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Snow e Thomas (1994) indicam que toda pesquisa científica precisa clarificar o seu posicionamento com relação a dois aspectos: a) o estágio de desenvolvimento teórico cujos focos estão na construção de teorias ou na testagem dessas; e b) o propósito da teoria, seja descritiva, explicativa ou preditiva. No que se refere ao primeiro aspecto, o objetivo desta pesquisa foi iniciar o processo de construção de uma teoria substantiva. O desenvolvimento teórico realizado está apresentado nos capítulos 2, 3 e 4, os quais subsidiaram a elaboração do capítulo 5 (estrutura de referência) e da parte inicial do capítulo 7, que aponta o construto teórico elaborado para análise do processo de formação de estratégias em instituições.

Para o alcance dos propósitos desta pesquisa, o método adotado foi – como se justificou acima – predominantemente qualitativo, pautado pela ótica interpretativa. O uso da pesquisa qualitativa teve como objetivo auxiliar a pesquisadora a compreender e explicar o significado de um fenômeno social, e não a freqüência deste (VAN MANEN, 1990; MERRIAM, 1998). Esse conjunto de premissas levou a autora a referendar o uso desse método na investigação por vislumbrá-lo como mais adequado.

Com relação ao segundo propósito da teoria, esta pesquisa pode ser caracterizada como descritiva, cuja contribuição teórica está focada na compreensão do fenômeno sob investigação por meio da identificação de conceitos e construtos (GIL, 1987). Conforme indica Rudio (1986), a pesquisa descritiva está interessada em descobrir e observar fenômenos, procurando descrevê-los, classificá-los e interpretá-los, com o objetivo de conhecer a sua natureza, sua composição, processos que o constituem ou nele se realizam. O processo descritivo ocupa uma posição de destaque na criação de teorias, na medida em que identifica suas proposições básicas: seus construtos e variáveis (SNOW; THOMAS, 1994).

À pesquisa descritiva aliou-se a pesquisa exploratória que tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, visando formular problemas mais precisos. Esse tipo de pesquisa é realizado especialmente quando o tema de pesquisa é pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular inferências, hipóteses, precisas e operacionalizáveis. O produto final desse processo passa a ser um problema mais esclarecido, passível de investigação mediante procedimentos mais sistematizados (GIL, 1987).

Considerando que a pesquisa qualitativa deve ser utilizada quando inexiste um sólido corpo teórico sobre o fenômeno sob investigação e quando variáveis contextuais são consideradas importantes no problema, a escolha pelo método qualitativo de cunho interpretativo e pelo estudo descritivo-exploratório configurou-se como o leito natural do processo. Esses fatores estão no contexto da pesquisa ora descrita, justificando a utilização, portanto, da abordagem adotada. Em consonância com o paradigma qualitativo, esse estudo, em seu processo final, é pautado pelo método indutivo de análise, no qual, eventos individuais são observados, descritos e analisados, configurando-se em insumos para a elaboração de generalizações (GIL, 1987). Nesse contexto, o processo de formação de estratégia à luz da teoria da complexidade, delineado neste estudo, pode oferecer insights e iluminar significados que permitam ampliar as experiências de pesquisadores que se interessam pela temática. Esses

insights, por seu turno, podem ajudar a estruturar e construir futuras pesquisas (MERRIAM,

1998).

Stacey (1996) assinala que ao se optar em adotar a perspectiva da teoria da complexidade e abandonar a perspectiva linear, observa-se que não é apenas o conteúdo da agenda de pesquisa que é fundamentalmente alterado pela movimentação do paradigma do estado de equilíbrio para o paradigma de sistema complexo. Os métodos tradicionais de pesquisa se mostram inapropriados para responder ao novo quadro. Qualquer noção que apresente o pesquisador como um observador independente e objetivo, deve ser abandonada, pois intervir em uma organização sempre o afetará. A ênfase, por conseguinte, muda para a de

um observador participante; isso significa que os projetos de pesquisa podem produzir resultados bem mais interessantes se eles envolvem os agentes que participam ou tem interesse na vida organizacional, e que praticam a auto-reflexão em suas atividades na organização, conforme se enquadra a autora dessa tese.

Nesse novo paradigma, o estudo de caso, tal como o método etnográfico e a pesquisa-ação, tornam-se os métodos de pesquisa mais apropriados, pois os outros métodos são inadequados para uma apropriação da realidade de forma mais integrada e dinâmica. Isso significa que o paradigma da complexidade permite que, a qualquer época, um conjunto de organizações possa incluir outras organizações que estão ocupando o espaço da inovação e da criatividade. Registre-se, no entanto, que há um número expressivo de organizações que busca ocupar zonas estáveis, com predomínio dos sistemas legitimados que não desafiam o status

quo e que definem suas estratégias previamente, de forma deliberada. A prática indica que as

organizações que se filiam a essa corrente podem durar por períodos de tempo consideráveis, e o prolongamento desse tempo depende apenas de quão agressivos os competidores são. Não obstante, um outro número de organizações estará em processo de desintegração. Então, se um pesquisador faz um corte transversal dessa população e relaciona as variáveis encontradas ao desempenho corrente, achará resultados totalmente enganosos, porque a maioria das organizações na população exibe apenas os resultados aparentes. Essa perspectiva, análise transversal, não considera a dinâmica presente nas relações, e apresenta resultados não confiáveis, limitando-se a testar hipóteses previamente delineadas.

O que acontece, consoante Stacey (1996), é que o problema de pesquisa está configurado pelo fato de que as pessoas dizem uma coisa e agem de outra forma, e freqüentemente não sabem o porquê de estarem fazendo o que estão fazendo. Logo, meros questionários, surveys, e entrevistas superficiais, não revelam o que está, efetivamente, acontecendo na organização. Os métodos de pesquisa a serem usados por aqueles que se filiam à teoria da complexidade, apontam para processos que incluam a figura dos agentes, como instrumentos privilegiados, os quais devem ser capazes de observar a dinâmica de interação entre scripts individuais e scripts compartilhados, que trafegam no sistema sombra e no sistema legitimado, e que vão além das aparências.

Com a intenção de captar toda essa perspectiva assinalada acima, sobretudo a partir das orientações oferecidas por Stacey (1996), a investigação foi desenvolvida numa abordagem longitudinal, analisando-se os Planos de Gestão da UFAM por um período relativamente longo (1993-2005), visando compreender o processo histórico pelo qual a instituição vem passando na elaboração de seu processo de formação de estratégia, à luz do

construto concebido pela autora, com base nos pressupostos teóricos da Teoria da Complexidade.