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4.3 Desenvolvimento Sustentável dentre os Objetivos do Comércio Internacional

4.3.2 Efeitos do Ingresso da China na OMC

Trabalho do Mercosul, destinado a aprovar as diretrizes mínimas em matéria ambiental.

Entre as tarefas prioritárias do Subgrupo estão a harmonização ou eliminação das barreiras não tarifárias com fins ambientais; a promoção de estudos para avaliar e incluir os custos ambientais nos custos totais para fazer equânimes as condições de proteção ambiental e competitividade; a atenção de aspectos ambientais tratados pelos subgrupos de energia, agricultura e indústria; elaboração de um documento jurídico para otimizar a aplicação dos mecanismos legais ambientais em cada país; projeto de um sistema de informação ambiental;

e definição e formalização de um selo verde na região. O subgrupo evoluiu nos estudos preliminares para harmonização das legislações ambientais das Partes e seu maior avanço foi a aprovação em 1997 de um esboço de um Protocolo sobre Meio Ambiente, mas que não foi adotado de maneira definitiva, que inclui vários temas, como áreas naturais, biodiversidade, biosseguridade, certificação ambiental e controle.

Além das iniciativas típicas do Mercosul, outras podem ser tomadas através de acordos bilaterais, como os Acordos entre Brasil e Argentina e entre Brasil e Uruguai, sobre Cooperação em Matéria Ambiental, celebrados em 1996 e 1992, respectivamente, e promulgados pelos Decretos Legislativos nº 6, de 28.01.1997, e nº 2.241, de 02.06.1997.

Conclui o autor que em matéria de proteção ambiental o Mercosul ainda não avançou o mínimo que se espera de um pacto desta magnitude. Aguarda-se que com a evolução do Tratado seja dada maior atenção ao assunto, tal qual sucede na União Europeia e no NAFTA (FREITAS, 2006, p. 358).

direitos civil, econômico, do consumidor, financeiro, securitário e comercial.

Já como preparação ao ingresso na OMC, a China promulgou os princípios gerais do direito civil em 1986 (a China ainda não possui um Código Civil), reconhecendo os princípios da igualdade, liberdade de ação, justiça e boa-fé das atividades civis e a garantia que os direitos civis das pessoas físicas e jurídicas serão protegidos por lei e não serão violados. Em março de 1993 foi editada a Lei de Empresas; em dezembro de 1993 foi feita a reforma do sistema financeiro, estabelecendo um sistema macrorregulatório do Banco Central para implementar de maneira independente a política monetária; em maio de 1994 foi promulgada a Lei de Comércio Exterior adotando um sistema unificado dentro de uma ordem de comércio justo e livre, pelo qual a China deverá promover e desenvolver relações comerciais com todos os países e regiões do mundo baseadas no princípio da igualdade e benefício mútuo, e de igual modo, conforme os tratados e acordos internacionais que tiver celebrado, assegurar às Partes contratantes o respeito aos princípios da nação mais favorecida e do tratamento nacional; em julho de 1994 a Lei de Imóveis Urbanos; em junho de 1995 a Lei de Títulos de Crédito e Seguros; em dezembro de 1998 a Lei de Valores; em março de 1999 houve a terceira reforma da Constituição dispondo que os setores não públicos da economia são componentes importantes do novo socialismo de mercado; em março de 1999 também foi promulgada a Lei Contratual; e em agosto de 1999 foi editada a Lei de Empresas de Propriedade Individual (SU, 2008, p. 239).

Em novembro de 2001 a China ingressou na OMC, após quinze anos de negociações, o que estabeleceu um novo marco na etapa de sua abertura ao comércio exterior.

