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Elementos da teoria da atividade e da atividade orientadora do ensino na significação

1.2 Significação de conceitos científicos: uma abordagem histórico-cultural 39

1.2.1 Elementos da teoria da atividade e da atividade orientadora do ensino na significação

Essa forma particular de fixação e de transmissão às gerações seguintes das aquisições da evolução deve o seu

aparecimento ao facto, diferentemente dos animais, de os homens terem uma atividade criadora e produtiva. É antes de mais o caso da atividade humana fundamental: o trabalho. (LEONTIEV, s/d, p. 265)

O trabalho, de acordo com Leontiev (s/d, p. 74), é um processo que liga o homem à natureza, sendo caracterizado por dois elementos interdependentes: o uso e o fabrico de instrumentos. Efetua-se em condições de atividade comum coletiva, de tal forma que a relação estabelecida nesse processo não é apenas determinada com a natureza, mas com outros homens de uma dada sociedade. É por intermédio da relação com outros homens que, visando a suprir suas necessidades, se estabelece a relação com a natureza. O trabalho é, assim, uma atividade originariamente social, mediatizada, simultaneamente, pelo instrumento e pela sociedade.

Para suprir suas necessidades, o homem age de forma coletiva,

[...] utiliza instrumentos (meios exteriores) que potencializam sua ação sobre o meio. Essa forma de agir para satisfazer necessidades é denominada de trabalho, pois, além de satisfazer suas necessidades, os homens produzem os meios para isso. Ao produzi-los, produzem também o conhecimento sobre eles, sobre suas propriedades, funções e modos de ação. Esses conhecimentos são partilhados, inicialmente, na própria atividade, mediante o uso conjunto e a comunicação entre os usuários. Aos poucos, os conhecimentos vão se desvencilhando da atividade prática, mas permanecem materializados nos objetos e na linguagem. Assim, a atividade física ou mental dos homens transfere-se para o produto dessa atividade; fenômeno denominado por Marx e, posteriormente, por Leontiev de objetivação. (MOURA; SFORNI; ARAÚJO, 2011, p. 41, grifo do autor).

Partindo de pressupostos básicos do materialismo histórico-dialético de Marx, psicólogos soviéticos, Vigotski, Leontiev e Luria, colocam o conceito de atividade como um dos princípios centrais no estudo do desenvolvimento do psiquismo. Vigotski, já em seus primeiros escritos, considera o caráter mediato da atividade psíquica e a origem dos processos psíquicos interiores na atividade inicialmente externa e interpsíquica, sugerindo que a atividade socialmente significada é o princípio explicativo da consciência. Para Vigotski, a unidade de análise é focalizada em indivíduos, nos sentidos produzidos por estes para as significações sociais; por meio de Leontiev, essa ideia é expandida para a atividade coletiva. Para Leontiev (1977), a transição do homem para a vida em sociedade fez com que surgissem, historicamente, processos ou ações em atividade direcionada.

A atividade de pessoas trabalhando juntas é estimulada por seus produtos, que, em primeiro lugar, correspondem diretamente às necessidades de todos os participantes. Mas a mais simples divisão técnica de trabalho que surge no processo, necessariamente leva ao surgimento de resultados parciais,

intermediários, que são obtidos pela participação individual na atividade de trabalho coletivo, mas que por elas mesmas não podem satisfazer a necessidade de cada participante. Essa necessidade é satisfeita não por resultados “intermediários”, mas pela partilha do produto da atividade total que cada um recebe, graças aos relacionamentos entre os participantes que surgem no processo de trabalho, isto é, as relações sociais. (LEONTIEV, 1977, p. 99, grifo do autor). [Tradução nossa]

Em função da divisão do trabalho, as ações dos indivíduos passaram a não satisfazer diretamente às suas próprias necessidades; as necessidades são satisfeitas na atividade coletiva, cujas relações são específicas para cada forma histórica de produção. Rubtsov (1996), apresenta elementos essenciais para que uma atividade seja caracterizada como atividade coletiva, quais sejam:

- a repartição das ações e das operações iniciais, segundo as condições da transformação comum do modelo construído no momento da atividade;

- a troca de modos de ação, determinada pela necessidade de introduzir diferentes modelos de ação, como meio de transformação comum do modelo;

- a compreensão mútua, permitindo obter uma relação entre, de um lado, a própria ação e seu resultado e, de outro, as ações de um dos participantes em relação a outro;

- a comunicação, assegurando a repartição, a troca e a compreensão mútua; - o planejamento das ações individuais, levando em conta as ações dos parceiros com vistas a obter um resultado comum;

- a reflexão, permitindo ultrapassar os limites das ações individuais em relação ao esquema geral da atividade (assim, é graças à reflexão que se estabelece uma atitude crítica dos participantes com relação às suas ações, a fim de conseguir transformá-las, em função de seu conteúdo e da forma do trabalho em comum) (RUBTSOV, 1996, p. 136).

