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3. O NASCIMENTO DO PROEJA NO BRASIL

3.6. Memória, consenso

Para Delgado (2006) a história oral, compreendida como procedimento metodológico na busca de construção de fontes e documentos,

(...) integra-se ao conjunto de esforço do sujeito produtor de conhecimentos para registrar via relatos, as versões de diferentes personagens históricos sobre suas vidas e sobre sua integração no processo constitutivo da história. (DELGADO, 2006. p. 62)

Nessa mobilização de forças intelectuais ou morais, situa-se a trajetória de história de vida dos professores de LP, do Proeja no IFPA, servindo para compreensão do processo de lida cotidiana com o ensino-aprendizagem de cada um dos entrevistados, assim como o conjunto de características gerais do que representa a Língua Portuguesa no Programa de Educação Profissional integrada ao Ensino Básico. Por isso, ao revelar a experiência ou conhecimento por meio da lembrança mediante a reprodução de testemunho, procura-se evidenciar algumas situações em que são identificadas as conformidades tanto na versão coletiva como individual, embora esta última se apresente na forma basilar de caracterizar o trabalho desenvolvido pela lembrança ao buscar na memória o processo de construção da oralidade.

Ambos os sujeitos, ao longo dos textos, optam pela faculdade de declarações em que se verificam características de concordâncias na forma de conduzir as versões sobre suas vidas. Pois a singularidade que se estabelece em torno dos relatos faz com que haja opiniões de mesma natureza ou distinções essenciais, embora enunciados de forma oral e particular.

O ato de pensar como meio de conceber, elaborar, edificar, organizar e transferir ideias e valores baseados na memória fez com que os entrevistados, no movimento de articulação da história de vida profissional desenvolvessem pensamentos e opiniões que dizem respeito: a visão do Programa de Língua

Portuguesa; o entendimento sobre o Proeja; o percurso para atuar no Programa, assim como outras informações, possibilitando a percepção da oralidade, às vezes ordenada, às vezes amalgamada, no entanto harmoniosa.

As descrições iniciais das narrativas permitem a percepção de dados que se coadunam: origem do Município de Belém, Estado do Pará; início e conclusão de licenciaturas na mesma área de ensino; cursos de especializações na área em que atuam e na mesma Instituição, mas, em diferentes períodos; apenas 1/3 (um terço) possui especialização em Proeja, entretanto, adquirido durante a participação docente no Proeja; tornaram-se professores considerando o aspecto de livre escolha, embora alguns tenham um histórico familiar que influenciou na opção profissional; ambos iniciaram a profissão antes de pertencer ao quadro docente do IFPA; 2/3 (dois terços) ingressou no serviço público por concurso; todos participam do Proeja na função docente como convidados vivenciando a precarização ou insegurança do trabalho em torno do desenvolvimento dos cursos implementados.

Embora tenham admitido começar suas atividades docentes no Proeja sem conhecimento prévio da política educacional assumida pelo Programa; a vivência desses momentos foi enfatizada pelas experiências do trabalho com a Língua Portuguesa no processo de leitura e escrita, produção textual e revisão de conteúdos educacionais do ensino fundamental como forma de harmonizar as desigualdades existentes de concepção de conhecimento entre os alunos.

Os depoimentos dos entrevistados, no entanto, deixam transparecer a variabilidade diante do caminhar ao encontro dos chamamentos aos níveis e modalidades de ensino, o que pode ser avaliado como importantes requisitos necessários ao desenvolvimento de atividades marcadas por um conjunto de práticas estabelecidas e constatadas nos testemunhos referentes: ao

entendimento do Programa; as dificuldades encontradas no desenvolvimento das atividades docentes; a visão sobre o atendimento do Programa Língua Portuguesa ao Proeja.

A vivência desse momento entre os entrevistados faz com que o professor (C), ao ser instigado à exposição do entendimento sobre o Proeja considere os conceitos e significados que possui sobre o Programa, uma política pública de inclusão social em que se tem a oportunidade de trabalhar a

matéria prima, “esperança”; permanecendo na perspectiva de que o Proeja continue como um programa.

