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O primeiro passo, no tocante à competência, é precisar quem é o sujeito passivo da relação jurídica de proteção a ser constituída. O ato de concessão somente pode ser emitido pelo órgão gestor do regime previdenciário a que o requerente é filiado.

Todo aquele que exerce atividade remunerada é segurado obrigatório da previdência social. Na hipótese de pedido de benefício, como não há regime único de previdência social, deve-se

(...)

III – apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas, reformas e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do ato de concessão.

primeiro indagar se o requerente é segurado obrigatório de regime previdenciário próprio. Em caso negativo, será segurado obrigatório do Regime Geral de Previdência Social – RGPS, gerido pelo INSS, que, nesse aspecto, é subsidiário em relação aos demais.

O requerimento do beneficiário deve ser direcionado ao órgão gestor do regime previdenciário a que o requerente encontra-se filiado, na condição de segurado ou dependente. O INSS é, por exemplo, incompetente para conceder benefício ao servidor público filiado ao regime próprio de previdência social.

Ressalte-se que, muitas vezes, nem todas as contribuições vertidas durante a vida laboral do trabalhador foram carreadas para o regime previdenciário, que arcará com a concessão da aposentadoria. Mas, nos termos da Constituição Federal (228), é assegurada, para efeito de aposentadoria, a contagem recíproca de tempo de serviço entre os diversos regimes previdenciários, que se compensaram financeiramente (229). O tempo de serviço em que o trabalhador esteve filiado em regime próprio de servidor público é

(228) Art. 200 (...)

§ 9º Para efeito de aposentadoria, é assegurada a contagem recíproca do tempo de contribuição na administração pública e na atividade privada, rural e urbana, hipótese em que os diversos regimes de previdência social se compensarão financeiramente, segundo critérios estabelecidos em lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20.)

(229) A compensação financeira entre os regimes previdenciárias, em virtude da contagem recíproca de tempo de serviço, está disciplinada pela Lei nº 9.796/99.

considerado válido, para efeito de aposentadoria, no regime geral, e vice-versa.

Mesmo com a contagem recíproca, o sujeito passivo da relação de prestação será sempre o órgão gestor do regime previdenciário a que o postulante de benefício encontra-se filiado, e a quem deve ser direcionado o requerimento de benefício, pois somente esse órgão terá competência para emitir o ato de concessão de benefício.

A ocorrência do risco social previsto em lei no mundo empírico, ou simplesmente do fato causante, constitui o motivo do ato administrativo de concessão de benefício. É a incapacidade para o trabalho, constatada pela perícia médica, a idade avançada ou o transcurso do tempo de contribuição que autorizam a exteriorização da vontade estatal, através do ato concessório.

Cada risco social ocorrido corresponderá à concessão de determinado benefício, entre os previstos em lei. A relação de adequação lógica entre o fato causante e a hipótese legal, prevista para a concessão de determinado benefício, constitui o motivo legal do ato. Somente os riscos sociais previstos em lei dão azo à concessão do benefício.

A imensa maioria dos conflitos, em matéria de concessão de benefício, envolve a comprovação do motivo de fato, ou seja, do fato causante. É o tempo de serviço, tempo especial, a

incapacidade laboral, etc. As divergências dão-se, sobretudo, na comprovação desses fatos causantes.

O conteúdo do ato de concessão de benefício tem efeito jurídico imediato – ou seja, constitui-se a relação de proteção, pela qual o filiado passa a fazer jus ao percebimento do benefício, enquanto perdurar o fato causante. O conteúdo abrange também todos os aspectos do benefício, tais como valor e data de início da proteção. A revisão do ato visa sempre à alteração do conteúdo, decorrente de vício relacionado com outros elementos do ato que contaminam o conteúdo.

O ato de concessão de benefício é antecedido de procedimento interno da autarquia previdenciária, o qual não é disciplinado, na totalidade, pela lei. No regime geral, o procedimento recursal perante o Conselho de Recursos da Previdência Social é disciplinado pelo Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto nº 3.048/99, e por portaria ministerial (230). Mas tal procedimento, como já foi visto, sujeita-se às regras gerais do processo administrativo federal, previstas na Lei nº 9.784/99, e aos princípios do devido processo legal.

Tem sempre forma escrita o ato de concessão do ato administrativo que aprecia requerimento de benefício. Além de

(230) O regimento interno do Conselho de Recursos da Previdência Social foi aprovado pela Portaria Ministerial nº 88, de 22 de janeiro de 2004.

traduzir a vontade estatal em linguagem jurídica, a forma escrita viabiliza os instrumentos de controle. Escrito deve ser não só o conteúdo, mas também a motivação externada, pois o ato delibera sobre interesse do requerente (art. 50, I da Lei nº 9.784/99).

O exercício da potestade pública não pode ser arbitrário. A motivação é obrigatória, principalmente na hipótese de indeferimento do pedido de concessão. A explicitação dos fundamentos do indeferimento do pedido é decorrência do estado democrático de direito. A transparência das razões da declaração unilateral de vontade facilita o exercício dos instrumentos de controle.

A concessão de benefício é comunicada ao interessado através da carta de concessão, em que todos os aspectos do conteúdo do ato são explicitados. O beneficiário deve ser notificado da carta de concessão que contém a espécie de benefício (aspecto material), a data do início do benefício (aspecto temporal) e o cálculo da renda mensal inicial, com a discriminação de todos os salários-de- contribuição utilizados no cômputo (aspecto quantitativo).

A notificação ao interessado, explicitando a motivação do ato, é ainda mais fundamental quando este for indeferitório. Através da notificação do interessado, o ato administrativo que apreciou o requerimento de benefício passa a surtir efeitos jurídicos em relação ao administrado, que poderá, inclusive, dar início ao contencioso administrativo, recorrendo da decisão ante uma das Juntas

de Recurso do CRPS, ou ainda buscar diretamente o controle jurisdicional do ato.

A finalidade do ato de concessão de benefício é assegurar renda substitutiva ou complementar do rendimento do trabalho, tendo em vista a ocorrência do risco social que leve à sua supressão ou ao aumento de despesas. É a satisfação da necessidade social, na medida dos recursos disponíveis do sistema. Diante do caráter vinculado do ato, a finalidade está prevista em lei, pouco importando o escopo do servidor.

DIREITO DE PETIÇÃO

No documento ATO ADMINISTRATIVO DE CONCESSÃO DE BENEFíCIO (páginas 155-161)