De acordo com Moura et al. (2010), a sistematização apresentada por Rubtsov fornece indicadores sobre a organização de ações que visam à solução coletiva de um problema comum. Para estes autores, “[...] a atividade realizada em comum, coletiva, ancora o desenvolvimento das funções psíquicas superiores ao configurar-se no espaço entre a atividade interpsíquica e intrapsíquica dos sujeitos” (MOURA et al., 2010a, p. 212).

A teoria da atividade surgiu, assim, no campo da psicologia, com os trabalhos de Vigotski, Leontiev e Luria e pode ser considerada um desdobramento da psicologia sócio- histórico-cultural, mas foi Leontiev quem passou a ser o representante principal, desenvolvendo-a como uma teoria que, no âmbito de uma atividade, explica os processos do desenvolvimento da mente humana relacionados à consciência e à personalidade.

Duarte (2002) destaca que os estudos apresentados por Leontiev avançam com relação à teoria marxista no que se refere às complexas relações entre indivíduo e sociedade, mas também e com igual grau de importância, “[...] o enriquecimento dos instrumentos metodológicos de análise dos processos de alienação produzidos pelas atividades que dão o

sentido (ou o sem-sentido) da vida dos seres humanos na sociedade capitalista.” (DUARTE, 2002, p. 284). Atualmente, ainda de acordo com Duarte (2002), a teoria da atividade apresenta um caráter multidisciplinar e abarca campos como os da educação, da antropologia, da sociologia do trabalho, da linguística e da filosofia.

Na Teoria da Atividade, a atividade é conceituada. Leontiev sistematizou-a como

[...] processos que, realizando tal ou tal relação do homem com o mundo, respondem a uma necessidade particular que lhes é própria. [...] processos que são psicologicamente caracterizados pelo facto de aquilo para que tendem no seu conjunto (o seu objecto) coincidir sempre com o elemento objetivo que incita o paciente a uma dada atividade, isto é, com o motivo. (LEONTIEV, s/d, p. 296).

Por atividade, Leontiev (s/d, 1985, 1988) designa processos psicologicamente caracterizados por aquilo a que o processo como um todo se dirige, no caso, seu objeto, coincidindo sempre com o objetivo que estimula o sujeito a realizar a atividade, ou seja, o motivo.

A atividade, no sentido considerado, por ser humana, ainda que envolva a articulação dos atos, possui a especificidade de ter a sua determinação por meio da intervenção da consciência; é movida por uma intencionalidade e visa a atender a objetivos oriundos de necessidades que se impõem ao homem em sua relação com a natureza. Ao criar novas necessidades e procurar atendê-las, o homem, por meio da atividade, produz uma nova realidade e produz a si mesmo nesse processo (MORETTI; MOURA, 2011).

De acordo com Leontiev,

A primeira condição de toda a actividade é uma necessidade. Todavia, em si, a necessidade não pode determinar a orientação concreta de uma actividade, pois é apenas no objecto da actividade que ela encontra sua determinação: deve, por assim dizer, encontrar-se nele. (LEONTIEV, s/d, p. 107-108).

Uma atividade só se constitui como tal a partir de uma necessidade. A necessidade mostra-se como condição, mas não é suficiente para a realização de uma atividade; é preciso que haja um motivo que determine um fim. A necessidade que originou a atividade objetiva- se materialmente no motivo, é este que, em determinadas condições, lhe confere uma direção, melhor dizendo, “[...] a necessidade encontra a sua determinação no objecto (se “objectiva” nele), o dito objecto torna-se motivo da actividade, aquilo que o estimula” (Ibidem, p. 108). O sujeito encontra-se em atividade quando o objeto de sua ação coincide com o motivo de sua atividade. A ideia de atividade envolve “[...] a noção de que o homem orienta-se por objetivos, agindo de forma intencional, por meio de ações planejadas.” (OLIVEIRA, 2004, p. 96).

