248). (Grifo nosso).

A forma como se aplicam os julgados ambientais, tem como fonte tributária basilar o Princípio do Poluidor Pagador (PPP), o IPEA aborda o significado do PPP da seguinte forma:

Não se trata de pagar para poluir. O princípio do poluidor-pagador é reconhecido como um dos mais importantes na tutela do meio ambiente. De acordo com esse princípio, o causador da poluição arcará com seus

custos, o que significa dizer que ele responde pelas despesas de prevenção, reparação e repressão da poluição. (IPEA, 2010. p.212). (Grifo nosso).

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O Princípio do Protetor-Recebedor, diferente do PPP, age antes mesmo de que as atividades poluentes sejam iniciadas. Podendo a atividade empresária justamente visando um aumento em seu percentual de lucro, planejar todo o seu processo produtivo de modo que lhe seja concedido benefício tributário. Isto não impede que aquele o qual já atua de maneira não sustentável possa adequar-se e então se enquadrar no perfil almejado para receber o incentivo ambiental. Martin Mateo (1977

apud IPEA, 2010) diz:

Ainda que o Direito Ambiental, ao final, apoie-se em um dispositivo sancionador, seus objetivos, no entanto, são fundamentalmente preventivos. É verdade que a repressão traz sempre implícita uma vocação preventiva ao pretender, pela ameaça e admoestação, evitar que se verifiquem os pressupostos para a sanção. Porém, no Direito Ambiental, a coação a posteriori resulta particularmente ineficaz, pois as consequências

biológica e socialmente nocivas já se produziram. A sanção poderá ter

efeito moral, mas dificilmente compensará os danos incorridos, frequentemente irreparáveis. Isso vale também para as compensações impostas. (IPEA, 2010. p.214). (Grifo nosso).

Conforme exposto acima, a proteção do meio ambiente se dá de fato com atitudes que garantam que o dano sequer exista. É justamente este o objetivo do Princípio do Protetor-Recebedor, dar o máximo de garantia possível ao ambiente de que ele não mais será reparado, mas sim protegido de qualquer ato prejudicial.

O IPEA (2010) aponta que a Lei Federal 6.938/81 – Política Nacional do Meio Ambiente, recepcionada pela Constituição Federal em 1988 e a Lei Federal de nº 9.605/98 – Lei de Crimes Ambientais – tiveram significativo papel no combate aos atos ilícitos praticados contra o meio ambiente. Contudo, como abordado, atuavam após a ocorrência do dano, apostando que a imposição das penas e sanções descritas servissem de alerta para quem agisse contra a lei, o que de forma empírica é possível afirmar que não produziu os resultados esperados. Em comento ao resultado das referidas leis como reais protetoras do meio ambiente o IPEA (2010) aponta:

Por tantos motivos, defende-se como medida válida a previsão de incentivos

para que não sejam praticados delitos ambientais, à maneira como tem

ocorrido no direito internacional ambiental. Por certo, existem situações em

que a concessão de uma sanção positiva – incentivo – traz mais resultados benéficos ao meio ambiente do que a imposição de uma sanção negativa – por exemplo, a própria aplicação de uma pena restritiva

de direitos. (IPEA, 2010. p.232). (Grifo nosso).

E aponta ainda outros benefícios ao poder público, os quais seriam “menos gastos do erário público, por não exigir a movimentação de toda a máquina estatal

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punitiva, além de contribuir com a redução do ‘inchaço” do Poder Judiciário.” (IPEA, 2010, p.232).

Os benefícios fiscais se mostram mais efetivos, além de fazer com que, os que até então poluíam saiam do anonimato e busquem agir de maneira correta, objetivando a redução de tributos e recebimento de valores por preservar áreas que antes estavam devastadas.

4.2.2 Do efeito extrafiscal dos tributos ambientais: Fator modificante na atuação de proteção do meio ambiente.

Segundo a Revista de Direito Internacional Econômico e Tributário - RDIET (2018), os tributos possuem em si o efeito extrafiscal, que não apenas possui o objetivo arrecadatório para o Estado, mas também, visa atuar como um fator motivador para que o contribuinte faça ou deixe de fazer algo, sob pena de ser tributado ou isento de algum tributo o qual objetiva justamente concretizar a proteção ambiental:

Conforme já assinalado, o objetivo que baseia todo o sistema tributário ambiental é proteger o meio ambiente, estimulando procedimentos que o preservem e desestimulando condutas que o degradem. Em sua natureza jurídica, os tributos ambientais são essencialmente extrafiscais. (RDIET, 2018, p.251)

Neste mesmo sentido, a Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente – ANAMMA (1999), sobre o exposto acima, discorre sobre as posturas quais podem ser tomadas pelos municípios, visando, com fulcro em seu interesse local, legislar sobre formas de proteger o meio ambiente através do efeito extrafiscal dos tributos, veja-se:

Por lei própria, de natureza tributária, pode-se prever incentivos tributários, como a isenção parcial ou total do valor do Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU, ou do Imposto Sobre Serviços – ISS, visando a incentivar o cidadão a preservar, proteger e conservar o meio ambiente e para estimular iniciativas capazes de direcionar uma política de desenvolvimento sustentável.

À guisa de exemplo, poder-se-ia deferir tais benefícios ao particular que preservar bens de interesse histórico, cultural ou ecológico; arborizar sua propriedade ou logradouro público; desenvolver programas de educação ambiental, de conservação de energia. (ANAMMA, 1999, p.41).

Desta maneira, demonstra-se a existência de uma conscientização sobre a relação que há entre os tributos e a proteção ambiental. Conforme acima, o incentivo

Referências

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