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Elementos de diferenciação dos APLs

2.2 Os arranjos produtivos locais (APLs)

2.2.4 Elementos de diferenciação dos APLs

Apesar de se apresentarem sob uma forma organizacional bastante semelhante, os APLs se diferenciam entre si por meio de elementos específicos como os recursos de que dispõe, nível de formação da mão-de-obra ou pool de trabalhadores, histórico de formação, habilidades para inovar, complementaridade das atividades, entre outros. Crocco et al. (2006, p. 7-8) sugerem que a diferenciação existente entre as aglomerações produtivas se relaciona a elementos específicos de cada uma delas, como “atributos socioeconômicos, institucionais e culturais; o sistema de governança; a capacidade inovativa; os princípios de organização e a qualidade dos encadeamentos produtivos internos e externos ao ‘espaço industrial”.

Questionamentos, como o porquê as regiões de um mesmo país se desenvolvem economicamente de maneiras diferentes, surgem no debate sobre a criação das aglomerações. Brusco (1986), ao exemplificar o caso das regiões italianas, explica que as regiões mais avançadas normalmente já se encontravam mais desenvolvidas em termos da agricultura familiar. Como as famílias dependiam basicamente de tomadas de decisão quanto aos seus negócios, desenvolveram-se habilidades gerenciais mais amadurecidas que nas regiões em que não se encontrava tal realidade. Outras habilidades relacionadas aos negócios fizeram essas regiões se destacarem, por exemplo, a habilidade de negociação com fornecedores e compradores e a capacidade de calcular os investimentos que se pretendiam fazer.

Ainda em relação às diferenças regionais, consideram-se os aspectos relacionados à globalização econômica, o fluxo de investimentos externos entre os países e a proximidade do mercado externo de cada região, responsáveis por incrementar a economia de certas regiões e caracterizar diferenças regionais em termos de desenvolvimento econômico e das aglomerações industriais (Ge, 2009).

O desenvolvimento das áreas urbanas e o oferecimento de serviços públicos de alta qualidade também são fatores que se relacionam ao desenvolvimento das aglomerações. Autores como Jong & Lambooy (1986), Brusco (1986) e Wennberg & Lindqvist (2008) argumentam que o desenvolvimento das aglomerações deve ser estudado juntamente com o desenvolvimento das áreas urbanas. Isto indica que o desenvolvimento das cidades, as estruturas espaciais e os serviços, associado à cooperação interorganizacional, o envolvimento com agentes de apoio e do governo, bem como às relações mercadológicas atuais, favorecem a aglomeração industrial no alcance de um maior nível de desenvolvimento. Desse modo, aspectos encontrados nas cidades ou regiões mais desenvolvidas, tais como estrutura econômica diversificada, infraestrutura científica e mercado de trabalho especializado, contribuem para o crescimento da atratividade de novas empresas, que por sua vez dinamizam ainda mais a aglomeração existente (Jong & Lambooy, 1986).

Möller & Haas (2003) sugerem que a densidade urbana é essencial para o aumento das competências locais, assim como a densidade da mão-de-obra é para o aumento da produtividade nas localidades, gerando economias de escala regionais e externalidades positivas locais (Correia, 2003; Oliveira & Torkomian, 2005; Santos & Ferreira Júnior, 2006; Baptista; 2003; Parrilli, 2007). As externalidades são reforçadas pelo talento, motivação, boa educação e competência dos indivíduos que favorecem o desempenho das aglomerações e elevam suas vantagens. Os autores sugerem que nas áreas populacionais mais densas são pagos os maiores salários e como consequência, essas aglomerações se desenvolvem mais.

Essas diferenças podem afetar sobremaneira o nível de desempenho de uma aglomeração para outra. Baptista (2003) aponta os aspectos “estrutura da indústria” e “alta densidade de empresas” como um dos principais fatores que

afetam o balanço entre as externalidades positivas da aglomeração e as “deseconomias” de escala, pontuando que a maior concentração de capital e de mão-de-obra, densidade urbana, presença de habilidades específicas e processos de transferência afetam sobremaneira a produtividade da aglomeração.

Segundo Gordon & McCann (2005), outro fator de fundamental importância para o desenvolvimento de empresas e das aglomerações é a inovação. Nesse sentido, o novo foco de análise para o desenvolvimento de empresas nas aglomerações está imbricado à necessidade de desenvolvimento tecnológico gerado tanto individualmente, quanto por meio de parcerias. Kesidou & Romijn (2008) argumentam sobre a importância das trocas de informações e os spillovers de conhecimento que, ao criar um fluxo de transferência de conhecimento, contribuem para a geração de inovação nos arranjos e o para o desenvolvimento dos países. A tecnologia deixa de ser entendida como fenômeno marginal e passa a ser ostentada como um elemento central do crescimento e desenvolvimento de organizações, setores, aglomerações, regiões e países. Caso haja um processo de desenvolvimento e difusão constante de tecnologias, pode-se falar no surgimento de um sistema de inovação, gerando envolvimento de instituições distintas em prol do desenvolvimento do APL e consequentemente, da economia das regiões e países (Cassiolato & Lastres, 2003; Gordon & Mccann, 2005; Kesidou & Romijn, 2008).

Entre as variáveis que podem promover o dinamismo dos agrupamentos de empresas existem aspectos ligados ao empreendedorismo (Wennberg & Lindqvist, 2008), tais como coesão social e auto-realização (Parrilli, 2007). A coesão social, pautada nos valores e prioridades locais, bem como a ‘auto- realização’, ligada à competitividade individual e satisfação coletiva, colaboram para integrar os agentes e dinamizar o ambiente local das aglomerações de forma empreendedora, visando à inovação e a geração de novas empresas. Os

programas de implementação de incubadoras de empresas mostram-se essenciais para elevar o nível de abertura de novas empresas, que dinamizam e renovam as aglomerações e regiões.

De acordo com Correia (2003), a interação das empresas possibilita que se reduza a assimetria e possa se trabalhar com vistas ao desenvolvimento de inovações constantes por meio dos spillovers de conhecimento (Kesidou & Romijn, 2008), além de aumentar a eficiência coletiva (Schmitz, 1995; Schmitz & Nadvi, 1999; Crocco et al., 2006; Correia, 2003; Santos & Ferreira Júnior, 2006; Parrilli, 2007; Erber, 2008).

O processo de desenvolvimento dos aglomerados pressupõe, ainda, a existência de incentivos e benefícios criados pelo setor público por meio de políticas e programas que aumentem a especialização de mão-de-obra e diminuam custos e impostos, visando o incremento da produtividade e a criação de associações que forneçam suporte ao pleno desenvolvimento do mesmo (Gordon & McCann, 2005). Tal desenvolvimento requer a observação da relação (empresa/indústria/geografia), em que fatores específicos ligados à natureza e tipos de cada APL devem ser analisados para se alcançar o desenvolvimento socioeconômico da região.

Esses e outros fatores passam a interferir na estrutura e forma de governança que as empresas assumem nos APLs para tornar seus processos mais eficientes, consequentemente interferindo na maneira como são distribuídos os ganhos na aglomeração (Erber, 2008). Deste modo, fatores como planejamento, coordenação (Wennberg & Lindqvist, 2008), liderança, sistemas de informações, e demais elementos relacionados à estrutura de governança, apresentam-se extremamente relevantes para o desenvolvimento dos participantes do APL como um todo e para sua diferenciação em termos de estrutura e desenvolvimento, de demais aglomerações (Arbarge, 2003).