Leontiev (s/d, p. 297) propõe que, indo além da esfera das necessidades, a atividade está associada às emoções e aos sentimentos e que estas impressões psíquicas são sempre determinadas pelo objeto, pelo desenrolar e pela espécie da atividade de que fazem parte. Para Leontiev (1985), o que diferencia uma atividade de outra é o seu objeto, o seu motivo, e estes devem, necessariamente, coincidir dentro da atividade, pois “[...] o objeto da atividade é seu motivo real” (LEONTIEV, 1985, p.83), e o motivo “[...] pode ser tanto externo como ideal, tanto dado perceptualmente como existente só na imaginação, na idéia.” (LEONTIEV, 1985, p. 83).

A atividade, externa e interna, do sujeito é mediada e regulada por um reflexo psíquico da realidade. O que o sujeito vê no mundo objetivo são motivos e objetivos, e as condições de sua atividade devem ser recebidas por ele de uma forma ou de outra, apresentadas, compreendidas, retidas e reproduzidas em sua memória; isto também se aplica aos processos de sua atividade e ao próprio sujeito - a sua condição, a suas características e idiossincrasias. (LEONTIEV, 1985, p. 101).

Para Leontiev (1985, p. 97), a atividade teórica interna e a atividade prática externa dos sujeitos mantêm a mesma estrutura geral, uma vez que a atividade interna, “[...] que se origina a partir da atividade prática externa, não se separa dela, mas conserva uma relação fundamental e bilateral com a mesma.” (LEONTIEV, 1985, p. 82).

Quando o sujeito tem consciência do motivo gerador da atividade, é possível indicar que tal motivo forma um objetivo de ordem mais geral, o qual gera objetivos com características mais específicas que encaminham a ações a serem realizadas. A objetivação do motivo da atividade sugere a coordenação de ações e de operações, de tal forma que estejam em constante movimento na atividade, mas diferenciam-se. Leontiev (s/d, 1985) conceitua ação como processo cujo motivo não coincide com aquilo a que visa, com o seu objeto, ou seja, ação está sendo entendida como

[...] o processo que se subordina à representação daquele resultado que haverá de ser alcançado, quer dizer, o processo subordinado a um objetivo consciente. Do mesmo modo que o conceito de motivo se relaciona com o conceito de atividade, assim também o conceito de objetivo se relaciona com o conceito de ação. (LEONTIEV, 1985, p. 83) [Tradução nossa].

As ações têm como principal característica o seu vínculo com seus objetivos explícitos, sendo ao mesmo tempo estimuladas pelo motivo e direcionadas para o objetivo, mas o motivo da ação não coincide com o seu objetivo, e sim com o motivo da atividade da qual faz parte. A atividade está intrinsecamente ligada a um motivo, e o motivo, sob a forma da consciência, ao objeto da atividade.

Não levando o objeto da acção, por si próprio, a agir, é necessário, para que a acção surja e se realize, que o seu objecto apareça ao sujeito na sua relação com o motivo da atividade em que entra esta acção. Esta relação é reflectida pelo sujeito sob uma forma perfeitamente determinada: sob a forma da consciência do objecto da acção enquanto fim. Assim, o objecto da acção não é afinal senão o seu fim imediato conscientizado. (LEONTIEV, s/d, p.298).

Leontiev (s/d, 1988) indica, ainda, que há uma relação particular entre a atividade e a ação, a qual, ao deslocar o motivo da atividade de tal forma que coincida com o seu objeto, se transforma em atividade. Diz: “o motivo da ação da atividade sendo substituída, pode passar para o objeto (o alvo) da ação, com resultado de que a ação é transformada em uma atividade.” (LEONTIEV, 1988, p. 69). Considerando o autor, existe um movimento de transformação constante dentro da atividade. Quando uma determinada atividade perde seu motivo, esta se transforma em ação, mas, quando uma ação adquire um motivo que a direcione, então, esta se transforma em atividade.