Acentua a dificuldade enfrentada na consecução das atividades educacionais do Proeja, na evasão dos alunos, a qual denomina de imaterial, dentre outras como transporte; desigualdade de idade; edificação de conhecimento por parte do aluno; recurso de formação docente; requisito necessário para a atuação no programa, pois acredita que aqueles que hoje atuam, não participaram do curso de educação continuada promovido aos docentes pelo Proeja aos docentes do IFPA.

Essas dificuldades também se acham presentes na ação resultante de conteúdos programáticos destinados a alunos do Proeja. Pois, está muito aquém, conforme seu olhar, dado ao fato de saber que se deveria trabalhar com o ensino a nível médio, no entanto, concilia-se o fundamental na tentativa de alcançar o médio, através da metodologia empregada na leitura, escrita e construção textual.

O Professor (D) ao pronunciar seu entendimento sobre o Proeja manifesta a singularidade de não possuir o conjunto de habilidades específicas exigida pela Modalidade de Ensino, dado a praticidade em trabalhar a Língua Portuguesa direcionada para os cursos técnicos e superiores no IFPA. No entanto, aceita trabalhar como docente no Programa por refletir sobre a proposta como introdução de novidade, ao ocupar-se com alunos que foram excluídos do processo educacional.

A experiência adquirida no exercício constante do fazer docente com a Língua Portuguesa, de acordo com o ponto de vista que possui sobre o ensino- aprendizagem, serviu para dar relevo as dificuldades encontradas no desenvolvimento das atividades expressadas como: dificuldade de lida com a disparidade de idade; conhecimentos escolares defasados e as experiências das quais são portadores os alunos do proeja, produzindo a percepção de que a proposta pedagógica do Programa seja reformulada com conteúdos de Língua Portuguesa que possibilite o caminhar mais livre e desinibido aos alunos do Proeja como estímulo à compreensão, de seu papel como sujeito social.

O professor (E), de forma criativa, busca no tempo, conexões no aprendizado para a construção futura e apresenta acontecimentos que demonstram experiência no trato com o conjunto de traços característicos de EJA. Diante de um juízo de valor no tempo presente sobre o Proeja, declara entendê-lo, como uma política de governo e não de Estado, em face da maneira como foi inserida e condicionada no sistema educacional brasileiro. Essa compreensão parece determinada pela visão da escola como aparelho ideológico doutrinador e legitimador da classe econômica dominante.

Inspirando-se em Marx e Engles, pensa em Proeja como uma proposta voltada aos princípios de Lei 5.692/71 que preconizava os objetivos da EJA no Art. 24 e 25; tornar regular a educação para adolescentes e adultos que não haviam concluído em idade própria, visando atender, a iniciação no ensino de ler, escrever e contar e a formação profissional com princípios voltados para o atendimento da indústria.

O olhar lançado ao proeja como programa educacional reflete no fazer o homem pensar no mundo do trabalho na condição de participante de uma sociedade, naquele que busca possibilidade de escolher sua edificação do saber pensar; do saber fazer; saber ver; do saber compreender para acreditar nas mudanças que a sociedade impõe mediante os ditames processuais das classes dominantes.

Refere-se às dificuldades encontradas no trato da Língua Portuguesa no proeja iniciando pela infraestrutura até a ação ensinoaprendizagem, visto que o Programa exige uma visão mais ampla da sociedade e do mundo do trabalho, assim como, uma formação peculiar inerente aos objetivos propostos a fim de não se repetir as formulas utilizadas outrora, tal qual o simples repasse de conteúdos. Dentre outras dificuldades apresentadas alega implicação na falta de profissionais preparados, falta de planejamento das ações educacionais, enfrentamento pelos alunos de situações pertinentes a frequência e permanência no processo educativo escolar, e outros inerentes a gestão do Proeja na realização de integração educacional; permitindo a concepção de juízo de valores a respeito do não atendimento do Programa de Língua Portuguesa do IFPA ao Proeja.