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Etapas de desenvolvimento, estrutura e funcionamento

2.2 Os arranjos produtivos locais (APLs)

2.2.5 Etapas de desenvolvimento, estrutura e funcionamento

Ao estudar o histórico dos sistemas de produção local na Itália, os denominados Distritos Industriais Marshallianos, Brusco (1990) classifica seu desenvolvimento em quatro fases, considerando os contextos a partir da década de 1950. A primeira fase é caracterizada pela aglomeração de pequenas oficinas de atividades tradicionais locais de manufatura iniciadas há poucos anos antes da Segunda Guerra Mundial.

A segunda fase ocorre entre os anos de 1950 e 1960 caracterizada pela presença de pequeno número, de grandes empresas líderes no sistema local de produção, concentrando as atividades e mudanças da produção artesanal para a produção, industrial no modelo chamado de distrito centro-radial (Markusen, 1999).

A terceira fase, que ocorre do final dos anos 1960 até o início da década de 1980, é caracterizada pela crise do sistema fordista que promoveu uma expansão no número de MPEs que surgiam nas aglomerações. Nessa fase as concentrações industriais passaram a ser denominadas de Distritos Industriais.

A quarta fase verificada a partir da década de 1990 é marcada pelas alterações do ambiente do mercado, pautado agora nos aspectos da globalização e crescente relevância da inovação nos processos produtivos. Dessa maneira os tradicionais Distritos Industriais passam a ser denominados de Distritos Industriais Competitivos.

Enright (2003) aponta que, em termos de desenvolvimento dos arranjos, eles podem apresentar-se nos seguintes estágios:

a) ativos (working clusters) – nestes, a maior parte do conhecimento e dos recursos são gerados na aglomeração para serem utilizados na competição com demais aglomerações;

b) latentes (latent clusters) – estes não desenvolvem um nível de interação e informação necessários para dar coesão a co-localização dos agentes, existindo uma carência de confiança e de conhecimento dos demais agentes e da visão comum de futuro;

c) potenciais (potencial clusters) – neste caso há muitos elementos de que o cluster necessita para se desenvolver, já que requerem organização para se expandirem e beneficiar a aglomeração;

d) sustentados por políticas (policy driven clusters) – são favorecidos por condições desenvolvidas por governantes, e;

e) Aglomerados que “sonham acordados” (“wishiful thinking” clusters) – estes são dependentes de políticas que os orientem, já que são carentes de massa crítica e recursos próprios para obterem vantagens e se desenvolver.

Assim, as políticas públicas de apoio ao desenvolvimento econômico setorial devem ser condizentes com a fase de desenvolvimento que a aglomeração apresentar, visando à estruturação de programas que permitam a sobrevivência dos mesmos (Parrilli, 2007).

Como se nota, independente da fase de desenvolvimento em que se encontram, pode-se utilizar políticas e estratégias com vistas a apoiar o desenvolvimento das aglomerações. Contudo, torna-se necessário conhecer a estrutura, funcionamento e demais aspectos de cada uma delas, sendo relevante conhecê-los e conceituá-los. Neste sentido, Enright (2003) sugere alguns fatores que podem orientar para uma classificação: escopo geográfico, densidade, amplitude, profundidade, atividades básicas, alcance regional das vendas, intensidade de seu posicionamento competitivo, estágio de desenvolvimento, a natureza das atividades tecnológicas, capacidade inovativa e a estrutura que o cluster apresenta.

Quanto à especialização produtiva, Baptista (2003, p. 163) afirma que ela se apresenta com maior grau em áreas de densa atividade e se estabelece como um recurso de crescente retorno para a região. Neste caso, define densidade nos aglomerados como a “intensidade do capital de trabalho, humano e físico relativo ao espaço físico”, sendo a densidade mais alta quando existe uma grande quantidade de trabalho e capital por quilômetro quadrado. Conhecendo-se esses fatores, tem-se condições para compreender quais são os problemas e potencial de desenvolvimento das aglomerações e a partir daí, favorecer a implementação de políticas e estratégias ao seu favor.

Partindo de uma vertente diferente de estudo, Parrilli (2007) apresenta três diferentes abordagens tratadas na literatura que dão base para o entendimento de como se desenvolvem os arranjos de MPEs: abordagem do desenvolvimento espontâneo, abordagem das políticas de indução para o desenvolvimento e abordagem social.

2.2.5.1 A abordagem do desenvolvimento espontâneo

No século passado muito se discutia sobre as políticas macroeconômicas definidas pelos Estados com vistas a permitir que os países e regiões pudessem lidar com a nova realidade criada pela internacionalização dos mercados. Para isto, no final do século passado, passou-se o foco de atenção para a redução de barreiras de entrada no mercado e das deficiências do Estado para a implementação de programas de privatização.

Contudo, as empresas que se localizavam em aglomerações se desenvolviam de modo espontâneo aproveitando a eficiência coletiva (Schmitz, 1995; Schmitz & Nadvi, 1999; Crocco et al., 2006; Santos & Ferreira Júnior, 2006, Parrilli, 2007; Erber, 2008), as externalidades econômicas (Correia, 2003; Oliveira & Torkomian, 2005; Santos & Ferreira Júnior, 2006; Baptista; 2003; Möller & Haas, 2003) e as ações de cooperação (Marshall, 1966), sem

intervenção direta de políticas. Porém, a partir do ano de 1985, a espontaneidade verificada na formação dos arranjos não era entendida como suficiente para gerar os benefícios da aglomeração como mão-de-obra especializada e fluxo de informações e inovações. Neste novo contexto, as políticas passaram a ser fundamentais, para dar apoio na reorganização dos métodos baseados em inovação, informação, estudo de mercado e tecnologias por meio de instituições correlatas.

2.2.5.2 A abordagem das políticas de indução para o desenvolvimento

Apresentam-se duas linhas de argumentação que se referem à importância das políticas para o desenvolvimento das aglomerações: políticas indutoras e governança existente em seu ambiente. As políticas indutoras são essenciais para os agrupamentos, não bastando apenas os esforços espontâneos das MPEs para se organizarem, ressaltando-se a relevância dada às políticas de mercado nos níveis internacional, nacional e local.

Outro aspecto a ser analisado é a maneira como as empresas se organizam nas aglomerações em termos de governança. A distinção dos tipos de governança (mercado, rede, hierárquica, e quase hierárquica) torna-se necessária para que possa analisar como as MPEs e as aglomerações se inserem nas cadeias globais de valor e de que maneira as forças nacionais e internacionais podem intervir para dinamizar o seu desenvolvimento.

Neste contexto, Parrilli (2007) ressalta a importância de políticas que induzem o crescimento dos APLs, por meio da proteção dos interesses das MPEs e destas aglomerações, bem como da facilitação de suas entradas para competir nos mercados, enfrentando as forças dos competidores. Assim, as políticas podem se direcionar, por exemplo, para o suporte financeiro, comunicação de tecnologias e/ou informações de mercado.

2.2.5.3 A abordagem social

A abordagem social refere-se às mudanças requeridas nas relações entre as empresas para que elas se estabeleçam eficazmente no mercado. O governo teria o papel de coordenador para se estabelecer um cenário baseado em confiança, moralidade, transparência de objetivos e honestidade, visando à eficiência econômica, por meio do estabelecimento de normas de conduta para os agentes no mercado.

Enfim, segundo Parrilli (2007), essa abordagem refere-se à influência dos governos que pode levar a obtenção de transbordamentos sociais por meio da ação econômica.