Em tais tratativas, Leontiev (1988) apresenta motivos apenas compreensíveis e motivos realmente eficazes. Por motivos apenas compreensíveis, o referido autor entende aqueles que existem na consciência, mas não são psicologicamente eficazes. Exemplifica apresentando a situação de um aluno do primeiro ano que não consegue obrigar-se a fazer as lições de casa. Ele até tenta, mas distrai-se facilmente com situações externas. Mesmo sabendo que fazer as lições se trata de sua obrigação e que elas são necessárias para cumprir o seu dever de estudar, elas não se mostram como suficientes para que ele as faça. Supõe-se que, a partir disto, é dito à criança que não sairá para brincar até que tenha feito as referidas lições. Querer obter uma boa nota e querer fazer as suas lições são motivos que existem em sua consciência, mas não se mostram eficazes para fazê-lo fazer as lições. São, assim, motivos apenas compreensíveis. Já, o outro motivo, a permissão para sair e brincar, é realmente eficaz, pois consegue fazer com que a criança faça as suas lições. A criança passa a fazer a lição de casa sob o motivo que foi criado especialmente para isso; passado algum tempo, a criança por conta própria faz as suas lições. O motivo eficaz que induz, agora, a criança a fazer a lição de casa é um motivo que, anteriormente, era apenas um motivo compreensível para ela, mas que no fim leva a criança, além de ter a oportunidade de brincar, a obter uma boa nota. “Ocorre uma nova objetivação de suas necessidades, o que significa que elas são compreendidas em um nível mais alto.” (Ibidem, p. 71). Diante desta situação, Leontiev apresenta a seguinte proposição: “[...] só motivos compreensíveis tornam-se motivos eficazes em certas condições, e é assim que os novos motivos surgem e, por conseguinte, novos tipos de atividade.” (LEONTIEV, 1988, p. 70).

Desta maneira, nascem novas atividades, como também se constitui a base psicológica concreta sobre a qual se assentam as mudanças de atividade dominante e, por consequência, a passagem de um estágio de desenvolvimento a outro, caracterizando o desenvolvimento da psique da criança e do indivíduo.

Como atividade dominante ou principal, Leontiev (s/d, 1988) denomina aquela cujo desenvolvimento possibilita as principais mudanças nos processos psíquicos da criança e as particularidades psicológicas da sua personalidade num dado período do seu desenvolvimento. Não é, portanto, aquela à qual a criança consagra a maior parte do tempo, pois não se reduz a índices puramente quantitativos. A atividade principal, de acordo com Leontiev (1988), possui alguns atributos, dos quais destacamos:

1.[...] é a atividade em cuja forma surgem outros tipos de atividades e dentro da qual eles são diferenciados. [...]

2.[...] é aquela na qual processos psíquicos particulares tomam forma ou são reorganizados. [...]

3.[...] é a atividade da qual dependem, de forma íntima, as principais mudanças psicológicas da personalidade infantil, observadas em um certo período de desenvolvimento. (LEONTIEV, 1988, p. 64).

A atividade principal está fortemente relacionada aos níveis de tomada de consciência e ao sentido pessoal com relação ao significado, num dado período de desenvolvimento.

As ações, além do aspecto intencional, apresentam o aspecto operacional, ou seja, o modo de execução de uma ação: a operação. Leontiev (s/d, p. 303-304) entende operação como o conteúdo indispensável de uma ação, mas salienta que ela não se identifica com a ação. Afirma que uma ação pode realizar-se por meio de operações diferentes e que ações diferentes podem ser realizadas por meio de mesmas operações. Uma operação “[...] é determinada por um problema, isto é, por um fim dado em condições que exigem um meio de acção particular.” (Ibidem, p. 304). Leontiev destaca que uma ação pode transformar-se em operação, mas que a transformação de uma ação difícil para a criança em operação não se realiza imediatamente. Explica:

Transformando-se em operação, pode-se dizer que a ação ocupa um lugar inferior na estrutura da atividade, mas isto não quer dizer que ela se simplifique. Tornando-se operação, sai da esfera dos processos conscientizados, mas conserva os traços fundamentais do processo consciente e pode a todo momento, em caso de dificuldade, por exemplo, ser de novo conscientizada. (LEONTIEV, s/d, p. 311).

A operação é determinada pelo alvo dado em condições que requerem certo modo de ação. Para que operações conscientes se desenvolvam, é necessário que se formem

inicialmente como ações, ou seja, como um processo dirigido para o alvo e, apenas mais tarde, em alguns casos, adquirem a forma de hábito automático. Para transformar uma ação em uma operação, de acordo com Leontiev (1988), é preciso que seja apresentado à criança “[..] um novo propósito, com o qual sua ação dada tornar-se-á o meio de realizar outra ação. Em outras palavras, aquilo que era o alvo da ação dada deve ser convertido em uma condição da ação requerida pelo novo propósito.” (LEONTIEV, 1988, p. 75).