Como resultado das negociações para ingresso na OMC, a China assumiu importantes compromissos para abrir e liberalizar seu regime a fim de melhor se integrar à economia mundial e oferecer um ambiente mais acessível ao comércio e investimento estrangeiro. Entre alguns dos compromissos assumidos pela China estão: a não discriminação entre Membros da OMC, oferecendo em matéria de comércio a todos os indivíduos e empresas estrangeiras o mesmo tratamento dispensado às empresas nacionais; eliminação das práticas de preços diferenciados para venda dos produtos na China e no comércio exterior; não utilização de controles de preços para proporcionar proteção às indústrias e provedores de serviços domésticos; revisão das leis domésticas e promulgação de uma nova legislação em concordância com o ordenamento da OMC; permissão a qualquer empresa do direito de importar e exportar todo tipo de produtos, com exceções limitadas; e a eliminação de qualquer subsídio às exportações de produtos agrícolas (JINGDONG, 2008, p. 264).

A China, no entanto, reservou o direito estatal exclusivo do comércio de cereais,

tabaco, combustíveis e minerais e manteve algumas restrições ao transporte e distribuição de produtos dentro do país. Por outro lado, eliminou total ou parcialmente as restrições às empresas estrangeiras num período de três anos após a adesão à OMC, bem como comprometeu-se a implementar em sua totalidade o Acordo TRIPS de Proteção da Propriedade Intelectual desde o dia de seu ingresso na organização. Há ainda um período de transição de 12 anos durante o qual os demais Membros da OMC podem adotar Medidas de Salvaguarda Transitórias quando a importação de produtos chineses possa causar impacto no mercado de produtos nacionais (JINGDONG, 2008, p. 264).

Para adaptar-se aos termos do ordenamento da OMC e participar internacionalmente na cooperação econômica e tecnológica, em junho de 2004, a China reformou a Lei de Comércio Exterior, implicando dentre outros temas, o acesso aos operadores internacionais ao comércio de bens e tecnologias, ao comércio administrado pelo Estado, na licença automática de importação e exportação, comércio de produtos restritos e controlados, ordenação do comércio exterior e solução de controvérsias. Em outubro de 2005 foi reformulada a Lei de Empresas e a Lei de Valores, revogando as restrições incompatíveis com o desenvolvimento do mercado. Em outubro de 2006 foi editada a nova Lei de Falências. A Lei mais importante desta etapa de reforma do sistema econômico é a Lei de Propriedade de março de 2007, demonstrando a importância da proteção do Estado de Direito e da ordem legal para promoção das atividades de mercado e proteção dos direitos de todos os seus participantes, enriquecendo o conteúdo do instituto da propriedade. Também houve a edição da Lei Anti-Monopólio em agosto de 2007, sancionando o abuso de poder econômico e de mercado, concentração de operadores, etc., contribuindo para o comércio livre e justo, para a melhora da eficiência econômica e para a proteção dos direitos do consumidor e dos interesses públicos. Outra importante lei da abertura econômica, em especial para os investidores estrangeiros, foi a Lei de Imposto sobre a Renda aprovada em março de 2007, visando construir um clima justo e transparente em matéria de impostos sobre a renda para diferentes tipos de empresa, acabando com a diferenciação antes existente, entre empresas nacionais e empresas com participação estrangeira, igualando a carga tributária e facilitando a concorrência (SU, 2008, p. 239-241).

Como forma de cumprir com as obrigações previstas no Acordo de Proteção da Propriedade Intelectual foi editada uma série de leis: o Regulamento sobre a Proteção de Novas variedades vegetais em março de 1997; a Lei de Patentes, emendada pela segunda vez em agosto de 2000; a Lei de Marcas e a Lei de Direitos de Autor, emendadas em outubro de 2001; e a Lei sobre Proteção de Desenhos de Circuitos Integrados, também em 2001. Como a

China se propôs em anos recentes em ser um país voltado à inovação, a proteção da propriedade intelectual deve ser reforçada (YUYING, 2008, p. 300). O Governo estabeleceu como prioritário o cumprimento das leis para combater as infrações, reforçando os departamentos administrativos de marcas e patentes, lançando ações coercitivas e implantando forças tarefas que resultaram na investigação de 49.412 casos somente em 2005.

