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A partir da caracterização do caso de gestão, percebe-se que o problema desta pesquisa se configura pelo gap existente entre as múltiplas tarefas/responsabilidades do diretor de escola estadual de educação básica mineira e a formação existente na respectiva rede para este profissional.

A título de comparação, entre os anos de 2010 e 2015, A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (Seesp) ofertou 12 (doze) cursos de capacitação para os seus gestores escolares, entre estes, 04 cursos com carga horária superior a 360h, sendo 1 MBA, incluindo ainda o Progestão (300h) e o Programa de Liderança de Gestores de Escolas Públicas, com 242h de duração – algumas destas formações já estão na 5ª edição – (SILVA, 2014), sendo grande parte destes promovidos pela Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores (Efap) do Estado de São Paulo Renato Costa Souza (que na estrutura da Seesp corresponderia à Magistra em Minas Gerais). Já no Estado do Rio de Janeiro, entre 2011 e 2014 foram realizadas 7 ações de formação aos gestores escolares, entre estas 1 formação inicial, que faz parte do processo seletivo para ingresso no cargo e 1 MBA.

Em recorte de tempo semelhante (2010-2014), Minas Gerais teve o Progestão (CONSED) e o Escola de Gestores (Governo Federal/IFES), mas nenhum idealizado e implementado a partir das especificidades do sistema mineiro. Partindo do pressuposto de que o Progestão teve sua última edição na rede estadual de educação em 2014 e que aparentemente o Programa Escola de Gestores não tem sido o foco da SEE/MG para incentivo ao ingresso dos seus diretores, as políticas de formação para este cargo são fragilizadas.

Como se pode observar na seção 1.2, a SEE/MG traz como visão de futuro a construção da excelência em educação básica (MINAS GERAIS, 2014a). Para ser referência pela excelência, com qualidade no desenvolvimento e coordenação de políticas públicas da educação básica não se pode prescindir da formação daqueles que estão à frente das escolas de educação básica, o diretor. Inclusive tal ação se configura numa das suas competências legais: “X – definir, coordenar e executar as ações da política de capacitação dos educadores e diretores da rede pública de

ensino estadual, observadas as diretrizes estabelecidas pela SEP AG” (MINAS GERAIS, 2011).

Embasando-se na perspectiva da dimensão administrativo-financeira da gestão escolar, a partir da análise documental sobre os programas Progestão e Escola de Gestores, depreende-se que o objetivo destas formações não alberga aquela dimensão, o que deverá ser melhor elucidado a partir da pesquisa de campo com os diretores de escola, pesquisando inclusive o impacto destas formações no desenvolvimento de competências profissionais, especialmente as de cunho técnico- gerencial.

Alguns aspectos necessitam de maior investigação, tais quais: aferição dos impactos da política de certificação ocupacional de diretores escolares; quantos dos gestores do universo delimitado nesta pesquisa se beneficiaram do Progestão e do Escola de Gestores, haja vista a baixa oferta de vagas deste programa na rede estadual de educação de Minas Gerais nas instituições de ensino superior federais pesquisadas; como estes programas têm aludido à formação administrativa do diretor de escola estadual de Minas Gerais; qual a incidência das dificuldades administrativas na gestão das escolas pesquisadas; entre outras demandas que surgirem no processo de pesquisa.

Quando se trata de pesquisar os impactos da política de certificação ocupacional, é preciso discutir a perspectiva dos diretores a serem pesquisados sobre o quanto este programa tem caráter formativo e o capacita efetivamente para as atividades do fazer gestor. Apesar de ter-se como tese que o Progestão não capacita no viés administrativo é preciso estar aberto para ratificar ou refutar esta proposição a partir da pesquisa empírica.

Diante do que foi constatado na pesquisa documental, disposta neste capítulo, a formação de diretores na rede estadual de educação se vê imersa em políticas fragmentadas, no sentido de não abarcarem todas as dimensões das competências gestoras, das quais a SEE/MG tem se valido, não desenvolvendo um programa mais sistemático e específico no interior da rede.

Lück (2000) enfatiza que

sem competências específicas, de acordo com um modelo de gestão que articule todas as demandas, o diretor age conforme as pressões, podendo ser dominado por elas, em vez de agir sobre elas para fazer avançar, com unidade, a organização escolar (LUCK, 2000, p.29-30).

Assim, um dos focos da pesquisa de campo foi verificar como estão articuladas as demandas dos diretores da amostra delimitada, buscando descobrir, inclusive, como se sentem em relação às pressões sobre a sua gestão. Por outro lado, revelou-se fundamental pesquisar sobre em quais competências os diretores se sentem mais capacitados, o porquê de terem tal perspectiva e como ou a partir de qual substrato (da formação inicial? De uma capacitação? A partir da lida com o trabalho cotidiano?) conseguiram desenvolver cada uma das competências já consolidadas.

Nesse sentido, antes ainda da revisão da literatura, que lançará os pressupostos teóricos deste trabalho e será apresentada no capítulo 2, faz-se necessário caracterizar melhor a SRE e o Município de Ibirité, focos da pesquisa de campo.

