• Nenhum resultado encontrado

A primeira parte do trabalho, relativa ao construto que serve de referência à intervenção investigativa na Universidade, tem-se um estudo de conceptualização de um modelo para verificação do processo de elaboração de estratégias.

Esta etapa fundamentou-se em ampla revisão bibliográfica sobre estratégia, universidades e teoria da complexidade. Além disto, a autora respaldou-se em sua larga vivência em gestão universitária e atividade docente, com pesquisas dedicadas ao assunto estratégia e, mais recentemente, à teoria da complexidade.

O campo de estudo em questão foi uma universidade pública federal, que de gestão em gestão planeja de acordo com os eleitos para dirigi-la, caracterizando novas

estratégias a cada período. A multiplicidade de interesses e forças intervenientes, ao mesmo tempo rica, é também difícil de ser gerenciada.

Inaugura-se, portanto, um novo momento de concepção a cada nova gestão, seguindo-se um período de realizações – a execução. Esta forma de proceder, entretanto, impõe limitações quanto a sua efetividade. É lógico constatar que, diante da dinâmica ambiental, das oportunidades e ameaças que se revezam e se misturam, estratégias devem ser revistas. Um novo cenário é “tecido” a cada momento, o que pressupõe uma nova ou adaptada estratégia correspondente. O construto elaborado pretendeu desvelar o quanto essas mudanças aconteceram, ao longo das gestões analisadas, em termos de concepção e execução dos Planos de Gestão elaborados.

Para o delineamento do construto de um processo de formação de estratégia sob a perspectiva da teoria da complexidade, foi utilizado o procedimento técnico da pesquisa bibliográfica (GIL, 1991) nas três áreas do conhecimento que possuem alguma interseção com o problema de pesquisa. O construto delineado à luz da teoria da complexidade foi posteriormente submetido à análise no caso selecionado para estudo.

O construto é uma representação das interligações conceituais que permitem compreender e caracterizar de que forma o processo de elaboração de estratégia está acontecendo. Procurou-se responder se a estratégia foi concebida e executada segundo os preceitos da baixa presença das variáveis e princípios (num extremo, formulação de estratégia) ou se se considerou a presença satisfatória das variáveis e princípios e a constante recomposição da realidade (outro extremo, formação de estratégia).

Para tanto, foram observados os seguintes passos:

a) com base na questão problema e objetivos, reviu-se a teoria e pesquisou-se os temas relativos a universidade, estratégia e teoria da complexidade;

b) selecionou-se as idéias centrais de Nicolau (2001) acerca de modelos de formação de estratégia (racional-formal, negociado, em construção permanente), de Stacey (1994, 1996, 2000) quando refere-se a processos de aprendizagem em single loop e em double loop, sistemas de feedback negativo e positivo, sistemas organizacionais legitimado e sombra, mapas cognitivos que repetem o ciclo vicioso ou que encaminham as organizações para novos patamares do ciclo virtuoso, interação entre agentes, bem como os conceitos centrais da Teoria da Complexidade trazidos por Axelrod e Cohen (2000),

Holland (1995, 1999), Anderson (1999), Battram (2001), Zimmerman (1999), Agostinho (2003), Morin (2000, 2001), dentre outros citados ao longo do trabalho, que permitiram a elaboração de uma síntese de conceitos centrais como: as variáveis agregação, aprendizado e adaptação e auto-organização, e os princípios dialógico, hologramático e da recursão.

c) dividiu-se o processo de elaboração estratégica em dois momentos de referência, a concepção e a execução;

d) estabeleceu-se para cada um deles os parâmetros verificadores: agregação/ princípio dialógico, aprendizado e adaptação/ princípio hologramático e auto- organização/ princípio da recursão, numa escala de 1 a 3, considerando a intensidade da ocorrência da ação;

e) associou-se o desempenho destas características aos modelos de formação de estratégia preconizados por Nicolau (2001);

f) estabeleceu-se um elemento pictórico, contendo uma escala não numérica que permite qualificar o enquadramento predominante da elaboração estratégica na instituição estudada, em um dado momento, em um processo de vai da perspectiva racional-legal (formulação) até o processo de construção permanente (formação), passando pela etapa do processo negociado.