Em abril de 2006 foi criado o Centro Nacional de Denúncias sobre infração à propriedade intelectual e instituído um Grupo de Trabalho Nacional para proteção da propriedade intelectual, assim como uma campanha nacional para educação da população contra a pirataria, inclusive, com a adoção da “Semana de Educação da Proteção da Propriedade Intelectual” que se realiza todo ano entre os dias 20 e 26 de abril e instituiu o dia 26 de abril como o “Dia Internacional da Propriedade Intelectual” (JINGDONG, 2008, p. 273-274).

O objetivo da China é construir um sistema de economia de mercado socialista e as políticas fundamentais para a reforma e abertura de seu mercado coincidem com os princípios básicos do sistema multilateral do comércio. A China necessita de um comércio multilateral justo, mais aberto e dinâmico como uma condição imperativa externa para seu desenvolvimento econômico, considerando que as negociações comerciais multilaterais devem assegurar um resultado que beneficie a todos os seus Membros, em especial os países em desenvolvimento. Além do mais, um sistema multilateral do comércio mais justo e equitativo será favorável para o fomento da confiança entre os Membros e ajudará a prevenir o protecionismo comercial (JINGDONG, 2008, p. 283).

No que se refere à proteção do meio ambiente, a China iniciou em abril de 2006 a reforma da legislação de impostos sobre o consumo com o fim de proteção ambiental, buscando um consumo racional e melhor distribuição dos recursos naturais, sendo composta de duas partes, primeiro o ajuste dos artigos sujeitos à tributação sobre o consumo, e segundo, das alíquotas aplicáveis (JINGDONG, 2008, p. 278).

SU (2008, p. 235) esclarece que, ao contrário do que se pensa, a China não adotou uma política ambiental de primeiro o desenvolvimento e depois o controle, mas sim que houve um reforço na construção institucional legal para proteção ambiental enquanto efetuava a reforma econômica e promovia o desenvolvimento. Em comparação com o trabalho legislativo realizado em outras áreas, a produção legislativa ambiental é bastante significativa já na etapa inicial da reforma e abertura econômica (1978-1984). Por exemplo, a Lei de Proteção Ambiental da República Popular da China foi promulgada em 1979; a Lei de Proteção Ambiental Marítima e as Medidas Administrativas de Tributação Ambiental em 1982; os Regulamentos sobre Proteção Ambiental na Exploração Petrolífera Submarina e os

Regulamentos de Controle e Prevenção da Contaminação por Embarcações em Águas Continentais em 1983; e a Lei de Prevenção e Controle da Contaminação da Água em 1984.

Como se verifica, a OMC possui um peso importantíssimo na regulação do comércio internacional, de forma que é capaz de promover uma verdadeira rediscussão de todo o ordenamento jurídico de um país continental e extremamente poderoso como é a China, como condição para ingresso na organização, a fim de adequar-se às regras que são acordadas no denominado ordenamento jurídico único da OMC.

Este exemplo da China é fundamental para demonstrar como é imprescindível que a OMC, mesmo não sendo uma agência ambiental, como adverte a organização, e ainda que não conte com um Acordo específico em matéria ambiental, cada vez mais institua como política de fomento do comércio internacional a promoção do desenvolvimento sustentável, por meio da proteção do meio ambiente e da conservação dos recursos naturais. À medida que a organização promova o desenvolvimento sustentável como uma política institucional, o efeito multiplicador para adequação das políticas nacionais ambientais aos objetivos da organização implicará numa verdadeira mudança de conduta do homem em relação ao meio ambiente e conduzirá a um comércio justo, igualitário, sócio e ambientalmente responsável.

Os resultados seriam ainda maiores se os Membros acordassem em negociar um acordo específico sobre meio ambiente no sistema multilateral do comércio gerido pela organização, o que obrigaria todos os Membros a adequaram suas legislações nacionais, como o exemplo da China claramente demonstra.

A questão do meio ambiente não deve ser tratada apenas em termos de preservação, mas também de distribuição e justiça, oferecendo o marco conceitual necessário para aproximar as medidas de promoção dos direitos sociais e humanos, da qualidade coletiva de vida e da sustentabilidade ambiental (ACSELRAD, 2001, p. 94).