A transformação da ação em operações é válida tanto no âmbito das operações motoras quanto mentais. Leontiev apresenta um exemplo que contribui no entendimento do movimento de conversão de ação em operação:

Em aritmética, por exemplo, a adição pode ser uma acção ou operação. Com efeito, a criança aprende primeiro a adição como uma acção determinada, em que o meio, isto é, a operação, é a adjunção unidade por unidade. Depois tem de resolver problemas cujas condições exigem que se efectue a adição de grandezas (para saber tal coisa, deve-se adicionar tais ou tais grandezas). Neste caso, a acção mental da criança já não é a adição, mas a resolução de um problema; a adição torna-se então uma operação e deve, portanto, tomar a forma de uma prática suficientemente elaborada e automatizada. (LEONTIEV, s/d, p. 306).

A situação apresentada como exemplo por Leontiev, além de ilustrar a formação da operação na relação de dependência à ação, mostra a lógica da relação de desenvolvimento das operações e das ações. “Um nível de desenvolvimento suficientemente elevado das operações permite a passagem à execução de ações mais complexas que podem por sua vez fazer aparecer novas operações susceptíveis de levar a novas ações.” (Ibidem, p. 306).

Nesse sentido, o foco encontra-se na nova ação a qual a operação integra. Quando a ação passa a ser de domínio voluntário do sujeito, esta, na forma de operação, é acionada para a realização de outras ações de caráter mais complexo.

Leontiev propôs, assim, uma estrutura para a atividade que pressupõe uma dimensão teórica (motivo, objetivo, plano de ações e seleção de instrumentos) e uma dimensão prática (ações, operações e o objeto da atividade), mas é somente na unidade entre ambas que a atividade existe. Para Leontiev, a atividade corresponde a um motivo; a ação, a um objetivo; e a operação depende de condições. O referido autor mostra que existe um movimento de transformações constantes dentro da atividade e também que estes elementos estão intrinsicamente relacionados à consciência e à personalidade.

Na apropriação das significações sociais produzidas culturalmente no processo histórico por meio das atividades humanas em geral, identifica-se um pressuposto essencial na compreensão do desenvolvimento humano, o conceito de mediação. Os instrumentos

físicos e simbólicos objetivam-se como um elemento que se torna o mediador entre o homem e a natureza. Na perspectiva histórico-cultural,

[...] as ações humanas direcionadas a um determinado fim têm um caráter mediador por fazer uso de instrumentos elaborados pelo homem ao longo de sua história. O caráter mediador dos instrumentos torna-se elo intermediário entre o sujeito e o objeto da atividade humana. (BERNARDES; MOURA, 2009, p. 466).

O homem, “[...] ao agir sobre a natureza de forma mediada, opera com signos e instrumentos que são construções históricas e sociais que objetivam a experiência humana construída socialmente” (MORETTI; MOURA, 2011, p.440). Signos e atividade são fundantes na perspectiva histórico-cultural. Por meio da atividade, o homem domina o uso de instrumentos e um sistema de significações elaborado historicamente. Nesse sentido,

[...] o conhecimento produzido por um homem ou grupo de homens só se constitui efetivamente em significação para os outros membros da espécie quando os sujeitos são inseridos na atividade humana que é mediatizada por esse conhecimento, processo que lhe confere significado social e sentido pessoal. (MOURA; SFORNI; ARAÚJO, 2011, p. 44).

A atividade é, desta forma, uma atividade mediada e significada. O conceito mediação, nesse contexto, é central e entendido como um “[...] ideal de cristalização da experiência social, da práxis social da humanidade.” (LEONTIEV, 1985, p. 225, grifo nosso).

No entanto, as apropriações da práxis social da humanidade

[...] não são simplesmente dadas aos homens nos fenômenos objetivos da cultura material e espiritual que os encarnam, mas são aí apenas postas. Para se apropriar destes resultados, para fazer deles as suas aptidões, ‘os órgãos de sua individualidade’, a criança, o ser humano, deve entrar em relação com os fenómenos do mundo circundante através dos outros homens, isto é, num processo de comunicação com eles. Assim a criança aprende a atividade adequada. Pela sua função, este processo é, portanto, um processo de educação. (LEONTIEV, s/d, p. 272, grifo do autor).

De acordo com Leontiev (s/d), a experiência social acumulada nos produtos culturais não é simplesmente dada aos homens. Sua apropriação torna indispensável a presença de outro mais experiente que transmite às novas gerações, formal ou informalmente, o