6.4.1 Organização para validação do construto

De acordo com a recomendação de Merriam (1998) em relação à validação de construtos, foi selecionada uma organização que estivesse desenvolvendo processos de formação de estratégia de maneira formal, elaborando Planos de Gestão de maneira regular e, com a qual a pesquisadora tivesse um bom acesso. A validação foi realizada na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), local do estudo de caso para análise do construto.

Por conseguinte, ao lado da construção teórica, a investigação recorreu a aspectos factuais presentes nos documentos que contam a história do processo de formação de estratégia, expresso em Planos de Gestão (1993-1997, 1997-2001 e 2001-2005) da organização selecionada, utilizando ainda, a técnica de entrevistas as quais foram realizadas com dirigentes da atual gestão da UFAM (2001-2005), que compõem o Comitê Gestor da instituição, além de se apoiar na observação direta. O uso dessa multiplicidade de recursos, que Triviños (1987, p. 139) denomina de ‘técnica da triangulação’, teve por finalidade

abranger a máxima amplitude na descrição, explicação e compreensão do foco em estudo. A utilização dessa técnica partiu de princípios os quais sustentam que é impossível conceber a existência isolada de um fenômeno social, sem raízes históricas, sem significados culturais e sem vinculações estreitas e essenciais com uma macro-realidade social. Como enfatiza Triviños (1987), tais suportes teóricos, complexos e amplos não tornam fáceis os estudos qualitativos.

A partir desse conjunto de ações, a investigação buscou entender como poderia ocorrer o processo de formação de estratégia na perspectiva da teoria da complexidade em uma instituição com características singulares como é a universidade. O construto originado desse esforço teve como espaço de sua validação uma IFES, através de três planos de gestão consecutivos, sem ter a pretensão de explicar as causas e conseqüências de tal formação. Essa é mais uma característica da pesquisa de cunho qualitativo, pois como indica Triviños (1987, p. 126), uma pesquisa qualitativa de natureza interpretativa, “não se preocupa nem subsidiariamente das ‘causas’, nem das ‘conseqüências’ da existência dos fenômenos sociais, mas das características deles, já que sua função principal é descrever”.

Ainda em relação à abordagem qualitativa da pesquisa, a autora seguiu a orientação de Godoy (1995) quando indica que esse método permite que um fenômeno possa melhor ser compreendido no contexto em que ocorre e do qual faz parte. Isso fez com que a pesquisadora, por pertencer à organização, tivesse melhor capacidade para “captar” o fenômeno a ser estudado a partir da percepção das pessoas nele envolvidas, que apontaram o que consideravam relevante no processo.

Por outro lado, a abordagem de cunho interpretativo permitiu a compreensão do processo de formação de estratégia da UFAM a partir da interpretação dos documentos pela autora, pela percepção e interpretação da fala dos atores organizacionais entrevistados e, pela observação realizada na organização, que buscou captar como eles entendiam o processo de formação, as variáveis embutidas nesse processo e as mudanças decorrentes do mesmo. Nesse estudo, portanto, foram consideradas as interpretações que os diferentes atores tinham do processo vivido, as quais foram posteriormente trabalhadas pela pesquisadora que buscou identificar os significados construídos socialmente pelos informantes para, então, reconstruí- los em uma linguagem científica. Essas interpretações foram analisadas pela pesquisadora com a finalidade de buscar fundamentos teóricos que permitissem elucidar o fenômeno estudado, caracterizando o que Mintzberg (1983) denomina de “creative leap” (“salto criativo”) quando o pesquisador rompe com o esperado para descrever alguma coisa nova.