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1. PANORAMA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

1.4. A EJA e o Ensino Supletivo

A educação de jovens e adultos foi regulamentada pela Lei 5.692/ 1971, no Capítulo IV, art. 24, que se caracterizou pela finalidade de suprir a escolarização regular de adolescentes e adultos que não a conseguiram na idade própria; proporcionando, mediante a volta à escola, estudos de aperfeiçoamento para aqueles que tinham seguido o ensino regular ou em parte, por meio de cursos a serem organizados nos vários sistemas de acordo com as normas baixadas pelos respectivos conselhos de educação. Tinha o propósito elementar e fundamental de atender a iniciação ao ato de ler, escrever e contar, e a formação profissional definida em lei específica, estendendo-se a disciplina do ensino regular com fins de atualização de conhecimentos extensivos ao 2º Grau, intensivos a qualificação profissional quando incluídas disciplinas e /ou áreas de estudos e atividades equivalentes ao ensino regular conforme normas de vários sistemas. Os exames de suplência compreendiam parte do núcleo comum, habilitando o prosseguimento dos estudos em caráter regular ao nível de conclusão do ensino de 1º grau para os maiores de 18 anos, e para a exclusiva habilitação profissional de 2º Grau, abranger o mínimo estabelecido pelo Conselho Federal de Educação, ao nível de conclusão do ensino de 2º grau, para os maiores de 21 anos.

Pela dimensão das características constantes na lei 5.692/71, em seu artigo 24, que tinha por finalidade suprir a escolarização regular para adolescentes e adultos; o ensino supletivo foi apresentado à sociedade como um modelo educacional capaz de funcionar em harmonia com o desenvolvimento socioeconômico, observado os países daquela época, em que a aprendizagem, voltada ao atendimento dos interesses políticos e

econômicos correspondia à formação para o trabalho. Essa especificidade, é considerada como uma aprendizagem metódica, cuja função esteve a cargo do SENAI e SENAC, que se encarregaram da qualificação profissional sem se preocupar com a Educação Geral, objetivando prioritariamente a formação de recursos humanos para o trabalho, em seguimento ao segundo princípio que conformam as características do ensino supletivo que era colocar toda a reforma do ensino militar, voltado para a intensificação do desenvolvimento nacional, seja “integrando pela alfabetização de mão-de-obra marginalizada”, seja “formando a força de trabalho”, Haddad (2000. p. 117).

A questão da especificidade está intrínseca naquilo que expõe Haddad, concernente a mensagem do então Presidente da República Emilio G. Médici ao justificar as reformas do ensino sob a égide “para que possa qualquer povo, na razão de seus predicados genéticos, desenvolver a própria personalidade e atingir, na escala social, a posição a que tenha jus” Haddad (2000, p. 118). Posição, determinada pela condição de transmissão de caracteres hereditários, e pela conjectura do empenho em aproveitar as circunstâncias favoráveis de entrada no sistema educacional ofertado pelo Estado, em circunstâncias em que se flexibilizava a educação àqueles que em outras épocas perderam a oportunidade de escolarizar-se. E, se ofertava o ensino como pressuposição de atualização de conhecimentos àqueles que gostariam de fazê-lo, ou, que tivessem condições sociais e intelectuais de acompanhamento da modernização social da época.

As opiniões manifestadas por Haddad (2000, p. 118) em “o sentido político da educação de adultos no período militar” constitui-se algo próprio dos objetivos da EJA, atinentes a posição social de cada individuo e sua condição genética. Observa o professor que a Secretaria Geral do Ministério de Educação e Cultura, no ano de 1972 expediu o documento “Adult Education in Brazil”, destinado à III Conferência Internacional de Educação de Adultos, convocada pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura - UNESCO para Tóquio, cujo teor simbolizava e manifestava o pensamento de EJA no contexto brasileiro, em especial depois da criação do Mobral e do Ensino Supletivo. A explicação para o fato decorre de que consta na introdução documental “recente preocupação com a educação como

elemento prioritário dos projetos em desenvolvimento” esta, realçada pela presença dos militares no poder, a partir de 1964, refletindo nos planos setoriais de educação, que objetivavam a constituição de uma infra-estrutura de recursos humanos ajustada às necessidades sócio-econômica, política e cultural do País. Fato este percebido pelos discursos e documentos legais do governo, procurando unir as expectativas de democratização educacional, por um lado, com a intencionalidade de colocar a educação a serviço do modelo de desenvolvimento. Por outro lado, as reformas educacionais proporcionando a extensão da Educação de jovens e aumentando as possibilidades a um maior número de pessoas ao acesso à formação profissional. Desse modo a educação de jovens e adultos passou a ser protagonizada como o sistema educacional que se encarregaria de corrigir as desigualdades sociais, traduzido em uma linguagem na qual a oferta dos serviços educacionais de jovens e adultos era a nova chance de ascensão individual e social em uma época de milagre econômico, no dizer de Haddad (2000).

Haddad destaca o fato de considerar importante para a educação de jovens e adultos a retomada, pela sociedade civil, da governabilidade brasileira, em 1985, representando, democratização nas relações sociais, e uma ampliação no campo dos direitos sociais, pois, emergiram os antigos e novos movimentos sociais, e atores da sociedade civil no final dos anos 70, ocupando espaços crescentes na cena pública, organizando-se, institucionalizando-se, renovando as estruturas sindicais, associações e criando novas formas de organizações como meio de manifestação de pensamento. Ressalta que nesse período a ação da sociedade organizada direcionou as demandas educacionais que foram capazes de legitimar publicamente as instituições políticas, em especial os partidos, o parlamento e às normas jurídico-legais num processo que resultou na promulgação da Constituição de 1988 e seus desdobramentos nas constituições estaduais e leis orgânicas municipais.

Outro ponto enfocado por Haddad (2000. p. 120) é que esse processo de renovação de expressão e das capacidades advindas do ato de praticar, ou de práticas anteriores, a educação de jovens e adultos ganhou respeito e consideração refletindo-se na Assembléia Nacional Constituinte e conquistando o direito universal ao ensino fundamental público e gratuito, como direito

subjetivo a educação, independente de idade, consagrado no artigo 208 da Constituição Federal de 1988. E, mais, além da garantia do direito constitucional, a disposição transitória da Carta Magna em seu artigo 60 estabeleceu um prazo de dez anos, nos quais os governos e sociedade civil deveriam concentrar esforços para eliminar o analfabetismo e universalizar o ensino fundamental, e, a esses objetivos deveriam ser destinados 50 % dos recursos vinculados a educação dos três níveis de governo.

1.5. A Nova Organização Educacional e os Programas Federais de