1.4.1 Local de investigação

A SRE Metropolitana B abarca os municípios de Betim, Contagem, Esmeraldas, Ibirité, Igarapé, Juatuba, Mário Campos, Mateus Leme, São Joaquim de Bicas, Sarzedo, além de 38,36% das escolas de Belo Horizonte.

FIGURA 4 - SRE Metropolitana B - Percentual de escolas por município

Fonte: Elaborada pelo autor a partir de MINAS GERAIS, 2017.

0 10 20 30 40 50 Belo Horizonte Betim Contagem Esmeraldas Ibirité Igarapé Juatuba Mário Campos Mateus Leme São Joaquim de Bicas Sarzedo

Pode-se observar na figura 4 que se alocam em Ibirité 8,57% das escolas da SRE pesquisada. O município mencionado localiza-se na Região Metropolitana de Belo Horizonte24 (BELO HORIZONTE, 2017) e tem como cidades limítrofes: Belo Horizonte, Contagem, Betim, Sarzedo e Brumadinho (IBIRITÉ, 2017). A área total de Ibirité é de 73,83 km² (IBIRITÉ, 2017). Atualmente conta com 18 escolas estaduais, o que representa menos de 0,5% das escolas estaduais da rede mineira de educação.

Para melhor caracterização do campo de pesquisa, a tabela 5 mostra os dados referentes ao número de funcionários e alunos por escola estadual.

Tabela 5 - Escolas Estaduais de Ibirité - Número de Alunos e servidores

Fonte: Elaborada pelo autor a partir dos dados de QEdu26 (2017).

Como é possível notar, as escolas estaduais do município têm variações substanciais no número de alunos que atendem, havendo escolas com menos de 3 centenas de alunos enquanto outras albergam mais de dois milhares. Este quadro

24 Para verificar a localização de Ibirité na Região Metropolitana de BH vide Anexo B.

25“O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) é uma autarquia

federal vinculada ao Ministério da Educação (MEC), cuja missão é promover estudos, pesquisas e avaliações sobre o Sistema Educacional Brasileiro” (BRASI , 2017). O C digo Inep das escolas serve de identificação desta para todos os programas federais.

26 O QEdu utiliza os dados do Censo Escolar/Inep 2015. Utilizamos o sítio dessa fundação por já

apresentar dados compilados, o que facilitou a pesquisa. Código

Inep25 Escola Alunos Servidores

31007846 E.E. José Rodrigues Betim 1020 71 31009075 E.E. Professora Yolanda Martins 1184 116 31009091 E.E. Pedro Evangelista Diniz 781 77 31009113 E.E. no Parque Elizabeth 669 70

31009121 E.E. dos Palmares 724 65

31009130 E.E. Gyslaine de Freitas Araújo 873 85

31009148 Cesec de Ibirité 2263 45

31009172 E.E. João Antônio Siqueira 288 42 31009181 E.E. Juscelino Kubitschek de Oliveira 1218 105 31014362 E.E. Sandoval Soares de Azevedo 2320 184 31223590 E.E. João Ferreira de Freitas 1303 111 31231657 E.E. Maria Alves Nagy Varga 473 43 31231665 E.E. Antônio Marinho Campos 540 53 31231673 E.E. Professora Elza Cardoso Rangel 270 35 31232483 E.E. Imperatriz Pimenta 702 61

31270407 E.E. Cora Coralina 1041 81

31322989 E.E. Antônio Pinheiro Diniz 884 79 31353507 E.E. de Ensino Fundamental E Médio 307 27

se complexifica ainda mais quando calculamos o número médio de alunos por servidor do quadro de pessoal de cada escola. Enquanto as menores escolas (em número de alunos) contam com 7 alunos em média por servidor, as maiores chegam a aproximadamente 13 alunos por servidor (quase o dobro de alunos/servidor das escolas menores). A partir destes dados pode-se depreender a existência de substanciais implicações administrativas.

A tabela 6 mostra o número total de matrículas na Rede Estadual em Ibirité. Foram acrescentados os dados relativos a Minas Gerais e ao Brasil para fins de comparação.

Tabela 6 - Matrículas da Educação Básica na rede estadual por Ente Federado Anos

Iniciais Finais Anos Ensino Médio EJA Totais

Ibirité 2586 5536 6007 2731 16860

Minas

Gerais 391735 798539 681738 208830 2080842

Brasil 2232688 5399498 6818677 1762745 16213608

Fonte: Elaborada pelo autor a partir dos dados de QEdu27 (2017).

A partir da tabela 6 é possível verificar que a rede estadual de educação em Ibirité atende aproximadamente 0,8% dos alunos da rede mineira – uma percentagem pequena se comparada à rede estadual mineira em geral. Entretanto, é válido salientar a semelhança entre o município recortado e toda a rede mineira, quanto às realidades educacionais e de gestão, especialmente administrativa.

Apresentadas as especificidades da rede mineira e do município de Ibirité, o próximo capítulo apresentará o referencial teórico, a metodologia desta dissertação, além dos dados e análises da pesquisa de campo realizada.

27 O QEdu utiliza os dados do Censo Escolar/INEP 2015. Utilizamos o sítio dessa fundação por já

2 DIMENSÕES DA GESTÃO ESCOLAR, COMPETÊNCIAS EXIGIDAS E

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